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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





LÊDO IVO

 

(1924-2012)

 

 

Poeta, narrador y ensayista nacido en Maceió, Halagaos, Brasil, en 1924. Es una de las figuras más representativas de la literatura brasileña. Se le considera el más destacado de la Generación del 45, movimiento contra el clima demoledor y anarquista de la primera fase del modernismo, que pregonaba un regreso a la disciplina y al orden. Como otros poetas de esta generación, volvió a algunas formas poéticas fijas, como el soneto, pero conservando un estilo libre y marcadamente personal. De su obra, ampliamente premiada, destacan sus novelas As alianças (1947), y Ninho de cobras (1973), su libro de crónicas A cidade e os dias (1957), el poemario Finisterra (1973) y sus memorias Confissões de um poeta (1979). Es miembro de la Academia Brasileira de Letras [ www.academia.org.br ]

 

En poesía ha escrito, entre otros títulos: As imaginações (1994), Ode e elegia (1945), Ode ao crepúsculo (1948), Linguagem (l966), Estação Central (1968), Crepúsculo civil (1990), Curral de peixe (1995), O Rumor da noite (2000). Su más reciente libro es Plenilúnio (2004) y há participado de numerosas antologías.

 

 

Não quero a eternidade
-------------------------------
Quero ser o que passa
--------------------------------
Prefiro um voo de pássaro
--------------------------------------

Recuso-me a durar
e a permanecer.
Nasci para não ser
e ser o que não é

 

                              (“O Desejo”)

 

 

 

Vejam agora o E-BOOK do último livro de Lêdo Ivo. Não são poemas inéditos. “Poesia Breve” é uma breve seleção de poemas breves feita pelo autor e publicados pela editora POEXÍLIO, de Antonio Miranda e Zenilton Gayoso, em 2012, pouco antes do falecimento do poeta.

https://issuu.com/antoniomiranda/docs/poesia_breve

 

 

 

SALDANHA, Wlademir.  Mormaço. Último livro de Lêdo Ivo.  Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2015.  28 p.  ilus. col. Editor: Edson Guedes de Moraes. Ex. bibl. Antonio Miranda. e-book: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/wladimir_saldanha

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL

 
 Veja também>>> POÈMES EN FRANÇAIS


POEMS IN ENGLISH

 

TEXTO EM ITALIANO

 

 

Veja também:

LêDO IVO, A POESIA E LITERATURA – ENTREVISTA FEITA POR FLORIANO MARTINS.

 

TRAÇOS DA POESIA DE LÊDO IVO, por Anderson Braga Horta

 

AVELAR, Romeu de.  Coletânea de poetas alagoanos.  Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959.  286 p.  ilus.  15,5x23 cm.  Exemplar encadernado.  Bibl. Antonio Miranda

 

 

                ESMERALDA

      
O internato em que estavas
       voava, contigo, nas manhãs sem luz.
       Ficavas acima do farol
       azul e branco e saia de sino.
       Dominavas um azul que não existirá
       e estudavas química.

       Esmeralda, tormento e magia,
       naquele tempo teu corpo germinava com um campo
       e tua carne inventava novas formas
       que desfiguravam a ausência.

       Eu desenhava na praia a curva do teu seio.
       E continuavas voando, entre o farol e o mar,
       ballet de minha adolescência.

      

 

       O AVISO

      
Fecham a porta da biblioteca
       ausentam-se em passeios matinais e necessários
       acendam minhas lâmpadas por olvídio
       rasguem os poemas onde cantei Adriana
       queimem minha infância parada no álbum.

       E agora você, minha morte,
       venha devagar para mim
       como uma noiva em camisa de dormir
       para esta estranha noite de núpcias.

       Nada receie. Fugirei com você
       em carrossel, barca ou pauta de música.
      

       Meu segredo é desnecessário:
       Quero nascer na morte.



       PRAIA DO SOBRAL

      
Esperava que ela afastasse de mim os seios puros
       e passeava com ela pela praia e beijava
       e enfeitava os seus cabelos com uma flor.
       Permanecia tranquilo mesmo junto de sua carne,
       pois no litoral Doralice era a flor esquiva
       que restaurava em mim o obscuro desequilíbrio.

       Misteriosamente claros seus seios tentavam
       minha mão direita que a louvaria em verso
       e minha mão esquerda frágil e inconsistente
       inútil quando não a acariciava.

       Praia debruçada sobre o seu corpo,
       o amor era a gratidão marítima
       e as ondas obedeciam ao fremir de suas coxas.
       Doralice era a utilidade que sob o sol
       ou sob a lua me afastava do céu.
       Era o crepúsculo invasor de alguma manhã.

       Sonhos caminhando, tardes náufragas, noites grandes,
       Doralice era como a lagoa da terra em que nasci;
       me apertava e me acendia.
       Era a areia quente

       Onde o sol de minha infância se nutria.
       A noite vinha do sexo de Doralice
       para o litoral que era
       como o colchão macio onde se amava.
       Depois Doralice vomitou a infância
       e eu fiquei, menino, na praia sonhando.      

      

ALMANAQUE CALENDÁRIO 2020  AGENDA POÉTICA. Editor: Edson Guedes de Moraes. / Jaboatão, Pernambuco/: Editora Guararapes, 2020.  162 p.  ilus. col.  

Inclui o poema " SONETO DA PORTA" de Lêdo Ivo à página 29.

 

 

 

 

IVO, Lêdo.  AuroraTraducción de Martín López-Vega.  Madrid: Editorial Prre-textos, 2013.            89 p.  (Colección La Cruz del Sur) 14,3x22 cm.   “Bajo el patrocionio de Sarah Girri y Jorge Gallardo, Buenos Aires”.

 

 

OS DOIS LADOS

 

          No outro lado da noite alguém gritava.

No outro lado do muro eles se amavam

e espalhavam murmúrios e gemidos.

 

Todas as portas estavam fechadas.

A vida era um segredo, era um suspiro.

E o amor lavrava doido e revirado.

 

Amar de um lado só já não bastava?

Era cara e coroa, era em dois lados,

moeda que a si mesma se pagava.

 

 

LOS DOS LADOS

 

AL otro lado de la noche alguien gritaba.

Al otro lado del muro dos se amaban

y esparcían murmullos y gemidos.

 

Todas las puertas estaban cerradas.

La vida era un secreto, era un suspiro.

Y el amor labraba loco e imprevisible.

 

¿Amar sólo de un lado ya no bastaba?

Era cara y cruz, era en dos lados

moneda que a sí misma se pagaba.

 

 

 

IVO,  LêdoAlagoa australis.  São Paulo Edição Papel Assinado, 2011. Caixa de papelão revestida de tecido. 22x35 cm.  “Foram editados 100 exemplares deste livro em ordem alfa-numérica (1/100A a  100/A) e 100 exemplares (1/100B a  100/B), papael rives linear bright White, 350 grs, e 30 exemplares numerados em algarismos romanos (I/XXX s XXX/XXX), papel fabriano 5L, 300 grs, 50% cotton, contendo 13 poemas de Lêdo Ivo, impressos em silk-screen e 1 gravura do artista plástico João Atanásio, editad nas técnicas meta e xilogravura, série “Microorganismo”, impressa em papel hannermueler 300 grs.” Editores Pedro Paulo Mendes e Teca Lacerda.  Exemplar n. 63/100B. Col. A.M. (LA)

 

 

 

O BARULHO DO MAR

 

Na tarde de domingo, volto ao cemitério velho de Maceió
onde os meus mortos jamais terminam de morrer
de suas mortes tuberculosas e cancerosas
que atravessam a maresia e as constelações
om suas tosses e gemidos e imprecações
e escarros escuros
e em silêncio os intimo a voltar a esta vida
em que desde a infância eles viviam lentamente
com a amargura dos dias longos colada às existências monótonas
e o medo de morrer dos que assistem ao cair da tarde
quando, após a chuva, as tanajuras se espalham
no chão maternal de Alagoas e não podem mais voar.
Digo aos meus mortos: Levantai-vos, voltai a este dia inacabado
que precisa de vós, de vossa tosse persistente e de vossos gestos enfadados
e de vossos passos nas ruas tortas de Maceió. Retornai aos sonhos insípidos
e às janelas abertas sobre o mormaço.
Na tarde de domingo, entre os mausoléus
que parecem suspensos pelo vento
no ar azul
o silêncio dos mortos me diz que eles não voltarão.
Não adianta chamá-los. No lugar em que estão, não há retorno.
Apenas nomes em lápides. Apenas nomes. E o barulho do mar.

 

 

Lêdo Ivo

De
Lêdo Ivo
POESIA COMPLETA 1940-2004
Estudo introdutório Ivan Junqueira

Rio de Janeiro: Topbokks, 2004.  1099 p.
ISBN  85-7475-086-1

 

"Um dos poucos que ficarão".  Fausto Cunha.

 

 

PRIMEIRA LIÇÃO

 

Na escola primária

Ivo viu a uva

e aprendeu a ler.

