MANIFESTO: Paulo Leminski
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Mede-se um criador (pintor, contista, poeta) pela originalidade [+ ou — relativa, + ou — absoluta) da sua produção.
É fascismo .vetar ou desautorizar a existência/vigência de uma informação mais exigente e sofisticada tecnologicamente sob pretexto de que não é "acessível às massas", acusação que levou Maiakovski ao suicídio. Afinal, que "massas" são essas?
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Essa originalidade refere-se ao grau de competência com que aciona os códigos que manipula (o sintáttco, o semântico e o pragmático).
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Essa originalidade é estatística; avalia-se em função do (repertório do) meio em que atua e obra (num meio
atrasado, por exemplo, a diluição da Informação nova pode exercer o papel de informação nova).
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O grau de competência nada tem que ver com domínio artesanal do (s) código (s). Tem que ver com sua superação.
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Critérios outros (postura social, Justeza ideológica, boas intenções) são demagógicos e só servem para encobrir o verdadeiro problema da criação (= produção de informação
nova) e conduzem, natural e logica-mente ao academicismo.
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Não há um público. Nem O PÚBLICO. Há públicos.
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É correto, portanto, produzir para uma faixa especial (ou muito especial) de público. Produzir para produtores, por exemplo. Fazer poesia, por exemplo, para uma faixa altamente
especializada de consumidores. Para poetas, por exemplo.
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É fascismo vetar ou desautorizar a existência/vigência de uma informação mais exigente e sofisticada tecnologicamente sob pretexto de que não é “acessível às massas”, acusação que levou Maiakovski ao suicídio. Afinal, que “massas” são essas?
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O exemplo das ciências é claro. Quando nasceu, a Teoria da Relatividade de Einstein só era acessível a meia dúzia de físicos. Hoje, faz parte do currículo das escolas.
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Ë preciso não acreditar que as pessoas vão ficar mais burras. Que irão perder informação. Que saberão cada vez menos mais. Ao contrário.
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Há públicos passivos. E públicos ativos. O caso de hoje: só escritores lêem literatura. O dito "grande público" não lê. Ou lê sub-literatura. Sempre haverá quem faça o trabalho mais barato: ele é mais provável, afinal.
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A ignorância e a desinformação, o provincianlsmo e o paroquiallsmo (formas de redundância, repetição, banalidades entropia) não prevalecerão sobre a informação nova (CRIAÇÃO).
A criatividade, quando radical, é informada.
Assim como não se pode fazer o Rivelino jogar como um reserva do Colorado não se pode fazer um reserva do Colorado jogar como o Rivelino. Mas o futebol/farwest literário tem razões que uma outra razão piais altamente equipada não desconhece.
Extraído da revista
QORPO ESTRANHO. CRIAÇÃO INTERSEMIÓTICA. N. 2 set – out – nov –dez 1976. São Paulo. Editores: Julio Plaza e Régis Bonvicino.
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