Poeta paranaense de projeção nacional, pode ser considerado uma figura emblemática na evolução (ou revolução) da poesia brasileira. Figura polêmica já devidamente assumida e assimilada pela crítica, até mesmo por aquela de extração mais acadêmica. Não foi sempre assim... Começou com os livros Catatau (1979 e Não fosse isso e Era Menos/Não fosse tanto e era quase (1980) em edições do autor. Seguiram-se obras “alternativas” e marginais até as mais comerciais: Caprichos e Relaxos (1983), MatsuóBashô (1983), Jesus a.C. (1984); Agora é que são elas (1984) e Leon Trotski, a paixão segundo a revolução (estes últimos pela Brasiliense) e, postumamente uma coleção sob o título de La vie em close..., com sucessivas edições, pela mesma editora paulista.
Ironia, hoje os direitos autores estão reservados ao Espólio. Seja como for, estamos publicando alguns de seus poemas que julgamos já de domínio público, considerando que esta é uma edição virtual, sem fins lucrativos, de divulgação cultural. É uma homenagem ao grande poeta, uma tentativa de aproximá-lo do público dos internautas e um convite para que busquem seus livros nas bibliotecas e nas livrarias, para continuar a leitura de outros textos. Vale sempre a pena quando a alma não é pequena...
Essa ironia, forma de resistir à tirania do sentido, tem de ser, ao mesmo tempo, auto-ironia, como explicitam haicais de Paulo Leminski (O ex-estranho. São Paulo: Iluminuras, 2001). Enquanto o primeiro, que mostro abaixo, cifra uma espécie de estética do arrepio e flerta com o abismo, o segundo, ao lado, quebra a própria forma poética e acrescenta dois ver-sos, recuperando o Descartes original (aquele que disse dubito ergo sum antes de afirmar cogito ergo sum) e demonstrando que as certezas nos traem, porque as dúvidas é que nos constituem:
LEMINSKI, Paulo. Yo iba a ser Homero.Antologia poética bilíngue. Selección y traducción de Anibal Cristobo. Prólogo de Manoel Ricardo de Lima. Barcelona: Kriller 71 ediciones, 2013. 111 p. (Col. poesia #03) 11,5x16,5 cm. ISBN 978-84-940414-2-6. Foto da capa: Walter Gam. Tiragem: 300 exemplares. Col. A.M.
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EN ESPAÑOL
um passarinho
volta pra árvore
que não mais existe
meu pensamento
voa até você
só pra ficar triste
un pajarito
vuelve al árbol
que ya no existe
mi pensamiento
vuela hasta tí
sólo para ponerme triste
DESENCONTRARIOS
Mande! a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silencio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um imp[Erio extinto.
DESENCONTRARIOS
Mandé a la palabra a rimar,
pero no me obedeció.
Habló de mar, cielo, rosa,
habló en griego, en silencio, en prosa.
Parecía fuera de sí,
la sílaba silenciosa.
Mandé a la frase a soñar,
se perdió en un laberinto.
Hacer poesía, yo siento, no es distinto
a dar órdenes a un ejército
para conquistar un imperio extinto.
O ATRASO PONTUAL
Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderla ter sido feito,
a não ser no tempo em que fo¡ lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bênçãos e desgraças
vêm sempre no horario.
Tudo o mais é plagio.
Acaso é este encontro
entre o tempo e o espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que eu fao?
EL ATRASO PUNTUAL
Ayeres y hoyes, odios y amores
¿de qué sirve consultar los relojes?
Nada podría haber sido hecho
a no ser en el tiempo en que fue lógico.
Nadie nunca ha llegado atrasado.
Favores y desgracias
siempre llegan a tiempo.
Y todo lo demás es plagio.
¿O acaso es este encuentro
entre tiempo y espacio
más que un sueño que cuento,
más que un poema que hago?
POESIA:1970
Tudo o que eu faço
alguém em mim que eu desprezo
sempre acha o máximo.
Mal rabisco,
não da mais pra mudar nada.
Já é um clássico.
