Nasceu em Silvânia (GO). Na década de 70, participou parcialmente do movimento Poesia Marginal. Organizou as antologias Em canto cerrado (de poesia) e Conto candango, com escritores de Brasília. É um dos 47 poetas incluídos no número que a revista portuguesa Anto dedicou em 1998 à literatura brasileira em comemoração aos 500 anos da descoberta do Brasil. Está inserido na Antologia da nova poesiabrasileira (1992), de Olga Savary; e na A poesia goiana do século XX, de Assis Brasil.
Bibliografia: A moenda dos dias, l979, Ed. Coordenada, Brasília, DF; A moenda dosdias/O susto de viver, 1980, Ed. Civilização Brasileira, em Co-edição com o INL; Falo, 1986, Ed. Thesaurus, Brasília, DF; Criação de lodo, 1993, edição do autor, Brasília, DF; e Caderno de desapontamentos, 1994, edição do autor, Brasília, DF; Estoque derelâmpagos, 2002, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal. Para esse ano, está organizando a antologia Safra Quebrada, em comemoração dos 25 anos de edição de A Moenda dos Dias (1979), que reunirá uma seleção dos poemas dos livros publicados e um livro inédito (Gleba dosExcluídos).
Blog do autor: www.safraquebrada.blogspot.com
Na Série "Do InVerso a Toda Prosa" na série criada pelo ator, diretor e poeta Antonio Cunha Música de fundo: Metamorphosis (Philip Glass): publicada no YOUTUBE.com em 2021
SALOMÃO SOUSA. Ela espera... Editor: Edson Guedes de Morais.
[Jaboatão, PE: Editora Guararapes, 2020. S.p. [12 p. 7,4 x 9,4 cm.] ilus. col. Livrinho artesanal.
SOUSA, Salomão. Cascos e caminhos.Posfácios de Adelito Gonçalves, Lina Tâmega Peixoto, Alexandre Vieira de Almeida, Sérgio de Castr
o Pinto, Wil Prado. Brasília: Gráfica Serafim, 2020. 128 p. 15 x 22 cm. ISBN 978-65-992311-0-0. Ex. bibl. Antonio Miranda
“O que fazer com a experiência de existir?”
SALOMÃO SOUSA
Biografia do livro
Acariciar-te nervura de planta
nádegas de lisura com inscrições
de longes Jerusalens
dobras e alças em esconso
de fósseis e sabedorias
abro-te para apalpar-te
de pálpebras despertas fecho-te
para te possuir fetiche de neutralidade
se é que se mostra o que se decide
Se és livro me deixas além
me purificas das fezes
em que me mantinha a ignorância
abro tuas pálpebras com gana de amante
com o gozo da fertilidade
que só tu guardas no limite
de finas superfícies desdobráveis
Biografia da travessia do arco-íris
Após dissolvidas nuvens, céu com rubricas de cores,
a mãe a explicar ao filho a travessia do arco-íris.
A mãe teria músculos, não se cansaria
sob as sacas, ao amarrar os touros;
iria enganchada nos arreios às festas de quermesse.
Seríamos de outra polpa içada em perene prateleira.
Eu pensava se eu vestisse, caminhasse
com os vestidos, as rendas da filha do João Melo;
com as abóbodas dos olhos da Dirce. Invejava
as buzinadas a proclamar desejos como risos.
A toalha de bordados com o único lírio. E avançava
rumo ao rio dos Bois, onde o arco-íris se tingiáTpara as íris.
Desejava atravessar com os parentes loucos,
de sexo nu a roçar nas águas podres dos quintais.
No mudo das baforadas, no querosene das lâmpadas.
Lavar o chão da casa, as paredes das entocadas larvas.
Retornaríamos do arco-íris com as genitálias lavadas,
com o reboco retocado de estrelas de ouro.
Com o noviço andaria de mãos dadas pelas alamedas.
Nas solitárias sessões de cinemas,
as mãos dos soldados não afastaria das coxas.
Todos nós atravessamos o arco-íris
e retornamos com os preceitos de nossas rugas,
com nossos anéis, com registros loucos nos anais.
Biografia do rímel de excremento
Se foi dada a especificidade do jogo
há a disputa dentro do esquálido das paredes
Se foi ordenada a estrutura das pétalas
há a química do néctar sobre a mesa
onde se senta o amante ou o prisioneiro
E por existir a especificidade do fruto
há exigências de polpas e a fome se enfureça
Há a especificidade das sementes *
que se organizam nas fezes dos pássaros
E por exigências de habitar as construções
há os liquens rompidos no fluir dos troncos
que podem ser dos vultos das árvores
ou da esqualidez dos habitantes
Há a especificidade da ráfia ou da içara, palmeiras
que o gume amassa na dentição da pressa
A especificidade contínua nos terrenos
e nos gabinetes. No esquadro de terra
há a especificidade do rímel vivo da lama
e murcha o capim-napier onde há a especificidade
do óxido espalhado pelos excrementos.
IMAGENS LITERÁRIAS: a realidade e o sonho. Antologia 2020 – UBE – PB: autores paraibanos e convidados. Poesia – Contos – Crônicas – Artigos. Organizadores: Ana Isabel de Souza Leão – José Edmilson Rodrigues – Luiz Augusto Paiva. Itabuna, Bahia: Mondrongo, 2020. 224 p. 13,5 x 23 cm.
ISBN 978-65- 86124-22-4 Obra publicada sob a chancela da União Brasileira de Escritores – UBE, Subseção da Paraíba. Ex, bibl. de
Antonio Miranda.
A DÚVIDA
Não persigo a palavra exata
ou tão afiada que parta uma laranja.
Emiti-la seria extraviar o que sou,
cortante seria destruir um talo.
Eu mesmo não me compreendo,
e se rende a areia à água,
ambos preenchemos a vala.
Eu mesmo me contradigo,
eu mesmo reformulo o que sei
e a dúvida ainda me avassala.
Quanto mais a torço e distorço
a palavra não me livra de outra fala.
Os lábios não calam, perseguem-na
quanto mais se exibe entre as talas.
Repreendo-me sempre que não sei,
se a definição não traz outros lados.
O que surpreende a laranja
é que nada aconteça. Balcão de feira,
melaço febril, bico de pássaro.
A sacola, as mãos de uma Natália.
A laranja aguarda ser exposta,
ser surpreendida por um fungo,
por um abrigo na cesta, na taça.
Estendem-se à minha frente as conexões
e me surpreende a incerteza
de quem entrará pela sala.
Não é a escolha que me define
se nem posso ser laranja ou fungo.
Tenho de exigir uma surpresa
que saiba de antemão colher num galho
ABANDONO
Abandonar-se in corpore ao rejeito,
sobre o emplasto, com ventos a retorcerem
entre o que se entreviu e foi o destino,
a desacomodar a ordem dos lençóis
com desmoronamentos de braços e janelas.
Esmorecer sobre a poça de sangue
numa estação que desaprendeu a acolher trens,
corpos caídos, despencar de andaimes.
Abandonar-se num ninho desfiado,
apto a ferir-se até à extinção
sob sombras de bravos espinheiros.
Abandonar-se para compreender
a diferença de um muro e uma estrada.
Abandonar-se em escalas de esquecimento
e da sabedoria nunca tecer as rendas,
ficar só osso, a tempos, quebrado.
E outra família, outra estirpe, outra espera.
Outra forma de extinguir-se,
de enterrar-se durante um pensamento,
durante acasalar-se, durante a dobradura.
Não haverá estanho que fixe, madeira que molde.
Cabeças a emergir pelos vãos
vigiam redomas verdes a cintilar.
A FORMA
Há uma forma que nos persegue sempre
com os catorze passos de transpor a rua.
E se esboroa em dar os passos, a lua
a buscar a forma que não se cumpre.
A labareda que tremula numa trempe
já nos engana com a forma que insinua,
chega tão próxima a promíscua língua
e o triunfo é não repetir o que se mostra.
Pomos a camisa que não modifica o dorso
que espera o braço, que alterna o fôlego,
enquanto isso, a libélula, em seu percurso,
desprenderá a asa. Gritemos o nosso rogo!
Faltará a palavra de não repetir o dorso
da forma que voluteia e cai no fogo.
COM AQUELE AMOR
i
minhas asas e meus seios se dilatavam
enchia-se de chiados a minha casa
minha riqueza movia-se
e às minhas mãos fiéis retornava
e acossava meu sangue a se inflamar
quem guinchava? naquele amor
galhos secavam de pura inveja
pássaros deformavam os cantos
as estrelas eram furos
de onde o céu nos forneceu lascas
com aquele amor
eu não me importava
com portos ou portas para partir
pois o prazer confirmava
um ao outro a se levarem
não sei se estou indo
como homem mulher ou vacum
se com aquele amor
achei meu campo tive meu catre
ilhas de sangue onde sofremos
ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA . Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992. 334 p. ilus Ex. bibl. Antonio Miranda
A DISPUTA
Tens as raízes do medo
se me ponho em campo
e me disputas.
A vitória, o todo
do trecho a ser
a disputa.
As regras fogem ao jugo.
Me pões aos pedaços
e me asseguras.
Te unes à alegria
e me sobras triste.
Brotas as vinhas
sem o semeio.
O tempo
te surpreende em verão
quando ainda sinto frio.
PROVÉRBIOS DA LAMA. Antologia poética. Organização Rodrigo Starling. Belo Horizonte: Starlinga, 2020. 204 p. ISBN 978-85-990511-3-5
Biografia da lama
Desde a infância nos assola a lama.
A sequência dos rastos infantis
no barro da leira sequencial de covas
e de alinhadas fileiras de adobes,
na metamorfose da poeira da rua,
as crianças a saltarem na espessa água
de desejo tóxico, de impalúdica nudez.
O rompimento do açude na boca do vale
e a mata dissolvida pela pressa do barro.
Enquanto não decidimos como ocupar o dia
temos de nos preocupar com a lama.
Circunda nossos ouvidos, dissolve nosso posto,
nossa poça de água de antiga reserva
de rostos na lâmina, enluvados girinos.
A lama pede a nossa mão e quer
nos enredar no visgo que enlarva.
Do filho e do amigo não resta nem o sinal
de um punho nas anotações.
O feto está atrofiado numa mínima
esfera, com as ligações rompidas
e não irá acessar os compreensíveis
neurônios de uma riqueza.
As compressas são de rejeito e lama.
A lama. Estão sendo engolidas
as portas e as histórias dos corpos e lâminas.
Todos assistem o retrato exposto na lama.
Convocamos a escavadeira, apertamos o pedal
e escapa a castanha e mais nos a
proximamos do rosto lamoso.
Não há uma pedra de reserva no meio
do caminho. No escamoso da lama não há medida,
se encobriu o marco de delimitar os pontos
de gerar a fração de terreno, se a fronteira
foi abarcada pelas alças dos gestos da lama.
