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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 


 

 

PAULO LEMINSKI
(1944-1989) 

 

 

Poeta paranaense de projeção nacional, pode ser considerado uma figura emblemática na evolução (ou revolução) da poesia brasileira. Figura polêmica já devidamente assumida e assimilada pela crítica, até mesmo por aquela de extração mais acadêmica. Não foi sempre assim... Começou com os livros Catatau (1979 e Não fosse isso e Era Menos /Não fosse tanto e era quase (1980) em edições do autor. Seguiram-se obras “alternativas” e marginais até as mais comerciais: Caprichos e Relaxos (1983), Matsuó Bashô (1983), Jesus a.C. (1984); Agora é que são elas (1984) e Leon Trotski, a paixão segundo a revolução (estes últimos pela Brasiliense) e, postumamente uma coleção sob o título de La vie em close..., com sucessivas edições, pela mesma editora paulista.

 

Ironia, hoje os direitos autores estão reservados ao Espólio. Seja como for, estamos publicando alguns de seus poemas que julgamos já de domínio público, considerando que esta é uma edição virtual, sem fins lucrativos, de divulgação cultural. É uma homenagem ao grande poeta, uma tentativa de aproximá-lo do público dos internautas e um convite para que busquem seus livros nas bibliotecas e nas livrarias, para continuar a leitura de outros textos. Vale sempre a pena quando a alma não é pequena...

 

Veja também: Poesia visual de Paulo Leminski

 

Leia também:  MANIFESTO: Paulo Leminski

 

 

Veja também:

REINVIDACIÓN DE LO MELÓDICO  (un breve acercamiento a la poesía de Paulo Leminski)

 

VIDEO: WALY SALOMÃO E PAULO LEMINSKI ENTREVISTADOS... Loucura!

https://www.youtube.com/watch?v=YeZxKd0t6NA

 

 

TEXTS IN PORTUGUESE & IN ENGLISH

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EM ESPAÑOL

 

 

Essa ironia, forma de resistir à tirania do sentido, tem de ser, ao mesmo tempo, auto-ironia, como explicitam haicais de Paulo Leminski (O ex-estranho. São Paulo: Iluminuras, 2001). Enquanto o pri­meiro, que mostro abaixo, cifra uma espécie de estética do arrepio e flerta com o abismo, o segundo, ao lado, quebra a própria forma poética e acrescenta dois ver-sos, recuperando o Descartes original (aquele que disse dubito ergo sum antes de afirmar cogito ergo sum) e demonstrando que as certezas nos traem, porque as dúvidas é que nos constituem: 

não houve sim que eu dissesse

que não fosse o começo

de um esse o esse

 

nunca sei ao certo

se sou um menino de dúvidas

ou um homem de fé

 

certezas o vento leva

só dúvidas continuam de pé

 

Extraído de

O CANTO DAS ROCHAS: ESPANTO E HAICAI, por Gustavo Bernardo - ENSAIOS 

===============================================================================================

 

 

LEMINSKI, PauloYo iba a ser Homero. Antologia poética bilíngue. Selección y traducción de Anibal Cristobo. Prólogo de Manoel Ricardo de Lima. Barcelona: Kriller 71 ediciones, 2013. 111 p. (Col. poesia #03) 11,5x16,5 cm. ISBN 978-84-940414-2-6. Foto da capa: Walter Gam. Tiragem: 300 exemplares. Col. A.M.

 

 

 

                      TEXTOS EM PORTUGUÊS   -   TEXTOS EN ESPAÑOL

 


um passarinho

         volta pra árvore
         que não mais existe

         meu pensamento
         voa até você
         só pra ficar triste

 

un pajarito

vuelve al árbol

que ya no existe

 

mi pensamiento

vuela hasta tí

sólo para ponerme triste

 

 

DESENCONTRARIOS

 

          Mande! a palavra rimar,

ela não me obedeceu.
          Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silencio, em prosa.
          Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

 

          Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
         Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
          para conquistar um imp[Erio extinto.

 

 

                    DESENCONTRARIOS

 

          Mandé a la palabra a rimar,

pero no me obedeció.

          Habló de mar, cielo, rosa,

habló en griego, en silencio, en prosa.

