VINICIUS DE MORAES
(1913-1981)
1913-1981. Nasceu e morreu no Rio de Janeiro, cidade que cantou e onde amou fervorosamente. Poeta, diplomata, compositor em parceria com os maiores nomes da música popular brasileira desde a bossa nova ao samba e outros ritmo, até composições eruditas, com Tom Jobim, Baden Powel, etc.
TEXTOS EN ESPAÑOL
En Français
See also: TEXTS IN ENGLISH & PORTUGUESE
EN ITALIANO
POESIA INFANTIL
Vejam: MODERNISMO : TRADIÇÃO E RUPTURA, por IVAN JUNQUEIRA, ensaio extraordinário (!!!) publicado originariamente na revista POESIA SEMPRE, da Fundação Biblioteca Nacional, em 1993. IMPERDÍVEL. Inclui texto sobre o poeta VINICIUS DE MORAES: http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/modernismo_tradicao_e_ruptura.html
POÉTICA (l)
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
—Meu tempo é quando.
MORAES, Vinicius de. Orfeu da Conceição (Tragédia carioca) (Peça premiada no concurso de teatro do IV Centenário de São Paulo) Desenhos de Carlos Scliar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1956. 87 p ilus. p&b 16,5x23,5 cm. Livro inconsútil, em caixa de papelão. “Vinicius de Moraes” Ex. bibl. Antonio Miranda
CORIFEU
São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita...
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
tão cheia de pudor que vive nua.
(...)
APOLO
Toca muito o meu filho, até parece
Não um homem, mas voz da natureza...
Se uma estrela falasse, assim dizia.
Escuta só (dá risada). Até ofende a Deus
Tocar dessa maneira. Olha que acordes!
Quanta simplicidade! Sabes d’uma?
Me lembro dele quando, pequenino
Ficava engatinhando no terreiro
Nuzinho como Deus o fez: ficava
De boca aberta, resmungando coisa
Olhando as estrelinhas que acordavam
De tarde, pelo céu... Esse menino
Eu pensava, conversa com as estrelas...
Vai ver conversa mesmo.
De
O FALSO MENDIGO
Poemas de Vinicius de Moraes
Ilustrados com xilogravuras de
Luis Ventura
Rio de Janeiro: Editora Fontana, 1978
Poemas selecionados por Marilda Pedroso
Projeto gráfico de Gastão de Holanda e Robson Schiamé,
edição limitada a 200 exemplares numerados, assinadas pelo Autor, em 1978.
Livro impresso em papel fitrante, com gravuras assinadas pelo artista, folhas soltas
em estojo de luxo. Exemplar n. 67 da coleção Antonio Miranda.
O FALSO MENDIGO
Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda
Quero fazer uma poesia.
Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado
E me trazer muito devagarinho.
Não corram, não falem, fechem todas as portas a chave
Quero fazer uma poesia.
Se me telefonarem, só estou para Maria
Se for um trote, me chama depressa
Tenho um tédio enorme da vida.
Diz a Amélia para procurar a "Patética" no radio
Se houver um grande desastre vem logo contar
Se o aneurisma de dona Ângela arrebentar, me avisa
Tenho um tédio enorme da vida.
Liga para vovó Nenem, pede a ela uma ideia bem inocente
Quero fazer uma grande poesia.
Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde
Se eu dormir, pelo amor de Deus, me acordem
Não quero perder nada na vida.
Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar?
Puseram no lugar meu cachimbo e meus poetas?
Tenho um tédio enorme da vida.
Minha mãe estou com vontade de chorar.
Estou com taquicardia, me da um remédio
Não, antes me deixa morrer, quero morrer, a vida
Já não me diz mais nada
Tenho horror da vida, quero fazer a maior poesia do mundo
Quero morrer imediatamente.
Fala com o Presidente para fecharem todos os cinemas
Não aguento mais ser censor.
Ah, pensa uma coisa, minha mãe, para distrair teu filho
Teu falso, teu miserável, teu sórdido filho
Que estala em força, sacrifício, violência, devotamento
Que podia britar pedra alegremente
Ser negociante cantando
Fazer advocacia com o sorriso exato
Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor
Saber ser o melhor, o mais doce e o mais eterno da tua
[puríssima carícia.
SONETO DO CAFÉ LAMAS
No Largo do Machado a pedida era o "Lamas"
Para uma boa média e uma "canoa" torrada
E onde a noite cumpria ir tomar umas Brahmas
E apanhar uma zinha ou entrar numa porrada.
Bebendo, na tenção de putas e madamas
Batidas de limão até de madrugada
Difícil era prever se o epílogo das tramas
Seria algum michê ou alguma garrafada.
E em meio a cafetões concertando tramóias
Estudantes de porre e mulatas bonitas
Sem saber se ir dormir ou ir na Lili das Jóias
Ordenar, a cavalo, um bom filé com fritas
E ao romper da manhã, não tendo mais aonde
Morrer de solidão no reboque de um bonde.
Itapuã, 1973
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De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vive-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como uma bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-=se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
De
Vinicius de Moraes
MEU TEMPO É QUANDO
Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil/
Arvoredo Produções, 1990.
Capa: retrato por Scliar
O VERBO NO INFINITO
Ser criado, gerar-te, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar.
