DÉCIO PIGNATARI
(1927-2012)
Poeta, ensaísta, ficcionista, tradutor e publicitário, nasceu na cidade paulista de Jundiaí em 1927, e formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Estréia como poeta em fevereiro de 1949 nas páginas da Revista de Novíssimos, juntamente com os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, com os quais também colaborou na Revista Brasileira de Poesia, porta-voz da geração de 45.
Em 1950 publicou seu primeiro livro, O carrossel. Em 1952, ainda com os irmãos Haroldo Campos, fundou o Grupo Noigandres, entrando em contato com os músicos e pintores do grupo Ruptura, ligado ao concretismo.
Com o Grupo Noigandres, participa da Exposição Nacional de Poesia Concreta nos museus de Arte Moderna (Mam-SP) e de Arte Contemporânea de São Paulo (Mac-Usp); publica artigos teóricos no "Suplemento Dominical" do Jornal do Brasil.
Em 1958 assina o Plano-Piloto para poesia concreta.
Torna-se professor de Teoria Literária no curso de pós-graduação da PUC-SP; doutora-se, em 1973, sob orientação de Antonio Candido.
Escreveu obras teóricas como Semiótica e literatura e reuniu seus poemas em Poesia, pois é, poesia.
Fonte: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/biografias/Decio_Pignatari.asp
"Décio Pignatari escreve com lucidez e objetividade, como o texto sintético mas abrangente de "Comunicação Poética"(1977), ele é verbivocovisual, enquanto outros autores -- verborrágicos -- escrevem muito sobre pouca coisa, ou seja, criam texto prolixo, isso mesmo: pro lixo!" ANTONIO MIRANDA
“Não sou eu quem escreve,
mas sim o que escrevo.”
DÉCIO PIGNATARI , “Eu-poema” 1951
Veja também: POESIA CONCRETA de Décio Pignatari
Veja também: NOVA POESIA: CONCRETA /1956 / por DECIO PIGNATARI
Veja o ensaio: SOBRE O HAIKAI -por DECIO PIGNATARI – ENSAIOS
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
RUMBO A NAUSICAA
2
Dizer suave ao tempo, Lila,
é consentir que é tarde. Minha nuca
meu braço direito e o pulso de platina, nunca
os chamou assim a terra, coma em dezembro,
—não a terra
que invade as entranhas indefesas, mas aquela
cujo desterro sobre é o escoar do sangue
tão frouxo! além dos poros, em busca
de um sulco mais ferrenho, —vivos
por sortilégio do insensível, sem
mais império do que passar os dedos
por ladrilhos brancos, como
um fio de barba ou minguante de unha
dissolvidos num copo: alquimia do pranto.
O sopro e o sangue criam, não
ressuscitam. Os mortos
aborrecem chamados de esperança. As crianças
turbam a ordem. Os poetas
comovem o caos, afligem
o ventre das mulheres. E dizer
suave ao sono, é consentir: São tarde, Lila,
são muito tarde, os seios com que agora
EPITÁFIO
Décio Pignatari menino imenso e castanho com tremores
nascido sob o signo mais sincero e para e per e por e sem ternura
quem te dirá do mando que exerceram sobre os teus cabelos
os amigos rápidos as mulheres velozes e os que comem dentro do prato
Estás cansado Pignatari e teu desprezo entumesceu como uma árvore tamanha Estás cansado como uma avassalada aberta enorme porta enorme
e quando abres os braços repousas os ombros em amplos arcos de pássaros vagarosos Lento e fundo é o ar de tuas tardes nos teus poros
e dentro dele se desenredam fundos e atentos mesmo os esforços mais assíduos
e se mergulhares tua mão na água que repousa à água acrescentarás a mão e a água
Décio Pignatari menino castanho e meu como um cachorro grande
que atravessa o portão sereno inflorescendo aos poucos no jardim seu garbo
com a calma grandiosa das nuvens que se abrem lentas na tarde para envolver o ar devagar tua cabeça almeja devagar a superfície sem temores
e tuas pálpebras se inclinam aos eflúvios da sesta mundial de imensos paquidermes
que avolumam na sombra como grandes bulbos insonoros em cavernas dormidas Mansa dinastia de gestos nas ruínas dulcificando as intempéries da memória
descansa como um cortejo de crepúsculos antigos na cordilheira turva da semana
Crescente como o céu de março nas ameias das torres elevadas e redondas
e à tua própria sombra no mundo que perdeste descansa Pignatari.