          Parecía fuera de sí,

la sílaba silenciosa.

 

          Mandé a la frase a soñar,

se perdió en un laberinto.

          Hacer poesía, yo siento, no es distinto

a dar órdenes a un ejército

          para conquistar un imperio extinto.

 

 

O ATRASO PONTUAL

 

          Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
          Nada poderla ter sido feito,
 a não ser no tempo em que fo¡ lógico.
          Ninguém nunca chegou atrasado.
Bênçãos e desgraças

                     vêm sempre no horario.
          Tudo o mais é plagio.
                    Acaso é este encontro
          entre o tempo e o espaço
                    mais do que um sonho que eu conto
          ou mais um poema que eu fao?

 

 

EL ATRASO PUNTUAL

 

Ayeres y hoyes, odios y amores

¿de qué sirve consultar los relojes?

          Nada podría haber sido hecho

a no ser en el tiempo en que fue lógico.

          Nadie nunca ha llegado atrasado.

Favores y desgracias
          siempre llegan a tiempo.

Y todo lo demás es plagio.

                    ¿O acaso es este encuentro
          entre tiempo y espacio

                    más que un sueño que cuento,
          más que un poema que hago?


 

POESIA:1970

 

          Tudo o que eu faço
alguém em mim que eu desprezo
           sempre acha o máximo.

 

          Mal rabisco,
não da mais pra mudar nada.
          Já é um clássico.

 

 

 

==========================================================

 

 

“elas quando vêm
elas quando vão
versos que nem
versos que não
nem quero fazer
se fazem por si
como se em vão
elas quando vão
elas quando vêm
poesia que sim
parecem que nem

(Leminski, Caprichos e relaxos, 1983
)

 



um bom poema

leva anos

cinco jogando bola,

mais cinco estudando sânscrito,

seis carregando pedra,

nove namorando a vizinha,

sete levando porrada,

quatro andando sozinho,

três mudando de cidade,

dez trocando de assunto,

uma eternidade, eu e você,

caminhando junto

 

 

SINTONIA PARA PRESSA E PRESSÁGIO

 

Escrevia no espaço.

Hoje, grafo no tempo,

na pele, na palma, na pétala,

luz do momento.

Sôo na dúvida que separa

o silêncio de quem grita

do escândalo que cala,

no tempo, distância, praça,

que a pausa, asa, leva

para ir do percalço ao espasmo.

 

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,

eis que a luz se acendeu na casa

e não cabe mais na sala.

 

 

ROUND ABOUT MIDNIGHT

 

um vulto suspeito

e o pulo de um susto

à solta no peito

 

no beco sem saída

caminhos a esmo

o leque de abismos

entre um eco

e seus mesmos

 

 

CURITIBAS

 

Conheço esta cidade

como a palma da minha pica.

Sei onde o palácio

sei onde a fonte fica,

 

Só não sei da saudade

a fina flor que fabrica.

Ser, eu sei. Quem sabe,

esta cidade me significa.

 

 

HEXAGRAMA 65


Nenhuma dor pelo dano.
  Todo dano é bendito.
Do ano mais maligno,
  nasce o dia mais bonito.

1 dia,
    1 mês, 1
     ano

 


DIONISIOS ARES AFRODITE

 

aos deuses mais cruéis
           juventude eterna

eles nos dão de beber
           na mesma taça
o vinho, o sangue e o esperma.

 


SACRO LAVORO

as mãos que escrevem isto
    uma dia iam ser de sacerdote
transformando o pão e o vinho forte
    na carne e sangue de cristo

    hoje transformam palavras
num misto entre o óbvio e o nunca visto

 

O que amanhã não sabe,
    o ontem não soube.
Nada que não seja o hoje
    jamais houve.

