ANDERSON BRAGA HORTA
Filho dos poetas Anderson de Araújo Horta e Maria Braga Horta, nasceu em Carangola, MG, em 17.11.1934. Morou em Manhumirim, Belo Horizonte, Resplendor e Mutum, antes da ida para a cidade de Goiás. Mais tarde, em Goiânia, começou o curso de humanidades no Ginásio Dom Bosco. Retornando a Minas com a família, a essa altura, composta de sete pessoas, passou sucessivamente por Aimorés, Mantena e Lajinha. Concluiu o ginásio no Colégio Pio XI, em Manhumirim, e cursou o clássico no Colégio Leopoldinense, da cidade onde morreu Augusto dos Anjos. No Rio de Janeiro, fez Direito na Faculdade Nacional, da Universidade do Brasil. Transferiu-se para Brasília em julho de 1960; do Rio a família afinal lhe seguiu os passos de volta ao Planalto Central. Fez o primeiro vestibular da Universidade de Brasília, para Letras Brasileiras. Casou-se em 1962 com a capixaba Célia Santos. Em 1964, pai novato de um casal de gêmeos -Anderson e Marília-, vendo os tanques nas ruas e a UnB esfacelar-se, abandonou o curso. Na velha e na nova capital, exerceu o jornalismo e o magistério. É funcionário aposentado da Câmara dos Deputados.
Colaborou muito em jornais e revistas e participou em diversas obras coletivas antes da estréia em livro individual, com Altiplano e Outros Poemas (Ebrasa/INL, Brasília, 1971), a que se seguiram Marvário (Clube de Poesia de Brasília, 1976), Incomunicação (Comunicação/INL, Belo Horizonte/Brasília, 1977), Exercícios de Homem (Comitê de Imprensa do Senado Federal, 1978), Cronoscópio (Civilização Brasileira/INL, Rio de Janeiro/Brasília, 1983), O Cordeiro e a Nuvem (Thesaurus, Brasília, 1984), O Pássaro no Aquário (André Quicé, Brasília, 1990), Dos Sonetos na Corda de Sol (Editora Guararapes-EGM, Jaboatão dos Guararapes, PE, 1999), Quarteto Arcaico (EGM, 2000), Fragmentos da Paixão: Poemas Reunidos (Massao Ohno, São Paulo, 2000, com apoio cultural do FAC, da Secretaria de Cultura do DF), Pulso (Barcarola, São Paulo, 2000), Antologia Pessoal (Thesaurus, 2001), 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Galo Branco, Rio, 2003; com Antonio Carlos Osorio, Antônio Temóteo dos Anjos Sobrinho, Fernando Mendes Vianna e José Geraldo, Pentagrama, sonetos (Thesaurus, 2001); com Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera, Poetas do Século de Ouro Espanhol, Victor Hugo: Dois Séculos de Poesia e O Sátiro e Outros Poemas, seleção e tradução (Thesaurus, 2000 e 2002, e Galo Branco, 2002, respectivamente).
Publicou ainda, em colaboração com Joanyr de Oliveira, Izidoro Soler Guelman e Elza Caravana, os contos de O Horizonte e as Setas (Horizonte, Brasília, 1967); com Aderbal Jurema e Domingos Carvalho da Silva, Semana de Estudos sobre Manuel Bandeira (CEUB, Brasília, 1982); com H. Dobal, Na Cadeira de Álvares de Azevedo (discursos acadêmicos, Brasília, 1986); singularmente, o ensaio Erotismo e Poesia (Thesaurus, 1994), o estudo seguido de antologia temática A Aventura Espiritual de Álvares de Azevedo e Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília (Thesaurus, 1994, 2002 e 2003, os dois últimos com apoio cultural FAC). Poemas, contos e crônicas seus figuram em cerca de sessenta antologias organizadas, no País ou no exterior, por Walmir Ayala, Almeida Fischer, Joanyr de Oliveira, José Santiago Naud, Pedro Lyra, Sílvio Castro, Rumen Stoyanov, Napoleão Valadares, Salomão Sousa, Victor Alegria, Sofía Vivo, Nilto Maciel, Aglaia Souza, Sergio Faraco, Xosé Lois Garcia, Ronaldo Cagiano, entre outros.