Vai nos deteriorar a mão que avança.
Compõe-se dos lábios que nos alcançaram,
do cansaço que nos gemeu, do velho anu
que rompeu tantas das ninhadas.
Se o humano é tolhido para não alcançar
os anos do meio do caminho.
Se há o encontro, ali germina a lama.
Se há o gerânio, ali fede o limo da lama.
A lama, quando assume, é lama
no início, no meio e a conclusão também é lama.
O olhar da lama nos vigia, convoca
outro verme para envolver nossas carótidas.
Só podemos acertar o terreno depois
de reconhecermos que é lama. Não podemos
dar a mão, não podemos avançar
os pés, enviar a riqueza rumo à lama.
Se nos oferecemos, seremos a lama.
Duvido se não temos sido a lama,
se com ela não intoxicamos,
se com ela não nos amasiamos, se não
amassamos e rompemos para apressá-la,
se não circulamos na carótida da lama.
Eliminados o teto e os abraços
depois de sermos a lama.
ALMANAQUE CALENDÁRIO 2020 AGENDA POÉTICA. Editor: Edson Guedes de Moraes. / Jaboatão, Pernambuco/: Editora Guararapes, 2020. 162 p. ilus. col.
Inclui o poema " SONETO DA PORTA" de Lêdo Ivo à página 29.
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SOUSA, Salomão.Cinco poemas. / Jaboatão, PE: Editora Guararapes, s.d. 30 p. ilus. 20x13 cm. Editor: Edson Guedes de Morais. */? ilus. ilus. 14,5 x 11cm. Ex. bibl. Antonio Miranda. /*Exemplar sem identificação de editor, ediçãoo, data, etc./
veja o e-book: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/salomao_sousa_c9fd078e747e2f
Salomão Sousa apresentando uma antologia binacional Brasil-Argentina durante a Pré-Bienal Internacional de Brasília,
auditório da Biblioteca Nacional de Brasília, 14 e 15 de outubro de 2010. Foto: Ivan Malta
“Marca de leitura” ilustrada com poema,
criação de Edson Guedes de Moraes, Editora Guararapes.
CENA poética 8 , incluindo contos. Editor: Rogério Salgado. Belo horizonte, MG: RS Edições & Baroni Edições, 2022. 200 p. 14 x 21 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
O grão seco
Eu gostaria de desistir de estar presente
e tudo me convida a me secar.
a me afundar nas certas valas animadas,
a incluir um silêncio, uma desistência
que não consiga suportar o vapor
navegante sobre o líquido horizonte.
Vou me integrando como um camundongo
à toca quente, quando devia ser a antena
à espreita sobre o telhado, ao sol inclemente,
e não suporto me disfarçar, andar com amarras
nas pernas para que não saibam
que me açula a comediante busca
Eu gostaria de não ter uma proposta
e tenho de negar a minha pele à estridente lâmina
E tenho de entregar à minha língua
a resposta com a incumbência de desmentir.
Ter de diferir do amigo. Só o raio solar
não exige resposta, e ainda assim o grão seca.
A fundura do brejo
Onde eu desço? Onde me descarto?
Foram postas as cartas
e não acharam o meu futuro.
As linhas de minha mão, apagadas
em escovar reses, raspar cabos,
não preveem um destino, não indicam
como vim a esvaziar-me, lata atirada,|
retorcida, quase útil, a pedir ovas de insetos,
o dourado velho da ferrugem,
e a gosma de lama.
Eu temo existir. Terei de fazer maldades
Maldizer o vento, a hora descabelada
de um hoteleiro numa cidade deserta
Enrijecer as mandíbulas quando desacreditar
no início dos festejos, quando assisto o laço
no pescoço de um jovem o pássaro morto
e fezes a escorrer em frente às portas
Como acreditar? Não sei mais ler o ritmo
Quase se apaga a escrita, e é frágil
a bula, e é débil a mensagem,
nem o correspondente se convence.
Nem traz o tratado de paz e o espasmo da vitória
o cântico de quem vence.
Cambuí... Foto: https://www.flickr.com/
BRASILIDADE : poesia e crônica para una sexagenária desamada. [Antologia.] Menezes de Moraes (organização e microensaios). Edmilson de Figueiredo fotografias). Brasília, DF: Trampolim Editora e Eventos Culturais Eirelli, 2022. 231 p. ISBN 978-85-5325-061-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
Cambuí... Foto: https://www.flickr.com/
CAMBUÍS DO BLOCO P
Atravesso vezes sem conta sob os cambuís
que derramem flores no fim de dezembro
e envio um ramalhete para a Rita
numa foto sacada às vésperas da chuva
Com a mensagem não segue o gesto ventoso
com o cheiro aparentado das magnólias
Há quase meio século é a trilha dos meus dias
e só nesse fim de dezembro
veio aflorar às minha narinas
esse gesto gentil dos cambuís
que estiveram secos a pouco em setembro
Por anos podemos não notar o perfume
que se perde nos ares
enquanto rondamos solitários na Esplanada
sob cambuís pacientes com os casulos
Para Sinésio, a solidão da árvore
é a ausência de pássaro
Para a nuvem, a solidão é a ausência de céu
Quem julgar que estes versos estão descasados
vá andando ao léu sob os cambuís da Esplanada
BRASÍLIA
Do mar
sobrou o ar
De vez em quando
notícias de amigo
ou cheiro verde
de colheita
Mas não fica
cheiro nas paredes
ou no alguidar
A residência
não quer dono,
é de quem entrar
Sem esquina
para demora.
Eterno regresso
para onde mora.
Não tem por onde
o desespero olhar.
Veio para ficar rico
e a riqueza
não se identifica.
LITERATURA. Revista do Escritor Brasileiro. No. 17. Ano 1999. Publicação semestral da Editora Códice. Brasília, DF: 1999. Diretor: Nilto Maciel. Editor: José Carlos Taveira. Ex. bibl. Antonio Miranda.
DOIS POEMAS DE SALOMÃO SOUSA:
Impedir a tempestade
para não ser a lasca
o batente arrancado
de uma porta
O fragmento do cavalo
em círculos na correnteza
o jirau partido
em uma horta
Não terá o orvalho
aquele que nunca acreditou
que viriam as novas ramagens
Ser arrastado com as lêndeas
aquele que nunca acreditou
nas amêndoas da mudança
O que contou apenas
com as nádegas
terá o arreio nos ombros
O que contou com o berro
será sustentado pelo rectus
da face descamada
Engano a várzea assoreada
se depois serão os pendões!
se depois serão as aguadas!
Quem acreditou na bonança
poder[a ser a espiga
Quem acreditou na tempestade
poderá ter sido o relâmpago
DESALOJAMIENTO
Monte de plumas
y no venga viento
vuelo a cada canto es que habita
el silencio de existencia
Lleno de calles
y nuevo nombre
me habitaron
no por gusto
de mudarme,
mudo siempre para estar
Me vacuo de nombres
y calles e aún desbandado
me habitaron también
el silencio y la distancia
Y quedo sin rumbo y acordes
para las calles y los nombres
Voy en los bolsillos,
mapa mal trazado,
del cual no hacen uso
SOUSA, Salomão. Do medieval das beiras do rio Calvo hipermodernidade de Brasília. Discurso de posse na Academia de Letras do Brasil. Cadeira no. 10. Precedido pelo discurso de recepção da acadêmica Kori Bolivia. Brasília, DF: 2019. 32 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Do livro, escolhemos o seguinte poema de Salomão Sousa:
Biografia do abacaxi
Não é um inimigo, mas também
não se apresenta com olhos róseos
e anuências de facilidades às apalpadelas.
Se sensualidade em esgrimir
ácido com a língua.
Nasce entre espetáculos explosivos
em salvaguarda do crescimento,
espadas cortantes cercam a floração
de expectante vermelho apoiado
em concha branca, onde reserva agua,
atrai insetos, tessitura de aranhas
e meus olhos.
Mas também tudo é explosivo
e na defensiva se a ameaça
ronda em constante gume.
Desenha-se por força
de poliedro oblongo
de expectantes raios de ranhuras,
numa composição firmada
em contrato com algum multiplicador
de facetas, espelhamento
de um caleidoscópio raivoso de luz.
Não copia a formação em olhar-se,
talvez multiplicação dos dejetos
da luz do Sol a secar a crosta
para a possibilidade do acúmulo líquido.
Nos quintais é aguado e solitário,
silencioso solilóquio com o extremo
de ampliar bastões de folhagem.
A majestade esta em apresentar-se
esventrado sol espectral a cada corte,
porejando atraente ranho.
Quem compreende a explosão de rosáceas
salivar ao contato de ácidas linhas de cristais.
SOUSA, Salomão. Desmanche I. Desenhos de Patrícia Ferreira. Brasília: Editora Otimismo, 2018. 176 p. 143 x 20 cm. ISBN 978-85-86526-68-4
Ex. bibl. Antonio Miranda
“da memória pontual da gentileza
e da ressurreição das palavras gastas.
o defeito de não saber
Saber-se resina no fulgor do fogo Busco ausentar-me dos campos sem deletar da lembrança os cogumelos iguais a minúsculos chapéus a reter a umidade que circula pela bonomia de algum vento E insiste em ser esmagada pelos arrojos do meu esquecimento a colheita de verde e névoa
Fora para não transitar na estrada da demência/dos sátiros e aí está o asfalto enodoado de óleo e alcatrão para derrotar o equilíbrio/caixotes de herança Brigo com a insensatez e ela escava em meus nervos
Podia não existir a invenção e me mostro onde sou inexato Era para não ser o verme do vexame e come nas minhas narinas se enxerta nas minhas palavras Não pedi o diálogo e a compreensão e tudo fala e pula e se aclara
Em demonstração de indesejada lírica
a façanha da vida me assume e acasala
dodesmanche
Quem não se sente ilustre
visitante com poderes temporários
indo rumo ao fogo sagrado de Héstia
a exigir que gracioso hospedeiro o alimente
Quem não se sente
aéreo parasita quando lhe roça
no rosto o definhar morto
do caule apodrecido
Quem não sente o chamado do monturo
que as fibras se ausentam
que se afasta do sagrado fogo de Héstia
quando se despenca agarrado ao caule morto
Quando evita a tecla de interrogação
só para não ter de dar a resposta
Não ter de fugir da luz
e da demência da migalha
E outro transporte a semente
de crescer o parasita
Será definhado o viço
de outro caule
“NÃO ESCALO AS MONTANHAS”, poema de SALOMÃO SOUSA, em E-BOOK, e comentário crítico. Vejam:
SOUSA, Salomão. O Susto de viver e A Moenda dos Dias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: Instituto Nacional do Livro – INL-MEC, 1980. 134 p. 14x21 cm. (Coleção Poesia hoje, v. 41)
DESPEJO
Monte de plumas
— não venha vento —
voo a cada canto
em que habita
silêncio de existência.