 

Fonte: http://leiturasereleituraas.blogspot.com.br

 

 

 

LEMINSKI, PauloPolonaises. Curitiba, Ed. do Autor, 1980. s.p. (EA)

 

 

 

LEMINSKI, Paulo.  Caprichos & Relaxos (saques, piques, toques & baques)  São Paulo: Círculo do Livro, s.d.  154 p.  13x21 cm. sobrecapa, capa dura.  Capa: ilustração de Fernando Ramos.    Ex. col. Antonio Miranda

“É um personagem muito único, no panorama da curtição de literatura no Brasil. Eu acho um barato.  Leminski te um clima mistura de concretismo com beatnik.  Que é muito legal”.  CAETANO VELOSO

 

objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo

seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza

faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja

          *

não creio

que fosse maior

a dor de dante

que a dor

que este dente

de agora em diante

sente

 

não creio

que joyce

visse mais numa palavra

mais do que fosse

que nesta pasárgada

ora foi-se

 

tampouco creio

que mallarmé

visse mais

que esse olho

nesse espelho

agora

nunca

me vê

 

*

 

A vagina vazia

imagina

que a página (sem vaselina)

a si mesma se preenche

e se plagia

 

Essa língua que sempre falo

(e falo sempre)

e distraído escrevo

embora não tão frequentemente

massa falida

desmorona no papel

                                       quando babo

e acabada em texto

eu acabo

 

 

 

PIRES, Jack; LEMINSKI, Paulo.  Quarenta clics em Curitiba. 2ª. fornada.  Curitiba, PR: Editora Etcétera, 1990. 41 folhas soltas com fotografias (pb, uma em cores) e textos, e 1 folha com colofão protegidos em envelope de papel.25x25 cm. Fotógrafo e poeta reunidos na primeira edição (1975) e na segunda (1990). Apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Hoverno do Paraná.  “ Paulo Leminski “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

-----------------------------------------------------------------------------------

 


Ilustração Fernando Lpoes

 

 

 

FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013.  Organização Ricardo Corona.  Curitiba, PR:          Fundação Cultural de Curitiba, 2013.   43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil.  ISBN 978-85-64029-08-8  Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem,  Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger. 

 

 

 

 

 

 

Extraído de:

BRIC A BRAC    21 ANOS   MAIOR IDADE.  Brasília: Caixa Cultura, 2007.  112 p. ilus. col.  23x21 cm.. Exposição comemorativa . Curadoria e projeto expositivo: Marilia Panitz.   Coordenação Geral: Luis Turiba.  Inclui poemas visuais e arte gráfica.  Inclui poemas visuais de Luis Turiba, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Zuca Sardanga, Nanico, Franciso Kaque, Wagner Barja, Paulo Andrade, Antonio Miranda, Bernardo Vilhena, Paulo Cac, Ariosto Teixeira, Elizabeth Hazin, José Paulo Cunha, Fred Maia, Nicolas Behr, Claudius Portugal, Ronaldo Cagiano, TT Catalão, Francine Amarante, Adeilton Lima, Maria Maia, Ronaldo Augusto, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, José Rangel Farias Neto, Menezes e Morais, Cristiane Sobral, Eduardo Mamcasz, Vicente Sá, Nance Las-Casas, Bic Prado, Angela Torres Lima, Flavio Maia, Ronaldo Santos, Joanyr de Oliveira, Sylvia Cyntrão, Carlos Roberto Lacerda, Carlos Henrique, Fernanda Barreto,  José Edson, Vera Americano, Alice Ruiz, André Luiz Oliveira, Carlos Silva, Charles Peixoto, José Roberto Aguilar, Estrela Ruiz, Renato Riella, Chico César, Francisco Alvim, José Robert o da Silva, Eudoro Augusto, Amneres, Gustavo Dourado, Alexandre Marino, e ilustradores: Resa, e fotógrafos, etc. 

 

 


TEXTOS EN ESPAÑOL

Trad. Rodolfo Mata

 

 

Contranarciso

 

en mí

veo al otro

y a otro

y a otro

en fin decenas

trenes que pasan

vagones llenos de gente

centenas

 

el otro

que hay en mí

eres tú

y tú

 

así como

estoy en ti

estoy en él

en nosotros

y sólo cuando

estamos en nosotros 

estamos en paz

aunque estemos a solas minski

---------------------------------

 

Ópera fantasma

      Nada tengo.
Nada me pueden quitar.
      Soy el ex-extraño,
el que vino sin ser llamado
      y, gato, se fue
sin hacer ningún ruido.