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
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MORAES, Vinicius de. Um signo uma mulher. Salvador, Bahia: Diamene, 1975. s.p. (Dinamene 112) 15x18 cm. Inclui uma folha solta comos “Termos ou locuções de linguagem coloquial ou de gíria que se encontram em um signo de uma mulher.” “Os poemas foram publicados originalmente no primeiro número de 1971 de Manchete,” (...) (A presente edição foi composta na Linotipia Peña e impressa em Electra Talleres Gráficos, sob os cuidados de Pedro Moacir Maia, em setembro de 1975, em Buenos Aires. Os desenhps de Aldary Toledo foram feitos especialmente para esta edição. Os signos do Zodíaco são reproduzidos de xilogravuras que se encontram em Poeticon astronomicon, de C. J. Hyginus (Veneza, 1485) e De magnis copunctionibus, de Albumasar (Augsburgo, 1489). Col. A.M
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MORAES, Vinicius. Jardim noturno. Poemas inéditos. Organização e seleção de Ana Miranda. São Paulo: Círculo de Livro, 1993. 199 p. capa dura, sobrecapa. ISBN 85-332-1083-3 Cerca de 500 poemas foram localizados no acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, cedidos com a documentação pessoal do poeta, pela família. Ana Miranda selecionou 107 poemas, sem preocupação cronológica, organizando-os nas seções temáticas: “Eu”, “O Passado”, “Paisagem”, ”Amor”, “Morte”, “Deus”, “Sonetos” e “Poemas Dedicados”. Representam as diversas fases da produção do poeta, da juventude à maturidade, alguns reescritos depois, outros publicados apenas em jornais e os que nunca foram divulgados antes do falecimento do autor. A seguir, os três poemas que a selecionadora e prefaciadora considerou os de sua preferência:
* * *
Ela entrou como um pássaro no museu de memórias
E no mosaico em preto e branco pôs-se a brincar de dança.
Não soube se era um anjo, seus braços magros
Eram muito brancos para serem asas, mas voava.
Tinha cabelos inesquecíveis, assim como um nicho barroco
Onde repousasse uma face de santa de talha inacabada.
Seus olhos pesavam-lhe, mas não era modéstia
Era medo de ser amada; vinha de preto
A boca como uma marca do beijo na face pálida.
Reclinado; nem tive tempo de a achar bela, já a amava.
O Haver
Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
— Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinícius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram
[ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do
[labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
15/4/1962
A perdida esperança
De posse deste amor que é, no entanto, impossível
Este amor esperado e antigo como as pedras
Eu encouraçarei o meu corpo impassível
E à minha volta erguerei um alto muro de pedras.
E enquanto perdurar tua ausência, que é eterna
Por isso que és mulher, mesmo sendo só minha
Eu viverei trancado em mim como no inferno
Queimando minha carne até sua própria cinza.
Mas permanecerei imutável e austero
Certo de que, de amor, sei o que ninguém soube
Como uma estátua prisioneira de um castelo
A mirar sempre além do tempo que lhe coube.
E isento ficarei das antigas amadas
Que, pela Lua cheia, em rápidas sortidas
Ainda vêm me atirar flechas envenenadas
Para depois beber-me o sangue das feridas.
E assim serei intacto, e assim serei tranquilo
E assim não sofrerei da angústia de revê-las
Quando, tristes e fiéis como lobas no cio
Se puserem a rondar meu castelo de estrelas.
E muito crescerei em alta melancolia
Todo o canto meu, como o de Orfeu progresso
Será tão claro, de uma tão simples poesia
Que há de pacificar as feras do deserto.
Farto de saber ler, saberei ver nos astros
A brilharem no azul da abóbada no Oriente
E beijarei a terra/ a caminhar de rastros
Quando a Lua no céu contar teu rosto ausente.
Eu te protegerei contra o Incubo
Que te espreita por trás da Aurora acorrentada
E contra a legião dos monstros do Poente
Que te querem matar, ó impossível amada!
Paris, 1957
Grande parte da popularidade de Vinicius se deve às letras de música que escreveu para as parcerias com grandes compositores brasileiros. Apresentava-se em shows musicais em que apresentava as canções e lia poemas em bares, teatros, lugares públicos no Brasil e em diversos países, mundo a fora... Vale a pena rever a letra e a interpretação de uma dessas joias (de sua autoria com o genial Tom Jobim, o mestre da bossa-nova):
A Felicidade
Vinicius de Moraes
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor.
10 POEMAS EM MANUSCRITO. Organizador: João Condé Filho. Rio de Janeiro: Edições Condé, 1945. Folhas soltas, dobradas. 29x39 cm. Prefácio de Álvaro Lins. Capa de Santa Rosa.
Inclui poemas manuscritos de Abgar Renault, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Augusto Meyer ilustrados por Tomas Santa Rosa; poemas de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Vinicius de Moraes ilustrados por Percy Deane; poemas de Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade e Manoel Bandeira ilustrados por Cândido Portinari. A clicheria foi executada por Latt & Cia Ltda e a impressão esteve a cargo do mestre João Luis dos Santos, nas oficinas gráficas dos Irmãos Pongetti. “Desta edição foram tirados 15 exemplares F.C., numerados de I a XV e destinados ao prefaciador, aos poetas e aos ilustradores e 150 exemplares numerados de 1 a 150, compostos em papel Goatskin Parchment e com a rubrica do organizador. Exemplar n. 132. Col. bibl. Antonio Miranda.