Dentre os prêmios literários que recebeu destacam-se: Jean Cocteau, da revista A Época (Rio, 1957); Gavião, da Livraria Antunes, e Antonio Botto, do Ipase (1959); Alberto Rangel, de O Cruzeiro, Clube de Poesia de Campos, e Canção do Mar, do Diário de Notícias (1960); Revista do Funcionário Público, conto e poesia (1961); Medalha da Amicizia Italo-Brasiliana (Roma, 1962); Nacional de Poesia, Rio (1964); Olavo Bilac (1964 e 1966) e Machado de Assis (1966), do Estado da Guanabara; Bicentenário de Bocage (2.º; Setúbal, 1965); Alphonsus de Guimaraens, da Academia Mineira de Letras (1966); Rubén Darío (3.º; OEA, 1967); Fernando Chinaglia II, da UBE-RJ (1969); Lupe Cotrim Garaude, da UBE-SP (1978); Álvaro de Carvalho (Florianópolis, 1996); Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, São Paulo (2001).
EN FRANÇAIS >>
VEJA vídeo de ANDERSON BRAGA HORTA (POEMAS) na Biblioteca Nacional de Brasília
Declamação de Anderson Braga Horta no Encontro de Cinco Poetas numa Não-Esquina de Brasília, realizado no dia 29 de março na Biblioteca Nacional da cidade. O evento contou com a participação do diretor da Biblioteca Nacional, Antonio Miranda; Embaixador Raul de Taunay; Davino Sena; e Anderson Braga Horta. Sob a regência do Maestro Airan d'Sousa, o encontro contou com composições inéditas e trechos do musical Nuestra América, performados pelos músicos Ofélia Marin (flauta), Nicolas Madalena (cello), Haniel Queiroz (trompete) e Otto W. Pereira (viola).
https://www.youtube.com/watch?v=iBZwJXKWva0
ALMANAQUE CALENDÁRIO 2020 AGENDA POÉTICA. Editor: Edson Guedes de Moraes. / Jaboatão, Pernambuco/: Editora Guararapes, 2020. 162 p. ilus. col. - -Inclui quatro sonetos de ANDERSON BRAGA HORTA:
HORTA, Anderson de Araújo; HORTA, Maria Braga; HORTA, Anderson Braga. Versos em três tempos. S. l. : Costelas Felinas, 2018. 60 p. 14 x 20 cm. Capa: Claudia Brino. Ex. bibl. Antonio Miranda
O QUE DIZ A NOITE
Que diz a noite profunda?
Diz não às almas convulsas,
que não entendem a paz.
Que diz a noite profunda?
“Talvez” — ao triste filósofo
sumido em dúvidas.
Que diz a noite profunda?
Diz “vem” ao poeta envolto
em chamamentos de amor
Que diz a noite profunda?
Diz “dorme” ao órfão cansado
de andar em sonhos no mundo
Que diz a noite profunda?
O todo, o nada.
O PONTO
A diferença entre matéria e espírito
está antes no olhar.
Maia — dizem os Vedas
Além— dizemos nós.
O Todo se contém no ponto Zero.
HORTA, Anderson Braga. De viva voz. Brasília: Thesaurus, 2012. 138 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-409-0124-4 Arte da capa Thiago Sarandy. Desenho de Anderson Braga Horta. Col. A.M.
COISA E PALAVRA
Esfera fechada
a avelã
aberta exibe outra esfera:
uma esfera comestível
porém chã.
A avelã
não tem o etéreo da ave
nem a maciez da lã.
Mas a palavra avelã
é concha de poesia.
MATINAS
Que eu não queira atirar um cobertor,
ainda que de cor,
em minhas trevas.
Que elas transpareçam
e se evolem — para o alto,
numa alquimia superior.
Que todo o meu ser
à luz aspire
e ascenda em calor.
PARÁBOLA
Trabalha diligente o velho jardineiro,
de cuja mão depende a sorte do jardim.
Cuida de cada planta e de cada canteiro
e seu árduo labor parece não ter fim.
Sua mão despejou a alegre sementeira
no solo que ela mesma adrede preparara,
e é sua mão que aduba, e escora, e poda, e joeira,
dentre as flores que cria, a mais bela e mais rara.