Cheio de ruas
e novo nome
me habitaram.
Não por gosto
de me mudar,
mudo sempre a estar
por perto.
Esvazio-me de nome e ruas
e ainda debandado,
habitaram-me também
silêncio e distância.
E fico sem rumo e acordes
para as ruas e os nomes.
Vou nos bolsos,
mapa mal traçado,
ao qual não fazem uso.
A SEDE
A sede viola.
A sede aperta
e estão secos os goles,
o copo e o de dizer
a sede.
As fontes jorram
o seco.
Os dentes, as raízes trincam
o seco.
Cactos espinham.
Espiam raios de sol,
a raiva.
O deserto todo,
vasta é a sede.
A sede viola.
Na sede,
a árvore
não solta
as folhas.
Agarra-se
à seiva
com as próprias voltas.
Na sede,
a seiva chora,
as folhas violam
a árvore.
A sede evola.
A sede
desgarra.
O TEMPO E A HORA
Escuta as galinhas
no silêncio aberto
com a partida
dos filhos e marido.
Escuta a curicaca
na zoada. Sobe
até a beira da cerca.
Não desponta na estrada
e possível pessoa
anunciada.
Os dois angicos
da beira do curral
protegem a casa
solta no descampado,
ali o pica-pau
pica a morada.
Nem nota as árvores
de sentinela.
Nem pode passar barrela.
As picumãs, as panelas
escurecem o dia
já alto.
O serviço não admite
fora de hora.
Ginga os quadris
roliços.
Leva mais lenha
par dar cerco
ao fogo, à hora.
Outra safra
à vista.
A mata estronda
caindo na derrubada.
Quase vê o olhar
do marido
acompanhando a árvore.
Cansada, ouve a safra
anunciando mais cansaço.
O que resta a fazer
é passar as mãos pelos olhos
para desanuviarem.
Ver o serviço
que não pode largar.
SOUSA, Salomão.Descolagem. Goiânia, GO: Editora Kelps, 2016. 90 p. 13,5x19 cm. Foto da capa: Zenilton Gayoso. “ Salomão Sousa “Ex. bibl. Antonio Miranda
D E S C O L A G E N S
1
O navio numa lâmina estática que tremula
por insistência de ser visto de um ponto degradado
Ser inútil como um navio nesta estática
sem nada para entregar no ponto de chegada
se não se abarrotou no ponto de partida
2
Universo dos enganos
O lado bruto na cornucópia
a malva florida
e não passa de um anteparo
antes da queda
A delação dirá
que a flor é do ingazeiro
que espera enquanto
não se descola em outra
rápida queda
pelo instintto de existir
3
Talvez estejamos assim como a flor de ingazeiro
disfarçada de flor de malva / fortuita
depois de descolar-se por impossibilidade de fruto
sem um talo que nos uma ao tronco
pronta para apodrecer
4
Navio ancorado num porto
vazio / para que saiam iludidos
os que aguardam descarregadores
Arte gráfica: Edson Guedes de Moraes
– Editora Guararapes – PE - 2016
SOUSA, Salomão.Vagem de vidro. Brasília: Thesaurus, 2013. 104 p. 11X20 cm. ISBN 978-85-S409-0167-4
Aqui jaz o poema
que não se quis
Insistiu avaros nadas
horas turvas horas turvas
Implorou sessões de prazer
com crostas secas
ruibarbos de febre
Arrancou do poeta
o escudo da legião dos 300
Foi inútil insistir
com coroas, pés quebrados
meias de fina lã
Aqui jaz o poema
que não se quis
Em meio ao espelhamento das escolhas
acontecerá o excesso de luz a ressecar as ervas,
ideias que se ligam ao soco, às intrigas,
o cervo a assistir a velocidade dos bêbados.
Depois de o armamento transbordar do bornal,
utensílios dão para descarnar as faces,
cobrar nivelamento de nervuras.
O tratado rasgado, a volúpia dos relatos.
A renegada palavra que se precipita,
a reabilitada confiança de volta ao conflito.
No momento que temos a satisfação do pássaro,
do estrangeiro na sacada a traquinar feliz. Feliz.
Caem, não só nesses momentos, também de Dante,
os nossos crestados pés, o odor do filho,
o volume das polpas no branco, no brim dos seios,
caem as pálpebras de nossa mãe, o pó de nossas vigas.
Com o movimento dos remos, os comandantes.
A esquadra perfilada no porto dos encalhes.
Ah! a luz que resseca as ervas não perdoa o corvo;
COMENTÁRIO DE NILTO MACIEL sobre o livro de Salomão Sousa
Poeta moderníssimo, Salomão tem adotado todos os procedimentos do verso em suas modalidades mais novas, desde o livro inaugural de sua trajetória, A moenda dos dias, que é de 1979. No entanto, não copia ninguém e não se repete. Conhece os múltiplos caminhos da poesia (e da prosa também, seja ela ficcional, filosófica ou estrambótica).
Neste novo empreendimento verbal – Vagem de vidro–, o menestrel de Silvânia/Brasília apresenta cantos sem título (uns divididos em estrofes). E dá o pontapé inicial assim, com força, vigor ou garra: “Todo preâmbulo inaugura o medo”. Porque Salomão vem de antes, do tempo de Homero, de gregos e troianos, dos vates latinos, dos descobridores da Grécia (a Hélade e seus mitos), dos rapsodos modernos aos mais recentes. Vem pleno de poesia, de metapoesia, metalinguagem, em metapoemas de diversos feitios, vem inflado de enigmas, mistérios, ambiguidades, metáforas e parábolas. Vem entranhado de intertextualidade. Com citações e referências à melhor literatura nacional e estrangeira. Essa percepção advém de inúmeras e ricas leituras. Sem qualquer vassalagem a esta ou aquela tendência literária ou autor, por mais admiração que nutra por certos ícones da arte da escrita. Não, Salomão tem um léxico próprio, ou intertextualizado. E assim o dizemos, sem medo de ofendê-lo; pelo contrário, pois só quem lê muito, quem tem clara noção do mundo e suas profundezas, dos seres, seus comportamentos e suas expressões, é capaz de cultivar a paráfrase, ou de se envolver no processo de recriação da linguagem.
Essas incursões ao passado histórico ou literário não significam, no entanto, regressões, mas construções de pontes para o presente (seu e da sociedade): “E se houvesse entendimento ou / a extinção da linha do tempo, / quem iria recolher o sal, / construir a alvura ou / estrear o lençol e a luz?” (p. 13). O passado ele o traz para o seu (o nosso) presente (mundo, realidade), as agruras, as misérias, as iniquidades do homem moderno: “O edema, o sequestro relâmpago. É a ausência do fluir. / Se não há herói para ir a Ítaca, à Esplanada, / os homens a enrijecer-se” (p. 21); “a balconista que surgirá / ensanguentada no noticiário nacional” (p. 26); “a bala perdida / na mãe de uma criança ao colo” (p. 34).
SAFRA QUEBRADA
O livro reúne a produção de Salomão Sousa nos últimos 30 anos e mais dois livros inéditos. Edição da Dupligráfica, com apoio do FAC/DF 2007, incluindo fotos de Robson Corrêa de Araújo. Aqui publicamos um dos poemas do livro:
A obra tem uma unidade construtiva, é um livro-poema. Começa com um tom híbrido de épico e lírico — "Depois das derrotas, dos desterros, das ruínas" — e se fecha com o emblemático "Agora vou falar das ilhas de Cetim".
Não é um leitura fácil, muito menos óbvia, por causa da linguagem densa e das desavisadas associações de imagens e de ideias, da ausência de pontuação, do automatismo verbal que vai anunciando mas não necessariamente enunciando, numa espécie de neobarroco consciente. Em tempo: recebeu um prêmio no Festival de Poesia de Goyaz 2006. ANTONIO MIRANDA
FUI SÓ ERRAR EM DESTERROS
só ao mar me soçobrar
de rastro entre espinhos na margaça
as partes podres dos sobros
hordas de amantes aos bagaços
Dizimei-me nos fogos de acreditar
seriam exatas as respostas
nas tormentas inúteis as barcaças
também não retirei as grades
não lancei raios nos escuros
nem flexíveis fiz as ferragens
ossos esses remos sem braços
não deixei o centro o oco todo
não parti para apalpar as luas
e acreditar nos sonhos sem desgraças
ir à caravana dos convidados
aos milagres das certas graças
Desembarquei-me das incertezas?
não fui o varrido, a parte irada?
mas não ser no cerne a certa traça
mas não ser a mão que traça a retirada
AÍ ACOLHES O SOL
as hastes das chuvas
a sanha dos pássaros
os ninhos férteis das aranhas
bem fazes tu
— montanha de Natividade
que não deixas lugar
para nenhuma dúvida
em tuas entranhas!
A TEMPESTADE ESPRAIA CORPOS EM DESMAIO
acende as prontas palhas
ouro sólido escorre pelas calhas
e ergue-se o desengano em outras praias
pensa campos e nuvens e oásis
e deixa falhas frestas faias
e vai anoitecer em outras florestas
em baías sem ancoradouro às cascas às naus
e depois de alegrar poças com outras luas
de brilhar espantalhos em outras touças
a tempestade retorna aos desertos
ameaça minhas tortas tralhas
e volta sem os corais do repouso
em meus dias de trapaças lodaçais
não varre o alcatrão de meus beirais
espalha o amor onde o sol trabalha
E ESTE DARDO DA DÚVIDA
e esta lâmina da dor
e esta noite sem lírio
lanham minhas nádegas
desequilibram minha astúcia
e os poços das ausências
estou perdido das constelações
e perseguido pelo deserto
dos famintos cascavéis
só uma lua sem a flor das águas
arrancará do frio as minhas raízes
derramará mares nos meus vazios
só uma lua fora de estação
fora de órbita de todo planeta
vai me arrancar dos dentes do martírio
VOLTARÁS INTEIRA DAS NAVEGAÇÕES
e dos cortes da madeira
Terás de lutar
e terás de vencer
Não irás ver
aquele que vem sem armas
mais pobre que a mula
sem pastagens
E nada te impedirá a passagem
As flechas cairão sobre os mortos
Passarás sobre os trêmulos troncos
e não te arrojarão
em nenhum rio ilegítimo
Se houver quedas
serão de jacintos secos
e em terrenos desgastados
serão espraiamentos
Não ficarás doente
Pela cegueira
não ficarás cercada
Ainda que te estoquem
a angústia e o prazer
vais te sentir absolta
Trarás outras madeiras
para os cercos do tédio
Voltarás com desconfortos
Quem vem das vitórias
volta pisando em mortos
CALIANDRA: poesia em Brasília. Brasília: André Quicé Editor, 1995. 224 p. 224 p. ilus. ISBN 85-85958-02-2
Ex. bibl. Antonio Miranda
POEMA COM SEMENTE
Quando alguém possui
nossa semente
somos menos
ou nascemos mais?