(De NOIGANDRES I)
Extraído de De NOIGANDRES I: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos.
Prólogo y selección de Hilda Scarabótolo de Codima; traducción de Antonio Cisneros.
Lima: Centro de Estudos Brasileiros, 1983.
PIGNATARI, Décio. Vocogramas. São Paulo: 1985. Edição inconsútil (11 folhas soltas em folio de cartolina, em cores). 24x15,5 cm. Cada folha contém uma imagem e um fragmento de texto: A – ME – RI – CA –LA –TI – NA – LI – BER –TAD, concluindo com uma imagem com fundo azul). Edição Código / Erthos Albino de Souza (Salvador, Bahia). Lay-out e arte final Emanuel de Melo Pimenta. Impressão: Editora Dimep, São Paulo, SP. “Décio Pignatari “ Ex. bibl. Antonio Miranda
PIGNATARI, Décio. Pacote de poesia. Curitiba, PR: Paço da Liberdade – SESC PARANÁ, 2009. Envelope pardo contendo folhas soltas impressas com os poemas. Ex. bibl. Antonio Miranda
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Antonio Cisneros
RUMBO A NAUSICAA
2
Llamar suave al tiempo, Lila,
es consentir que es tarde. Mi nuca
mi brazo derecho y el pulso de platina, nunca
las llamó así la tierra, como en diciembre -no
la tierra
que invade las entrañas indefensas, sino
aquella
cuyo destierro sobre es el flujo de la sangre
¡tan floja! allende los poros, en pos
de algún surco más férreo -vivos
por sortilegio de lo insensible, sin más
imperio que pasar los dedos
por ladrillos blancos, como
un hilo de barba o menguante de uña
disueltos en un vaso: alquimia del llanto.
El soplo y la sangre crean, no
resucitan. Los muertos
aborrecen los llamados de esperanza. Los niños
turban el ordeno Los poetas
conmueven el caos, afligen
el vientre de las mujeres. Y decir
suave al sueno, es consentir: Tarde tus senos, Lila,
son muy tarde, los senos con que ahora
EPITAFIO
Decio Pignatari niño inmenso y castaño con temblores
nacido bajo el signo más sincero y para y per y por y sin ternura
quién te dirá del dominio sobre tus cabellos de los amigos rápidos y las veloces mujeres
y los que comen de tu plato
Estás cansado Pignatari y tu desprecio se hinchó como un árbol tremendo
Estás cansado como avasallada enorme puerta abierta y al abrir de tus brazos reposas
los hombros en amplios arcos de pájaros vagarosos
Lento y hondo es el aire de tus tardes en tus poros
y en él se desenredan hondos y atentos hasta los esfuerzos más asiduos
y si sumerges tu mano en el agua tranquila al agua añadirás la mano y el agua
Decio Pignatari niño castaño y mío como un perro grande
que cruza el portón sereno a pocos floreciendo en el jardín su garbo
con la calma grandiosa de las nubes que en la tarde se abren lentas para envolver el aire
despacio tu cabeza desea despacio la superficie sin temores
y tus párpados se inclinan al efluvio de la siesta mundial de inmensos paquidermos que abultan
en la sombra como grandes bulbos insonoros en cavernas dormidas
Mansa dinastía de gestos en las minas duLcificando las intemperies de la
memoria
descansa cual cortejo de crepúsculos antiguos en la turbia cordillera de la
semana
Creciente como el cielo de marzo en las almenas de las torres elevadas y
redondas
y a tu propia sombra en el mundo que perdiste descansa Pignatari.
Extraído de De NOIGANDRES I: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos.
Prólogo y selección de Hilda Scarabótolo de Codima; traducción de Antonio Cisneros.
Lima: Centro de Estudos Brasileiros, 1983.
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