 

-------------------------------------------

 

aún

a la edad

de ya ser

yo mismo

 

aún

confundo

felicidad

con este nerviosismo

 

 

-----------------

entre la deuda externa

y la duda interna

mi corazón

comercial

                      alterna

 -------------------------------------------------

un día 

uno iba a ser homero

la obra nada menos que una ilíada

 

después

viendo el paquete

alcanzaba para ser un rimbaud

un ungaretti un fernando pessoa cualquiera

un lorca un éluard un ginsberg

 

por fin

terminamos siendo el pequeño poeta de provincia

que siempre fuimos

por detrás de tantas máscaras

que el tiempo trató como flores

 

 

-----------------------------------

 

un poema
que no se entiende
es digno de nota

la dignidad suprema
de un navío
perdiendo la ruta

 

------------------------------

 

un buen poema

lleva años

      cinco jugando futbol

más cinco estudiando sánscrito,

      seis cargando piedras,

nueve de novio con la vecina

      siete de puros golpes

cuatro andando solo

      tres mudándose de ciudad,

diez cambiando de tema,

      una eternidad, tú y yo,

caminando juntos

 

---------------------------------------------

 

El náufrago náugrafo

 

    la letra A se

hunde en el A

    tlántico

y pacífico con

    templo la lucha

entre la rápida letra

    y el océano

lento

 

    así

hondo fundo 

    y me hundo

de todos los náufragos

    náugrafo

el náufrago

    más profundo

 

 

Extraídos de: http://www.horizonte.unam.mx/brasil/  

 

Trad. Rodolfo Mata

 

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EL ESPLÉNDIDO CORCEL

                Versión de Iván Baca


El espléndido corcel
ve la sombra del chicote
y corre, esplendores del caballo
em laberintos de la crin
excitado por el viento
cancelas espacios de quimera
consumes el tiempo
hoguera que héroes incinera
tênia impulsos de cielo
y avidez sobre el mar
los campos azulados del pólo
el cielo piel de onza
y slides del zodíaco
los campos dolorosos del piélago
donde pacen peces
y el nudo de los pulpos adoba al sol
aquí la fábula habla
en el marco del juego de las olas
hiere los cascos en las estrellas
y picado por los filos
de las fieras del horóscopo
se turba un poco
cae la vigilia en el sueño
lúcido y súbito ya no mártir
queda en la tierra, caballo
el ojo lleno de estrellas
el cuerpo soso de las olas
y el corazón en el pecho
iHecho un plebe dormido!

 

 

 

Extraído de la revista BLANCO MÓVIL, n. 75, México, Primavera de 1998. 

 

=============================================

 

Trad. Mario Camara

 

HEXAGRAMA 65


Ningún  dolor por el daño.
    Todo daño es bendito.
Del año más maligno,
    nace el dia más bonito
   
1 día,
    1 mes, 1
     año

 


DIONISIOS ARES AFRODITE


a los dioses más crueles
          juventud eterna

ellos nos dan de beber
          en la misma copa
vino, sangre y esperma

 


SAGRADO LAVORO

las manos que escriben esto
    un dia iban a ser  de sacerdote
transformando el pan y el vino fuerte
    en la carne y sangre de cristo

    hoy transforman palabras
en un mixto entre lo obvio y lo nunca visto

 

 

 

LEMINSKI, Paulo.  Todo me fue dado.  Edición bilíngue de José Javier Villarreal.  Madrid: Vaso Roto Ediciones, 2018.  294 p.  14 x 21 cm Grabado de cubierta: Victor Ramírez.  Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

 

anch'io son pittore

             fra angélico
         quando pintava

uma madona col bambino
se ajoelhava e rezava

como se fosse um menino

              orava diante da obra
         como se fosse pecado

              pintar aquela senhora
         sem estar ajoelhado
 

              orava como se a obra fosse
         de deus não do homem

 

                   (De Distraídos venceremos. 1987)

 

 

anch'io son pittore  

          fray angélico
         cuando pintaba

          una madona con bambino
         se arrodillaba y rezaba

          como si fuese un niño

          oraba delante de la obra
         como si fuese pecado

          pintar aquella señora
         sin estar arrodillado
 

          oraba como si la obra
         fiuese de dios no del hombre
 

 

        razão de ser

           Escrevo. E pronto.
         Escrevo porque preciso,

          preciso porque estou tonto.
         Ninguém tem nada com isso.