 

Ao ficar rapaz

Ivo viu a Eva

e aprendeu a amar.

 

E sendo homem feito

Ivo viu o mundo

seus comes e bebes.

 

Um dia num muro

Ivo soletrou

a lição da plebe.

 

E aprendeu a ver.

Ivo viu a ave?

Ivo viu o ovo?

 

Na nova cartilha

Ivo viu a greve

Ivo viu o povo.

 

 

NA RUA DA CARIOCA

 

Transeunte ocioso

parei na mercearia

da rua da Carioca

e vi a realidade:

uma simples lingüiça

exposta na vitrina.

 

Ó glória de ser si mesma

na inexatidão do mundo!

Somente ela era real

entre os passantes fantásticos

e os rumores estridentes

da rua da Carioca.

 

No balcão de imaginário

em que se tornou a vida

uma simples lingüiça

toda enchida de si mesma

impunha a sua verdade

e modéstia perecíveis.

 

Jamais uma lingüiça

pode mudar-se em metáfora

antes de ser engolida.

Evidência consumível,

ela era apenas o que era:

a honra do mundo visível.

 

 

LARGO DA CARIOCA

 

Sobe a ladeira do convento

antes que a noite caia.

Pede um marido a Santo Antônio

que a tarde já vai bem alta.

 

Pede um amor a Santo Antônio

antes da noite fechada.

Suplica-lhe que ele te dê

uma aliança de casada.

 

Diante do santo, de joelhos,

antes que a noite desça,

fala da tua precisão,

antes que o sol desapareça.

 

Não tenhas medo nem pejo

nem fiques ruborizada.

Ele conhece os desejos

que queimam teu corpo e alma.

 

O santo das precisadas

sendo um homem não ignora

que a falta do acerbo espinho

dói na rosa abandonada.

 

Confessa-lhe toda a verdade.

Para dormir sossegada

precisas daquilo que pedes

de rojo, lavada em lágrimas.

 

Precisas de algo que te aqueça.

À noite morres de frio.

Implora ao santo, com fervor,

que te conceda um cobertor.

 

Antes que o sol desapareça

e a noite te deixe na mão

pede depressa a Santo Antônio

a graça de um maridão.

 

 

A CREPITAÇÃO

 

Qualquer vida é naufrágio e perdimento.

Quando chegamos ao fim da restinga

encontramos apenas mar e vento.

 

Onde estão nossos sonhos? Um errante

raio de sol sumiu entre a folhagem,

dentro de nós o dia fez-se pálido.

 

Cercado pela luz da madrugada

e de mim rodeado, estou sozinho

entre as grutas da terra e a ira do mar.

 

Última luz da derradeira festa,

crepita na manhã a eternidade.

E a eternidade é tudo o que me resta.

 

 

PARIPUEIRA

 

Nas casas brancas de Paripueira

as janelas estão escancaradas

à claridade que sucede aos sonhos

e às errantes estrelas desejadas.

 

Os cajueiros cantam na manhã de sol.

Cantam com suas belas vozes amarelas.

As velas das jangadas fremem quando

a vaga suga a música da terra.

 

No céu redondo de Paripueira

as nuvens são os brancos arquipélagos

dos países negados aos navios.

 

No mar azul os currais de peixe

protegem a fome infindável dos homens.

E a terra é tão bela que aboliu a morte.

 

========================================================

OS MORCEGOS

Os morcegos se escondem entre as cornijas
da alfândega. Mas onde se escondem os homens,
que contudo voam a vida inteiro no escuro,
chocando-se contra as paredes brancas do amor?

A casa de nosso pai era cheia de morcegos
pendentes, como luminárias, dos velhos caibros
que sustentavam o telhado ameaçado pelas chuvas.
"Estes filhos chupam o nosso sangue", suspirava meu pai.

Que homem jogará a primeira pedra nesse mamífero
que, como ele, se nutre do sangue dos outros bichos
(meu irmão! meu irmão!) e, comunitário, exige
o suor do semelhante mesmo na escuridão?

No halo de um seio jovem como a noite
esconde-se o homem; na paina de seu travesseiro, na luz
do farol
o homem guarda as moedas douradas de seu amor.
Mas o morcego, dormindo como um pêndulo, só guarda
o dia ofendido.

Ao morrer, nosso pai nos deixou (a mim e a meus oito irmãos)
a sua casa onde à noite chovia pelas telhas quebradas.
Levantamos a hipoteca e conservamos os morcegos.
E entre os nossas paredes eles se debatem: cegos como nós.
 

 

 

OS POBRES NA ESTAÇÃO RODOVIÁRIA

Os pobres viajam, Na estação rodoviária
eles alteiam os pescoços como gansos para olhar
os letreiros dos ônibus. E seus olhares
são de quem teme perder alguma coisa:
a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco
que tem a cor do frio num dia sem sonhos,
o sanduíche de mortadela no fundo da sacola,
e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos.
Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus
eles temem perder a própria viagem
escondida no névoa dos horários.
Os que dormitam nos bancos acordam assustados,
embora os pesadelos sejam um privilégio
dos que abastecem os ouvidos e o tédio dos psicanalistas
em consultórios assépticos como o algodão que
tapa o nariz dos mortos.
Nas filas os pobres assumem um ar grave
que une temor, impaciência e submissão.
Como os pobres são grotescos! E como os seus odores
nos incomodam mesmo à distância!
E não têm a noção das conveniências, não sabem
portar-se em público.
O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado
que do sonho reteve apenas a remela.
Do seio caído e túrgido um filete de leite
escorre para a pequena boca habituada ao choro.
Na plataforma eles vão o vêm, saltam e seguram
malas e embrulhos,
fazem perguntas descabidos nos guichês, sussurram
palavras misteriosas
e contemplam os capas das revistas com o ar espantado
de quem não sabe o caminho do salão da vida.
Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas,
esses amarelos de azeite de dendê que doem
na vista delicada
do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos,
e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá?
Os pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se.
Tampouco sabem morar: não têm noção do conforto
embora alguns deles possuam até televisão.
Na verdade os pobres não sabem nem morrer.
(Têm quase sempre uma morte feia e deselegante.)
E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,
viajantes importunos que ocupam os nossos
lugares mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.

 

 

O PASSRINHO MORTO

 

A santidade do mundo me aparece

sob a forma assustada de um esquilo

que me contempla entre arbustos.

Devo esta aparição ao deus que me criou

e me faz notar o miúdo e o insólito.

A poeira na asa da borboleta

E a chuva radiosa.

Abaixo-me e agarro o passarinho morto

que nem a neve soube guardar.

Por que o mataste, ó deus do frio

que, na noite de Nova Iorque, une a homem e mulher.

Como uma formiga, espero que o comboio passe

para atravessar

os trilhos sangrados pela ferrugem.

E, cristaleiro, amo o que o tempo fez

sem que fosse preciso ferir ou insultar:

vaga na prancha podre de um navio

ou o fulgir de um diamante.

A essa forma de perfeição, luminosa e fria,

é que aspiro às vezes quando, no banco de um parque,

vejo o passarinho morto

ou, homem, sou o esquilo que os esquilos

vêm olhar com surpresa.

Aos céus que guardam o granizo e a saraiva,

peço isenção de selo funerário.

Mas como esse deus mouco me ouviria?

Com seus olhos vazados, de que modo

me enxergaria?  E as folhas caem, desbotadas, e o outono

é vento e podridão.

 

 

 

ASILO SANTA LEOPOLDINA

 

Todos os dias volto a Maceió.

Chego nos navios desaparecidos, nos trens sedentos, nos aviões cegos/

                                                  Que só aterrizam ao anoitecer.

Nos coretos das praças brancas passeiam caranguejos.

Entre as pedras das ruas escorrem rios de açúcar

Fluindo docemente dos sacos armazenados nos trapiches

e clareiam o sangue velho dos assassinados.

Assim que desembarco tomo o caminho do hospício.

Na cidade em que meus ancestrais repousam em cemitérios marinhos

só os loucos de minha infância continuam vivos e à minha espera.

Todos me reconhecem e me saúdam com grunhidos

e gestos obscenos ou espalhafatosos.

Perto, no quartel, a corneta que chia

Separa o pôr-do-sol da noite estrelada.

Os loucos langorosos dançam e cantam entre as grades.

Aleluia! Aleluia! Além da piedade

a ordem do mundo fulge como uma espada.

E o vento do mar oceano enche os meus olhos de lágrimas.

 

 

 

SONETO À PÁTRIA

 

Nesta noite em Toronto junto ao lago gelado

que o grasnido dos gansos não ousa estremecer

minha pátria ofendida surge na escuridão

e vem ao meu encontro com o seu sol e andrajos.

 

Ao seu redor estão os goiamuns que moram

no chão mudo dos mangues, o sinal semafórico

que ao lado da guardamoria freme na maresia

e os mendigos que esperam a morte sob os viadutos.

 

Caminhando na neve nesta noite estrangeira,

entre as sílabas negras dos frígidos pinheiros,

murmuro no vento o teu nome desmatelado.

