ADÉLIA PRADO
Adélia Prado (1935) surge en Divinópolis, interior de Minas Gerais, con la publicación de Bagaje, en 1976. En esta y en toda su obra siguiente es flagrante una percepción: "respirar es dificil" (sic). En original vuelo solitario, la poesía de Adélia se apropia de epifanías, profana, provoca, gime, siempre bajo el yugo severo de la palabra sagrada.
Lo que atrae en Adélia es que cuanto más crece su obra en calidad y extensión, más comprimido se vuelve su campo de observación. Es una poesia que habla del detalle ínfimo, de gestos, del dulce que se hace y se come de la olla, de pequeños (y grandes) deseos inconfesados, de sentimientos repetitivos, anti-heroicos. En fin, una metafísica única del universo doméstico. Heloisa Buarque de Hollanda
Fuente: http://www.mujeresdeempresa.com/arte_cultura/030701-adelia-prado.shtml
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Veja também>>> POÈMES EN FRANÇAIS
See also: TEXTS IN ENGLISH
VEJA TAMBÉM: INTIMIDADE, sobre a poesia de ADÉLIA PRADO, por Marly de Oliveira – ENSAIOS
Ver também>>> DE ANIMAIS, SANTO E GENTE, por Carlos Drummond de Andrade
ADÉLIA PRADO É HOMENAGEADA NA III BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA. A nossa grande poeta de Divinópolis, MG, descoberta e proclamada por Carlos Drummond de Andrade vem a Brasília para uma sessão pública de reconhecimento por sua vasta obra poética.
Trégua
Hoje estou velha como quero ficar.
Sem nenhuma estridência.
Dei os desejos todos por memória
e rasa xícara de chá.
PRADO, Adélia. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015. 543 p. 16,5X23,7 cm. Projeto de capa e miolo: Diana Cordeiro. capa dura. ISBN 978-85-01-06935-1 “Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
OPUS DEI
As borboletas não desistem,
inconscientes de seu nome impróprio.
As estações renovam-se sem erro
e teimas ainda em te certificares|
de que não é pecado dizer:
ó beleza, sois a minha alegria.
Abre-te,
Jonathan é apenas um homem,
se lhe torceres o lábio zombeteira
a lança dele reflui.
Um inseto esgota a razão toda,
rói com sabedoria as sumas,
uma gota de seiva mata um homem.
Portanto entrega-te
ao que te faz tão bela quando ris.
A ópera não é bufa,
é só um não-saber rasgado de clarões.
Se Jonathan for deus estarás certa
e se não for, também,
porque assim acreditas
e ninguém é condenado porque ama.
De Por causa da beleza do mundo.
NEUROLINGUÍSTICA
Quando ele me disse
ó linda,
pareces uma rainha,
fui ao cúmice do ápice
mas segurei meu desmaio.
Aos sessenta anos de idade,
vinte de casta viuvez,
quero estar bem acordada,
caso ele fale outra vez.
De Quatro poemas no divã.
BALIDO
Setenta anos redondos,
assim não se quebra o verso.
Na verdade tenho mais.
E então?
Respeito me insulta,
repele fantasias de rapto,
namoros no jardim cheirando a malva.
Quero um paranormal a me ensinar piano,
Consuelo dá aulas, mas seu toque é um martelo
e eu venero pianos.
Mão não rima com nada,
nem velha,
só aparece telha, ovelha, orelha,
nada que preste. Cansei.
Tem um senhor distinto
querendo arrasar meu ego.
Com certeza minto.
Volta e meia estou perplexa
e toda rima que achei é circunflexa.
De A duração do dia.
PRADO, Adélia. Vida doida. Ilustrações Ana Viola. Porto Alegre: Alegoria, 2006. 80 p. (Col. Palavra e Arte) 14x18 cm. Inclui 4 cartões postais incrustado na orelha da primeira capa. ISBN 85-60149-00-7 “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
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O AMOR NO ÉTER
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniços na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escavar-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
PRADO, Adélia. Oráculos de Maio. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007. 144 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-01-07511-6 “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
VASO NOTURNO
À meia-noite, José dos Reis
— que namoro escondido —
vem fazer serenata para mim.
Papai tosse alto,
tropeça por querer nos urinóis.
Que vergonha, meu deus,
pai, cachorrinha plebeia,
couves na horta
geladas de orvalho e medo.
Me finjo de santa morta,
meu céu é gótico
e arde.