Quem irá se lembrar
do que apanhou a semente
para não entregá-lo ao solo?
E não são fecundadas
sementes estéreis
pelo simples prazer
de gerar o desconsolo?
Quem será lembrado
por pegar a serpente
para dar veneno em troca?
E quem não diz que
não armamos o bote
de silenciar outras bocas?
Ouvimos as palavras?
Os olhos reviravam?
O que conta é o gozo
Nunca havia a paixão
Nunca vimos o rogo
Nunca a cotovia dos gestos
na escritura de um pouso
O veneno aumenta o deserto
de nossa semente
enquanto não somos o pouso de um fogo
DENTRO DE MIM
Como dói dentro de mim
o vazio das cadeiras
as veias fora de jugo
e o rim
Os olhos turvos levam
as coisas em levas
Nenhuma delícia me toma
— as coisas fogem de mim
Na rotina embutido
a mofar agitadas carícias
a pele a apodrecer os lacres
a crescer o que não é alecrim
Assusto o rosto já aflito
Antecipo a tristeza
e a velocidade das coisas
não some a certeza do fim
Não somo se o arco-íris
se abra em mil cores
— bastava a abertura das nuvens
e uma nesga de sol bater em mim
Busco o vento das árvores
pra balançar dentro de mim
Vento que esteve onde nunca estive
Vento que sofreu onde jamais sofri
Tanto rasto de pasmo e ruim
— sou um abismo pleno de lavas
Ainda virei do fundo mostrar o que segreda em mim
Será que me espera
quem nunca aguardei
de cancela aberta?
Escondido atrás
de todas as portas
sou este sem chancela
que não se mostra
Será que consola
pensar que sou ostra?
Assim fechada
crescendo consolo
alguma pérola
após tanta demora?
Ai! pérola como
espero-la
*
Nunca acreditou em guerras
ele que era íntegro de fogo
e de bem
Nunca andou de avião
ele que era íntegro
de ar e de bem
Nunca esteve no mar
ele que era íntegro
de água e de bem
Sempre esteve nas nuvens
ele que era íntegro
de chão e de bem
O BURACO ABERTO DE SEMPRE
Já existia o Asilo, o Ginásio,
as Pedrinhas, o Buraquinho.
O Acrísio já falava em crise.
O Antônio do Clóvis já vendia.
As novenas, os enterros.
A arrelia nos pagodes próximos.
Os Nicodemos fazendo troça
daqueles que chegam da roça.
Luís Alberto, Cleto,
não é de agora,
o homem já matava
e morria.
A direita já era esquerda
pelos tantos traços tortos
riscados à custa
da inconsciência dos rostos.
A vida já era dura.
A pobreza querendo ser dona
e não aluindo uma palha
para isso.
O almanaque Antar deu
a guerra mais fera.
Nossos tanques e ogivas
nos cacetes e pedras
também não tiraram
a fome das gengivas.
O Edson Machado,
com pintas e valentias,
partiu a madeira da distância.
Deve continuar metido
na perplexidade da vida.
Caiu, Caiu, quantas pregas tem seu vestido azul ?
Célio, Zé Paulo,
Antônio Augusto,
a vida tem cantigas
de causar intrigas.
Paulinho, você mesmo,
filho do Milton.
A vida é uma batida no saco.
Este buraco aberto
onde uma vez ou outra
jogamos um pouco de lixo
— monturo de onde
saltamos o ouro.
MAR INCERTO
Uma orla de qualquer força
que me atracasse
Uma fortaleza com o canhonaço
do resplendor
Viesse a nave armada
que me carregasse das estancagens
que me deixasse no ponto exato
sem os icebergs da frigidez
agarrados nas águas
em que fervo
Para deixar a nave inviolável
a onda inviolável
a fortaleza inviolável
— exista um mar
SOUSA, Salomão.Caderno de desapontamento. Brasília: Edições Falo, 1994. 64 p. 10,5x20 cm. Capa: gravura de Guida. “ Salomão Sousa “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
Sem fibras de ferro
para impor o peso
Só a trança de erros
para espalhar a semente
Do galho que flora
despenca a dormência
O desejo mais forte
esqueceu-se na indolência
À vontade de nascer
o céu apresentou morte
Castrado todo ar
Castrado todo ir
Não há como fug
resp ou cusp
SOUSA, Salomão.Falo. Brasília: Thesaurus, 1986. 84 p. (Coleção Itiquira) 10,5x21 cm. “ Salomão Sousa “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
ÁSPERA VERTENTE
No que não é um só
enrola embrulha unha
no que é rolo dando nó
cano
acabando por ser nenhum
Uma áspera vertente
para a víbora se alegrar
Uma ponta de desconfiança
para se deixar demente
Esqueci como o homem é
se perdeu a cabeça
ou simplesmente
lhe faltam os passos nos pés
SOUSA, Salomão. A moenda dos dias. Brasília: Coordenada, 1979. 68 p. 12x19,3 cm. Capa de Manu. “ Salomão Sousa “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
ESCOLHA
Nunca pude escolher
quem eu quis.
Eu não sabia
e disso foram
aproveitando.
Não escolhi o pai,
o santo, o país.
O que bem ingeri
foi de quem eu nasci.
Daí foi o abandono
entre as árvores,
tanto o proveito.
Caso o fruto
não desfrute
a escolha
que não quis
tem a árvore
decepada.
Uma selva,
a desigualdade.
Uma pessoa
que eu escolhesse
como soaria?
Seu desacerto
assumiria?
Suas rugas
indicariam
sulcos de arado
semeados?
Agridiria
em sorrir,
a pessoa
que eu escolhesse?
Se a escolha
desatasse a corda
— concordar
fosse possível,
sofrer não seria
trazer o fardo.
Sob sol
inclemente
desnudo.
Contudo,
sem concordar.
SOUSA, Salomão.Criação de lodo. Brasília: edição do autor, 1993. 74 p. 15,5x22 cm. Capa: Cely Luz, usando imagem Terra no açude de Quichabã em Paranamirim, PE, foto Antonio Gaudério. “ Salomão Sousa “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
Esta a Pátria, Herondes
das raposas velhas
das raposas natas
aplicando os golpes baixos
arrancando os altos ais
Personagens de Dante
fazendo do paraíso inferno
Se as crianças morrem nas ovas
esta a Pátria, Herondes
sem esperança de inverno
Esta a Pátria, Herondes
sem fartura nas eiras
Poleiro para banqueiros
usineiros infratores
Uma Pátria sem glória
nos pactos
Esta a Pátria em que nascemos
Uns com vida de conde
e a maioria
na periferia
à revelia
sem ter por donde
SOUSA, Salomão.Estoque de relâmpagos. Brasília: Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Distrito Federal, 2002. 153 p. 13,5 x 21 cm. “ Salomão Sousa “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
NUNCA IRÃO BUSCAR SUA MACEDÔNIA
Tatelam seus tentáculos
achando inútil toda fertilidade
Os incapazes nunca sabem
de onde arrancar o broto
e muito menos o segredo
de desfazer as peias
que travam as horas do encontro
Não invadem as estradas
e a Macedônia pode continuar
nos meandros da perdida rota
Nunca os ataca a insônia
e aos percevejos
nunca chegam a agradar
Estão em paz com os brotos
e com as rotas
dos mares navegados
Os capazes adivinham
a chuva antes do relâmpago
Poema publicado em:
BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6 (p. 122-123)
Poemas inéditos
FALA UM ASTRO A NÓS
Corveta flava
de mil nós
desfaço a âncora
de não sermos sós
Caminho em teus contornos
os prados todos
pistilos estames
sem que possa haver lodo
Use a gaita
em que te danço
Uso o fruto
com que me adornas
Nascerá jaspe nascerá húmus
na tocata de cada dedo
Será mina será morno
em cada apelo
Sou a fúria a baía
a que te amarras
Meu infinito
em que astro caio
Deixo para os dias de esquecer
os pés quebrados os acertos do inimigo
Deixo as intrigas fora da cartilha
os galhos podres o saco de formigas
Busco para os dias de encontrar
os saltos do touro o sangue da ferida
quem entende de desarmar as traças
e de fazer viagens nas minhas superfícies
São lombadas, treliças e feitiços
Se for água basta os pés da leveza
Se for o fogo ainda deixar as naus de cortiça
Se tem de ser o futuro seja mais que abstrair
Não embarcar o domínio das nódoas
Só as ramagens dos touros nas pastagens
as caras dos remos nas superfícies
Já amacio os braços de consentir
Ainda que não venha nenhum barco
e bruma alguma traga a carga de lenha
Ainda que o barqueiro venha louco
e todo o aço da certeza afundará
Ainda que o vento atormente com fúria
e vá a madeira polida afundar-se
Ainda que a carga seja a lâmina
com o colo certo de degolar
Ainda que na porta anunciem
que a florada do dia irá murchar-se
Ainda que seja um vasto mar
e a alma em deleite vá secar-se
Ainda que o mar seja uma rocha
e no deserto o coração vá navegar
Ainda assim o faroleiro acenderá
SAFRAS
No primeiro ano de casado,
a roça deu maravilhas.
Deu o que plantou
e o que não plantou.
O arroz, a taioba, o joá na queimada.
E assim nos próximos cinco anos
até que o quinto filho nasceu.
Daí a roça se afastou
para os matos de mais longe.
Quando os cambitos dos filhos
deram para afinar
e ficar descobertos,
o mato de dar de comer
acabou.
Teve que repetir na terra de antes.
A plantação para o nono filho
não vingou.
Agora, no décimo filho,
nem mesmo plantou.
(Poemas inéditos, publicados em 3/2/2006)
●•
Muitas coisas paralelas
e eu uma delas
Talvez eu fosse o canário
a janela
e tanto não me abro
e tanto não me amarelo
●•
Acende as prontas palhas
ouro sólido escorre pelas calhas
e ergue-se o desengano em outras praias
pensa campos e nuvens e oásis
e deixa falhas frestas faias
e vai anoitecer em outras florestas
em baías sem ancoradouro às cascas às naus
e depois de alegrar poças com outras luas
de brilhar espantalhos em outras touças
a tempestade retorna aos desertos
ameaça minhas tortas tralhas
e volta sem os corais do repouso
em meus dias de trapaças lodaçais
não varre o alcatrão de meus beirais
espalha o amor onde o sol trabalha.
●•
Esqueceu o vértice de uns ombros,
da prata de uns umbrais.