 

Ó pátria desamada, ó rameira insultada,

quanto mais longe estás, teu espinho distante

mais dói na minha mão inútil e gelada.

 

 

 

O PORTÃO

O portão fica aberto o dia inteiro
mas à noite eu mesmo vou fechá-lo.
Não espero nenhum visitante noturno
a não ser o ladrão que salta o muro dos sonhos.
A noite é tão silenciosa que me faz escutar
o nascimento dos mananciais nas florestas.
Minha cama branca como a via-láctea
é breve para mim na noite negra.
Ocupo todo o espaço da mundo. Minha mão
desatenta
derruba uma estrela e enxota um morcego.
O bater de meu coração intriga as corujas
que, nos ramos dos cedros, ruminam o enigma
do dia e da noite paridos pelas águas.
No meu sonho de pedra fico imóvel e viajo.
Sou o vento que apalpa as alcachofras
e enferruja os arreios pendurados no estábulo.
Sou a formiga que, guiada pelas constelações,
respira os perfumes da terra e do oceano.
Um homem que sonha é tudo o que não é:
o mar que os navios avariaram,
o silvo negro do trem entre fogueiras,
a mancha que escurece o tambor de querosene.
Se antes de dormir fecho o meu portão
no sonho ele se abre. E quem não veio de dia
pisando as folhas secas dos eucaliptos
vem de noite e conhece o caminho, igual aos mortos
que todavia jamais vieram, mas sabem onde estou
— coberto por uma mortalha, como todos os que
sonham
e se agitam na escuridão, e gritam as palavras
que fugiram do dicionário e foram respirar o ar da
noite que cheira a jasmim
e ao doce esterco fermentado.
os visitantes indesejáveis atravessam as portas
trancadas
e as persianas que filtram a passagem da brisa
e me rodeiam.
Ó mistério do mundo, nenhum cadeado fecha o
portão da noite.
Foi em vão que ao anoitecer pensei em dormir
sozinho
protegido pelo arame farpado que cerca as minhas
terras
e pelos meus cães que sonham de olhos abertos.
À noite, uma simples aragem destrói os muros dos
homens.
Embora o meu portão vá amanhecer fechado
sei que alguém o abriu, no silêncio da noite,
e assistiu no escuro ao meu sono inquieto.

 

 

 

            A QUEIMADA

 

Queime tudo o que puder :

as cartas de amor

as contas telefônicas

o rol de roupas sujas

as escrituras e certidões

as inconfidências dos confrades ressentidos

a confissão interrompida

o poema erótico que ratifica a impotência

e anuncia a arteriosclerose

 

os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimados

nenhuma herança de papel.

 

Seja como os lobos : more num covil

e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.

Viva e morra fechado como um caracol.

Diga sempre não à escória eletrônica.

 

Destrua os poemas inacabados,os rascunhos,

as variantes e os fragmentos

que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.

Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.

Não confie a ninguém o seu segredo.

A verdade não pode ser dita.

 

 

De
IVO, Lêdo.
 Acontecimento do Soneto. Ode à noite.
Prefácio de Campos de Figueiredo. [Rio de Janeiro;: Orfeu, 1950? 50 p.  Capade Artur Jorge. Formato 15x22 cm.   Esta é a 2ª. ed. da obra. A primeira foi editada em Barcelona pela coleção “O Livro Inconsúltil”, de apenas 100 exemplares. Nesta nova edição, foi incluído o poema “Ode à Noite” quw “por sua estrutura formal, pela sua similaridade temática com os outros versos aqui enfeixados e por ter sido escrito no mesmo período que assinalou a criação das peças  de ACONTECIMENTO DO SONÊTO, julga o autor poder enquadrar-se no mesmo espírito e atmosfera do livro de que João Cabral de Melo Neto foi o primeiro impressor.” Col. A. M. (EA)

 

 

SONETO DAS ALTURAS

 

As minhas esquivanças vão no vento
alto do céu, para um lugar sombrio
onde me punge o descontentamento
que no mar não deságua, nem no rio.

Às mudanças me fio, sempre atento
ao que muda e perece, e ardente e fio,
e novamente ardente é no momento
em que luz o desejo, poldro em cio.

Meu corpo anda quer, mas a minh´alma
em fogos de amplidão deseja tudo
o que ultrapassa o humano entendimento.

E embora nada atinja, não se acalma,
e sendo alma, transpõe meu corpo mudo,
e aos céus pede o inefável e não o vento.

 

 

 

IVO, Lêdo.  Magias.  Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1960.  83 p.  16x23 cm.  Capa de Barboza Leite.  Col. A.M. 

 

 

SONETO DO EMPINADOR DE PAPAGAIO

A nada aceito, exceto a eternidade,
nesta viagem ambígua que me leva
ao altar absoluto que, na treva,
espera pela minha inanidade.

O que sonhei, menino, hoje é verdade
de alva estação que em meu silêncio neva
o inverno de uma fábula primeva
que foi sol, cego à própria claridade.

Na hora do fim de tudo, separados
fiquem os dois comparsas do destino
que sabe a cinza após o último alento.

E a morte guarde em cova os injuriados
despojos do homem feito; que o menino
empina o papagaio, vive ao vento.

 

 

 

IVO, Lêdo.  Mormaço.  Pinturas de Steven Alexander.   Rio de Janeiro: Contra Capa, 2013.  224 p.  16,8x24,5 cm.  ISBN 978-85-7740-147-5  Publicado originalmente sob o título Calima, por Vaso Roto Ediciones, em 2011, com tradução de Martín ópez-Vega.    Imagem da capa: Gonçalo Ivo, tina sobre papel.  Inclui imagens em cores de 42 pinturas acrílicas sobre papel de Steven Alexander.  Col. A.M.  (EE)

 

 

O DIA INACABADO

Como todos os homens, sou inacabado.
Jamais termino de ser.
Após a noite breve um longo amanhecer
me detén no umbral do dia.
Perco o que ganho no sonho e no desejo
quando a mim mesmo me acrescento.
Toda vez que me somo, subtraio-me,
uma porção levada pelo vento.
Incompleto no dia inacabado,
livre de ser ainda como e quando,
sigo a marcha das plantas e das estrelas.
E o que me falta e sobre é o meu contentamento.

 

 

 

De
RÉQUIEM
Traducción de Jorge Lobillo
México: Alforja, 2008
(edición bilíngüe)

O RAIO

 

O raio que caiu dividiu o verão.

A cisterna de luz escorrida na terra

sob a nuvem purpúrea e o vôo do gavião,

e me alcançou em cheio, no meio de mim,

 

como o aroma da flor que se ergue no jardim

para impor a quem passa o domínio do instante.

O sol desmoronado escondeu os seus raios

na doçura da palha espalhada no estábulo.

 

A serpente agoniza, mudada em coral.

A relva abre caminho ao silêncio dos homens

que escalam as montanhas douradas do outono.

 

Entre os que vão e vêm eu também venho e vou.

Nos tormentos do mundo fui multiplicado

e de tanto existir já não sei mais quem sou.


O DESCONFORTO

 

O dia está cheio de palavras.

Elas escorrem como a água das sarjetas ou a saliva da boca

                                                        dos demagogos.

Espalham-se no chão como as folhas de um outono

                                                                  excessivo.

Transbordam das lixeiras junto com as latas de Coca-Cola

                                                        e restos de comida.

São piolhos que avançam na selva da tarde.

 

Ninguém pode viver sem as palavras.

Isto explica o desconforto dos passageiros do metrô.

Condenados a um silêncio temporário

eles se entreolham suspeitosamente na plataforma da

                                                                           estação

e estremecem quando as portas do trem se fecham.

 

Embalados pêlos solavancos de uma viagem sem paisagem

ouvem os vagões rangerem nos trilhos taciturnos

na escuridão que sustenta o clamor da cidade.

É o que sobra do rumor do mundo. Mas eles querem o

                                                                           instante

em que, devolvidos ao dia loquaz, voltarão a falar.

 

 

 

IVO, LêdoO aluno relapso.  Ilustrações de Gonçalo Ivo. São Paulo: Nemar; Massao Ohno Editores, 1991.   100 p.  14X21 cm.  “ Lêdo Ivo “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

A ILHA AMBULANTE

 

Todas as manhãs me levanto
e começo a dormir.
Só sei sonhar acordado,
ilha rodeada de homens
e do rumor do dia
por todos os lados.

 


O BOSQUE

A chuva cai sobre os montes simétricos
das madeiras cortadas.

E o cheiro do bosque mutilado
ocupa a escuridão.

 


CORRIMÃO

 

Passado e presente
são em  nossa vidas
degraus sucessivos
de uma mesma escada.
Subimos? Descemos?
Enquanto subimos
e enquanto descemos
não sabemos nada.

 

 

Lêdo Ivo

De
Lêdo Ivo
UMA LIRA DOS VINTE ANOS
Rio de Janeiro: Livraria São José, 1962

O livro reúne os primeiros versos do autor escritos entre 1940 e 1946.
Edição planejada por seus amigos Antônio Houaiss e João Cabral de Melo Neto.

