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Capa baseada na obra:

parangolébaiano do TT Catalão

 

OBRANOME

 

Por WAGNER BARJA

Curador da mostra OBRANOME 2

na I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA

(de 3 a 7 de setembro de 2008)

Diretor do Museu Nacional de Brasília

 

 

Veja trabalhos de:

ADOLFO NAVAS

ARNALDO ANTUNES

AUGUSTO DE CAMPOS

BENÉ FONTELES

ROLAND CAMPOS

 

“OBRANOME” resgata a idéia do poema-objeto e instiga várias possibilidades de comunicação entre a obra e o público. São artistas que apostaram em outros significados para utilização das palavras, abandonando a sintaxe convencional. Há os que partem das palavras e os que chegam até ela, a palavra-visual, sonora ou tátil.

 

OBRANOME define-se inicialmente em um território octogonal, estática e bidimensional. Esse octógono assume outro pressuposto espacial e evolui para ser um polígono tridimensional, ainda em condição estática. Finalmente nos terceiro e quarto referenciais, configuram-se as dimensões espaço/temporal. Filiado à obra “Bicho”, de Lygia Clark. O POEMAPOLÍGONO relativiza-se e tatua em cada um de seus lados o título/conceito da Mostra.

 

Os artistas envolvidos no projeto OBRANOME partilham a idéia e a condição de estarem no vão livre, no amplo espaço da poesia visual. Quem passa por esse vão não fica imune aos efeitos “não-especiais” dos eventos ocorridos no espaço pluridimensional da comunicação visual. As inúmeras possibilidades de intercomunicação nesse espaço de construção da nossa história visual podem, já, ser observados nas criações da protomoderminade, quando em 1914 a reedição de  un coupe de dés, — Um lance de dados jamais abolirá o acaso (1897) de Mallarmé, despertará em Picasso a percepção do sentido visual dos signos lingüísticos numa camada do texto/objeto. Do que se tem notícia, operou-se aí a primeira transferência de signos lingüísticos para as telas do Cubismo sintético.  Picasso nunca leu Saussure, mas pontuou sua obra de mensagens visuais intersemióticas, sem dúvida, inauguradas com os “dados” recebidos de Mallarmé, observa a teórica da arte contemporânea Grace de Freitas.

 

A transferência de signos visuais de um campo de percepção superficial para outro mais profundo, que contém entre suas variadas camadas os que observam o avesso ou o invisível das coisas, numa maneira ready-made de inscrever essas coisas — os objetos/imagens — numa outra forma de ser, de estar e de fruir com o ambiente cultural. É uma outra maneira de ler a obra de arte e constituir-se de uma premissa conceitual, também encontrada na poesia visual contemporânea, que passa, necessariamente, por conceitos desenvolvidos por Marcel Duchamp.  Ele, o transpositor, que, com suas idéias revolucionárias, apagou várias fronteiras dos sistemas de apreensão da visualidade.  O ready-made deixou para trás a idéia do espaço especializado e abalou as estruturas do objeto funcional. Duchamp transformou tudo em signo & mensagem, com composições abertas a uma subjetivada leitura.  O ready-made abriu um vinco no corpo da história da arte que não cicatrizou. Dessa abertura pode-se divisar um  vasta campo de possibilidades, ao transferir-se um modelo,de um estado de inércia e de não-arte, para outro ambiente, com uma porta que se abre com a chave da intercomunicação da poesia visual, que tem o passaporte para atuar no avesso das coisas, caminhar nas dobras do mundo.

 

A idéia é provocar a desconstrução do sistema de comunicação e de valores estabelecidos, para reeditar e praticar uma visualidade filiada à operação desmanche duchampiana. A idéia de trabalhar com a comunicação visual no âmbito das impossibilidades  remete a uma imagem de Marcel Boodthears, sentado na chuva a escrever um texto, munido de uma caneta e um tinteiro. A água cai forte, impede-o de comunicar-se com palavras, mas produz manchas sobre o papel, ou puramente signos visuais.  As imagens foram capturadas em close pela câmera do artista.  Nessa cena a impossibilidade possibilita outras possibilidades.

 

Outro conceito interessante para esse contexto da discussão é a idéia do Próbjeto de Rogério Duarte Guimarães, que cunhou o termo para definir projeto como um objeto em si. Essa declaração de Rogério, abre possibilidades de agrupamento entre o texto e o objeto. Nesse caso, o processo de desmaterialização do objeto, substituído aqui pela idéia do Próbjeto.

 

Os poetas visuais presentes ou citados em OBRANOME são pictóricos, conceituais, escritores, cantores, etc.  O instrumento de uso comum entre eles é uma afiada faca que corta o corpo da poiesis.  Esse alargamento do ambiente da poesia visual contemporânea desenvolve-se com as novas tecnologias.  Observa-se que o poema-objeto, inaugurado na Modernidade, nas suas radicalizações posteriores, provoca uma tensão entre texto, objeto e imagem, que substancia e caracteriza a palavra como interventora no sistema de signos, assumindo-se como imagem. A palavra como forma está no seu grau justo de união configurada entre materialidade concreta e a idéia. É exatamente na junção desses dois tipos de materiais expressivos onde se dá a intertextualidade da forma e da imagem produzidas pela ação da palavra.  E fenômeno de entrelaçamento de signos é ingrediente indispensável para a química das invenções primeiras da poesia visual oriunda do Construtivismo na Rússia.  Maiakovski deu substância visual aos poemas. O Movimento Dadá escreveu sua controvertida história com inusitados poemas-objeto.  Mais tarde, como nos objetos Dadá, a Pop Art incorporou o texto publicitário e o transubstanciou em signos visuais, carregados de ácidas críticas contra o establishment. A  Arte Madi (ver Gyula Kósice), a poesia concreta, o Concretismo, o Neoconcretismo e o movimento Fluxus partilharam, cada corrente à sua maneira, do mesmo banquete de conceitos onde a palavra foi servida com generosidade, como um meio de liga entre outras linguagens.

 

Acredito que a insurreição formal ocorrida na pintura moderna, em sua fuga do plano, foi gerada na mesma rede de conceitos que promoveram a revolução ocorrida na relativização da forma da escultura contemporânea. Esses eventos de ruptura são claramente semelhantes aos ocorridos com o experimentalismo lingüístico no início da modernidade. Na poesia visual, as práticas intersemânticas introduziram na comunicação visual certo tipo de subjetivação sígnica, que só no trânsito entre palavra, objeto e imagem se converte em obra. O poema-objeto está entre a página e o espaço; nesse impasse assume a forma, a imagem e o inconformismo da palavra com a sua condição de descrever as coisas, ou de explicá-las, evoluindo para o âmbito do significar coisas e ser o significante delas.

 

 

Texto extraído do catálogo OBRANOME, realização da Caixa Econômica Federal e Embaixada da Espanha, no Conjunto Cultural da Caixa, Brasília 2003.

 

Página publicada em maio de 2008


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