Poema de Vinicius de Moraes, ilustrado por Percy Deane
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vive-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de José Antonio Pérez
En todo, le seré a mi amor atento
Antes, y como tal celo, y siempre, y tanto
Que incluso en frente del mayor encanto
De él se encante más mi pensamiento.
Quiero vivirlo ya cada momento
Y en su loar he de esparcir mi canto
Y mi reír y derramar mi llanto
A su pesar o a su mayor contento.
Y así, cuando más tarde me procure
Quizás la muerte, angustia del viviente
Quizás la soledad, fin de quien ama
Decir yo pueda de mi amor ardiente:
Que no sea inmortal, puesto que es llama,
Mas que sea infinito mientras dure.
Trad. de Dámaso Alonso y Ángel Crespo
De la risa de pronto se hizo llanto
Tan silencioso y blanco como bruma
Y de las bocas juntas se hizo espuma
Y de manos abiertas el espanto.
De pronto de la calma se hizo el viento
Que extingue del mirar la última llama
De la pasión se hizo el presentimiento
Y del momento inmóvil se hizo el drama.
De repente, no más que de repente,
Volvióse triste lo que se hizo amante
Y solitario lo que sonriente.
Y del amigo próximo el distante,
Y de la vida una aventura errante
De repente, no más que de repente.
De
MORAES, Vincius de
Historia Natural de Pablo Neruda
(La elegia que viene de lejos),
Grabados de Calasans Neto
Santiago de Chile: Lom ediciones / Emabaja de Brasil, 2004. 56 p. ilus. 24x32 cm
ISBN 956-282-654-6
Tradução de Violea Romero, com a colaboração de Adán Méndez e María Eugenia Losa. Não informa sobre a tiragem, mas inclui uma lista de pessoas que supostamente subscreveram a edição.
Obs. A 1ª. ed. Da obra aconteceu em Salvador, Bahia, pelas Edições Macunaíma, em 1’97e, uma 2ª. ed. pla Bigra, também de Saolvador, em 1996.
“Eu, Antonio Miranda, em meus dezoito anos de idade, e uma paixão total pela poesia, fui ao lançamento dos livros de canção e amor exacerbados dos grandes poetas — Vinicius de Moraes e Pablo Neruda , lá no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Como o dinheiro era curto em minha juventude, comprei apenas os “20 poemas de amor e uma canção desesperada”, para merecer um autógrafo e o prazer de aproximar-me, ainda que por breve momento, do (já, naquela época) célebre poeta chileno universal.” Antonio Miranda
TARDE DE AUTÓGRAFOS NO MAM
e viagem a São Paulo
No Museu de Arte Moderna
(Depois de uma entrevista à imprensa
Em casa de Rubem Braga)
Autografamos juntos nossos poemas>
Dia seguinte, em São Paulo
Para onde partimos de trem
E nos hospedamos no Cà d´Oro
Inauguraste a estátua
De Flávio de Carvalho
Em homenagem a Lorca
E que pouco mais tarde
Amanheceu no chão desmantelada
Pelo homens do Ódio.
TARDE DE AUTÓGRAFOS EM EL MAM
y viaje a São Paulo
En el Museo de Arte Moderno
(Después de una entrevista a la prensa
En la casa de Rubem Braga)
Autografiamos juntos nuestros poemas.
Al día siguiente, en São Paulo
Donde fuimos en tren
Y nos hospedamos em Cà d´Oro
Inauguraste la estatura
De Flavio de Carvalhos
Em homenaje a Lorca
Y que poco más tarde
Amaneció en el suelo desmantelada
Por los hombres del odio.
ORAÇÃO PARA AS PERNAS DE NERUDA
Ó desveladas pernas, que tão longe
Carregaste o poeta em sua fuga
Eu vos mirei, enormes e largadas
E roxas da gangrena subjacente.
ò não amputeis, homens de branco
Que rondais essas pernas apreensivos
Enquanto o poeta, pálido e prostrado
Lê “Canto General” para os amigos.
Que se não verifiquem os maus presságios
Que volte o sangue a circular nas pernas
E o poeta se erga, majestoso e mágico
E beba em meio a alegres mariaches
Cantando alto e bom som canções eternas
Nos caminhos sem fim da liberdade.
ORACIÓN A LAS PIERNAS DE NERUDA
Oh desveladas piernas que tan lejos
Soportasteis al poeta que escapaba
Yo os miré, enormes y descuidadas
Y roas de gangrena subyacente.
Oh no las amputeis, hombres de blanco
Que rondáis esas piernas apreensivos
del poeta que pálido y postrado
El “Canto General” a amigos lee.
Que los malos presságios sean falsos
Que la sangre otra vez circule en ellas
Y el poeta se yerga rey y mágico
Y em médio de mariachis feliz beba
Cantando alto y afinado canciones eternas
En la ruta infinita de los libres.
POEMAS DE VINICIUS DE MORAES
Selección y traducción de Rodolfo Alonso
ELEGÍA CASI UNA ODA
Sueño mío, yo te perdí; me hice hombre.