 

 

O BRANCO HOTEL

Em cada cidade um cemitério
um túmulo para cada residência
um morto exclusivamente para o pranto de dois olhos.

Hoje é o dia dos desacordados, dos sonâmbulos e dos fantásticos.

Tenho um irmão num cemitério.

São os hóspedes de um branco hotel
que perturba as floristas.


A MORTA

 Um recado, um beijo e um epitáfio
me esperavam em teus olhos fechados
cisternas de minha infância.

Em teu corpo, ó Dama de Azul, última flor do Mangue
não havia nuvem ou música
apenas a tua de tua adolescência, que depois asfaltaram.
Porém nos trechos escuros de tua nudez
eu capinava onde o amor se iniciava.

Teu corpo agora era tua própria alma,
que não existira tranquila, mas selvagem
e áspera como a de uma loba.

Eras a areia da praia que desentranha a música
a note podre, o oeste das coisas,
presença esquiva que não se macula
nua sem ter sido donzela.

 

 

 

IVO, Lêdo.  Um brasileiro em Paris e O Rei da Europa. Capa de Luis Jardim.   Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editôra, 1955.  “Deste livro foram tirados, fora de comércio, vinte exemplares em papel apergaminhado assinados pelo autor.” “ Lêdo Ivo “. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, oriunda da coleção Marly de Oliveira.

 

 

SONÊTO DE VERÃO

 

Tal pedra na savana, a paixão brilha
e ilumina o arrebol; fogo calcário
é o seu, viva raiz de maravilha
crispada no ar, no espaço planetário.

Nem de ouro nem de prata — como a quilha
do barco entre as espumas do mar vário,
minha paixão é vento e é flama e é trilha
que rasga o dia e torna o chão sumário.

Em nudez e canícula, cintila
a estrela que me segue, o sol distante
e cada vez mais próximo de Vega.

Razão de ser da vida, ele destila
as luzes da alvorada;  e a mim, amante,
o amor faz com que eu veja e, sol, me cega.

 

 


MARÉ

 

Na praia de papel
respiro o ar do mundo.
Letras.

Na ortografia vive
todo o meu mistério.
Tinta.

O mar azul vomita
algas e medusas.
Signos.

A sujeira do mar
é meu patrimônio.

Canto.

 

 

 

 

 

 

 

          AO LÊDO, EM SEU EPITÁFIO

         

          Aqui repousa,
          livre de todas as palavras,
          LÊDO IVO,
          poeta
          na paz reencontrada
          de antes de falar,
          e em silêncio, o silêncio
          de quando as hélices param
          no ar.

 

                   JOÃO CABRAL DE MELO NETO

                              Junho de 1945

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

 

IVO, Lêdo.  Las islas inacabadas.  Traducción Maricela Terán.  México, DF: Dirección de Difusión Cultura, Departamento Editorial, Universidad Autónoma Metropolitana, 1985.   145 p.  11x18 cm.  (Colección Molinos de Viento, Série Poesia, 40)   Col. A.M.

 

La infancia redimida

Yo invento la alegría, ahora, en este poema.

Aunque sea trágica e íntima de la muerte

la vida es un reino: la vida es nuestro reino

no obstante el terror, el éxtasis y el milagro.

 

¡Cómo te soñé, poesía! no como te soñaron...

 

Me escondo en el bosque del lenguaje, corro

          por las salas de espejos.

Estoy siempre al alcance de todo, lleno de orgullo

porque el Ángel me sigue a cualquier parte.

Tengo un ritmo más grande para alabarte, poesía.

Mayor, sin embargo, era la orilla de la playa de mi ciudad

donde, niño, inventé barcos antes de haberlos visto.

Mayor aún era el mar

ante el cual todas las tardes recitaba poemas,

festejándolo con los ojos húmedos y a veces

          sonriendo de pasión,

porque gran cosa es descubrir el mar, verlo

          existir en el mundo.

 

¡Oh mar de mi infancia, mayor que el mar de Homero!

 

Juego a esconderme de Dios, pacto con las hadas

y con este aire de juglar mantengo querelas con la muerte.

Después del otro lado, hay siempre un nuevo
          otro lado por conquistar...

Por eso te amo, poesía, a ti que vienes a

          llamarme para las californias de la vida.

No eres sino un sueño de infancia, un mar
          visto en palabras.

 

(De Cántico.)

 

 

 

 

De

Ledo Ivo

PLENILUNIO

Traducción de Martín López-Vega

Barcelona: Vaso Roto Ediciones, 2010.

129 p.  ISBN 978-84-936423-6-5

 

 

SONETO DA NEVE

 

Quando te amo, penso sempre na neve,

em uma neve branca como o esperma.

Penso sempre na neve quando te possuo,

ver a neve que cai entre as bétulas.

 

Em minha meninice sempre desejei

ver a neve cair, atravessar a branca

escuridão da neve que, entre o dia e a noite,

devolve ao mundo negro um branco seminal.

 

Eu sempre desejei que o mundo fosse a alvura

da neve, da brancura virginal

do alvo lençol imune a qualquer mácula.

 

E a neve cai em mim e cai na desolada

noite escura da alma, a neve do silencio,

a imaculada e frígida alvura do nada.

 

 

SONETO DE LA NIEVE

 

Cuando te amo, pienso siempre en la nieve,

en una nieve tan blanca como el esperma.

Pienso siempre en la nieve cuando te poseo,

en la nieve blanca que cae entre los abedules.

 

En mi infancia siempre deseé

ver la nieve caer, atravesar la blanca

oscuridad de la nieve que, entrre el día y la noche,

devuelve al mundo negro un blanco seminal.

 

Siempre deseé que el mundo fuera la blancura

perfecta de la nieve, la blancura virginal

de la blanca sábana inmune a cualquier mancha.

 

Y la nieve cae en mí y en la desolada

noche oscura del alma, nieve del silencio,

inmaculada y frígida albura de la nada.


 

A MUDANÇA

Mudo todas as horas.

E o tempo, sem demora,

muda mais do que fia.

 

Mudo mas permaneço

bem longe das mudanças.

Como uma flor, floresço.

Sou pétala e esperança.

 

Mudo e sou sempre o mesmo,

igual a um tiro a esmo.

Como um rio que corre.

 

Sem sair de onde estou,

de tanto mudar sou

o que vive e o que morre.

 

 

EL CAMBIO

 

Cambio cada día.

Cambio a cada hora.

Y el tiempo, sin demora,

cambia más de lo que fía.

 

Cambio pero permanezco

bien lejos de todo cambio.

Como una flor, florezco.

Soy pétalo y esperanza.

 

Cambio y soy simpre el mismo,

igual que un disparo al azar.

Como un río que corre.

 

Sin salir de donde estoy

de tanto cambiar soy

el que vive y el que morre.

 

 

De
Ledo Ivo
CALIMA
Traducción de Martín López-Veja
Barcelona: Vaso Roto Ediciones, 2011.
129 p.  ISBN 978-84-15168-08-9

 

O DIA INACABADO

 

Como todos os homens, sou inacabado.

Jamais termino de ser.

Após a noite breve um longo amanhecer

me detém no umbral do dia.

Perco o que ganho no sonho e no desejo

quando a mim mesmo me acrescento.

Toda vez que me somo, subtraio-me,

uma porção levada pelo vento.

Incompleto no dia inacabado,

livre de ser ainda como e quando,

sigo a marcha das plantas e das estrelas.

E o que me falta e sobra é o meu contentamento.

 

 

EL DÍA INACABADO

 

Como todo hombre, estoy inacabado.

No acabo nunca de ser.

Tras la noche breve un largo amanecer

me detiene en el umbral del día.

Pierdo cuanto gano en el sueño y el deseo

cuando a mí mismo me añado.

Cada vez que me sumo, me resto:

fragmento soy llevado por el viento.

Incompleto en el día inacabado,

libre aún de ser cómo y cuándo,

sigo la marcha de las plantas y las estrellas.

Y cuanto me falta y sobra es mi satisfacción.

 

 

FIRMAMENTO

 

No dia cheio de estrelas

como a noite aguardo o vinto

que vai espalhar a minha alma

no firmamento.

 

Na noite da ventania

a morte será um frêmito,

o luzir de uma luz negra

no firmamento.

 

E tudo será silêncio

e será esquecimento

na eternidade da noite

e do vento.

 

 

FIRMAMENTO

 

En el día lleno de estrellas

como la noche espero el viento

que esparcirá mi alma

por el firmamento.

 

En la noche de galerna

la muerte será un estremecimiento,

el resplandor de una luz negra

en el firmamento.

 

Y todo será silencio,

y todo será olvido

en la eternidad de la noche

y del viento.

 

 

De

Ledo Ivo

RUMOR NOTURNO

Traducción de Martín López-Vega

Barcelona: Vaso Roto, 2009

228 p.  ISBN 978-84-935842-7-6

 

O JOGO

 

No dia perdido, no dia estilhaçado,

tudo é dividido ou multiplicado.