Da possível palmatória na hora do crime,
das algas já em águas claras.
Não se lembrou do instante de inclinar
a palavra — a palavra que liberta o escravo.
Esqueceu de enfiar outra saliva
na travessia de uns umbrais.
Abandonou o sopro
se achou florida a calêndula.
Diante do que dizer,
deixou-se escrava nas escarpas.
Fiquem incompletas a fendas da fala.
●•
Viajei. Vi homens no luxo
Vi crianças no lixo
e no lixo tropecei
Roupas lavadas próximas aos meus passos
e o que encobria úmida
podia ser relva, pedra ou trevo
Nas seis manhãs
as roupas estendidas nas calçadas
Viajei. Vi casais que quase se abraçavam
As sete pontes, algumas de ferro recortado
no estrangeiro
Vi mulheres a sós com os filhos
se sentindo alienígenas
Não pude ver os ausentes companheiros
Não pude ver as freiras recolhidas
e a zabumba a ensaiar o próximo frevo
Viajei. Senti este cheiro de homem
Fezes. Este cheiro ejaculado.
Vestido de passado
comi as minhas sete refeições
bebi os meus sete cálices
Não estive próximo à arma do tiro
Ao morto não levei luto nem mortalha
Viajei. Vi e apalpei
E se acreditei foi pela flor agreste
Foi pelo tremeluzir das luzes sobre as fezes
●•
E se todos decidíssemos pela ausência?
Ficássemos quietos sem nenhum verso
os peixes secos
esquecidos na travessa
Ficássemos com as nádegas mofadas
capim assim torrando
sem que viessem os bafos das bocas
terras férteis sem chuva que as amoleçam
Fôssemos as histórias perdidas
se não vêm quem as ouça
e outro que nunca soube
do encontro que trouxemos tão perto
Estivéssemos onde nenhum herói aparece
nas esquinas onde os homens
não sabem qual será a conversa
Sermos a lua dispersa
o sol que não está mais no universo
Trava que se quebra
e nenhum rosto avança na fresta
Fôssemos o que ria
entre os olhos que padecem
quando fossem as quedas dos planetas
dos rubis adversos
Arte gráfica: Edson Guedes de Moraes
– Editora Guararapes – PE - 2016
SALOMÃO SOUSA, POETA GOIANO - ENTREVISTA com ANTONIO MIRANDA - Brasilia, 2010
fala sobre poesia contemporânea - poesia neobarroca - poesia de invenção - Videomaker: Nildo Barbosa Moreira
POETAS EM SILVÂNIA
Os poetas Salomão Sousa e Antonio Miranda em um beco antigo de Silvânia, Goiás, terra natal de Salomão. Foto de Robson Corrêa de Araújo, julho 2007
SOUSA, Salomão. Poemas. Jaboatão. PE: Editora Guararapes EGM, 2014. 58 p; ilus. col. Texto de apresentação: João Carlos Taveira. Editor: Edson Guedes de Moraes. Edição artesanal, tiragem limitada. Exemplar col. part. bibl. Salomão Sousa.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
[ SOUSA, Salomão ] SOSA, Salomón.Despegues y resonancias. Lima, Peru: Maribelina, Casa del Poeta Peruano, 2016. 25 p. Poemas traducidos por Silvia Long-ohni, Tzintia Montaño, Arturo Ramírez Hernández,Arturo Ramírez Hernández, Kori Bolivia. Editor José Guillermo Vargas, para el evento internacional de Poetas “José Lopez Coronado”, Chota, Perú, del 13 al 16 de julio de 2016.
VI FESTIVAL DE POESIA “LAS LENGUAS DE AMÉRICA CARLOS MONTEMAYOR”.Jueves 9 de octubre de 2014. Sala Nezahaulcóyotl, Centro Cultural Universitario. Ciudad de México: Universidad Atónoma de México, 2014. Incluy programa, biografias e poemas dos participantes, incluindo o brasileiro Salomão Sousa. s.p. ilus. col.
SOUSA, Salomão. Poemas de Salomão Sousa em cartões para o Natal de
2012.Jaboatão, PE: Editora Guararapes. s.d. Editor:
Edson Guedes de Morais. Inclui 17 poemas impressos (com impressora
caseira) em formato de convite 10,5x15 cm, ilus. col., com os seguintes
poemas: “ela espera com as verbenas”, “e este dardo da dúvida”, “a
tempestade espraia corpos em desmaio”, “viajei...”, “ser um deus num céu
de terra”, “vamos fazer uma tempestade”, “mede o universo verde”,
“pudesse surgir...”, “e se todos decidíssemos”, “para quando será a
entrega?”, “aí acolhes o sol”, “grito maior não há”, “a lua vigia a viagem”,
“imagem dentro da ampulheta”, “ame com as forças e os frouxames”,
“acende as prontas palhas”, “fui só erras em desterros”. Edição limitada.
“ Salomão Sousa “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Um dos poemas do livro:
SALOMÃO SOUSA
Tradução de Silvia Long-ohni
●•
Muitas coisas paralelas
e eu uma delas
Talvez eu fosse o canário
a janela
e tanto não me abro
e tanto não me amarelo
●•
Muchas cosas paralelas
y yo una de ellas
Tal vez fuese el canario
la mirilla
y en tanto no me abro
y en tanto no me amarillo
●•
Acende as prontas palhas
ouro sólido escorre pelas calhas
e ergue-se o desengano em outras praias
pensa campos e nuvens e oásis
e deixa falhas frestas faias
e vai anoitecer em outras florestas
em baías sem ancoradouro às cascas às naus
e depois de alegrar poças com outras luas
de brilhar espantalhos em outras touças
a tempestade retorna aos desertos
ameaça minhas tortas tralhas
e volta sem os corais do repouso
em meus dias de trapaças lodaçais
não varre o alcatrão de meus beirais
espalha o amor onde o sol trabalha.
●•
Enciende las listas pajas
oro sólido se escurre por las tejas
y se yergue el desengaño en otras playas
imagina campos y nubes y oasis
y deja fallas grietas faias
y vete a anochecer en otras florestas
en bahías sin ancladero a los cascos a las naves
y después de alegrar charcas con otras lunas
de lucir espantajos en otras tocas
la tempestad retoma los desiertos
amenaza mis torcidas baratijas
y vuelve sin los corales del reposo
en mis días de traperos lodazales
no barre el alquitrán de mis orillas
despaja el amor donde el sol trabaja
●•
Esqueceu o vértice de uns ombros,
da prata de uns umbrais.
Da possível palmatória na hora do crime,
das algas já em águas claras.
Não se lembrou do instante de inclinar
a palavra — a palavra que liberta o escravo.
Esqueceu de enfiar outra saliva
na travessia de uns umbrais.
Abandonou o sopro
se achou florida a calêndula.
Diante do que dizer,
deixou-se escrava nas escarpas.
Fiquem incompletas a fendas da fala.
●•
Se olvidó del vértice de unos hombros,
de la plata de unos umbrales,
de la posible palmatoria en la hora del crimen,
de las algas ya en aguas claras.
No se acordó del instante de inclinar
la palabra – la palabra que libera al esclavo.
Se olvidó de lanzar otra escupida
en la travesía de unos umbrales.
Abandonó el soplo
encontró florida la caléndula.
Frente al quédecir
se dejó esclavaen las escarpas.
Queden incompletas las fisuras del habla.
●•
Viajei. Vi homens no luxo
Vi crianças no lixo
e no lixo tropecei
Roupas lavadas próximas aos meus passos
e o que encobria úmida
podia ser relva, pedra ou trevo
Nas seis manhãs
as roupas estendidas nas calçadas
Viajei. Vi casais que quase se abraçavam
As sete pontes, algumas de ferro recortado
no estrangeiro
Vi mulheres a sós com os filhos
se sentindo alienígenas
Não pude ver os ausentes companheiros
Não pude ver as freiras recolhidas
e a zabumba a ensaiar o próximo frevo
Viajei. Senti este cheiro de homem
Fezes. Este cheiro ejaculado.
Vestido de passado
comi as minhas sete refeições
bebi os meus sete cálices
Não estive próximo à arma do tiro
Ao morto não levei luto nem mortalha
Viajei. Vi e apalpei
E se acreditei foi pela flor agreste
Foi pelo tremeluzir das luzes sobre as fezes
●•
Viajé. Vi hombres en el lujo.
Vi niños en la lija
y en la lija tropecé.
Ropas lavadas cercanas a mis pasos
y lo que encubría húmeda
podía ser pasto, piedra o trébol.
En las seis mañanas
las ropas extendidas en las calzadas.
Viajé. Vi parejas que casi se abrazaban.
Los siete puentes, algunos de hierro forjado
en el extranjero.
Vi mujeres a solas con los hijos
sintiéndose alienígenas.
No pude ver a los ausentes compañeros.
No pude ver las monjas recogidas
y el tambor para ensayar el próximo frevo*
Viajé. Sentí este olor a hombre.
Heces. Este olor eyaculado.
Vestido de pasado
me comí mis siete colaciones
bebí mis siete cálices.
No estuve próximo al arma de tiro.
Al muerto no llevé luto ni mortaja.
Viajé. Vi y palpé.
Y si creí fue por la flor agreste.
Fue por el temblucir de las luces sobre las heces.
●•
E se todos decidíssemos pela ausência?
Ficássemos quietos sem nenhum verso
os peixes secos
esquecidos na travessa
Ficássemos com as nádegas mofadas
capim assim torrando
sem que viessem os bafos das bocas
terras férteis sem chuva que as amoleçam
Fôssemos as histórias perdidas
se não vêm quem as ouça
e outro que nunca soube
do encontro que trouxemos tão perto
Estivéssemos onde nenhum herói aparece
nas esquinas onde os homens
não sabem qual será a conversa
Sermos a lua dispersa
o sol que não está mais no universo
Trava que se quebra
e nenhum rosto avança na fresta
Fôssemos o que ria
entre os olhos que padecem
quando fossem as quedas dos planetas
dos rubis adversos
●•
¿Y si todos nos decidiésemos por la ausencia?
Si quedásemos quietos sin ningún verso
los peces secos
olvidados en la bandeja.
Si quedásemos con las nalgas enmohecidas
hierba así tostando
sin que viesen los alientos de las bocas
tierras fértiles sin lluvia que las aflojen.
Si fuésemos las historias perdidas
si no viene quien las oiga
y otro que nuncasupo
del encuentro que acarreamos tan cerca.
Si estuviésemos donde ningún héroe aparece
en las esquinas donde los hombres
no saben cual será la conversación.
Seremos la luna dispersa
el sol que no está más en el universo.
Traba que se quiebra
y ningún rostro avanza en la grieta.
Si fuésemos lo que ríe
entre los ojos que padecen
cuando fuesen lascaídasde los planetas
de losrubíes adversos.