          Escrevo porque amanhece,
         e as estrelas lá no céu

          lembram letras no papel,
         quando o poema me anoitece.

          A aranha tece teias.
         O peixe beija e morde o que vê.

          Eu escrevo apenas.
         Tem que ter por quê?

            (De Distraídos venceremos. 1987) 

 

razón de ser  

          Escribo. Y ya.
         Escribo porque lo necesito,

          lo necesito porque estoy tonto.
         Nadie tiene que ver con esto.

          Escribo porque amanece,
         y las estrellas allá en el cielo

          me recuerdan las letras en el papel
         cuando el poema me anochece.

          La araña teje su tela.
          El pez besa y muerde lo que ve.

             Yo sólo escribo.
         ¿Tiene que haber un por qué?

  

até mais  

Até tu, matéria bruta,
até tu, madeira, massa e músculo,

vodka, fígado e soluço,
 luz de vela, papel, carvão e nuvem,
 pedra, carne de abacate, água de chuva,
unha, montanha, ferro em brasa,
até vocês sentem saudade,
queimadura de primeiro grau,
vontade de voltar pra casa?

Argila, esponja, mármore, borracha,
cimento, aço, vidro, vapor, pano e cartilagem,

tinta, cinza, casca de ovo, grão de areia,
primeiro dia de outono, a palavra primavera,
número cinco, o tapa na cara, a rima rica,
a
 vida nova, a idade média, a força velha,
até tu, minha cara matéria,
lembra quando a gente era apenas uma ideia?
 

(De Distraídos venceremos. 1987)

  

hasta más

 

¿Hasta tú, materia bruta,
 hasta tú, madera, masa y músculo,
vodka, hígado y sollozo,
luz de vela, papel, carbón y nube,
piedra, pulpa de aguacate, agua de lluvia,
uña, montaña, fierro al rojo vivo,
hasta ustedes sienten nostalgia,
quemadura de primer grado, .

¿Arcilla, esponja, mármol, caucho,
cemento, acero, vidrio, vapor, paño y cartílago,
tinta, ceniza, cascarón de huevo, grano de arena,
primer día de otoño, la palabra primavera,
número cinco, bofetada, la rima rica, l
a vida nueva, la edad media, la fuerza vieja,
hasta tú, mi amada materia,
recuerdas cuando éramos tan sólo una idea?

 

 

 

Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas.  Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

espaçotemponave para alice

 

       frag

             mentos

                        do naufragio

                                          da vida

  

       jogados

                na praia

                          de uma terra desconhecida

 

 

       porisso

               nos apertar

                             tanto

                                  nos juntar

                                              tanto

 

 

 

       juntos enfrentar

                           a  noite

                                       dos espaços interestelares

 

 

 

                                                                     (polonaises, 1980)

 

*

 

 

espaciotiemponave para alice

 

 frag
mentos
del naufragio
de la vida
todos
en la playa    
de uma tierra desconocida
poreso
nos aprentamos
tanto
nos juntamos
tanto
para juntos enfrentar
la noche
de los espacios interestelares

                                     

                                               (De Palomares, 1980)

*

 

 

Cabelos que me caem
em cada um
mil anos de haikai

 

        
Cabellos que se me caen
en cada uno
mil años de haiku

                           
(De Caprichos & relaxos, 1983)

*

 

 

Lua à vista
brilhavas assim
sobre auschvitz

 

 

         Luna a la vista
¿brillabas así
sobre auschwitz?

 

                   (De Caprichos & relaxos, 1983)

 

 

*

 

    Vim pelo caminho difícil
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,

a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.

 

 

             Vine por el camino difícil
la linea que nunca termina,
la linea golpea en la piedra,
la palabra rompe una esquina,
mínima línea vacía,
la línea, ua vida entera,
palabra, palabra mía.

 

                            (De Distraídos venceremos, 1987)

*

 

IMPASSE

 

Parece coisa da pedra
alguma pedra preciosa
vidro capaz de treva,
névoa capaz de prosa.