 

O eu e eu duplo atravessam a praça

colados numa efígie de moeda ou selo.

 

O uno vira triplo no alto da escada

e se derrete ao sol como uma pedra de gelo.

 

O singular é plural. O vento varre

o tombadilho do navio ancorado

 

e um fanal de espuma aponta o momento

da última pá de cal. Então o todo e a parte

 

se fundem afinal em ninguém e em nada.

 

 

EL JUEGO

 

En el día perdido, en el día hecho astillas,

todo se divide o se multiplica.

 

El yo y su doble atraviesan la plaza

pegados en una efigie de moneda o sello.

 

Lo uno se vuelve triple al subir la escalera

y se derrite al sol como una piedra dy hielo.

 

Lo singular es plural. El viento barre

la cubierta del navío anclado

 

y un fanal de espuma señala el momento

de la última pala de cal.  Entonces el todo y la parte

 

se funden por fin en nadie y en nada.

 

 

OS POEMAS

 

É meu corpo que escreve os meus poemas.

Minha alma é a sucursal da minha mão.

As palavras me buscam no silêncio.

Palavras são estrelas que reclamam

o papel branco: céu, constelação.

 

 

LOS POEMAS

 

Es mi cuerpo quien escribe mis poemas.

Mi alma es una sucursal de mi mano.

Las palabras me buscan en el silencio.

Las palabras son estrellas que reclaman

un papel en blanco: cielo, constelación.

 

 

De

Lêdo Ivo

LA ALDEA DE SAL

Selección y traducción de

Guadalupe Grande y Juan Carlos Mestre

Madrid: Calambur  Poesía 95, 2009.

188 p.  ISBN  978-84-8359-246-8

 

 

AS ILUMINAÇÕES

 

Desabo em ti como um bando de pássaros.

 

E tudo é amor, é magia, é cabala.

Teu corpo é belo como a luz da terra

na divisão perfeita do equinócio.

 

Soma de céu gasto entre dois hangares,

és a altura de tudo e serpenteias

no fabuloso chão esponsalício.

 

Muda-se a noite em dia porque existes,

feminina e total entre os meus braços,

como dois mundos gêmeos num só astro.

 

 

LAS ILUMINAÇÕES

 

Me derrumbo en ti como una bandada de pájaros.

 

Y todo es amor, es magia, es cábala.

Tu cuerpo es bello como la luz de la tierra

en la frontera perfecta del equinoccio.

 

Suma del cielo consumado entre dos hangares,

eres la altura de todo y serpenteas

en los fabulosos esponsales de la tierra.

 

Se transforma la noche en día porque existes,

femenina y total entre mis brazos,

como dos mundos gemelos en un solo astro.

 

 

PRIMEIRA LIÇÃO

 

Na escola primária

Ivo viu a uva

e aprendeu a ler.

 

Ao ficar rapaz

Ivo viu a Eva

e aprendeu a amar.

 

E sendo homem feito

Ivo viu o mundo

seus comes e bebes.

 

Um dia num. Muro

Ivo soletrou

a lição da plebe.

 

E aprendeu a ver.

Ivo viu a ave?_

Ivo viu o ovo?

 

Na nova cartilha

Ivo viu a greve

Ivo viu o povo.

 

 

PRIMERA LECCIÓN

 

En la escuela primaria

Ivo vio la uva

y aprendió a leer.

 

Al hacerse muchacho

Ivo vio a Eva

y aprendió a amar.

 

Y ya un hombre

Ivo vio el mundo

sus alimentos y bebidas.

 

Un día en un muro

Ivo deletreó

la lección de la plebe.

 

Y aprendió a ver.

¿Ivo vio el ave_

¿Ivo vio el huevo_

 

 

En la nueva cartilla

Ivo vio la huelga

Ivo vio el pueblo.

 

 

 

De

Lêdo Ivo

MÍA PATRIA HÚMEDA / MINHA PÁTRIA ÚMIDA

Veracruz, México: Cuadernos de Veracruz, 2006

107 p.

 

 

 

SONETO DO AMANHECER

 

O DIA

Sem mancha

Que tisne

Sua alvura

 

De cisne

Imaculado

Muro branco

Branco

 

De luz

E cal

Na pura

 

Brancura

Da manhã

De sal

 

 

 

SONETO DEL AMANECER

 

EL DÍA

Sin mancha

Que tizne

Su albura

 

De cisne

Inmaculado

Muro blanco

Blanco

 

De luz

Y cal

En la pura

 

Blancura

De la mañana

De sal


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O LADRÃO

 

QUANDO deixei Maceió, fechei a porta do mar

E enxotei os navios que insistiam em seguir-me.

Tive de aninhar o vento nos corredores

Das casas brancas que guardam lacraias.

Mas o mar me acompanhou até nos sonhos,

Igual ao sol azul que sustenta o mormaço.

O vento veio voando e era um bando de pássaros.

A chuva da minha infância continua caindo

Com o seu séquito de tanajuras e caranguejos.

Até as dunas caminham ao meu encontro

E me rodeiam, exigindo que eu devolva

A chave de areia e o oceano roubado.

 

EL LADRÓN

 

CUANDO dejé Maceió, cerre la puerta del mar

Y ahuyenté los navíos que insistían en seguirme.

Tuve que anidar el viento en los corredores

De las casas blancas que guardan alacranes.

Pero el mar me acompañó hasta en sueños

Igual al sol azul que sustenta el bochorno.

El viento vino volando y era un bando de pájaros.

La lluvia de mi infancia continúa cayendo

Con su séquito de hormigas voladoras y cangrejos.

Hasta las dunas caminan a mi encuentro

 

Y me rodean, exigiéndome que devuelva

La llave de arena y el océano robado.

 

 

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A CARGA

 

UMA rua me conduzia até o porto.

E eu era a aruá com as suas janelas dilaceradas

E o sol depositado na areia materna.

Eu levava para a beira do mar tudo o que surgia

À minha passagem: portas, rostos, vozes, colônias de cupim e

Réstias de cebola que amadureciam na sombra

Dos armazéns providos. E sacos de açúcar. E as chuvas

Que haviam enegrecido os telhados das casas.

Era um dia de dádivas. Nada estava perdido.

As ondas celebravam a beleza do mundo.

A terra ostentava a promessa de vida.

E eu depositava a minha leve carga

Nos porões dos navios enferrujados.

 

 

LA CARGA

 

UMA calle me conducía hasta el puerto.

Y yo era la calle con sus ventanas destrozadas

Y el sol depositado en la arena materna.

Llevaba hacia la orilla del mar todo lo que surgía

A mi paso: puertas, rostros, voces, colonias de termitas y

Ristras de cebolla que maduraban en la sombra

De próvidos almacenes. Y sacos de azúcar. Y las lluvias

Que habían ennegrecido los tejados de las casas.

Era día de dádivas. Nada estaba perdido.

Las olas celebraban la belleza del mundo.

La tierra ostentaba la promesa de la vida.

Y yo depositaba mi leve carga

En los sótanos de oxidados navíos.

 

 

 

 

 

LOS MURCIÉLAGOS

 

Versión de José Emilio Pacheco

 

 

En la cornisa de la aduana se ocultan los murciélagos.

Pero ¿dónde se esconden los hombres

que vuelan en tinieblas toda su vida y se estrellan

en la blancas paredes del amor?

 

La casa de nuestro padre estaba llena de murciélagos:

Candelabros pendientes de las vigas, sostén

del techo amenazado por la lluvias.

“Estos hijos nos sorben la sangre”, se quejaba mi padre.

 

¿Quién lanzará la primera piedra contra este mamífero

que, como el hombre, se alimenta de la sangre

(¡hermano! hermano!) y exige, comunitario,

aun en tinieblas el sudor de su prójimo?

 

En la aérola de un seno joven como la noche

se esconde el hombre, guarda su amor,

como si fuera oro, en su almohada

o a la luz de un farol.

El murciélago duerme como péndulo

y guarda nada más el día ofendido.

 

A mis ochos hermanos y a mí nos legó nuestro padre

su casa en la que por la noche

caía la lluvia entre las tejas rotas.

Pagamos la hipoteca y conservamos los murciélagos.

Ahora se debaten en nuestros muros,

ciegos como nosotros.

 

 

 

LOS POBRES EN LA CENTRAL DE AUTOBUSES

 

Versión: Margareth Cuellar

 

 

Los pobre viajan, en la central de autobuses

levantan los cuellos, como gansos para mirar

los letreros del autobús.  Sus miradas

son de quien teme perder alguna cosa:

la valija que guarda un radio de pilas y una chaqueta

que tiene el color del frío en un día sin sueños,

el sándwich de mortadela en el fondo de la bolsa,

el sol del suburbio y polvo más allá de los viaductos.

Entre el rumor de los altoparlantes y el acelerar del autobús

temen perder su propio viaje

oculto en la niebla de los horarios.