El verso que se hunde en el fondo de mi alma
Es simple y fatal, pero no trae caricia.
Me hace acordar de ti, poesía niña, de ti
Que te colgabas del poema como de un seno en el espacio.
Llevabas en cada palabra el ansia
De todo el sufrimiento vivido.
Quería decir cosas simples, bien simples
Que no hiriesen tus oídos, madre mía.
Quería hablar de Dios, hablar dulcemente de Dios
Para arrullar tu esperanza, abuela mía.
Quería volverme mendigo, ser miserable
Para participar de tu belleza, hermano mío.
Quería, mis amigos… quería, mis enemigos…
Quería…
¡Quería tan exaltadamente, amiga mía!
Pero tú, Poesía
Tú desgraciadamente Poesía
Tú que me ahogaste en mi desesperación y me salvaste
Y me ahogaste de nuevo y de nuevo me salvaste y me trajiste
Al borde de abismos irreales en que me lanzaste y que después eran
/abismos verdaderos
Donde vivía la infancia corrompida por gusanos, la locura preñada por
/el Espíritu Santo, e ideas e ideales en lágrimas, y castigos /y redenciones momificados en semen crudo
¡Tú!
Iluminaste, joven danzarina, la lámpara más triste de la memoria…
Pobre de mí, me hice hombre.
De repente, como el árbol pequeño
Que en la estación de las lluvias bebe la savia en el humus pleno
Estira el tallo y duerme para despertar adulto
Así, poeta, te hiciste para siempre.
Mientras tanto, era más bello el tiempo en que soñabas.
¿Qué sueño es mi vida?
¡Te diré que eres tú, María Aparecida!
A ustedes, en el pudor de hablar ante vuestra grandeza
Les diré que es olvidar todos los sueños, mis amigos.
Al mundo, que ama la leyenda del destino
Le diré que es mi camino de poeta.
Y para mí, lo llamaré inocencia, amor, alegría, sufrimiento, muerte,
/serenidad
Lo llamaré así porque soy débil y cambiante
Y porque es preciso que no mienta nunca para poder dormir.
Ah
No debería nunca atender los llamados de lo íntimo.
Tus brazos largos, fulgurantes; tus cabellos de oleoso color; tus manos musicalísimas; tus pies que llevan prisionera la danza; tu cuerpo grave de gracia instantánea; el modo con que miras la sustancia de la vida; tu paz, angustia paciente; tu deseo irrevelado; ¡el grande, el infinito inútil poético! todo eso sería un sueño a soñar en tu seno que es pequeño…
¡Oh, quién me diera no soñar ya nunca
No tener ni tristezas ni nostalgias
Ser apenas Moraes sin ser Vinicius!
¡Ah, si pudiese por siempre, al levantarme
Espiar la ventana sin paisaje
Sin tiempo el cielo y el tiempo sin memoria!
¡Qué he de hacer de mí que sufro todo
Demonio y ángel, angustias y alegrías
Que peco contra mí y contra Dios!
A veces me parece que mirándome
Él dirá, desde su lar celeste:
Fui demasiado cruel con ese chico…
En tanto, ¿qué otra mirada de piedad
Curará en este mundo a mis llagas?
Soy fuerte y débil, venzo la vida: pronto
Lo pierdo todo; pronto, no puedo más…
¡Oh, naturaleza humana, qué desgracia!
¡Si supieses qué fuerza, qué locura
Son todos tus gestos de pureza
Contra una carne tan alucinada!
¡Si supieses el impulso que te impele
En estas cuatro paredes de mi alma
Ni sé lo que sería de este pobre
Que te arrastra sin dar ningún gemido!
Es muy triste sufrirse tan joven
Sabiendo que no hay ningún remedio
Y teniéndose que ver a cada instante
Que la cosa es así, que pasa luego
Que sonreír es cuestión de paciencia
Y quien manda la vida es la aventura.
¡Oh ideal misérrimo, te quiero:
Sentirme apenas hombre y no poeta!
Y escucho… ¡Poeta! ¡triste Poeta!
No, seguramente fue el viento de la mañana en las araucarias
Fue el viento… tranquilízate, corazón mío; a veces el viento parece
/hablar…
Y escucho… ¡Poeta! ¡pobre Poeta!
Cálmate, tranquilidad mía… es un pájaro, sólo puede ser un pájaro
Nada me importa… y si no fuera un pájaro, hay tantos lamentos en
/esta tierra…
Y escucho… ¡Poeta! ¡sórdido Poeta!
¡Oh angustia! esta vez… ¿no fue la voz de la montaña? ¿No fue el eco
/distante
De mi propia voz inocente?
Lloro.
Lloro atrozmente, como lloran los hombres.
Las lágrimas corren millones de leguas por mi rostro que el llanto hace
/gigantesco.
Oh lágrimas, sois como mariposas doloridas
Revoloteáis desde mis ojos hacia los caminos olvidados.
¡Padre mío, madre mía, socórranme!
¡Poetas, socórranme!
Pienso que de aquí a un minuto estaré sufriendo
Estaré puro, renovado, niño, haciendo dibujos perdidos en el aire…
Vengan a decirme lo que es la vida, lo que es el conocimiento, lo que
/quiere decir la memoria
Escritores rusos, alemanes, franceses, ingleses, noruegos
¡Vengan a aconsejarme, filósofos, pensadores
Vengan a darme ideas como antiguamente, sentimientos como
/antiguamente
Vengan a hacerme sentir sabio como antiguamente!