SAFRAS
No primeiro ano de casado,
a roça deu maravilhas.
Deu o que plantou
e o que não plantou.
O arroz, a taioba, o joá na queimada.
E assim nos próximos cinco anos
até que o quinto filho nasceu.
Daí a roça se afastou
para os matos de mais longe.
Quando os cambitos dos filhos
deram para afinar
e ficar descobertos,
o mato de dar de comer
acabou.
Teve que repetir na terra de antes.
A plantação para o nono filho
não vingou.
ZAFRAS
En el primer año de casado
La roza dio maravillas
Dio lo que se plantó
y lo que no se plantó.
El arroz, la taioba, el joá en la rozada.
Y así en los siguientes cinco años
hasta que el quinto hijo nació.
De ahí la roza se alejó
hacia los matos más extensos.
Cuando las piernas canilludas de los hijos
enflaquecieron
y quedaron al descubierto,
el mato que da de comer
acabó.
Se tuvo que reiterar en la tierra de antes.
La plantación para el noveno hijo
no prosperó.
Salomão Sousa, Maria Abadia Silva e Antonio Miranda juntos no primeiro dia de 2013.
Salomão Sousa, Goiandira Ortiz de Camargo , Gilberto Mendonça Teles e Antonio Miranda no evento I Colóquio de Poesia Goiana, Junho de 2017.
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EN ESPAÑOL
POESIA EM TRÂNSITO - Argentina - Brasil. org. Fernando Sánchez Zinny. Buenos Aires: La Luna Que, 2009. 224 p.
supervisão de Sylvia Long-Ohni e Valeria Duque)
Edição bilingue português e espanhol.
Nació en Goiás en 1956 y se instalo en Brasília en 1971, donde estúdio periodismo y se convirtió en funcionário público. Bibliografia: La molienda de los dias, 1979, DF; La molienda de los dias /El míedo de vivír, Ed. Civilização Brasileira 1980; Hablo, 1986, DF; Creación de lodo, 1993, DF; Cuaderno de des-apuntes, 1994, DF; Estoque de relâmpagos, Premio Bolsa Brasilia de Producción Literária, 2002,DF; Ruinas al sol, Premio Goyaz de Poesia, Ed. 7Letras, 2006; Zafra quebrada, 2007; y Momento crítico, Ed. Thesaurus, 2008, DF, de textos críticos, crónicas y aforismos. Comenzó en la infância su batalla por la poesia para defenderse de la soledad y encontrar la interacción humana. Pasó por la poesia de compromiso con la tierra y por la poesia marginal, durante la etapa de la dictadura militar en la que era necesario que la poesia abandonase la estrechez dei concretismo y de la práxis. Actualmente busca desde la postvanguardia la recuperación de aliteraciones y resonancias. Mantiene el blog de poesiawww.safraquebrada.blogspot.com.
Traducciones de Long-Ohni
A TEMPESTADE ESPRAIA OS CORPOS
EM DESMAIO
Acende as prontas palhas
ouro sólido escorre pelas calhas
e ergue-se o desengano em outras praias
pensa campos e nuvens e oásis
e deixa falhas frestas faias
e vai anoitecer em outras florestas
em baías sem ancoradouro às cascas às naus
e depois de alegrar poças com outras luas
de brilhar espantalhos em outras touças
a tempestade retorna aos desertos
ameaça minha tortas tralhas
e volta sem os corais do repouso
em meus dias de trapaças lodaçais
não varre o alcatrão de meus beirais
espalha o amor onde o sol trabalha.
LA TEMPESTAD LANZA
CUERPOS DESMAYADOS
Enciende la listas pajas
oro sólido se escurre por las tejas
y se yergue el desengano en otras playas
imagina campos y nubes y oasis
y deja fallas grietas faias*
y vete a anochecer en otras florestas
en bahías sin ancladero a los cascos a las naves
y después de alegrara charcas con otras lunas
de lucir espantajos en otras tocas
la tempestad retoma los desiertos
amenaza mis torcidas baratijas
y vuelve sin los corales del reposo
en mis días de traperos lodazales
no barre el alquitrán de mis orillas
despaja el amor donde el sol trabaja.
*faias: tipo de árbol
* Viajei. Vi homens no luxo.
Vi crianças no lixo
e no lixo tropecei
Roupas lavada próximas aos meus passos
e o que encobria úmida
podia ser relva, pedra ou trevo.
Nas seis manhãs
as roupas estendidas nas calçadas
Viajei. Vi casais que quase se abraçavam
As sete pontes, algumas de ferro recortado
no estrangeiro.
Vi mulheres a sós com os filhos
se sentindo alienígenas.
Não pude ver os ausentes companheiros.
Não pude ver as freiras recolhidas
e a zabumba a ensaiar o próximo frevo
Viajei. Senti este cheiro de homem.
Fezes. Este cheiro ejaculado.
Vestido de passado
comi minhas sete refeições
bebi os meus sete cálices.
Não estive próximo à arma do tiro.
Ao morto não levei luto nem mortalha.
Viajei. Vi e apalpei.
E se acreditei foi pela flor agreste.
Foi pelo tremeluzir das luzes sobre as fezes.
*
Viajé. Vi hombres en el lujo.
Vi niños en la lija
y en la lija tropecé.
Ropas lavadas cercanas a mis pasos
y lo que encubría húmeda
podía ser pasto, piedra o trébol.
En las seis mañanas
las ropas extendidas en las calzadas.
Viajé. Vi parejas que casi se abrazaban.
Los siete puentes, algunos de hierro forjado
en el estranjero.
Vi mujeres a solas con los hijos
sintiéndose alienígenas.
No pude ver a los ausentes compañeros.
No pude ver las monjas recogidas
y el tambor para ensayar el próximo frevo*.
Viajé. Senti este olor a hombre.
Heces. Este olor eyaculado.
Vestido de passado
me comí mis siete relexiones
bebí mis siete cálices.
No estuve próximo al arma de tiro.
Al muerto no llevé luto ni mortaja.
Viajé. Vi y palpé.
Y si creí fue por la flor agreste.
Fue por el temblelucir de las luces sobre las
heces.
*Frevo: ritmo musical característico del Brasil.
*
E se todos decidíssemos pela ausência?
Ficássemos quietos sem nenhum verso
os peixes secos
esquecidos na travessa
Ficássemos com as nádegas mofadas
capim assim torrando
sem que viessem os bafos das bocas
terras férteis sem chuva que as amoleçam
Fôssemos as histórias perdidas
se não vêm quem as ouça
e outro que nunca soube
do encontro que trouxemos tão perto
Estivéssemos onde nenhum herói aparece
nas esquinas onde os homens
não sabem qual será a conversa
Sermos a lua dispersa
o sol que não está mais no universo
Trava que se quebra
e nenhum rosto avança na fresta
Fôssemos o que ria
entre os olhos que padecem
quando fossem as quedas dos planetas
dos rubis adversos
*
¿Y si todos nos decidiésemos por la ausencia?
Si quedásemos quietos sin ningún verso
los peces secos
olvidados en la bandeja.
Si quedásemos con las nalgas escarnecidas
hierba así tostando
sin que viesen los alientos de las bocas
tierras fértiles sin lluvia que las aflojen.
Si fuésemos las historias perdidas
si no viene quien las oiga
y outro que nunca sepa
del encuentro que enfardamos tan cerca.
Si estuviésemos donde ningún héroe aparece
en las esquinas donde los hombres
no saben cual será la conversación.
Seremos la luna dipersa
el sol que no está más en el universo.
Traba que se quebra
y ningún rostro avanza en la grieta.
Si fuésemos lo que ríe
entre los ojos que padecen
cuando fuesen las quietudes de los planetas
dos rubíes adversos.
SAFRAS
No primeiro ano de casado,
a roça deu maravilhas.
Deu o que plantou
e o que não plantou.
O arro, a taioba, o joá na queimada.
E assim nos próximos cinco anos
até que o quinto filho nasceu.
Daí a roça se afastou
para os matos mais longe.
Quando os cambitos dos filhos
deram para afinar
e ficar descobertos,
o mato de dar de comer
acabou.
Teve que repetir na terra de antes.
A plantação para o nono filho
não vingou.
ZAFRAS
En el primer año de casado
la roza dio maravillas.
Dio lo que se plantó
y lo que no se plantó.
El arroz, la taioba*, el joá* en la rozada.
Y así en los siguientes cinco años
hasta que el quinto hijo nació.
De ahí la raoza se alejó
hacia los matos más extensos.
Cuando las piernas canilludas de los hijos
se dieron para reducir
y quedar descubiertos
el mato que da de comer
acabó.
Tuvo que reiterar en la tierra de antes.
La plantación para el noveno hijo
no prosperó.
Taioba* y joá*, verduras propias de cierta región de Brasil.
*
Muitas coisas paralelas
e eu uma delas
Talvez. Eu fosse o canário
a janela
e tanto não me abro
e tanto não me amarelo.
Muchas cosas paralelas
y yo una de ellas
Tal vez fuese el canário
la mirilla
y en tanto no me abro
y en tanto no me amarillo.
*
NOVO DECAMERON. Antologia poética.Org. Rodrigo Starling, 2021. 235 p. ISBN 978-65-994-783-7-6-1
Ex. bibl. Antonio Miranda
MEMÓRIA INFECTA
Não aguento mais ler, folhear
os mortos raios de sol na janela,
escorar-me nos degraus da área.
Dobradas, as pernas ardem.
Por mais que substitua os calçados,
os pés suam e, gélidos, me torturam.
Nada me soa biográfico
se não me sinto um homem
que seja sombra na areia, vulto
homem movente na água.
Não sei em que ameaço
o projeto, o entupimento
de um cano ou a estação.
Não imagino porque desconfiam
que eu desejo atravessar,
se pretendo abraçar
ou levar a chave.
Tal incômodo que fecho
com cola venenosa
a entrada do formigueiro.
As formigas a saírem
dos furos do rejunte da janela
constituem uma distração.
Limpar a pia é bem mais solitário
após a pandemia da formigas.
Quem foi à praça para o manifesto
com seu punhado de tubos
de pasta de memória infecta?
OCULTO
Necessário permanecer em clausura
para não perder a minha sombra.
Cometo o despropósito de existir,
de não omitir o desejo de ocupar
a luz que mostra a lâmina da relva,
de não querer me ocultar qual
mariposa entre gravetos, a me ofuscar.
Como irei cumprimentar Benedetti
e a minha irmã, se estamos às vésperas
do aniversário? E o verso é amoroso.
Os protocolos falseado e os gananciosos
continuam a fincar estacas.
Há o cerco e não avisto a ronda.
Temo de repente o esquecimento
de como posicionar a faixa de resistência
ou modular as válvulas de um grito.