Los que dormitan en los asientos despiertan asustados,

aunque las pesadillas sean privilegio

de los que abastecen los oídos y el tedio de los psicoanalistas

en consultorios asépticos como el algodón que tapa la nariz de los muertos.

En las filas los pobres asumen un aire grave

que une temor, impaciencia y sumisión.

¡Qué grotescos los pobres! ¡Y cómo sus olores

Incomodan la noción de la conveniencias, no saben comportarse.

El dedo sucio de nicotina restriega el ojo irritado

que del sueño retuvo apenas la legaña.

Del seno caído y dilatado escurre un hilillo de leche

hacia la pequeña boca habituada al llanto.

En la plataforma van y vienen, corren, aseguran maletas y paquetes,

hacen preguntas inconvenientes en las ventanillas, susurran palabras misteriosas

y contemplan las portadas de las revistas con el aire de espanto

de quien no sabe el camino del salón de la vida.

¿Por qué ese ir y venir? Y esas ropas extravagantes,

esos amarillos de aceite de palmera que duelen a la vista delicada

del viajante obligado a soportar tantos olores incómodos.

¿Y esos rojos contundentes de feria y parque de diversiones?

Los pobre no saben viajar ni vestirse.

Tampoco saben vivir: no tienen noción del bienestar

aunque algunos poseen hasta televisión.

La verdad es que los pobres no saben ni morir.

(Tienen casi siempre una muerte fea y poco elegante).

En cualquier lugar del mundo incomodan,

… viajeros inoportunos que ocupan nuestros lugares aunque viajemos

sentados y

… ellos de pie.

 

 

ASILO SANTA LEOPOLDINA

 

Traducción de Stefan Baciu y Jorge Lobillo

 

 

Todos los días vuelvo a Maceió.

Llego en navíos desaparecidos, en trenes sedientos.

En aviones ciegos que sólo aterrizan al anochecer.

En los estrados de las plazas blancas pasean cangrejos.

Entre las piedras de las calles escurren ríos de azúcar

fluyendo dulcemente de los sacos almacenados en los trapiches

y clarean la sangre vieja de los asesinados.

Luego que desembarco tomo el camino del hospicio.

En la ciudad donde mis ancestros reposan en cementerios marinos

sólo los locos de mi infancia continúan vivos a mi espera.

Todos me reconocen y me saludan con gruñidos

y gestos obscenos o ruidosos.

Cerca, en el cuartel, la corneta que chilla

separa la puesta de sol de la noche estrellada.

Los locos lánguidos bailan y cantan entre las gradas.

¡Aleluya! ¡Aleluya! Más allá de la piedad

el orden del mundo brilla como una espada.

Y el viento del mar océano inunda mis ojos de lágrimas.

 

 

 

EL PÁJARO MUERTO

 

Traducción: Francisco Cervantes

 

La santidad del mundo se me aparece

bajo la forma espantada de ardilla

que me contempla entre los arbustos.

Debo esta aparición al Dios que me creó

y me hace notar lo menudo y lo insólito.

El polvillo en el ala de la mariposa,

En la lluvia radiante.

Me agacho y agarro el pajarito muerto

que ni la nieve supo guardar.

¿Por qué lo has matado, dios del frío,

que, en la noche de Nueva York, unes a hombre y mujer?

Como una hormiga, espero a que pase el tren

para atravesar

las vías ensangrentadas del óxido

y, diamantero, amo lo que el tiempo hizo

sin que fuese necesario herir o insultar;

ola en la plancha putrefacta de un navío

o el fulgor de un diamante.

A esa forma de perfección, luminosa y fría

es a la que aspiro a veces cuando, en el banco de un parque,

veo a un pajarito muerto

u, hombre, soy una ardilla que las ardillas

vienen a mirar con sorpresa.

A los cielos, que guardan el granizo y la pedrisca,

pido la no implantación del sello funerario.

¿Pero cómo ese dios sordo me oiría?

¿Cómo sus ojos vacíos, de qué modo

m adivinaría? Y las hojas caen, deslavadas, y el otoño

es viento y putrefacción.

 

 

 

A LA PATRIA

 

Versión:Héctor Carreto

 

 

Esta noche, en Toronto, junto a un lago de hielo

que es inmune al graznido de los gansos,

una patria ofendida surge de lo oscuro

y sale a mi encuentro con su sol y andrajos.

 

A su alrededor están los habitantes

del suelo silencioso de los mangles, la señal del semáforo

que como un ave se estremece en la marejada

y los mendigos que esperan la muerte bajo el paso a desnivel.

 

Mientras camino bajo la nieve de esta noche extranjera,

entre la sílabas negras de los frígidos pinos,

murmuro al viento tu nombre devastado.

 

Oh patria desamada, oh ramera,

mientras más me distancio, tu espina

más punza en mi mano inútil y helada.

 

 

 

EL PORTÓN DE LA NOCHE

 

Versión: Rubén Mejía

 

 

El portón permanece abierto el día entero,

pero en la noche y o mismo lo cierro.

No espero a ningún visitante nocturno

a no ser el ladrón que salta el muro de los sueños.

La noche silenciosa que me hace escuchar

el nacimiento de los manantiales en los bosques.

Mi cama, blanca como la Vía Láctea,

es angosta para mí en la noche negra.

Ocupo todo el espacio del mundo: mi mano desatenta

Derriba una estrella y ahuyenta un murciélago.

El latir de mi corazón intriga a las lechuzas

que, en las ramas de los cedros, rumian el enigma

del día y de la noche paridos por las aguas.

En mi sueño de piedra quedo inmóvil y viajo:

soy el viento que palpa las alcachofas

y enmohece los arreos colgados en el establo,

soy la hormiga que, guiada por las constelaciones,

aspira los perfumes de la tierra y del océano.

Un hombre que sueña es todo lo que no es:

el mar dañado por los navíos,

el silbido negro del tren entre hogueras,

la mancha que ennegrece el tambor de querosén.

Cierro el portón antes de dormir,

mas en el sueño se abre. Quien no vino de día

pisando las hojas secas de los eucaliptos

viene de noche, pues conoce el camino, al igual que los muertos

que aún no han venido, pero saben dónde estoy,

—cubierto por una mortaja, como todos los que sueñan

y se agitan en la oscuridad, gritando las palabras

que huyeron del diccionario y fueron a respirar el aire de la noche que huele a jazmín

y al dulce estiércol fermentado.

Los visitante indeseables atraviesan las puertas atrancadas

y las persianas que filtran el paso de la brisa, rodeándome.

¡Oh misterio del mundo, ningún candado cierra el portón de la noche!

Fue vano pensar que el anochecer dormiría solo,

protegido por el alambrado de púas que cerca mis tierras

y por mis perros que sueñas con los ojos abiertos.

En la noche, una simple brisa destruye los muros levantados por los hombres.

Aunque mi portón va a amanecer cerrado,

sé que alguien lo abrió en el silencio de la noche

y participó en la oscuridad de mi sueño inquieto.

 

 

 

LA QUEMA

 

Versión: Rubén Mejía

 

 

Quema todo lo puedas:

las cartas de amor

las cuentas telefónicas

la lista de la ropa sucia

las escrituras y los certificados

las indiscreciones de los colegas resentidos

la confesión a medias

el poema erótico que ratifica la impotencia

y anuncia la arterioesclerosis

los recortes antiguos y las fotografías amarillentas.

 

No dejes a los herederos hambrientos

Ninguna herencia de papel.

 

Sé como los lobos: habita en una cueva

Y sólo muestra a la canalla de las calles tus dientes afilados.

Vive y muere encerrado como un caracol.

Di siempre no a la escoria electrónica.

 

Destruye los poemas inacabados, los esbozos,

las variantes y los fragmentos

que provocan el orgasmo tardío de los filólogos y académicos.

No dejes a los catadores de basura literaria ninguna migaja.

No confíes a nadie tu secreto.

La verdad no puede ser dicha.

 

 

Extraídos de: La Tierra Allende; antología poética 1944-2005. Edición bilingüe.  México: Libros 1001 Lo Poesible, 2005, con la debida autorización del autor.

 

 

Oficio de la mortaja

 

El vivo habita en el muerto

y su mano inerte no flagela

las moscas, ni las flores que lo rodean.

El muerto inventa una tumba

que cambia con la luz y el aire.

Las moscas baten sus alas para verlo

camino de la eternidad.

¡Oh gloria de estar muerto y reclamar

el Reino prometido a todos aquellos

que en vida buscaron el portón del jardín del Paraíso!

Y el muerto huele la fritanga

en el restaurante del velatorio:

los vivos comen carne y beben lágrimas.

El jadeo de los fornicantes

y el espasmo de los cardos funerarios

y la caca en el mar certifican la vida de los vivos,

y el muerto para el oído para escuchar

el anacoluto de la verde viuda de negro

y sus ojos contemplan, formidables,

el bullir de la city cuando cae la noche,

gigantesca abeja, babilonia de luz,

música y vidrio.