¡Hoy me siento despojado de todo lo que no sea música
Podría silbar la idea de la muerte, hacer una sonata de toda la tristeza
/humana
Podría agarrar todo el pensamiento de la vida y ahorcarlo en la punta
/de una clave de Fa!
¡Nuestra Señora mía, dame paciencia
San Antonio mío, dame mucha paciencia
San Francisco de Asís mío, dame muchísima paciencia!
Si vuelvo los ojos tengo vértigos
Siento extraños deseos de mujer grávida
Quiero el pedazo de cielo que vi hace tres años, detrás de una colina
/que sólo yo sé.
Quiero el perfume que sentí no me acuerdo cuándo, y que era entre
/sándalo y carne de seno.
Tanto pasado me alucina
Tanta nostalgia me aniquila
En las tardes, en las mañanas, en las noches de la sierra.
¡Dios mío, qué pecho grande el que yo tengo
Qué brazos fuertes que yo tengo, qué vientre esbelto el que yo tengo!
¿Para qué un pecho tan grande
Para qué unos brazos tan fuertes
Para qué un vientre tan esbelto
Si todo mi ser sufre de la soledad que tengo
En la necesidad que tengo de mil caricias constantes de la amiga?
¿Por qué yo caminando
Yo pensando, yo multiplicándome, yo viviendo
Por qué yo en los sentimientos ajenos
Y yo en mis propios sentimientos
Por qué yo animal libre pastando en los campos
Y príncipe tocando mi laúd entre las damas del señor rey mi padre
Por qué yo truhán en mis tragedias
Y Amadís de Gaula en las tragedias de otros?
¡Basta!
¡Basta, o dame paciencia!
He tenido mucha delicadeza inútil
Me he sacrificado muy por demás, un mundo de mujeres en exceso
/me ha vendido
Quiero un lugar de abrigo
Me siento repelente, impido a los inocentes que me toquen
Vivo entre las aguas torvas de mi imaginación
Ángeles, tañid campanas
El anacoreta quiere a su amada
Quiere a su amada vestida de novia
Quiere llevarla a la neblina de mi amor
Mendelssohn, toca tu marchita inocente
Sonrían, pajes, obreras curiosas
El poeta va a pasar soberbio
De su brazo una criatura fantástica derrama los santos óleos de las
/últimas lágrimas
¡Ah, no me ahoguen en flores, poemas míos vuelvan a los libros
No quiero glorias, pompas, adiós!
Solness, vuela hacia la montaña, mi amigo
Comienza a construir una torre bien alta, bien alta…
POEMA DE NAVIDAD
Para eso fuimos hechos
Para recordar y ser recordados
Para llorar y hacer llorar
Para enterrar a nuestros muertos
Por eso tenemos brazos largos para los adioses
Manos para tomar lo que fue dado
Dedos para cavar la tierra.
Así será nuestra vida:
Una tarde siempre por olvidar
Una estrella apagándose en la sombra
Un camino entre dos sepulcros –
Por eso necesitamos velar
Hablar bajo, pisar suave, ver
A la noche dormir en silencio.
No hay mucho que decir:
Una canción sobre una cuna
Un verso, tal vez, de amor
Una oración por quien se va
Pero que esa hora no olvide
Y por ella nuestros corazones
Se dejen, graves y simples.
Pues para eso fuimos hechos
Para confiar en el milagro
Para participar de la poesía
Para ver el rostro de la muerte –
De repente nunca más esperaremos
Hoy la noche es joven; de la muerte, apenas
Nacemos, inmensamente.
MENSAJE A LA POESÍA
No puedo
No es posible
Digan que es totalmente imposible
Ahora no puede ser
Es imposible
No puedo.
Díganle que estoy tristísimo, pero no puedo ir esta noche a su
/encuentro.
Cuéntenle que hay millones de cuerpos para enterrar
Muchas ciudades por reconstruir, mucha pobreza en el mundo
Y las mujeres están volviéndose locas, y hay legiones de ellas
/carpiendo
La nostalgia de sus hombres; cuéntenle que hay un vacío
En los ojos de los parias, y su desnudez es extrema, cuéntenle
Que la vergüenza, la deshonra, el suicidio rondan los hogares, y es
/preciso reconquistar la vida.
Háganle ver que es preciso que yo esté alerta, vuelto hacia todos los
/caminos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morir si fuera necesario
Explíquenle, con cuidado –no la lastimen…-- que si no voy
No es porque no quiera: ella sabe; es porque hay un héroe en una
/cárcel
Hay un labrador que fue agredido, hay un charco de sangre en una
/plaza.
Cuéntenle, bien en secreto: que yo debo estar listo, que mis
Hombros no se deben curvar, que mis ojos no se deben
Dejar intimidar, que yo llevo a la espalda la desgracia de los hombres
Y no es el momento ahora de parar; díganle, mientras tanto
Que sufro mucho, pero no puedo mostrar mi sufrimiento
A los hombres perplejos; díganle que me fue dada
La terrible participación, y que posiblemente
Deberé engañar, fingir, hablar con palabras ajenas
Porque sé que hay, lejana, la claridad de una aurora.