OFICINA
Podem gritar
as cigarras
e as serras dos carpinteiros.
Nunca serão funestas,
fatiam a tarde
que continua inconsútil.
O mundo é ininteligível,
mas é bom.
PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991. 407 p. 16x23 cm. ISBN 85-267-0325-0 “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
INSÔNIA
O homem vigia.
Dentro dele, esfumados,
uivam os cães da memória.
Aquela noite, o luar
e o vento no cipó-prata e ele,
o medo a cavalo nele,
ele a cavalo em fuga
das folhas do cipó-prata.
A mãe no fogão cantando,
os zangões, a poeira, o ar anímico.
Ladra seu sonho insone,
em saudade, vinagre e doçura.
GÊNERO
Desde um tempo antigo até hoje,
quando um homem segura minha mão,
saltam duas lembranças guarnecendo
a secreta alegria do meu sangue:
a bacia da mulher é mais larga que a do homem,
em função da maternidade.
O Osvaldo Bonitão está pulando o muro de dona Gleides.
A primeira, eu tirei de um livro de anatomia,
a segunda, de um cochicho de Maria Vilma.
Oh! por tão pouco incendiava-me?
Eu sou feita de palha,
mulher que os gregos desprezariam?
Eu sou de barro e oca.
Eu sou barroca.
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PRADO, Adélia. A Faca no peito. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. 84 p 14x21 cm. Ilustração da capa: Marc Chagall, “Les fiancés” (1927).
FORMAS
De um único modo se pode dizer a alguém:
“Não esqueço você.”
A corda do violoncelo fica vibrando sozinha
sob um arco invisível
e os pecados desaparecem como ratos flagrados.
Meu coração causa pasmo porque bate
e tem sangue nele e vai parar um dia
e vira um tambor patético
se falas no meu ouvido:
“Não esqueço você.”
Manchas de luz na parede,
uma jarra pequena
com três rosas de plástico.
Tudo no mundo é perfeito
e a morte é amor.
PRADO, Adélia. O Coração disparado. 4ª. edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987. 107 p. 14x21 cm. Capa: pintura de Antonio Maia. Apresentação de Affonso Romano de Sant´Anna. ISBN 85-277-0070-0 “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas especam:
somos noivo e noiva.
.
O GUARDA-CHUVA PRETO
Esquecido na mesa,
como cabo voltado para cima
e as bordas arrepanhadas,
é como seu dono vestido,
composto no seu caixão.
Não desdobra a dobradiça,
não pousa no braço grave
do que, sendo seu patrão,
foi pra debaixo da terra.
Ele, vai para o porão.
Existe um retrato antigo
em que posou aberto,
com o senhor moço e sem óculos.
Guarda-chuva, guarda-sol,
guarda-memória pungente
de tudo que foi em nós
um pouco ridículo e inocente.
Guarda-vida, arquivo preto,
cão de luto, c]ao jazente.
(De O coração disparado,1987
ROÇA
No mesmo prato
o menino, o cachorro e o gato.
Come a infância do mundo.
(De O coração disparado,1987
VITRAL
Uma igreja voltada para o norte.
À sua esquerda um barranco, a estrada de ferro.
O sol, a mais de meio caminho para oeste.
Tem uns meninos na sombra.
Eu estou lá com um pé apoiado sobre o dedo grande,
a mão que passei no cabelo,
a um quarto de seu caminho até a coxa,
onde vai bater e voltar, envergonhado passo de balé.
Tudo pulsando à revelia de mim,
bom como um ingurgitamento não-provocado do sexo.
A pura existência.
(De O coração disparado,1987
PRADO, Adélia. Terra de Santa Cruz. 2ª. edição. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1986. 102 p. 14x21 cm. ISBN 85-7030-075-1 0 “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
O lugar da necrópole
Há quem tendo cantado e batido os dentes no copo
já morreu.
Há quem tendo falado suas dores secretas
está hoje selado sob lápides,
excrescendo sobre mim o seu fantasma
de pessoa verdadeira, rebelada,
de pessoa poética.
Na juventude me comprazia o fúnebre,
as faces lívidas dos poetas doentes.
Hoje, só preciso da vida pra morrer.
Nas metrópoles,
o campo-santo acaba confundido,
rodeado de bares.
E por causa disso iludem-se as pessoas
de ter nas mãos a indomesticável.
O cemitério quer ladeira e montes
para os quais se olha ao entardecer:
um dia estarei lá,
lá longe,
no incontestável lugar.