Un anciano que pasa entre los muertos

le convida a tomar un café de pie

con la puesta del día y el olor a emparedado

y a gasolina, adiós, vida inmensa

muerta de la risa, polvo y plegarias,

adiós, papagayo de cabriolas, adiós,

amadas rodillas eróticas, redondas,

brisa de la playa de Cartagena de Indias,

a todo adiós. Como sabéis,

no solo de moscas vive el muerto,

crucificado y mudo, el muerto es un guerrero

que también mata a la muerte.

Ser de promesas, horizontal y póstumo,

el hombre vive de la espera. Y ni difunto

renuncia a su eternidad.

 

 

El dinero de los poetas

 

El dinero de los poetas reposa en los supermercados.

Los sueños de los poetas están almacenados en los bancos.

En el desperdicio del mundo el poema de amor se inclina al suelo

como la paloma que, en la plaza al atardecer,

busca el grano de maíz depreciado por la turista

antes que la noche la devuelva al secreto de su cornisa.

 

Quiero esconderme en ti, oh casa,

pero ninguna llave abre mi puerta.

En la playa lacerada por los caracoles

ningún viento rasga mi estandarte.

Donde estoy, el sol no hiere el dorso de un lagarto

ni el agua de las lajas lava la muerte.

 

Bajo la escalera de mármol y deposito

en la caja fuerte la joya brillante de mi pesadilla.

Para mí sólo guardaré la moneda humillada por el orín

que el tiempo condenó a no ser pan.

 

 

Poemas breves

 

I

Paciencia e impaciencia

son hermanas gemelas

que pasean tomadas de la mano

por la plaza de mi poema.

 

II

 En 1945

fuimos una legión.

Hoy soy, yo sólo,

una generación

y a lo que antes fui

-si es que fui cuando era

mi quimeradigo

siempre no.

 

III

Tu pubis: la oveja negra

en el blanco rebaño de tu cuerpo.

 

IV

Pasajero del navío

que no para en ningún puerto

finjo no ver que la muerte

me quiere vivo y no muerto.

 

 

[Traducciones de Mario Bojórquez]

Arquitrave Nº 61 Octubre-Diciembre 2015

 

De
RÉQUIEM
Traducción de Jorge Lobillo
México: Alforja, 2008

(edición bilíngüe)

EL RAYO

 

El rayo que cayó dividió el verano.

La cisterna de luz escurrida en la tierra

bajo la nube purpúrea y el vuelo del gavilán,

y me alcanzó de lleno, en medio de mí,

 

como el aroma de la flor que se yergue en el jardín

para imponer a quien pasa el dominio del instante.

El sol desmoronado esconde sus rayos

en la dulzura de la paja esparcida en el establo.

 

La serpiente agoniza, vuelta coral.

La hierba abre camino al silencio de los hombres

que escalan las montarias doradas dei otono.

 

Entre los que van y vienen yo también vengo y voy.

En los tormentos dei mundo fui multiplicado

y de tanto existir ya no sé más quién soy.

 

 

EL DESCONSUELO

 

El dia está lleno de palabras.

Ellas escurren como el agua de los albañales o la saliva de

                                                                  la boca de los demagogos.

Se esparcen en el suelo como las hojas de un otoño

                                                                                     excesivo.

Transbordan en los basureros junto a las latas de Coca-Cola

                                                                           y restos de comida.

Son piojos que avanzan en la selva de la tarde.

 

Nadie puede vivir sin las palabras.

Esto explica el desconsuelo de los pasajeros del metro.

Condenados a un silencio temporáneo

se miran entre si sospechosamente en la plataforma de la                                                                                            estación

y se estremecen cuando las puertas dei tren se cierran.

 

Mecidos por los traqueteos de un itinerário sin paisaje

oyen a los vagones rechinar en los carriles taciturnos

en la oscuridad que sustenta el clamor de la ciudad.

Es lo que sobra del rumor del mundo. Pero ellos quieren

el instante en que, devueltos ai día locuaz, vuelvan a hablar.

 

 

IVO, Lêdo.  El silencio de las constelaciones ocultas.  O silêncio  das constelações ocultas. Antolgía bilíngüe.  Traducción y selección Nidia Hernández.  Caracas: Monte Ávila Editores Latinoamericanos, 2011.   198 p.  13x20 cm.    Imagen de portada: Rafael Márquez.  ISBN 978-980-01-1852-8   “ Lêdo Ivo “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Soneto do empinador de papagaio

 

A nada aceito, exceto a eternidade,

nesta viagem ambígua que me leva

ao altar absoluto que, na treva,

espera pela minha inanidade.

 

O que sonhei, menino, hoje é verdade

de alva estação que em meu silencio neva

o inverno de urna fábula primeva

que foi sol, cego à própria claridade.

 

Na hora do fim de tudo, separados

fiquem os dois comparsas do destino

que sabe a cinza após o último alento.

 

E a morte guarde em cova os injuriados

despojos do homem feito; que o menino

empina o papagaio, vive ao vento.

 

 

 

Soneto del volador de papagayos

 

Acepto la noche, menos la eternidad

en este viaje ambiguo que me lleva

al altar absoluto que, en la oscuridad,

espera por mi inanidad.

 

Lo que soñé de niño, hoy es verdad

estación del alba que en mi silencio nieva

el invierno de una fábula primitiva

que fue sol, ciego a su propia claridad.

 

En la hora del fin de todo, separadas

quedan las dos comparsas del destino

que saben a ceniza luego del último aliento.

 

Y que la muerte guarde en sepultura los injuriados

despojos del hombre maduro; que el niño

eleve el papagayo, vivo al viento.

 

 

 

IVO, Lêdo.  Estación final. Antología 1940-2011.  Selección, prólogo y traducción: Mario 0           Bojórquez.  Granada, España: Valparaíso Ediciones, 2012.  274 p.  13,5 x 21 cm.            ISBN 978-84-94-0009-6-6     Ex.bibl.Antonio Miranda

 

 

                SONETO DE ABRIL

 

         Ahora que es abril, y el mar se ausenta
         secándose en sí mismo como un llanto,
         veo mi amor que dedico: aumenta
         siguiendo el rastro de mi próprio espanto.

         En mí, tu dulce espíritu presenta
         todas las sugerencias del encanto,
         que a mi frente vendrás y no sedienta
         pues mi fuente no es de agua, que es de canto.

         Ahora que es abril, y van muriendo
         las hermosas canciones de otros meses,
         así te quiero, igual que te me escondas:

         amarte de una vez todas las veces
         en que soy carne y gesto, falleciendo
         como um     a voz llamada por las ondas.

 

 

         TRANSEÚNTE AL ANOCHECER

 

         Lo que resta de mí cuando anochece
         es una gota de sudor donde contemplo
         la vida entera gastada en un solo día.
         Astro o señal de trânsito, mi sueño
         espero que yo pasara y se extinguió.
         Trabajé, pero a cambio sólo me dieron
         un pan de poliéster; y envejezco
         entre señales roídas por el viento
         y palabras sin sonido y sin sentido,
         hélice de navio en dique seco.
         Cae la noche y reclamo: no gané
         ningún diós o dinero o amor nuevo.
          ¿Sudor?  ¿Rocío? Me disuelvo en las tinieblas.        
        

 

 

IVO, LêdoEstación final. Antología de poemas 1940-2011.  Selección, prólogo y  traducción de Mario Bojórquez.  Ibagué, Colombia: Caza de Libros, 2012.   203 p.  ISBN 978-958-8751-4    Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

(Linguagem, 1950-1951)

 

El hombre vivo

 

Me felicito a mí mismo por ser transitorio.
Siempre tuve miedo de la eternidad,
ese gran perro oscuro que me olfateaba las piernas
y me seguía sin morder.

Aguardando a la muerte como quien espera una carta
traída por un cartero divino,
nada tengo para las fiestas del día siguiente.
Toda mi vida fue este esperar sin fin.

Entre el sueño y el mar total, en el paisaje celeste,
solté mi cometa.
Vi el farol de mi tierra, y mi infancia entera
estirada en cien leguas delante del mar.

Nada quiero de ti, Muerte, ni aún las recompensas
         del otro lado
con que amenizas el fin de los que sufrieron mucho.
Dame apenas el sueño sólido de los que mueren
y son llevados a la tierra de los pies juntos.

Que la vida sea un sueño, y los sueños sean sueños
del sueño desdoblado de los que viven.
Efímero, late en el tiempo un corazón solitario
y la sombra de la tierra es poca para cubrirlo.

 

 

Monólogo entre setas 

Antiguamente amé, y contemplé el absurdo
como alguien se mira en un espejo que no ve
o una quilla de navío, al entrar en la bahía,
desorienta un cardumen de peces.

 

De tanto amor amado, quedó un ruido cada vez
      más débil
igual a un rumor de casa por la mañana
o a los motores de un avión en la niebla, sobrevolando
una ciudad.

Y era un amor grande como la eternidad vista del tiempo.
 

Nada me conmueve ahora, ni la pasión bebida

entre relámpagos.
Soy perpendicular al tedio, imito un remo fijo en el agua.
 En el vaivén de la vida, la canoa se balancea, los

cielos resplandecen
e, insensible al dolor, como una piedra, me evaporo

en las aguas abstractas.