Si ella no comprendiese, ah procuren convencerla
De ese invencible deber que es el mío; pero díganle
Que, en el fondo, todo lo que estoy dando es de ella y que
Me duele tener que despojarla así, en este poema; que por otro lado
No debo usarla en su misterio: es hora de esclarecimiento
Ni inclinarme sobre mí cuando a mi lado
Hay hambre y mentira; y un llanto de niño solitario, en una calle
Junto a un cadáver de madre, díganle que hay
Un náufrago en medio del océano, un tirano en el poder, un hombre
Arrepentido; díganle que hay una casa vacía
Con un reloj dando las horas; díganle que hay un gran
Aumento de abismos en la tierra, hay súplicas, hay vociferaciones
Hay fantasmas que me visitan de noche
Y que me toca recibir; cuéntenle de mi confianza
En el mañana
Que siento una sonrisa en el rostro invisible de la noche
Vivo en tensión ante la expectativa del milagro; por eso
Pídanle que tenga paciencia, que no me llame ahora
Con su voz de sombra; que no me haga sentir cobarde
Al tener que abandonarla en este instante, en su inconmensurable
Soledad; pídanle, oh pídanle que se calle
Por un momento, que no me llame
Porque no puedo ir
No puedo ir
No puedo.
Mas no la traicioné. En mi corazón
Vive su imagen pertinente, y nada diré que pueda
Avergonzarla. Mi ausencia
Es también un sortilegio
De su amor por mí. Vivo por el deseo de volver a verla
En su mundo en paz. Mi pasión de hombre
Queda conmigo; mi soledad queda conmigo; mi
Locura queda conmigo. Tal vez yo deba
Morir sin verla más, sin sentir más
El gusto de sus lágrimas, verla correr
Libre y desnuda en las playas y en los cielos
Y en las calles de mi insomnio. Díganle que es ese
Mi martirio; que a veces
Pesa sobre mi cabeza la tapa de la eternidad y las poderosas
Fuerzas de la tragedia se abaten sobre mí, y me empujan hacia la
/sombra
Pero que debo resistir, que es necesario
Pero que la amo con toda la pureza de mi pasada adolescencia
Con toda la violencia de las antiguas horas de contemplación extática
En un amor lleno de renuncia. Oh, pídanle a ella
Que me perdone, a su triste e inconstante amigo
A quien le fue dado perderse por amor a su semejante
A quien le fue dado perderse por amor a una pequeña casa
Por un jardín al frente, por una criatura de rojo
A quien le fue dado perderse por amor al derecho
De todos a tener una pequeña casa, un jardín al frente
Y una criatura de rojo; y perdiéndose
Sería dulce perderse
Por eso convénzanla a ella, explíquenle que es terrible
Pídanle de rodillas que no me olvide, que me ame
Que me espere, porque soy yo, apenas yo; pero que ahora
Es más fuerte que yo, no puedo ir
No es posible
Me es totalmente imposible
No puede ser no
Es imposible
No puedo.
RECETA DE MUJER
Las muy feas que me perdonen
Pero belleza es fundamental. Es necesario
Que haya algo de flor en todo eso
Algo de danza, algo de haute couture
En todo eso (o entonces
Que la mujer se socialice elegantemente en azul, como en la
/República Popular China.)
No hay término medio posible. Es necesario
Que todo eso sea bello. Es necesario que súbito
Se tenga la impresión de ver una garza apenas posada y que un rostro
Adquiera de vez en cuando ese color sólo posible en el tercer minuto
/de la aurora.
Es necesario que todo eso sea sin ser, pero que se refleje y
/desprenda
En la mirada de los hombres. Es necesario, es absolutamente
/necesario
Que sea todo bello e inesperado. Es necesario que unos párpados
/cerrados
Recuerden un verso de Éluard y que se acaricie en unos brazos
Algo más que carne: que se los toque
Como el ámbar de una tarde. Ah, déjenme decirles
Que la mujer que allí está como la corola ante el pájaro
Sea bella o tenga por lo menos un rostro que recuerde un templo y
Sea leve como un resto de nube: pero que sea una nube
Con ojos y nalgas. Las nalgas son importantísimas. Ojos, de eso
Ni se habla, que miren con cierta maldad inocente. Una boca
Fresca (¡nunca húmeda!) es también de extrema pertinencia
Es necesario que las extremidades sean delgadas; que unos huesos
Despunten, sobre todo la rótula al cruzar las piernas, y las puntas
/pélvicas
Al abrazar una cintura semoviente
Gravísimo es no obstante el problema de las jaboneras: una mujer sin
/jaboneras
Es como un río sin puentes. Indispensable
Que haya una hipótesis de barriguita, y en seguida
La mujer se alce en cáliz, y que sus senos
Sean una expresión grecorromana, más que gótica o barroca
Y puedan iluminar lo oscuro con una capacidad mínima de 5 velas.
Sobremanera pertinaz es que la calavera y la columna vertebral
Se muestren levemente; ¡y que exista un gran latifundio dorsal!
Los miembros que terminen como astas, pero bien haya un cierto
/volumen de muslos
Y que sean lisos, lisos como el pétalo y cubiertos de suavísima pelusa
Entre tanto sensible a la caricia en sentido contrario
Es aconsejable en la axila una dulce hierba con perfume propio
Apenas sensible (¡un mínimo de productos farmacéuticos!)