“elas quando vêm
elas quando vão
versos que nem
versos que não
nem quero fazer
se fazem por si
como se em vão
elas quando vão
elas quando vêm
poesia que sim
parecem que nem
(Leminski, Caprichos e relaxos, 1983)
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
SINTONIA PARA PRESSA E PRESSÁGIO
Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.
Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.
ROUND ABOUT MIDNIGHT
um vulto suspeito
e o pulo de um susto
à solta no peito
no beco sem saída
caminhos a esmo
o leque de abismos
entre um eco
e seus mesmos
CURITIBAS
Conheço esta cidade
como a palma da minha pica.
Sei onde o palácio
sei onde a fonte fica,
Só não sei da saudade
a fina flor que fabrica.
Ser, eu sei. Quem sabe,
esta cidade me significa.
HEXAGRAMA 65
Nenhuma dor pelo dano.
Todo dano é bendito.
Do ano mais maligno,
nasce o dia mais bonito.
1 dia,
1 mês, 1
ano
DIONISIOS ARES AFRODITE
aos deuses mais cruéis
juventude eterna
eles nos dão de beber
na mesma taça
o vinho, o sangue e o esperma.
SACRO LAVORO
as mãos que escrevem isto
uma dia iam ser de sacerdote
transformando o pão e o vinho forte
na carne e sangue de cristo
hoje transformam palavras
num misto entre o óbvio e o nunca visto
O que amanhã não sabe,
o ontem não soube.
Nada que não seja o hoje
jamais houve.
LEMINSKI, Paulo. Polonaises. Curitiba, Ed. do Autor, 1980. s.p. (EA)
LEMINSKI, Paulo.Caprichos & Relaxos (saques, piques, toques & baques) São Paulo: Círculo do Livro, s.d. 154 p. 13x21 cm. sobrecapa, capa dura. Capa: ilustração de Fernando Ramos. Ex. col. Antonio Miranda
“É um personagem muito único, no panorama da curtição de literatura no Brasil. Eu acho um barato. Leminski te um clima mistura de concretismo com beatnik. Que é muito legal”. CAETANO VELOSO
objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja
*
não creio
que fosse maior
a dor de dante
que a dor
que este dente
de agora em diante
sente
não creio
que joyce
visse mais numa palavra
mais do que fosse
que nesta pasárgada
ora foi-se
tampouco creio
que mallarmé
visse mais
que esse olho
nesse espelho
agora
nunca
me vê
*
A vagina vazia
imagina
que a página (sem vaselina)
a si mesma se preenche
e se plagia
Essa língua que sempre falo
(e falo sempre)
e distraído escrevo
embora não tão frequentemente
massa falida
desmorona no papel
quando babo
e acabada em texto
eu acabo
PIRES, Jack; LEMINSKI, Paulo.Quarenta clics em Curitiba. 2ª. fornada. Curitiba, PR: Editora Etcétera, 1990. 41 folhas soltas com fotografias (pb, uma em cores) e textos, e 1 folha com colofão protegidos em envelope de papel.25x25 cm. Fotógrafo e poeta reunidos na primeira edição (1975) e na segunda (1990). Apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Hoverno do Paraná. “ Paulo Leminski “ Ex. bibl. Antonio Miranda
FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013. Organização Ricardo Corona. Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2013. 43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil. ISBN 978-85-64029-08-8 Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem, Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger.
