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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

nova

 poesia:

concreta

[1956]

Décio Pignatari

 

o verso: crise, obriga o leitor de manchetes (simultaneidade) a uma atitude postiça, não consegue libertar-se dos liames lógicos da linguagem: ao tentar fazê-lo, discursa adjetivos. não dá mais conta do espaço como condição de uma nova realidade rítmica, utilizando-o apenas como veículo passivo, lombar, e não como elemento relacional de estrutura, antieconômico, não se concentra, não se comunica rapidamente, destruiu-se na dialética da necessidade e do uso históricos, esse é apenas o golpe de misericórdia da consciência crítica: o primeiro já foi dado, de fato, por mallarmé, 60 anos atrás - § un coup de dés§.

américa do sul  améríca do sol américa   do   sal

oswald de andrade

uma arte geral da linguagem, propaganda, imprensa, rádio, televisão, cinema, uma arte popular.

a importância do olho na comunicação mais rápida: desde os anúncios luminosos até as histórias em quadrinhos, a necessidade do movimento, a estrutura dinâmica, o ideograma como idéia básica.

esto visibile parlare, novello a noi perche qui non si trova.

dante, purg., x, 95

contra a poesia de expressão, subjetiva. por uma poesia de criação, objetiva. concreta, substantiva, a idéia dos inventores, de ezra pound.

o livro de ideogramas como um objeto poético, produto industrial de consumação, feito à máquina, a colaboração das artes visuais, artes gráficas, tipográficas, a série dodecafônica (anton webern) e a música eletrônica (boulez, stockhausen). o cinema, pontos de referência.

a rose is a rose is a rose is a rose

gertrude stein

com a revolução industrial, a palavra começou a descolar-se do objeto a que se referia, alienou-se, tornou-se objeto qualitativamente diferente, quis ser a palavra § flor § sem a flor. e desintegrou-se ela mesma, atomizou-se (joyce, cummings). a poesia concreta realiza a síntese crítica, isomórfica: § jarro § é a palavra jarro e também jarro mesmo enquanto conteúdo, isto é, enquanto objeto designado, a palavra jarro é a coisa da coisa, o jarro do jarro, como § la mer dans la mer§. isomorfismo.

o elevador subiu aos céus, ao nono andar, o elevador desce ao subsolo, termómetro das ambições, o açúcar sobe.
o café sobe.

os fazendeiros vêm do lar.

mário de andrade

a poesia concreta acaba com o símbolo, o mito. com o mistério, o mais lúcido trabalho intelectual para a intuição mais clara, acabar com as alusões, com os formalismos nirvânicos da poesia pura. a beleza ativa, não para a contemplação, para nutrir o impulso, pound. no máximo: ser raro e claro, como disse o último fernando pessoa, criar problemas justos e resolvê-los em termos de linguagem sensível.

o olhouvido ouvê.

tática: joyce, cummings, apollinaire (como visão, não como realização),

morgenstern, kurt schwitters. estratégia: mallarmé, pound

(junto com fenollosa, o ideograma).

             parean 1'occhiaie anella sanza gemme:
             chi nel viso delli uomini legge OMO
             ben avria quivi conosciuta l'emme.

                                                        dante, purg., xxiii, 31

             o oco dos olhos como anel sem gema:
             quem julga ler, no rosto humano, OMO
             aqui veria facilmente o eme.

a técnica de manchetes e §un coup de dés§. calder e §un coup de dés§. mondrian, a arquitetura, e joão cabral de melo neto. joyce e o cinema, eisenstein e o ideograma, cummings e paul klee. webern e augusto de campos, a psicologia da gestalt.

§o pensamento poético é essencialmente figurado, ele nos põe sob os olhos não a essência abstrata dos objetos, mas sua realidade concreta.§ hegel.

ideograma crítico nacional:

(títulos de livros         praia oculta

de poemas publi-        claro enigma

cados nos últimos       narciso cego

seis anos)                  a obscura efígie

o poema forma e conteúdo de si mesmo, o poema é. a idéia-emoção é parte integrante da forma, vice-versa. ritmo: força relacional.

renunciando à disputa do absoluto, ficamos no campo magnético do relativo perene, a eronomicrometragem do acaso, o controle, a cibernética, a escolha simplesmente humana de uma palavra, ponto-evento. o fim do claro-escuro, dos botões da sensibilidade apertados na penumbra, o ideograma regulando-se a si mesmo, feedback, produzindo novas emoções e novo conhecimento.

nádegas de cristal, órrosa. o jargão lírico do pós-guerra. vegetativo, reacionário. joão cabral não fez outra coisa senão combater, didático, lúcido,

todas as fluidas
flores da pressa;
todas as úmidas
 flores do sonho.

fundar uma tradição do rigor, volpi. para que o artista brasileiro não decaia depois dos 40. a presente exposição: quase didática. transição do verso ao ideograma.

 

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Publicado originalmente na revista ad arquitetura e decoração, número 20. São Paulo, novembro/dezembro de 1956; republicado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 de maio de 1957.

 

Texto extraído do livro

poesia concreta  o projeto verbivocovisual.   / organização João Bandira – Lenora de
            Barros /  São Paulo: Artemeios, 2008.   256 p. ilus. col.   23x30 cm. Patrocinio: PETROBRAS.
            Inclui um CD.  Apoio Ministerio da Cultura. 


 

 

 
 
 
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