Preferibles sin duda los cuellos largos
De forma que la cabeza dé a veces la impresión
De no tener nada que ver con el cuerpo, y la mujer no recuerde
Flores sin misterio. Pies y manos deben contener elementos
Discretos. La piel debe ser fresca en las manos, en los brazos, en la
/espalda y en la cara
Pero que las concavidades y convexidades tengan una temperatura
/nunca inferior
A 37º centígrados, pudiendo eventualmente provocar quemaduras
Del 1er grado. Los ojos que sean de preferencia grandes
Y de rotación por lo menos tan lenta como la de la tierra; y
Que se coloquen siempre más allá de un invisible muro de pasión
Que es necesario sobrepasar. Que la mujer sea en principio alta
O, si es baja, que tenga la actitud mental de las altas cumbres.
Ah, que la mujer dé siempre la impresión de que, si se cerraran los
/ojos
Al abrirlos ella ya no estará presente
Con su sonrisa y sus tramas. Que ella surja, no venga; parta, no vaya
Y que posea una cierta capacidad de enmudecer súbitamente y
/hacernos beber
La hiel de la duda. Oh, sobre todo
Que ella no pierda nunca, no importa en qué mundo
No importa en qué circunstancias, su infinita volubilidad
De pájaro; y que acariciada en el fondo de sí misma
Se transforme en fiera sin perder su gracia de ave; y que exhale
/siempre
El imposible perfume; y destile siempre
La embriagadora miel; y cante siempre el inaudible canto
De su combustión; y no deje de ser nunca la eterna danzarina
De lo efímero; y que en su incalculable imperfección
Constituya la cosa más bella y más perfecta de toda la creación
/innumerable.
Traducción de Rodolfo Alonso
MORAES, Vinicius. Antología sustancial de poemas y canciones. Edición bilíngue. Selección, traducción y notas de Cristian De Nápoli. Adriana Hidalgo editora, 2013. 399 p. 14,5x22,5 cm.
Esta es la más completa antologia de la poesia y letras de música de Vinicius que se ha publicado recentemente. ¡ ¡ ¡ Recomendamos‼
SI TODOS FUESEN IGUALES A TI
(Letra de música de Vinicius de Moraes, composición de Tom Jobim)
Vive tu vida
Tu caminho es de paz y amor
Vive tu vida, una linda canción de amor
Abre tus brazos
Y canta la última esperanza
La esperanza divina de amar en paz
Si todos fuesen iguales a tí
Qué maravilla vivir
Una canción al llegar
Una mujer al cantar
Una ciudad al cantar
Al reír, al cantar, al pedir
La belleza de amar
Como el sol
O la flor
O la luz
Amar sin mentir
Ni sufrir
Existiría la verdade
Verdad que no hay por ahí
Si todos fuesen iguales a tí.
SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ
Vai tua vida
Teu caminho é de paz e amor
Vai tua vida é uma linda canção de amor
Abre os teus braços
E canta a última esperança
A esperança divina de amar em paz
Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol
Como a flor
Como a luz
Amar sem mentir
Nem sofrer
Existiria verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem iguais a você
VEJA E OUÇA / VEA Y OIGA
[com JOBIM SINFÔNICO e MILTON NASCIMENTO)
https://www.youtube.com/watch?v=esErSSxtpSs
POÉTICA
De madrugada oscurezco
De día tardo
De noche anochezco
De noche ardo.
Al oeste la muerte
Contra la cual vivo
Del sur cautivo
El este es mi norte.
No soy de andar
Paso por paso:
Yo muero ayer
Nazco mañana
Voy donde hay espacio:
Mi tiempo es cuando.
(Traducción de Cristian De Nápoli)
POÉTICA
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O que é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
— Meu tempo é quando.
MORAES. Vinicius. Antologia poética. Prólogo y traducción de Vicente Araguas. Madrid: Visor, 2002. 90 p (Volumen CDLXII de la Colección Visor de Poesía.) 13 X 19,5 cm. ISBN 84-7522-987-5 “Obra publicada com o apoio do MInisterio da Cultura do Brasil / Fundação Biblioteca Naciona. / Departamento Nacional do Livro. E x. bibl. Antonio Miranda
MAR
En la melancolía de tus ojos
Yo siento la noche inclinándose
Y oigo las cantigas antiguas
Del mar.
En los fríos espacios de tus brazos
Yo me pierdo en caricias de agua
Y duermo escuchando en vano
El silencio.
Y anhelo en tu misterioso seno
En la atonía de las ondas redondas
Náufrago entregado al flujo flerte
De la muerte.
ALLEGRO
Siente como vibra
Locamente en nosotros
Un viento feroz
Retorciendo la fibra
De los tallos informes
Y las plantas carnívoras
De bocas enormes
Luchan con las víboras
Y los ríos soturnos
Oye como vierten
El agua corrompida
Y las sombras se unen
En los rayos nocturnos
De la luna perdida.