Extraído de:
BRIC A BRAC 21 ANOS MAIOR IDADE.Brasília: Caixa Cultura, 2007. 112 p. ilus. col. 23x21 cm.. Exposição comemorativa . Curadoria e projeto expositivo: Marilia Panitz. Coordenação Geral: Luis Turiba. Inclui poemas visuais e arte gráfica. Inclui poemas visuais de Luis Turiba, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Zuca Sardanga, Nanico, Franciso Kaque, Wagner Barja, Paulo Andrade, Antonio Miranda, Bernardo Vilhena, Paulo Cac, Ariosto Teixeira, Elizabeth Hazin, José Paulo Cunha, Fred Maia, Nicolas Behr, Claudius Portugal, Ronaldo Cagiano, TT Catalão, Francine Amarante, Adeilton Lima, Maria Maia, Ronaldo Augusto, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, José Rangel Farias Neto, Menezes e Morais, Cristiane Sobral, Eduardo Mamcasz, Vicente Sá, Nance Las-Casas, Bic Prado, Angela Torres Lima, Flavio Maia, Ronaldo Santos, Joanyr de Oliveira, Sylvia Cyntrão, Carlos Roberto Lacerda, Carlos Henrique, Fernanda Barreto, José Edson, Vera Americano, Alice Ruiz, André Luiz Oliveira, Carlos Silva, Charles Peixoto, José Roberto Aguilar, Estrela Ruiz, Renato Riella, Chico César, Francisco Alvim, José Robert o da Silva, Eudoro Augusto, Amneres, Gustavo Dourado, Alexandre Marino, e ilustradores: Resa, e fotógrafos, etc.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Trad. Rodolfo Mata
Contranarciso
en mí
veo al otro
y a otro
y a otro
en fin decenas
trenes que pasan
vagones llenos de gente
centenas
el otro
que hay en mí
eres tú
tú
y tú
así como
estoy en ti
estoy en él
en nosotros
y sólo cuando
estamos en nosotros
estamos en paz
aunque estemos a solas minski
---------------------------------
Ópera fantasma
Nada tengo.
Nada me pueden quitar.
Soy el ex-extraño,
el que vino sin ser llamado
y, gato, se fue
sin hacer ningún ruido.
El espléndido corcel
ve la sombra del chicote
y corre, esplendores del caballo
em laberintos de la crin
excitado por el viento
cancelas espacios de quimera
consumes el tiempo
hoguera que héroes incinera
tênia impulsos de cielo
y avidez sobre el mar
los campos azulados del pólo
el cielo piel de onza
y slides del zodíaco
los campos dolorosos del piélago
donde pacen peces
y el nudo de los pulpos adoba al sol
aquí la fábula habla
en el marco del juego de las olas
hiere los cascos en las estrellas
y picado por los filos
de las fieras del horóscopo
se turba un poco
cae la vigilia en el sueño
lúcido y súbito ya no mártir
queda en la tierra, caballo
el ojo lleno de estrellas
el cuerpo soso de las olas
y el corazón en el pecho
iHecho un plebe dormido!
Extraído de la revista BLANCO MÓVIL, n. 75, México, Primavera de 1998.
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Trad. Mario Camara
HEXAGRAMA 65
Ningún dolor por el daño.
Todo daño es bendito.
Del año más maligno,
nace el dia más bonito
1 día,
1 mes, 1
año
DIONISIOS ARES AFRODITE
a los dioses más crueles
juventud eterna
ellos nos dan de beber
en la misma copa
vino, sangre y esperma
SAGRADO LAVORO
las manos que escriben esto
un dia iban a ser de sacerdote
transformando el pan y el vino fuerte
en la carne y sangre de cristo
hoy transforman palabras
en un mixto entre lo obvio y lo nunca visto
LEMINSKI, Paulo.Todo me fue dado. Edición bilíngue de José Javier Villarreal. Madrid: Vaso Roto Ediciones, 2018. 294 p. 14 x 21 cm Grabado de cubierta: Victor Ramírez. Ex. bibl. Antonio Miranda
anch'io son pittore
fra angélico
quando pintava
uma madona col bambino
se ajoelhava e rezava
como se fosse um menino
orava diante da obra
como se fosse pecado
pintar aquela senhora
sem estar ajoelhado
orava como se a obra fosse
de deus não do homem
(De Distraídos venceremos. 1987)
anch'io son pittore
fray angélico
cuando pintaba
una madona con bambino
se arrodillaba y rezaba
como si fuese un niño
oraba delante de la obra
como si fuese pecado
pintar aquella señora
sin estar arrodillado
oraba como si la obra
fiuese de dios no del hombre
razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
(De Distraídos venceremos. 1987)
razón de ser
Escribo. Y ya.
Escribo porque lo necesito,
lo necesito porque estoy tonto.
Nadie tiene que ver con esto.
Escribo porque amanece,
y las estrellas allá en el cielo
me recuerdan las letras en el papel
cuando el poema me anochece.
La araña teje su tela.
El pez besa y muerde lo que ve.
Yo sólo escribo.