 

 

 

 

Página ampliada e republicada em dezembro de 2008; ampliada e republica em maio de 2010; ampliada e republicada em julho de 2010. Ampliada e republicada em 2014.Ampliada e republicada em dezembro de 2018

https://www.youtube.com/watch?v=dV_SqdU7sPY&t=7s&ab_channel=AntonioMiranda

 


 

 

 

 

 

ELEGIA

(En memoria de Lêdo Ivo)

 

                        Poema de Márcio Catunda

 

Temo las noticias trágicas de las madrugadas.

El viejo bardo fue golpeado por la muerte.

Padecí angustiante insomnio.

Necesito subir a un mirador

donde aparezca el horizonte abierto.

Pregunto por la conciencia de los grandes árboles,

criaturas preponderantes.

Es necesario aprovechar

cada minuto que nos ofrece el Sol.

Un muerto es victima

de los que se libran del cadáver.

Un poema es una aventura osada

que quien partió de este mundo ya no disfrutará.

El cedro inclinado sobre el río

se levanta hacia lo alto y sobrevive al hombre.

Ha muerto el cantor triunfal

de la efemérides insólitas.

Viajó con el vicio de la poesía en el alma

y con la ilusión de su último vuelo transatlántico.

El día entero fui perseguido por el pesar.

Medito junto al agua

después del la noche inesperada.

El escaparate del día esconde el misterio

y el tiempo derramará sobre mí

su efecto anestésico.

Es el vértigo de lo irremediable

en contra del perfume cristalino del día.

La muerte evapora al que existió

en el azul del firmamento.

En el eterno lamento del tiempo

yace el esplendor de la nada.

La claridad no me hace olvidar

la ceniza de su partida.

Su poema premonitorio resuena en mí,

residuo de un sueño,

Misterio de un desierto

donde la busca no es más que la procura.

 

23/12/2012

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL

 

 

POESÍA CONTEMPORÁNEA DE AMÉRICA LATINA. Org. Jorge Boccanera; Saúl Ibargoyen.         México, DF: Editores Mexicanos Unidos, 1998.  260 p.  Inclui poetas brasileiros.
Ex. bibl. Antonio Miranda, doação do livreiro José Jorge Leite de Brito.

 

 

LOS CEMENTERIOS

 

— Qué cementerio es éste?
— Es un cementerio de automóviles.
Aqui yace mi Chevrolet, se pudre mi Buick.
El viento corroe el esplendor de América.

— Qué cementerio es éste?

— Es un cementerio como cualquier outro.
Debajo de los grillos y el césped, reposa mi padre.
Y sueños. Y antíguas memorias de dólares.

— Qué cementerio es éste?
— Es un cementerio con muertos de la guerra.
Los soldados escuchan la risa de los niños
pero ya no tienen más bocas ni dientes para alegrarse.

— Qué cementeri es éste?
— Es un cementerio de blancos.
Es un cementerio de negros.
Es un cementerio de judios.

— Qué cementerio es éste?
—Que se explica que estamos vivos?
Mueren cinco mil cada día en America
y spese a todo aquí estamos, turistas, preguntando
siempre las mismas cosas.

 

LÊDO IVO – CANÇÕES DE FAROL E MARESIA.

 

 

TV Senado, jan. 2013. Programa Leituras, com depoimentos do poeta e de amigos: Ivan Junqueira, Alexei Bueno, Ronaldo Costa Fernandes, Nélida Piñon, Antonio Miranda, etc, e leitura de textos e poemas de Lêdo Ivo. Homenagem póstuma.

 

 

II BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA – Poemário. Org. Menezes y Morais.  Brasília: Biblioteca Nacional de Brasília, 2011.  s.p.  Ex. único.

 

 

Cabe ressaltar: a II BIP – Bienal Internacional de Poesia era para ter sido celebrada para comemorar o cinquentenário de Brasília, mas Governo do Distrito Federal impediu a sua realização. Mas decidimos divulgar os textos pela internet.         


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Os Morcegos

 

Os morcegos se escondem entre as cornijas

da alfândega. Mas onde se escondem os homens,

que contudo voam a vida inteira no escuro,

chocando-se contra as paredes brancas do amor?

 

A casa de nosso pai era cheia de morcegos

pendentes, como luminárias, dos velhos caibros

que sustentavam o telhado ameaçado pelas chuvas.

“Estes filhos chupam o nosso sangue”, suspirava meu pai.

 

Que homem jogará a primeira pedra nesse mamífero

que, como ele, se nutre do sangue dos outros bichos

(meu irmão! meu irmão!) e, comunitário, exige

o suor do semelhante, mesmo na escuridão?

 

No halo de um seio jovem como a noite

esconde-se o homem; na paina de seu travesseiro, na luz do farol

o homem guarda as moedas douradas de seu amor.

Mas o morcego, dormindo como um pêndulo, só guarda o dia ofendido.

 

Ao morrer, nosso pai nos deixou (a mim e a meus oito irmãos)

a sua casa onde à noite chovia pelas telhas quebradas.

Levantamos a hipoteca e conservamos os morcegos.

E entre as nossas paredes eles se debatem: cegos como nós

 

 

Minha Pátria

Minha pátria não é a língua portuguesa.

Nenhuma língua é a pátria.

Minha pátria é a terra mole e peganhenta onde nasci

e o vento que sopra em Maceió.

São os caranguejos que correm na lama dos mangues

e o oceano cujas ondas continuam molhando os meus pés quando sonho.

Minha pátria são os morcegos suspensos no forro das igrejas carcomidas,

os loucos que dançam ao entardecer no hospício junto ao mar,

e o céu encurvado pelas constelações.

Minha pátria são os apitos dos navios

e o farol no alto da colina.

Minha pátria é a mão do mendigo na manhã radiosa.

São os estaleiros apodrecidos

e os cemitérios marinhos onde os meus ancestrais tuberculosos

                            [e impaludados não param de

                            [tossir e tremer nas noites frias

e o cheiro de açúcar nos armazéns portuários

e as tainhas que se debatem nas redes dos pescadores

e as réstias de cebola enrodilhadas na treva

e a chuva que cai sobre os currais de peixe.

A língua de que me utilizo não é e nunca foi a minha pátria.

Nenhuma língua enganosa é a pátria.

Ela serve apenas para que eu celebre a minha grande e pobre pátria muda

minha pátria desíntéríca e desdentada, sem gramática e sem dicionário,

minha pátria sem língua e sem palavras


Os Pobres na Estação Ferroviária

 

Os pobres viajam. Na estação rodoviária

eles alteiam os pescoços como gansos para olhar

os letreiros dos ônibus. E seus olhares

são de quem teme perder alguma coisa:

a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco

que tem a cor do frio num dia sem sonhos,

o sanduíche de mortadela no fundo da sacola,

e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos. 

Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus

eles temem perder a própria viagem

escondida na névoa dos horários.                .

Os que dormitam nos bancos acordam assustados,

embora os pesadelos sejam um privilégio

dos que abastecem os ouvidos e o tédio dos psicanalistas

em consultórios assépticos como o algodão que tapa o nariz dos mortos.

Nas filas os pobres assumem um ar grave 

que une temor, impaciência e submissão.

Como os pobres são grotescos! E como os seus odores

nos incomodam mesmo à distância!

E hão têm a noção das conveniências, não sabem portar-se em público.

O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado

que do sonho reteve apenas a remela.

Do seio caído e túrgido um filete de leite

escorre para a pequena boca habituada ao choro.

Na plataforma eles vão e vêm, saltam e seguram malas e embrulhos,

fazem perguntas descabidas nos guichês, sussurram palavras misteriosas

e contemplam as capas das revistas como ar espantado

de quem não sabe o caminho do salão da vida.

Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas,

esses amarelos de azeite de dendê que doem na vista delicada

do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos,

e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá? 

O pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se.

Tampouco sabem morar: não têm noção de conforto

embora alguns deles possua até televisão.

Na verdade os pobres não sabem nem morrer

(Têm quase sempre uma marte feia e deselegante).

E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,

viajantes importunos que ocupam os nossos lugares

mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.

 

 

 

ILUSTRAÇÕES DE ZENILTON GAYOSO:




A SUPREMACIA DA RAZÃO

“Estou coberta de razão”, exclama
ao marido indignado a bela dama
surpreendida em flagrante de adultério.
E estava nua na cama.


     


   A TRAVESSIA

        Quem ia na balsa
        que, naquela noite,
        atravessou o rio?
        Vestida de preto,
        era a própria Morte
        morta de frio.



  NOITE DE DOMINGO

 
Acabou-se a festa.
  Resta, no silêncio,
  o rumor da floresta.


          

      UM INIMIGO SUPÉRFLUO

                Era um poeta
                Muito conciso

                 ---------------

                Só e sumário
                agora o esconde
                o excesso póstumo
                de um epitáfio.

 

*

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Página publicada em junho de 2021

 


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