Oxford, 1939
AURORA, CON MOVIMIENTO (Puesto 3)
La línea móvil del horizonte
Lanza para arriba el sol en diábolo
Los vientos de lejos
Agitan dulcemente los cabellos de la roca
Pasan en hachones el primer automóvil, la última estrella
La mujer que avanza
Parece crear esferas exaltadas por el espacio
Los pescadores empujando el arrastre parecen mover el mundo
El cardúmen de botos en la distancia parece mover el mar.
POÉTICA (I)
Por la mañana oscurezco
Durante el día tardo
Por la tarde anochezco
De noche ardo.
Al oeste la muerte
Contra quien vivo
Del sur cautivo
El este es mi norte.
Otros que cuenten
Paso por paso:
Yo muero ayer
Nazco mañana
Ando donde hay espacio:
—Mi tiempo es cuando.
Nueva York, 1950
POESIA MODERNA DEL BRASIL. Traducción, selección y notas de Raúl Navarro. Buenos Aires: Editorial Raigal, 1956. 252 p. (La Poesía) 11x19 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
EL TIEMPO EN LOS PARQUES
El tiempo em los parques es íntimo, intransferible,
imparticipante, innarcesible.
Medita en las altas copas, en la última palma de la
palmera.
En la gran piedra intacta, el tiempo en los parques.
El tiempo en los parques medita en la mirada ciega
de los lagos,
Duerme en las grutas , aíslase emn las glorietas,
Ocúltase em el torso muscular de los ligustros, el
tiempo en los parques.
El tiempo en los parques genera el silencio del piar
de los pájaros.
Del pasar de los pasos, del color que se mueve a
lo lejos.
Es alto, antiguo, presiente el tiempo en los parques.
Es incorruptible. El prenuncio de un aura.
La agonia de una hoje, el abrirse de una flor.
Deja un estremecimento en el espacio del tiempo
en los parques.
El tiempo en los parques envuelve con redomas
invisibles
A los que se aman. Eterniza las ansiedade, petrifica
Los gestos, anestesia los sueños, el tiempo en los
parques.
En los hombres durmientes, en los puentes que
huyen, em los flecos
De los sauces, en la cúpula azul, el tiempo perdura
En los parques. Y el pequeno acutí sorprende
La inmovilidad anterior de ese tiempo en el mundo.
Porque inmovil, elemental, profundo y auténtico
Es el tiempo en los parques.
|
Imagem extraída de
DIAS-PINO, Wlademir. A lisa escolha do carinho (Rio de Janeiro: Edição Europa, s.d. 20,5x20,5 cm. 33 f. ilustradas (Coleção Enciclopédia Visual). Inclui versos de poetas brasileiros
MORAES, Vinicius de. Vinicius de Moraes. Poemas de Vinicius de Moraes. Texto de Paulo Mendes Campos. Rio de Janeiro: Sabiá Produções Artísticas, 1988. 160 p. ilus. capa dura. Em anexo: LP com músicas. Caixa de papelão 32,5 x 32,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
SONETO DE QUARTA FEIRA DE CINZAS
Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada.
Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que constante namorada.
Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura.
Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.
MORAES, Vinicius de. Novos Poemas (II) (1949-1956). Rio de Janeiro: Livraria ão José, 1959. 53 p. 12,5 x 19 cm.
Ex. autografado por Vinicius!!!
SONETO DO AMOR TOTAL
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
GAROTA DE IPANEMA
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, a menina que passa
Num doce balanço
Caminho do mar...
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado
É mais que um poema
É a coisa mais linda
Que eu vi passar
Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha...
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo sorrindo
Se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor...
MORAES, Vinicius de. Poesia completa e Prosa. Edição organizada por Afrânio Coutinho com assistência do autor. Rio de Janeiro, RJ: Editora Nova Aguilar, 1985. 790 p. 16,5x23 cm. Reimpressão da 2ª. Edição. Capa dura Ex. bib. Antonio Miranda
POÉTICA I
De manhã escureço
De dia tardo
De noite anoiteço
De noite ardo
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
—Meu tempo é quando.
New York, 1950
POÉTICA II
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
—Entrai, irmãos meus!
Rio, 1960
O ANJO DAS PERNAS TORTAS
A um passo de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento: ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés — um pé-de-vento!
Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende:? — Goooooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!
Rio, 1962
10 POEMAS EM MANUSCRITO. Organizador: João Condé Filho. Rio de Janeiro: Edições Condé, 1945. Folhas soltas, dobradas.
29x39 cm. Prefácio de Álvaro Lins. Capa de Santa Rosa. Inclui poemas manuscritos de Abgar Renault, Cecília Meireles, Murilo
Mendes e Augusto Meyer ilustrados por Tomas Santa Rosa; poemas de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Vinicius de Moraes ilustrados por Percy Deane; poemas de Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade e Manoel Bandeira ilustrados por Cândido Portinari. A clicheria foi executada por Latt & Cia Ltda e a
impressão esteve a cargo do mestre João Luis dos Santos, nas oficinas gráficas dos Irmãos Pongetti. “Desta edição foram tirados 15 exemplares F.C., numerados de I a XV e destinados ao prefaciador, aos poetas e aos ilustradores e 150 exemplares numerados de 1 a 150, compostos em papel Goatskin Parchment e com a rubrica do
organizador. Exemplar n. 132 coleção de Antonio Miranda.
Soneto da Fidelidade
Vinicius de Moraes
Ilustração de Percy Deane
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