¿Tiene que haber un por qué?
atémais
Até tu, matéria bruta,
até tu, madeira, massa e músculo, vodka, fígado e soluço,
luz de vela, papel, carvão e nuvem,
pedra, carne de abacate, água de chuva,
unha, montanha, ferro em brasa,
até vocês sentem saudade,
queimadura de primeiro grau,
vontade de voltar pra casa? Argila, esponja, mármore, borracha,
cimento, aço, vidro, vapor, pano e cartilagem, tinta, cinza, casca de ovo, grão de areia,
primeiro dia de outono, a palavra primavera,
número cinco, o tapa na cara, a rima rica,
a vida nova, a idade média, a força velha,
até tu, minha cara matéria,
lembra quando a gente era apenas uma ideia?
(De Distraídos venceremos. 1987)
hasta más
¿Hasta tú, materia bruta,
hasta tú, madera, masa y músculo,
vodka, hígado y sollozo,
luz de vela, papel, carbón y nube,
piedra, pulpa de aguacate, agua de lluvia,
uña, montaña, fierro al rojo vivo,
hasta ustedes sienten nostalgia,
quemadura de primer grado, .
¿Arcilla, esponja, mármol, caucho,
cemento, acero, vidrio, vapor, paño y cartílago,
tinta, ceniza, cascarón de huevo, grano de arena,
primer día de otoño, la palabra primavera,
número cinco, bofetada, la rima rica, l
a vida nueva, la edad media, la fuerza vieja,
hasta tú, mi amada materia,
recuerdas cuando éramos tan sólo una idea?
Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000).Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas. Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil. Ex. bibl. Antonio Miranda
espaçotemponave para alice
frag
mentos
do naufragio
da vida
jogados
na praia
de uma terra desconhecida
porisso
nos apertar
tanto
nos juntar
tanto
juntos enfrentar
a noite
dos espaços interestelares
(polonaises, 1980)
*
espaciotiemponave para alice
frag
mentos
del naufragio
de la vida
todos
en la playa de uma tierra desconocida
poreso
nos aprentamos
tanto
nos juntamos
tanto
para juntos enfrentar
la noche
de los espacios interestelares
(De Palomares, 1980)
*
Cabelos que me caem
em cada um
mil anos de haikai
Cabellos que se me caen
en cada uno
mil años de haiku
(De Caprichos & relaxos, 1983)
*
Lua à vista
brilhavas assim
sobre auschvitz
Luna a la vista
¿brillabas así
sobre auschwitz?
(De Caprichos & relaxos, 1983)
*
Vim pelo caminho difícil
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.
Vine por el camino difícil
la linea que nunca termina,
la linea golpea en la piedra,
la palabra rompe una esquina,
mínima línea vacía,
la línea, ua vida entera,
palabra, palabra mía.
(De Distraídos venceremos, 1987)
*
IMPASSE
Parece coisa da pedra
alguma pedra preciosa
vidro capaz de treva,
névoa capaz de prosa.
Pela pele, é lírio
aquela pura delícia.
Mas, por ela, a vida
a mancha horrível, desliza.
CALLEJÓN SIN SALIDA
Parece cosa de piedra
alguna piedara preciosa
vidrio capaz de tinieblas,
niebla capaz de prosa.
Por la piel, es lirio
aquella pura delicia.
Mas, por ella, la vida
mancha horrible, se desliza.
Born in Curitiba onAugust 24,1945, Paulo Leminski led a life on the margins of society, working in advertisitng and intermittent collaboration with newspapers and journals. Leminski died in 1989 from alcohol abuse. Despite the difficulties of his life, he wrote several works of prose fiction and poetry.
He is now recognized as one of the most important poets of his generation.
BOOKS OF POETRY: Quarenta Cliques em Curitiba (1979); Polonaise (1980); Caprichos e Relaxos (São Paulo: Editora Brasiliense, 1983), Distraídos Venceremos (1987); La vie en close (São Paulo: Editora Brasiliense, 1991)
Pelo
pelo
branco
magnólia
o
azul
manhã
vermelho
olha
(from Caprichos e Relaxos, 1983)
Through
through
magnolia
white
the
morning
blue
sees
red
—Translated from the Portuguese by
Michael Palmer
O Assassino Era O Escriba
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito
inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da la conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto
adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
(from Caprichos e Relaxos, 1983)
The Assassin Was the Scribe
My professor of syntactical analysis was a sort of
nonexistent subject.