E, bem antes, enganei a minha ganância.
Não lavrei estacas, não desenhei a Muralha.
FINCAPÉ – Coletivo de Poetas.Org. Menezes y Moraes. Brasília: Thesaurus Editora, 2011. 280 p. 12,5 X 22, 5 cm
ISBN 978-85- 7062-969-1 Ex. bibl. Antonio Miranda
Viga Amor de Morcego
Viga amor de morcego
trote sem roupas e arreio
encostado ânus no pelo
felpudo escudo de tetas
nada de Antártida degelo
tempero nas peles ledas
ávido tridente de Orfeu
onde irá oferecer o sexo?
onde banguela no seu?
vistos lambendo lábios
lapelas na altura do buço
úmido muco nos dedos
mãos correm nádegas
agulhas de deserto degelo
queda lenta de um galho
verga amor de morcego
ceias doses de aguardente
arreio armado nas costas
fogo apagado na socas
monte de cinza das bostas
caras dentro de um rego
esterco estéril no peito
cascavel aleita um sexo
úmido veneno nos dedos
feito de coragem e de medo
era para vir e não veio
não cabe mais graveto
a cabeça queima lenta
fogosa lâmpada de azeite
dois tiros rentes à cerca
cinco cães na mesma teta
o frio crispa o leite azedo
vagens bojudas no seio
era para sorrir e comeu
não irá vender arreios
coices num vácuo de Orfeu
só o grunhir de morcego
Ser Deus Num Céu de Terra
Ser Deus num céu de Terra
Sereno na serra serenas águas
o deus trem sobre os trilhos
Ser simplesmente na terra
o deus penumbra o deus sombra
Sombra sem nádegas sobre as águas
Entre as nádegas entre as águas
os umbigos que estarão belos
Serão flores serão cogumelos
Será feliz ser deus ser as dádivas
o deus terra o deus novilho
só para poder comê-los
como umbigos como cogumelos
Entre os umbigos entre os cogumelos
é a terra que se mostrará bela
Será talhos e será trem e também trilhos
Será ser feliz ser o deus viagem
O deus fome o deus navalha
só para poder partir e poder comê-la
como talhos como terra
E Se Decidíssimos Pela Ausência?
E se decidíssimos pela ausência?
Ficássemos quietos sem nenhum verso
os peixes secos
esquecidos na travessa
Ficássemos com as nádegas mofadas
capim assim torrando
sem que viessem os bafos da bocas
terras férteis sem chuva que as amoleçam
Fôssemos as histórias perdidas
se não vêm quem as ouça
e outro que nunca soube
do encontro que trouxemos tão perto
Estivéssemos onde nenhum herói aparece
nas esquinas onde os homens
não sabem qual será a conversa
Seremos a lua dispersa
o sol que não está mais no universo
Trava que se quebra
e nenhum rosto avança na fresta
Fôssemos o que ria
entre os olhos que padecem
quando fossem as quedas dos planetas
dos rubis adversos
Brasília
Do mar
sobrou o ar.
De vez em quando
notícias de amigo
ou cheiro verde
de colheita.
Mas não fica
cheiro nas paredes
ou no alguidar.
A residência
não quer dono,
é de quem entrar
Sem esquina
para demora.
Eterno regresso
para onde mora.
Não tem por onde
o desespero olhar.
Veio para ficar rico
e a riqueza
não se identifica.
SALOMÃO SOUSA EM VISITA AO PERÚ
SOUSA, Salomão. Bifurcações — memória, resistência e leitura. Cidade Ocidental, GO: Gráfica Serafim, 2022. 164 p. ISBN 978-65-992311-1-7 Ex. bibl. Antonio Miranda
***
Pensa numa borboleta
no ouro do olho da vespa.
Se as pequenas ondulações ao vento
são bela,
imagina um elefante na sala.
No mar, uma caravela.
***
Uma vez escrevi um texto que está perdido por aí em que
usei uma frase que não sei se é minha ou de Jorge Luis
Borges: "Às vezes os dinossauros chegam com suas pesadas
patas, mas não corremos risco algum".
***
Fomos buscá-las
e as luas estavam em órbita
Não conseguimos sequer chocar
com tetos deslocados
Mas quem poderia esperar
que houvesse um ajuste
como as pétalas superpostas?
Retornaremos inúteis
se não pudermos postar
um pouco de ouro no mundo
Em época de egocentrismo, com todo mundo se proclamando eu pra cá e pra lá, o eucalipto deve estar renegando o próprio
nome.
***
Descubro-me indigno
Não consigo implantar uma placa tectônica
para impedir um tremor de terra
Se eu conseguisse neutralizar um nervo,
um íon nos meus desejos
e não tremeriam os meus lábios
Organizam-se em meus lençóis,
sem que eu os aclame, nos restos
de minha pele, gorduras que eu nem
desejei derramar, ácaros e fungos
sedentos de armar a colônia
Talvez me falte cognição,
perda de olfato, a dignidade de um mito
Quando descubro, passei pelo luto,
racharam um crânio com se parte um repolho
Nem pensei em enfrentar olho por olho
e temporariamente um dente se parte.
CONTRASTE DA AMÉRICA: antologia de poesia brasileira. Organizador Djami Sezostre. São Paulo, SP: Editora Laranja Original, 2022. 189 p. ISBN 978-65-86042-40-5.
Ex. biibl. Antonio Miranda
TEMOR DE VIVER SÓ NUMA FOTOGRAFIA
temor de viver só numa fotografia
articulada/crestada com artifícios
não ter passado por uma bruma
por um dorso / pelas arcadas da avenida
por onde anda a sensatez / ser arco
inflexível a atirar ao acaso
o medo de um vizinho ruidoso / cheio
de espuma das noites bêbadas
sem a tez do suor / as mãos que saúdam
que não articulem os gestos da degola
o ridículo de uma representação oficial
quando o diálogo não foi / não flui
outra vez o temor do empacotamento
dos homens todos / nas máquinas
nas casas cercadas por segurança/
apartamentos a trancas / a barras / a traves
outra vez o ridículo da interpretação
ouvir os homens anchos de si /acham
não pode acontecer / o ridículo de pedir vez
de entrar num shopping / na universidade
outra vez o temor / outra vez o ridículo
destrinchamentos / destazados estudantes
em Iguala, Guerrero /na cadeira do dragão
e outra vez Gelman vai estar no exílio
e se alguém vai estar morto / outra vez
na forca de uma cela o novo herói
BIOGRAFIA DAS EXPERIÊNCIAS ÚTEIS
O que fazer dom a experiência de existir?
De ser pequeno peixe de vala
e sobreviver entre fezes, entranhas
de galos que antes cantavam num poema
Qual a utilidade de eu estar próximo
da falésia que se ergue na abertura do rio
entre a manada de cães doentes
com cheiro de carne apodrecida?
Qual a esperança de eu não ser o próximo
a estar abandonado entre peixes secos,
madeira a se deteriorar coberta
do que escapa de saibro da areia de uma praia?
Não sei contribuir par que não se desfaleça
o punho de uma criança, para que o próximo
triturador não se enfureça sobre os grãos.
Continuo inútil para elevar o anteparo
de crescer as ramas de fave e de inhame.
Mal reconheço o que cresce na encosta.
Até a amizade está em suspenso próximo
aos que desentendem quanto à abertura
de uma trilha por onde possamos
nos reunir para preparar a evasão
MAL ME MOVO E JÁ PREPARO A PRÓXIMA REPETIÇÃO
Mal me movo e já preparo a próxima repetição
a exaustão de aspirar o que estava vivo e conspirante.
Só pertenço ao que exigirá o meu cansaço,
só ao que me respondeu com seu grito enervado.
Os seiscentos diamantes não me enriquecem,
talvez os olhos consciente dos homens,
das mulheres, das crianças que podem apalpar
a vertente, o curtume, e puderam repousar
sem a degradação das crenças e dos frutos.
Esqueço-me ao atravessar a rua cheia
de virilidade, de luz, de cortesia das cores,
após a extinção das cordas da impossibilidade amarga.
Não me aprisiono no temor da liminar, no encosto
que pertence a outras coisas, a gêneros
que não estiveram em meu sexo. Eu que sequer
sei as orações de remover as montanhas,
onde se deterioram as grandes aeronaves,
não me aprisiono no risco da neutralidade da pane,
num codinome, possivelmente na íris de um sol
eu transite e queira transmitir o fim dos gestos
exaustos, nominação desconhecida da luz e da lei.
Ponho-me ao ar livre e ele pode me circundar
com frescor e grito. A espada de Dâmocles
vai me enferrujar na eterna espera de minha falha.
Não sugarei antropofagicamente como homem,
não partirei a sua porta, o seu crânio. Vai querer
uma palavra e não ficarei mudo. Vai querer
uma embarcação e não ficarmos ancorados.
LITERATURA. Revista do Escritor Brasileiro. No. 32. Ano XV, MAI/OUT 2006. Brasília. Editor: Nilto Maciel. ISSN 1518-5109
Ex. biblioteca de Antonio Miranda
“RUINAS AO SOL: ALEGORIA E SUBVERSÃO NA OBRA DE SALOMÃO
SOUSA” Ensaio por Ana Ramiro.
“O novo livro de Salomão Sousa ilumina como uma pequena jóia
emblemática , mas mais do que emblemática, é um corpo vivo,
palavra latente:”
“Depois das derrotas, dos desterros, das ruínas
brocados de vento já chamam dos horizontes
reservas de estume guardam cores
daqui se vai para as aventuras
flores dentro de anêmonas
com respostas das línguas das premissas
os pés atravessando crostas
as peles derrotarão feridas
ainda que tenham de entrar nas pedras
os rios abrirão descobertas
penhas de nunca vistas maravilhas
campinas trêmulas, vencidas de perdas
e já não existem lanhos e prisões
ou abusando chavascal se lírio
mortas as trilhas do cancro
e as folhas que não diziam tílias
e na pela digam as duras redes
e na terra diga o trigo
tudo diz nada enubla
tudo diz nada emigra
adeus às vedas dos indestino
de impedir as palavras do sol!
entre as promessas
já não fustigam as urtigas
o ondear em Ofir e em nossos lábios”
(do livro Ruinas ao Sol)
“Ruinas ao Sol (editora 7 Letras), do poeta goiano radicado em Brasília, Salomão Sousa, vencedor do prêmio Goyas de Poesia de 2006, é um desses exemplos de obra renovada//renovadora, ainda raros no atual cenário poético nacional, e que levam o leitor para além da visão estático-linear, estimulando-o a vôos mais altos, a experiências poéticas mais profundas, através de um vasto jogo de imagens menores, à maneira de um pictograma”. ANA RAMIRO.