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas especam:
somos noivo e noiva.
PRADO, Adélia. Bagagem. 22ª. edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. 144 p. 14x21 cm. Capa: ilus. de Sarah Prado de Freitas. ISBN 978-85-200-0751-8 1ª edição pela editora Civilização Brasileira, com o apoio do Ministério da Educação/ FNDE, fora de comércio. “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
ENDECHA
Embora a velha roseira insista neste agosto
e confirmem o recomeço estas mulheres grávidas,
eu sofro de um cansaço, intermitente como certas febres.
Me acontece lavar os cabelos e ir secá-los ao sol,
desavisada. Ocorre até que eu cante.
Mas pousa na canção a negra ave e eu desafino rouca,
em descompasso, uma perna mais curta,
a ausência ocupando todos os meus cômodos,
a lembrança endurecida no cristal
de uma pedra na uretra.
COM LICENÇA POÉTICA
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado para mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
Já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
De Bagagem (1976)
PRADO, Adélia. O Pelicano. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois, 1987. 77 p. 14x21 cm. Capa: Pintura à óleo sobre madeira de Hevecus. ISBN 85-277-0023-9 “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
MULHER QUERENDO SER BOA
Me toldam horas de cinza
Rachadas de imprecação.
Ó Deus, não me humilhe mais
com esta coceira no púbis.
Responde-me sobre os mortos,
se mamam,
nesta lua visível em pleno dia,
do seu leite de sonho.
FIBRILAÇÕES
Tanto faz
funeral ou festim
tudo é desejo
que percute em mim.
Ó coração incansável a ressonância das coisas,
amo, te amo, te amo,
assim triste, ó mundo,
ó homem tão belo que me paralisa.
Te amo, te amo.
E uma língua só,
um só ouvido, não absoluto.
Te amo.
Certa erva do campo tem as folhas ásperas
recobertas de pelos,
te amo, digo desesperada
de que outra palavra venha em meu socorro.
A relva estremece,
o amor para ela é aragem.
De O pelicano (1987)
MISSA DAS 10
Frei Jácomo prega e ninguém entende.
Mas fala com piedade, para ele mesmo
e tem mania de orar pelos paroquianos.
As mulheres que depois vão aos clubes,
os mocos ricos de costumes piedosos,
os homens que prevaricam um pouco em seus negócios
gostam todos de assistir a missa de frei Jácomo,
povoada de exemplos, de vida de santos,
da certeza marota de que ao final de tudo
urna confissão "in extremis" garantirá o paraíso.
Ninguém vê o Cordeiro degolado na mesa,
o sangue sobre as toalhas,
seu lancinante grito,
ninguém.
Nem frei Jácomo.
(De O Pelicano, 1987)
PRANTO PARA COMOVER JONATHAN
Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
(De O Pelicano, 1987)
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De
Adélia Prado
CHORINHO DOCE.
Poemas de Adélia Prado.
Maureen Bisilliat - imagens.
São Paulo: Alternativa, 1995. s.p. ilus. col.
Patrocinio Iochpe-Maxio
Maureen Bisilliat vem ilustrando com fotos excepcionais as obras de grandes poetas e escritores brasileiros. No caso da poesia, está também o exemplo de O cão sem plumas, do mestre pernambucano João Cabral de Melo Neto, com imagens tomadas nos manguezais dos alagados de Recife. Fortes, contundentes, ampliando o discurso cabralino. Catadores de guaiamuns atolados na lama. Agora é a vez da mineira Adélia Prado, que Maureen ilustra com rostos e paisagens do sertão, que ambienam e projetam os textos. Livro de circulação restrita, com patrocínio de empresa industrial, encontrável apenas em sebos e bibliotecas, além das coleções particulares.
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Impressionista
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
Solar
Minha mãe cozinhava exatamente
arroz, feijão-roxinho,
molho de batatinhas.
Mas cantava.
Trégua
Hoje estou velha como quero ficar.
Sem nenhuma estridência.
Dei os desejos todos por memória
e rasa xícara de chá.
PRADO, Adélia. Miserere. 1ª. edição. Rio de Janeiro: Record, 2013. 94 p. 13,5x21 cm. Capa: Diana Cordeiro. ISBN 978-85-01-10173-0 Col. A.M.
UMA PERGUNTA
Vede como nossos filhos nos olham,
como nos lançam em rosto
uma conta que ignorávamos.