A pleonasm, principal predicate of your life,
common as a paradigm of conjugation.
Between subordinated oration and adverbial
adjunct he had no doubts: always found an
asyndetic way to torture us with an appositive.
He married grammatical rectitude.
Was unhappy.
Was possessive like a pronoun.
And she was bitransitive.
He tried to go to the USA.
No way.
They discovered an indefinite article in his suitcase.
His moustache's exclamation point declined explicatives,
connectives and passives, forever.
One day I greased him with a direct object through the head.
—Translated from the Portuguese by Michael Palmer
Dois Loucos No Bairro
um passaos dias
chutando postes para ver se acendem
o outro as noites
apagando palavras
contra um papel branco
todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
para eu ser tratado também
(from Caprichos e Relaxos, 1983)
Two Madmen in the Neighborhood
one of them spends his days
kicking lampposts to see if they light up
the second his nights
erasing words
from white paper
every neighborhood has a madman
it takes beneath its wing
not long till I can
be treated for the same damn thing
- Translated from the Portuguese by Regina Alfarano,
with revisions by Dana Stevens
Seleção de poemas publicados originalmente em:/ Poems from:
NOTHING THE SUN COULD NOT EXPLAIN: 20 CONTEMPORARY BRAZILIAN POETS, edited by Régis Bonvicino, Michael Palmer and Nelson Ascher. In> THE PIPE – ANTHOLOGY OF WORLD POETRY OF THE 20TH CENTURY. Vol. 3. Los Angels, USA: Green Integer, 2003.
Edição com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do Consulado Geral do Brasil em San Francisco, California, USA
POEMS IN ENGLISH
DESCONTRÁRIOS – UNENCOUNTRARIES: 6 poetas brasileiros: 6 Brazilian poets.Nelson Ascher et al. Projeto e coordenação editorial Josely Viana Baptista, projeto gráfico e desenhos Francisco Faria, versões dos poemas para o inglês Regina Alfarano et al. Curitiba: Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba/ FCC; Associação Cultural Avelino Vieira / Bamerindus, 1995. 158 p. ilus. “ Josely Viana Baptista “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Desencontrários
Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu,, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer a poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a u m exército,
para conquistar um império extinto.
Unencontraries
I told the word to rhyme,
but it did not obey.
It spoke of ski4es, a bay, a rose
in Greek, in silence, in prose.
Seemed out of the wits,
the silent syllabe.
I told the phrase to dream,
and into a labirynth it went.
Making poetry, I feel, only this.
Having na army sent
to conquer na extinct empire.
(Distraídos venceremos, 1987)
Plena pausa
Lugar onde se faz
o que já foi feito,
branco da página,
soma de todos os textos,
foi-se o tempo
quando, escrevendo,
era preciso
uma folha isenta.
Nenhuma página
jamais foi limpa.
Mesmo a mais Saara,
ártica, significa.
Nunca houve isso,
uma página em branco.
No fundo, todas gritam,
pálidas de tanto.
(Distraídos venceremos, 1987)
Full pause
A place where 's done
what’s already be done,
the blank of the page,
sum of all texts,
time departed
when, in writing,
an exempt leaf
was needed.
No page
was ever clean.
Even the most Saharian,
Arctic one, signifies.
That there never was,
a blank page.
In the depths, they all shout,
pallid from so much.
Translated by Charlaes Perrone
Verdura
de repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que eu te vi
o dia em que me viste
de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana
(não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase, 1980)
Greenery
suddenly
I recall the greenness
ofthe color green
the greenest there has ever
been
the happiest hue
that makes me blue
the green you wear
green as you were
the day I met you
and you met me too
suddenly
I sold my kids
to a Wasp family
they've got a van
they've got the cash
they've got a house
and their lawn is fun
when back in Rio, now they
can
go to the beach and get a tan
Translated by Nelson Ascher
lua à vista
brilhavas assim
sobre auschwitz?
(Distraídos venceremos, 1987)
clear moon
did you shine like this
over Auschwitz?