Mais que todos, conhece o valor do trabalho.
Mas sabe ele também que, da raiz ao galho
e do caule à corola, o anélito, a palavra,
o sopro, a seiva, o canto, a lúcida placenta
não é ele o demiurgo, o pródigo que a inventa,
e é preciso esperar que a rosa aos ventos se abra.
De
Anderson Braga Horta
Signo – Antologia metapoética.
Brasília: Thesaurus Editora; FAC,
2010. 153 p.
POÉTICA
Deixe que a mão escreva.
A cabeça está velha, está cansada,
cheia de pensamentos gastos e de ideias senis.
Não há mais mata atlântica
nem floresta amazônica
nem sertão bruto.
Há estradas asfaltadas, esclerosadas,
trabalhadas por preconceitos os mais vis.
Deixe que a mão escreva.
O coração viciou-se num certo número de emoções
e já não está disponível para sentir o novo.
Cristalizou-se a melodia.
O belo já não flui.
O pássaro já não rompe a casca do ovo.
Deixe que a mão escreva.
A vontade amolece ao peso dos desejos
e se desfibra e verga a orgulhosa cerviz.
Onde era força, ou a ilusão da força,
agora não há mais
que informe cicatriz.
Deixe que a mão escreva.
Brasília, 21.V, l992
CARTõES POSTAIS da Editora Guararapes EGM, do poeta Edson Guedes de Morais.
HORTA, Anderson Braga. Do que é feito o poeta. Brasília, DF: Thesaurus Editora, 2016. 412 p. 14x21 cm. Arte da capa: Tagore Alegria. ISBN 978-85-409-0287-9 Inclui textos sobre e versos de poetas brasileiros: José Geraldo Pires de Mello, Romeu Jobim, José Jeronymo Rivera, Antonio Miranda, Viriato Gaspar, Fontes de Alencar(traduções, etc), Lydio Machado Bandeira de Mello, Luiz F. Papi, Edson Guedes de Morais, Sânzio de Azevedo, Fernando Mendes de Morais, João Carlos Taveira, Waldemar Lopes, Daniel Mazza, Donaldo Mello, Márcio Catunda, Napoleão Valadares, Wanderely Francisconi Mendes, Francisco Carvalho, Kori Bolivia, Antônio Carlos Santini, Gerson Valle, Marli de Oliveira, Maria José Giglio, Alphonsus de Guimaraens Filho, Alcy Gomes da Fonseca.
TROVAS
SAUDADE – TROVAS AO VENTO. Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco: Editora Guararapes EGM, 2016. Editor: Edson Guedes de Moraes. 15 x 10 cm. s.p. ilus. col. Ex. bibl. Antonio Miranda
EN FRANÇAIS
POEMA "ÓRFICA" DE ANDERSON BRAGA HORA TRADUZIDO POR OLEG ALMEIDA AO FRANCÊS:
ÓRFICA
I
Que ser é esse de que o céu se espanta?
O corpo esquartejado
levam-no os rios, bebem-no os mares,
vai com o vento nos ares.
Faz-se terra na terra.
Torna-se nada em todos os quadrantes.
Mas a cabeça canta.
II
Que corpo é esse
arcaico
animado de um fogo
entre o sagrado e o laico?
Corpo que se destroça,
fogo que se levanta.
III
Ai, o corpo se esfaz em limo, em lama.
As pernas, extintas, erram por seiva.
As mãos, arrancadas, crispam-se por frutos.
Mas a cabeça
canta! |
L'ORPHIQUE
I
Quel est cet être dont le ciel s'épouvante ?
Son corps dépecé,
emporté par le fleuve, avalé par la mer,
il flotte avec le vent dans l'air.
Il se tourne en terreau sur la terre.
Il s'efface de tous les cadrans.
Mais sa tête chante.
II
Quel est ce corps
archaïque,
animé par un feu
à demi sacré, à demi laïque ?
Le corps qui s'anéantit,
le feu qui s'augmente.
III
Ah, ce corps se défait
et se change en fange.
Arrachés, ses pieds foulent les herbes,
et se crispent, avides de fruits,
ses phalanges.
Mais sa tête chante ! |
|