Pela pele, é lírio
aquela pura delícia.
Mas, por ela, a vida
a mancha horrível, desliza.

 

 

         CALLEJÓN SIN SALIDA

 

         Parece cosa de piedra
alguna piedara preciosa
vidrio capaz de tinieblas,
niebla capaz de prosa.
Por la piel, es lirio
aquella pura delicia.
Mas, por ella, la vida
mancha horrible, se desliza.

 

                   (De Distraídos venceremos, 1987)

 

 

 

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TEXTS IN PORTUGUESE & IN ENGLISH

 

 

PAULO LEMINSKY

1945-1989

 

Born in Curitiba onAugust 24,1945, Paulo Leminski led a life on the margins of society, working in advertisitng and intermittent collaboration with newspapers and journals. Leminski died in 1989 from alcohol abuse. Despite the difficulties of his life, he wrote several works of prose fiction and poetry.

He is now recognized as one of the most important poets of his generation.

 

BOOKS OF POETRY: Quarenta Cliques em Curitiba (1979); Polonaise (1980); Caprichos e Relaxos (São Paulo: Editora Brasiliense, 1983), Distraídos Venceremos (1987); La vie en close (São Paulo: Editora Brasiliense, 1991)

 

 

Pelo

 

pelo

branco

magnólia

 

o

azul

manhã

vermelho

olha

 

    (from Caprichos e Relaxos, 1983)

 

 

Through

 

through

magnolia

white

 

the

morning

blue

sees

red

 

     —Translated from the Portuguese by
          Michael Palmer

 

 

O Assassino Era O Escriba

 

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito

inexistente.

Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,

regular como um paradigma da la conjugação.

Entre uma oração subordinada e um adjunto

adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito

assindético de nos torturar com um aposto.

Casou com uma regência.

Foi infeliz.

Era possessivo como um pronome.

E ela era bitransitiva.

Tentou ir para os EUA.

Não deu.

Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.

A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,

conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.

Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

 

      (from Caprichos e Relaxos, 1983)

 

 

The Assassin Was the Scribe

 

My professor of syntactical analysis was a sort of

nonexistent subject.

A pleonasm, principal predicate of your life,

common as a paradigm of conjugation.

Between subordinated oration and adverbial

adjunct he had no doubts: always found an

asyndetic way to torture us with an appositive.

He married grammatical rectitude.

Was unhappy.

Was possessive like a pronoun.

And she was bitransitive.

He tried to go to the USA.

No way.

They discovered an indefinite article in his suitcase.

His moustache's exclamation point declined explicatives,

connectives and passives, forever.

One day I greased him with a direct object through the head.

 

    —Translated from the Portuguese by Michael Palmer

 

 

 

Dois Loucos No Bairro

um passa os dias
chutando postes para ver se acendem

o outro as noites
apagando palavras
contra um papel branco

todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
para eu ser tratado também

 

               (from  Caprichos e Relaxos, 1983)

 

Two Madmen in the Neighborhood

one of them spends his days
kicking lampposts to see if they light up

the second his nights
erasing words
from white paper

every neighborhood has a madman
it takes beneath its wing
not long till I can
be treated for the same damn thing


       - Translated from the Portuguese by Regina Alfarano,
       with revisions by Dana Stevens

 

 


Seleção de poemas publicados originalmente em:/ Poems from:

NOTHING THE SUN COULD NOT EXPLAIN: 20 CONTEMPORARY BRAZILIAN POETS, edited by Régis Bonvicino, Michael Palmer and Nelson Ascher. In> THE PIPE – ANTHOLOGY OF WORLD POETRY OF THE 20TH CENTURY.  Vol. 3.  Los Angels, USA: Green Integer, 2003.

Edição com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do Consulado Geral do Brasil em San Francisco, California, USA

 

 

 

POEMS IN ENGLISH 

DESCONTRÁRIOS – UNENCOUNTRARIES: 6 poetas brasileiros: 6 Brazilian poets.  Nelson Ascher et al. Projeto e coordenação editorial Josely Viana Baptista, projeto gráfico e desenhos Francisco Faria, versões dos poemas para o inglês Regina Alfarano et al. Curitiba: Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba/ FCC; Associação Cultural Avelino Vieira / Bamerindus, 1995.   158 p. ilus.  “ Josely Viana Baptista “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

          Desencontrários

 

          Mandei a palavra rimar,
          ela não me obedeceu.
                    Falou em mar, em céu,, em rosa,
          em grego, em silêncio, em prosa.
                    Parecia fora de si,
          a sílaba silenciosa.