Translated by Regina Alfaro
cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença
(Distraídos venceremos, 1987)
silk curtains
the Wind blows in
without permission
Translated by Regina Alfaro
confira
tudo que respira
conspira
(não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase, 1980)
probe the mire
everything that can respire
can conspire
Translated by Regina Alfaro
espaçotemponave para alice
frag
mentos
do naufragio
da vida
jogados
na praia
de uma terra desconhecida
porisso
nos apertar
tanto
nos juntar
tanto
juntos enfrentar
a noite
dos espaços interestelares
(polonaises, 1980)
specetimeship for alice
frag
ments
from the shipwreck
of a lifetime
washed
onto the beach
of an unknown landtime
the reason for
holding us
so
closing us
so
together facing
the night
of interstelar spaces
Translated by Regina Alfaro
(revised by Regina Alfaro)
Iceberg
Uma poesia ártica,
claro, é isso que desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível. F
rase, não. Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?).
Sim, inverno, estamos vivos.
(Distraídos venceremos, 1987)
Iceberg
An Arctic ballad,
I'd, of course, like to entice.
A practice so pallid,
three verse-lines of ice.
A phrase of tbe surface
where a life-phrase never
could be possible.
Phrase, no. None whatsoever.
Null and lyrical
reduced to purely minimal,
a blinking of tbe spiritual,
alone unique unit.
Yet I speak. And my speaking is
provoking equivocating clouds
(or hives of monologues?).
Yes, winter, we are alive.
Translated by Charles Perrone
Aviso aos náufragos
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?
(Distraídos venceremos, 1987)
Notice to the shipwrecked
This page, for example,
wasn 't born to be read.
It was born to be pallid,
merely to plagiarise the Iliad,
something keeping quiet
a leaf that returns to the branch,
long after it was felled.
It was born to be sand,
who knows Andromeda, Antarctica,
Himalaya, a syllable felt
it was born to be the last one
the one not yet born.
Words broughtfrom afar
by the waters of the Nile,
one day, this page, papyrus,
will have to be transcribed,
into symbols, into Sanskrit,
into ali the dialects of índia,
it will have to say good day,
to what is only whispered in my ear,
it will have to be the harsh stone
where someone dropped the glass.
Isn 't that the way life is?
Translated bv Charles Perrone
ASSALTARAM A GRAMÁTICA
Jovens e vivazes, provocadores e inovadores... Alice Ruiz... todos jovenzinhos..., Chacal e Chico Alvim, Cristina César, Paulo Leminski, Wally Salomão... e outros mais, num video imperdível, memorável, enviado por Edson Cruz, do Sambaquis, que recebeu do Giuseppe Zani, via Ricardo Aleixo, que... agora passamos adiante. Vejam e repassem....
COMENTÁRIO SOBRE A SUSPENSÃO DO VÍDEO:
Aqui está um bom exemplo da confusão referente à Lei do Direito Autoral no Brasil... Recebemos este vídeo pela Internet, de um dos personagens do vídeo, pedindo a difusão...
Foi o que fizemos. A produtora entrou com um pedido para o reconhecimento de seus direitos autorais. O vídeo não foi publicado em nosso Portal, apenas fizemos um link, a pedido de um dos poetas. A fonte onde está depositado deve ter suspenso a disponibilização do video até que se resolva a questão. Sem entrar no mérito do recurso da produtora, fica sempre aquela pergunta: em alguma instância os poetas participantes do vídeo vão receber por sua imagem? Mas a questão é outra: quando o Brasil vai adotar o FAIR USE, quando a divulgação for sem fins lucrativos, por interesse estritamente cultural? Fica aqui o link cego para representar o dano à cultura. Sem com isso querer contestar o pleito da produtora, cuja decisão cabe à justiça, nos estreitos, estreitíssimos, espaços da lei vigente, que estava em processo final de discussão para ser reformada e que atualmente está de molho... Uma lei só é boa quando for justa para todos.
LEMINSKI, Paulo. Pacote de poesia. Curitiba, PR: Paço da Liberdade – SESC PARANÁ, 2009. Envelope pardo contendo folhas soltas impressas com os poemas. Ex. bibl. Antonio Miranda