Não caridosos, convertem em pura dor
a paixão que os gerou.
Por qual ilusão poderosa
nos veem assim tão maus,
a nós que, tal como eles,
buscamos a mesma mãe,
concha blindada a salvo de predadores.
A QUE NÃO EXISTE
Meus pais morreram,
posso conferir na lápide,
nome, data e a inscrição: SAUDADES!
Não me consolo dizendo
'em minha lembrança permanecem vivos',
é pouco, é fraco, frustrante como o cometa
que ninguém viu passar.
De qualquer língua, a elementar gramática
declina e conjuga o tempo,
nos serve a vida em fatias,
a eternidade em postas.
Daí acharmos que se findam as coisas,
os espessos cabelos, os quase verdes olhos.
O que chamamos morte
é máscara do que não há.
Pois apenas repousa
o que não pulsa mais.
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Diana Bellessi.
Tregua
Hoy estoy vieja como quiero estar.
Sin niguna estridencia.
Cambié todos los deseos por recuerdos.
y una tacita de té.
Endecha
Aunque el viejo rosal insista en este agosto
y confirmen el reinicio estas mujeres grávidas,
yo sufro de un cansancio, intermitente como ciertas fiebres
Me da por lavarme el pelo y salir a secarlo al sol,
desprevenida. Hasta canto a veces.
Pero se posa en la canción un ave negra y yo desafino ronca
desacompasada, una pierna más corta,
la ausencia ocupa todos mis cuartos,
la memoria endurecida en el cristal
de una piedra en la uretra.
Se Adélia
Adelipradeava cidades
Adeliava homens
Feminilizava brutos
Transformaria deus em deusa
Pelicaneava o resto
*
Se Adélia
Adeliapradeaba ciudades
Adeliaba hombres
Feminilizaba brutos
Transformaría dios en diosa
Pelicaneaba al resto
Textos e imagem extraídos de
PORTOCALVO, Joilson. Poesia das cores. Brasília: Thesaurus Editora, 2012. 36 p. ilus. col. Ilustrado por Adegildo Ferreira de Barros. Projeto gráfico e diagramação de Carlos DTarso. Texto bilíngue português e espanhol. Tradução de Javier Iglesias e Raúl Larrosa Ballesta. ISBN 978-85-409-0071-4 Capa com “janela” perfurada “à faca”. Poesia infanto-juvenil. Col. A.M. (EA)
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TEXTOS EN ESPAÑOL
TRADUCCIONES DE ADOLFO MONTEJO NAVAS
Capa da edição dedicada à escritora,
publicação do Instituto Moreira Sales,
junho 2000, dirigia por
Antonio Fernando De Franceschi.
ADÉLIA PRADO
(Divinópolis, Minas Gerais, Brasil, 1936)
La aparición de su poesía fue saludada por el propio Drummond de An-
drade. Una poética que consigue reunir religiosidad, eros y cotidianidad, con una escritura de verso narrativo, coloquial y salpicado de elementos geográficos y epifanías místicas, «el fundamento de la mística es el mismo fundamento que el de la poesía», confiesa la autora de Minas Gerais. Poesía que destaca, en primer plano, el sentimiento de la mujer, como razón expresiva. También es autora de varios libros en prosa.
OBRA POÉTICA: Bagagem, 1976; O coração disparado, 1978; Terra de
Santa Cruz, 1981; O pelicano, 1987; A faca no peito, 1988; Oráculos de maio, 1999.
CON LICENCIA POÉTICA
Cuando nací un ángel esbelto,
de esos que tocan la trompeta, anunció:
vas a cargar bandera.
Cargo demasiado pesado para mujer,
esta especie aún avergonzada.
Acepto los subterfugios que me tocan,
sin necesitar mentir.
No soy tan fea que no me pueda casar,
encuentro Río de Janeiro una belleza y
ora sí, ora no, creo en el parto sin dolor.
Pero lo que siento escribo. Acato el destino.
Inauguro linajes, fundo reinos
— dolor no es amargura.
Mi tristeza no tiene pedigrí,
ya mis ganas de alegría,
su raíz va a mi abuelo mil.
Va a ser cojo en la vida es maldición para hombre.
Mujer es desdoblable. Yo soy.
De Bagagem (1976)
VIDRIERA
Una iglesia orientada hacia el norte.
A su izquierda un barranco, la vía del tren.
El sol, a más de medio camino hacia el oeste.
Hay unos niños en la sombra.