                    Mandei a frase sonhar,
          e ela se foi num labirinto.
                    Fazer a poesia, eu sinto, apenas isso.
          Dar ordens a u m exército,
                    para conquistar um império extinto.

 

 

                    Unencontraries

 

                              I told the word to rhyme,
                    but it did not obey.

                              It spoke of ski4es, a bay, a rose
                    in Greek, in silence, in prose.

                              Seemed out of the wits,
                    the silent syllabe.

                              I told the phrase to dream,
                    and into a labirynth it went.
                              Making poetry, I feel, only this.
                    Having na army sent
                              to conquer na extinct empire.

                                       (Distraídos venceremos, 1987)

 

 Plena pausa

 

          Lugar onde se faz
o que já foi feito,

          branco da página,
soma de todos os textos,

          foi-se o tempo
quando, escrevendo,

          era preciso
uma folha isenta.

 

          Nenhuma página
jamais foi limpa.

          Mesmo a mais Saara,
ártica, significa.

          Nunca houve isso,
uma página em branco.

          No fundo, todas gritam,
 pálidas de tanto.

 

                    (Distraídos venceremos, 1987)

 

 

          Full pause

 

          A place where 's done
what’s already be done,

          the blank of the page,
sum of all texts,

          time departed

when, in writing,

          an exempt leaf

was needed.

 

          No page

was ever clean.

          Even the most Saharian,
Arctic one, signifies.

          That there never was,
a blank page.

          In the depths, they all shout,
pallid from so much.

 

          Translated by Charlaes Perrone

 

 

 

Verdura

 

de repente

me lembro do verde

da cor verde

a mais verde que existe

a cor mais alegre

a cor mais triste

o verde que vestes

o verde que vestiste

o dia em que eu te vi

o dia em que me viste

 

de repente

vendi meus filhos

a uma família americana

eles têm carro

eles têm grana

eles têm casa

a grama é bacana

só assim eles podem voltar

e pegar um sol em copacabana

 

          (não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase, 1980)

 

 

Greenery

 

suddenly

I recall the greenness

ofthe color green

the greenest there has ever

been

the happiest hue
that makes me blue
the green you wear
green as you were
the day I met you
and you met me too

 

suddenly

I sold my kids

to a Wasp family

they've got a van

they've got the cash

they've got a house

and their lawn is fun

when back in Rio, now they

can

go to the beach and get a tan

 

               Translated by Nelson Ascher

 

 

 

  lua à vista

brilhavas assim

   sobre auschwitz?
    

          (Distraídos venceremos, 1987)

 

 

 

  clear moon

did you shine like this

   over Auschwitz?

 

     Translated by Regina Alfaro

 

 

 

                  cortinas de seda
     o vento entra
       sem pedir licença

 

          (Distraídos venceremos, 1987)

 

           silk curtains

         the Wind blows in

            without permission

 

                  Translated by Regina Alfaro

 

 

       confira


       tudo que respira

       conspira

 

                       (não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase, 1980)

 

 

 

                          probe the mire

        
         everything that can respire

         can conspire


               Translated by Regina Alfaro


 

 

                espaçotemponave para alice

 

 

       frag
             mentos
                        do naufragio
                                          da vida
  
       jogados
                na praia
                          de uma terra desconhecida


       porisso
               nos apertar
                             tanto
                                  nos juntar
                                              tanto

 

       juntos enfrentar
                           a  noite
                                       dos espaços interestelares

 

                                                                     (polonaises, 1980)

 

 

 

            specetimeship  for alice

 

            frag
                  ments
                           from the shipwreck
                                                    of a lifetime

             
            washed
                       onto the beach
                                          of an unknown landtime
            the reason for
                               holding us
                                           so
                                               closing us
                                                             so

 

             together facing
                                 the night
                                              of interstelar spaces


 

                                 Translated by Regina Alfaro

                                                        (revised by Regina Alfaro)
                                                     

Iceberg

 

          Uma poesia ártica,
claro, é isso que desejo.