SOUSA, Salomão. Poesia e alteridade. Apresentação de Natalia
Ginzburg. Capa: Carlos Alberto. Brasília: Gráfica Serafim, 2024. 144 p. ISBN 978-65-992311-3-1 No. 10 885
Exemplar na coleção de Antonio Miranda
Com a Poesia, invado territórios
enfrento a fúria dos deuses,
sou acolhido em outras Pátrias,
penso com outras mentes
e vejo com os olhos de outras linguagens.
O presente livro inclui ensaios sobre Anderson Braga Horta, sobre a poesia goiana, a de Alexandre Pilati, João Guimarães Rosa,
sobre o desconforto kafkiano de existir, sobre as flores de uma irada sabedoria, sobre Mr. Hyde, o envenenamento político da nacionalidade, e sobre a desconstrução pela alteridade!
E assim se expressa Salomão Sousa na capa final do livro:
“A poesia é uma expressão livre, que desobedece, confunde
as hierarquias se os poderes. Não aceita esvaziar-se de artifícios de conteúdo e de construção só para ser boa sou compreensível.
A poesia não existe para trazer conforto, talvez para estabelecer exaltação onírica ou estado de rebeldia.
Ora a Poesia nos funde; ora, nos confunde.
Com a Poesia, fundamos o que é humano.”
SOUSA, Salomão. Certezas para as madressilvas. Litogravura da capa de Bento Nascimento. Brasíllia: Gráfica Serafim, 2024. 104 p. ISBN 978-002311-2-3 No. 10 884 Exemplar na coleção de Antonio Miranda
Tema de florescer madressilvas
De onde retirar o tema urgente, se há a permanente
constância de enfrentar com fogo. Quase não respiro,
quase unguento sobre a pele. Nudez por onde piso.
Piso de carvão, piso de cinzas, cinzas meus umbrais.
Fico sobre brasas a ouvir ameaças de inimigos.
Salvar o meu quintal, onde casas de meus pássaros,
o ar de respirar. Vivem nuas as varas do meu jirau.
Durmo sobre ossadas, cascas quebradiças de víboras.
As árvores a revidarem com os braços. Secos
meus brônquios, meu sobro solitário, roído meu funil.
Insistem as formas em deformarem-se em outras.
Onde o tema gentil de sentarmos com nosso povo,
de retirarmos a dormência do que não se enquadra?
Folguemos com o tema de florescer madressilvas.
Visita
Receber uma visita
que saiba contar as verdades do mundo,
as verdades sem artifícios da máquina,
mas que saiba para onde as águas correm,
que saiba o que as águas levam,
que saiba o que colocar no silêncio
e não seja o estrupício das bombas,
que combata a instalação das forcas
para mulheres violentadas,
mas que alimente a alegria
com touças de gravatás e folhas de alecrim,
que não jogue garrafas sobre os canteiros
nem suba ao telhado inchado de palavrões,
que saiba os rastros de colocar no caminho,
que astro pôr para brilhar no céu,
que saiba quem somos,
que não saiba imitar uma árvore seca,
que saiba nos apascentar para a Paz,
uma visita assim como as flores
que se descolam para deixar o lugar
para nascimento de sementes,
como os frutos
que deixam em nós o néctar,
uma visita que saiba paralisar o relâmpago
para auxiliarmos o céu.
Não esquecer da paz
Amanhece com o vento vagando
abraçando-me com o frio
colhido nos montes, talvez sombrios
os cheiro de sementes e ovos
prontos para germinar sem ódio
Amanhece e ainda estão vivas
as flores de ontem, os gritos
que nunca se esquecem da paz
As palavras de Holderlin,
talvez ninguém as conheça
nos momentos de “Pão e vinho”:
“quem iria querer impedir-nos a alegria?”
*
Página ampliada em setembro de 2024 Página ampliada e republicada em março de 2022
Página publicada em dezembro de 2021.
Página ampliada em abril de 2021
BIBLIOGRAFIA DE SALOMÃO SOUSA:
(Obras tipográficas):
SOUSA, Salomão. Caderno de desapontamento. Brasília: Edi??es Falo, 1994.
64 p. 10,5x20 cm. Capa: gravura de Guida.
SOUSA, Salomão. Cascos e caminhos. Posfácios de Adelito Gonçalves, Lina Tâmega Peixoto, Alexandre Vieira de Almeida, Sérgio de Castro Pinto, Wil Prado. Brasília: Gráfica Serafim, 2020. 128 p. 15 x 22 cm. ISBN 978-65-992311-0-0.
SOUSA, Salomão. Cinco poemas. / Jaboatão, PE: Editora Guararapes, 2015.
30 p. ilus. ?20x13 cm. Editor: Edson Guedes de Morais. / ilus. ilus.
14,5 x 11cm.
SOUSA, Salomão. Criação de lodo. Brasília: edição do autor, 1993.74 p.
15,5x22 cm. Capa: Cely Luz, usando imagem Terra no açude de Quichabe em Paranamirim, PE, foto Antonio Gaudério.
SOUSA, Salomão. Desmanche I. Desenhos de Patrícia Ferreira. Brasília: Editora
Otimismo, 2018. 176 p. 143 x 20 cm. ISBN 978-85-86526-68-4
[ SOUSA, Salomão - SOSA, Salomón. Despegues y ressonancias. Lima, Peru:
Maribelina, Casa del Poeta Peruano, 2016. 65 p. Poemas traducidos por
Silvia Long-ohni, Tzintia Montayo, Arturo Ramírez Hernández , Arturo
Ramírez Hernández, Kori Bolivia. Editor José Guillermo Vargas, para el
evento internacional de Poetas “José Lopez Coronado”, Chota, Perú, del
13 al 16 de julio de 2016.
SOUSA, Salomão. Do medieval das beiras do rio Calvo - hipermodernidade
de Brasília. Discurso de posse na Academia de Letras do Brasil. Cadeira
no. 10. Precedido pelo discurso de recepção da acadêmica Kori Bolivia.
Brasília, DF: 2019. 32 p.
SOUSA, Salomão. Estoque de relâmpagos. Brasília: Secretaria de Estado da
Cultura, Governo do Distrito Federal, 2002. 153 p. 13,5 x 21 cm. Papel
plen soft.
SOUSA, Salomão. Falo. Brasília: Thesaurus, 1986. 84 p. (Coleção Itiquira)?
10,5x21 cm.
FINCAPÉ – Coletivo de Poetas. Org. Menezes y Moraes. Brasília: Thesaurus Editora, 2011. 280 p. 12,5 X 22, 5 cm
ISBN 978-85- 7062-969-1 Inclui os poemas de Salomão Sousa: Viga Amor de Morcego, Ser Deus Num Céu de Terra, E Se Todos Decidíssimos Pela Ausência; Brasília.
LINGUAGENS - LENGUAGENES /Edição bilíngue Português / Español. Organização
Menezes y Morais; tradução Carlos Saiz Alvarez, Maria Florencia Benítez,
Lua de Moraes, Menezes y Morais e Paulo Lima.. Brasília, SD: Trampolim,
2018. 190 p. (coletânea do Coletivo de poetas) ISBN 978-85-5325
035-6. Esta antologia inclui o poema “Compromisso” e a tradução ao
Español: “Compromiso”.
SOUSA, Salomão. A moenda dos dias. Brasília: Coordenada, 1979. 68 p.
12x19,3 cm. Capa de Manu.
CALIANDRA: poesia em Brasília. Brasília: André Quicé Editor, 1995. 224 p. 224 p. ilus. ISBN 85-85958-02-2 Inclui 4 poemas de Salomão Sousa.
SOUSA, Salomão. Momento crítico. Brasília: Thesaurus, 2009. 237 p.
SOUSA, Salomão. Não escalo as montanhas de Ruínas ao sol. Jaboatão, PE:
Editora Guararapes, 2015. 30 p. ilus. 20x13 cm. Editor: Edson Guedes de
Morais.
SOUSA, Salomão. Ruinas ao sol. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.?86 p. 13x20
cm. ISBN 85-7577-278-3
SOUSA, Salomão.Safra quebrada. Brasília: Dupligráfica, 2007. 320 p. 16x23
cm. ISBN 978-85-08816-03-6?Capa: Carlos Sousa. Fotos de Roberto
Corrêa de Araújo. Impressa com recursos do FAC-DF.
SOUSA, Salomão. Poemas de Salomão Sousa em cartões para o Natal de?
2012. Jaboatão, PE: Editora Guararapes. s.d. Editor: Edson Guedes de
Morais. Inclui 17 poemas impressos (com impressora caseira) em formato
de convite 10,5x15 cm, ilus. col., com os seguintes
poemas: “ela espera com as verbenas”, “e este dardo da dúvida”, “a
tempestade espraia corpos em desmaio”, “viajei...”, “ser um deus num céu
de terra”, “vamos fazer uma tempestade”, “mede o universo verde”,
“pudesse surgir...”, “e se todos decidíssemos”, “para quando será a
entrega”, “aa acolhes o sol”, “grito maior não há”, “a lua vigia a viagem
“imagem dentro da ampulheta”, “ame com as forças e os frouxames”,
“acende as prontas palhas”, “fui serras em desterros”. Edição limitada.
“ Salomão Sousa “
SOUSA, Salomão. Política e andorinhas. Desenhos de Zenilton Gayoso. Brasília:
Editora Otimismo, 2018. 144 p. ilus.? 14 x 20,5 cm. ISBN 978-85-8652-
453-8
SOUSA, Salomão. Vagem de vidro. Brasília: Thesaurus, 2013. 104 p. 11X20
cm. ISBN 978-85-S409-0167-4
SOUSA, Salomão. Cascos e caminhos. Posfácios de Adelito Gonçalves, Lina Tâmega Peixoto, Alexandre Vieira de Almeida, Sérgio de Castro Pinto, Wil Prado. Brasília: Gráfica Serafim, 2020. 128 p. 15 x 22 cm. ISBN 978-65-992311-0-0.
SOUSA, Salomão. PROVÉRBIOS DA LAMA. Antologia poética. Organização Rodrigo Starling. Belo Horizonte: Starlinga, 2020. 204 p. ISBN 978-85-990511-3-5
Inclui 4 poemas de Salomão Sousa.
IMAGENS LITERÁRIAS: a realidade e o sonho. Antologia 2020 – UBE – PB: autores paraibanos e convidados. Poesia – Contos – Crônicas – Artigos.Organizadores: Ana Isabel de Souza Leão – José Edmilson Rodrigues – Luiz Augusto Paiva. Itabuna, Bahia: Mondrongo, 2020. 224 p. 13,5 x 23 cm.
ISBN 978-65- 86124-22-4 Obra publicada sob a chancela da União Brasileira de Escritores – UBE, Subseção da Paraíba.
Página ampliada em setembro de 2020; ampliada em outubro de 2020