Yo estoy allí con el pie apoyado sobre el dedo pulgar,
la mano que pasé por el cabello,
a un cuarto de su camino hasta el muslo,
donde va a golpear y volver, avergonzado paso de ballet.
Todo latiendo en contra mía,
bueno como un engullimiento no provocado del sexo.
La pura existencia.
De O coração disparado (1978)
MUJER QUERIENDO SER BUENA
Me entoldan horas de ceniza
rajadas de imprecación.
Oh Dios, no me humilles más
con este escozor en el pubis.
Respóndeme sobre los muertos,
si maman,
en esta luna visible en pleno día,
de su leche de sueño.
De Terra de Santa Cruz (1981)
FIBRIOLACIONES
Tanto da
funeral o festín
todo es deseo
que repercute en mí.
Oh corazón incansable a la resonancia de las cosas,
amo, te amo, te amo,
así triste, oh mundo,
oh hombre tan bello que me paraliza.
Te amo, te amo.
Y una sola lengua,
un solo oído, no absoluto.
Te amo.
Cierta hierba del campo tiene las hojas ásperas
recubiertas de pelos,
te amo, digo desesperada
de que otra palabra venga en mi socorro.
La hierba se estremece,
el amor para ella es brisa.
De O pelicano (1987)
*De Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas. Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil.
*Nota: o tradutor Adolfo Montejo Navas é amigo comum nosso com Wagner Barja, e o convidamos a participar da exposição OBRANOME 2 no Museu Nacional de Brasília, durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília 2009. Montejo Navas prometeu-nos suas traduções ao castelhano e só na Espanha, em viagem, é que conseguimos os originais que estamos divulgando parcialmente no nosso Portal de Poesia Ibeoramericana, com os agradecimentos.
VILLARREAL, José Javier, org. Poesía brasileña : antología esencial. Madrid: Visor Libros, 2012. 587 p. (Col. La Estafeta del Viento, vol. 13) ISBN 978-84-9895-098-4
NO MEIO DA NOITE
Acordei meu bem pra lhe contar meu sonho:
sem apoio de mesa ou jarro eram
as buganvílias brancas destacadas de um escuro.
Não fosforesciam, nem cheiravam, nem era malvas.
Eram brancas no ramo, brancas de leite grosso.
No quarto escuro, a única visível coisa, o próprio ato de ver.
Como se sente o gosto da comida eu senti o que falavam:
"A ressurreição já está sendo urdida, os tubérculos
da alegria estão inchando úmidos, vão brotar sinos".
Doía como um prazer.
Vendo que eu não mentia ele falou:
as mulheres são complicadas. Homem é tão singelo.
Eu sou singelo. Fica singela também.
Respondi que queria ser singela e na mesma hora,
singela, singela, comecei a repetir singela.
A palavra destacou-se novíssima
como as buganvílias do sonho. Me atropelou.
—O que que foi ? —ele disse.
—As buganvílias...
Como nenhum de nós podia ir mais além,
solucei alto e fui chorando, chorando,
até ficar singela e dormir de novo.
(De Bagagem, 2011
A MITAD DE LA NOCHE
Desperté mi bien para contarte mi sueño:
sin mesa ni florero estaban
visibles las buganvilias blancas en lo oscuro.
No fosforescían ni olían ni eran puras.
Eran blancas en el ramo, blancas como la leche bronca.
En el cuarto oscuro, la única cosa visible, el próprio acto de mirar.
Como se percibe el sabor de la comida yo sentí lo que hablaban:
"La resurrección ya se está llevando a cabo, los tubérculos
de la alegría están hinchándose húmedos, van a brotar los destinos".
Dolía como un placer.
Viendo que yo no mentía él habló:
las mujeres son complicadas. El hombre es tan sencillo.
Yo soy sencillo. Sé sencilla también.
Respondí que quería ser sencilla en ese mismo momento,
sencilla, sencilla, comencé a repetir: sencilla.
La palabra se reveló novísima
como las buganvilias del sueño. Me interrumpió.
—¿Que qué? —dijo.
—Lasbuganvilias...
Como ninguno de los dos podía ir más lejos,
sollocé fuerte y comencé a llorar, a llorar
hasta quedarme sencilla y dormida de nuevo.
(De Bagagem, 2011)
Página ampliada e republicada em junho de 2009. - ampliada e republicada em janeiro de 2014. Ampliada e republicada em outurbro de 2014.
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