          Uma prática pálida,
três versos de gelo.

          Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma

          não seja mais possível. F
rase, não. Nenhuma.

Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,

          um piscar do espírito,
a única coisa única.

Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos

(ou enxame de monólogos?).
Sim, inverno, estamos vivos.


     
  (Distraídos venceremos, 1987)

 

 

       Iceberg

                    An Arctic ballad,
          I'd, of course, like to entice.

            A practice so pallid,
          three verse-lines of ice.

            A phrase of tbe surface
          where a life-phrase never

            could be possible.
          Phrase, no. None whatsoever.

            Null and lyrical
          reduced to purely minimal,

            a blinking of tbe spiritual,
           alone unique unit.

           Yet I speak. And my speaking is
          provoking equivocating clouds

            (or hives of monologues?).
          Yes, winter, we are alive.

 

                      Translated by Charles Perrone

 

 

  Aviso aos náufragos

          Esta página, por exemplo,
 não nasceu para ser lida.
          Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,

          alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,

muito depois de caída. 

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,

Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última

a que não nasceu ainda. 

          Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,

um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,

para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,

          vai ter que dizer bom dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,

vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.

Não é assim que é a vida?

                (Distraídos venceremos, 1987)

 

 

Notice to the shipwrecked

 

          This page, for example,
wasn 't born to be read.

          It was born to be pallid,
merely to plagiarise the Iliad,

          something keeping quiet
a leaf that returns to the branch,

          long after it was felled.

 

          It was born to be sand,
who knows Andromeda, Antarctica,
          Himalaya, a syllable felt
it was born to be the last one

          the one not yet born.

 

          Words broughtfrom afar
by the waters of the Nile,

          one day, this page, papyrus,
will have to be transcribed,

          into symbols, into Sanskrit,
into ali the dialects of índia,

          it will have to say good day,
to what is only whispered in my ear,

          it will have to be the harsh stone
where someone dropped the glass.

          Isn 't that the way life is?

 

          Translated bv Charles Perrone

 


 

 


 

ASSALTARAM A GRAMÁTICA

Jovens e vivazes, provocadores e inovadores... Alice Ruiz... todos jovenzinhos..., Chacal e Chico Alvim,  Cristina César, Paulo Leminski, Wally Salomão... e outros mais, num video imperdível, memorável, enviado por Edson Cruz, do Sambaquis, que recebeu do Giuseppe Zani, via Ricardo Aleixo, que...  agora passamos adiante.   Vejam e repassem....

 


COMENTÁRIO SOBRE A SUSPENSÃO DO VÍDEO:

Aqui está um bom exemplo da confusão referente à Lei do Direito Autoral no Brasil...  Recebemos este vídeo pela Internet, de um dos personagens do vídeo, pedindo a difusão...

Foi o que fizemos.  A produtora  entrou com um pedido para o reconhecimento de seus direitos autorais. O vídeo não foi publicado em nosso Portal, apenas fizemos um link, a pedido de um dos poetas. A fonte onde está depositado deve ter suspenso a disponibilização do video  até que se resolva a questão. Sem entrar no mérito do recurso da produtora, fica sempre aquela pergunta: em alguma instância os poetas participantes do vídeo vão receber por sua  imagem?  Mas a questão é outra: quando o Brasil vai adotar o FAIR USE, quando a divulgação for sem fins lucrativos, por interesse estritamente cultural? Fica aqui o link cego para representar o dano à cultura. Sem com isso querer contestar o pleito da produtora, cuja decisão cabe à justiça, nos estreitos, estreitíssimos, espaços da lei vigente, que estava em processo final de discussão para ser reformada e que atualmente está de molho... Uma lei só é boa quando for justa para todos.


 

 

 

LEMINSKI, PauloPacote de poesia.  Curitiba, PR: Paço da Liberdade – SESC PARANÁ, 2009.  Envelope pardo contendo folhas soltas impressas com os poemas.   Ex. bibl. Antonio Miranda


 

 

 

 

Página ampliada e republicada em dezembro de 2018

 


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