ANA MARIA CARNEIRO BERNARDELLI
Natural do estado de São Paulo, reside em Campo Grande-MS. Graduada em Letras, professora especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa. Há mais de 40 anos, atua como professora de Literatura e Produção Textual e leciona em cursos preparatórios para concursos públicos e vestibulares.
Musicista certificada pelo Centro de Artes do Rio de Janeiro. Formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. Membro da Comissão sul-mato-grossense de Folclore, ocupando o cargo de secretária.
Durante três décadas, de 1974 a 2000, exerceu o magistério desde o ensino básico até a Universidade onde priorizou o ensino de Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa. Participou de diversos congressos de educação e sempre deu ênfase à valorização da Leitura e da Escrita, o que se tornou sua marca no meio educacional. Nessa época, teve significativa atuação no Sistema Anglo de Ensino com a criação do Jornal NEWS TEEN, produção mensal dos alunos do último ano do Ensino Médio. Sempre ligada à Educação, recebeu o prêmio no Instituto de Educação Caetano de Campos, SP, em nível estadual, com artigo acerca da atuação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Desenvolveu intenso trabalho de Assessoria e Consultoria em Língua Portuguesa tanto no setor privado quanto no público, em São Paulo e em diversas escolas de Campo Grande/MS. Em 1996, foi a organizadora de evento literário no Shopping Campo Grande, promovido pelo Colégio Dr. Mario Fagundes, sob a direção da professora Cirani Fagundes. O evento fez uma homenagem a Monteiro Lobato, reconstruindo o sítio do Pica pau Amarelo com todos os personagens. Teve a parceria do Sesc, Nestlé, Coca Cola e da Editora dos livros de Lobato, perfazendo um público de mais de 5000 crianças em quatro dias de apresentação que envolvia música instrumental, coral, solos, dança e performances baseadas na obra de Monteiro Lobato. Publicou em 2014 a coletânea de poemas Emoções gota a gota, uma obra intertextual: poesia, pintura e música.
Em 2016, com o poeta Fábio Gondim, criou a parceria Bernardelli & Gondim – Projetos Literários, responsável pelo lançamento de Antologias em prosa e verso em prol da divulgação da literatura do MS. Em 2017, publicou 101 Reinvenções, uma Antologia de 101 poetas do Mato Grosso do sul, com poemas inspirados na poética de Manoel de Barros. Em 2018 foi a vez de Prosas e Segredos da Morena, uma coletânea de contos baseados na cidade de Campo Grande MS e de 101 Reinvençõezinhas - antologia de poemas infantis, produzidos pelos alunos da Escola Espaço Livre, sob a direção da educadora Rosana Trad. Em 2019 publicou a coletânea ERA UMA VEZ – Histórias Infantis em prosa e verso. História contadas por 44 autores do MS. Tradutora e, em 2018, teve sua candidatura efetivada a vice-governadora pelo Partido Verde (PV).
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AINDA SOBRE CRÍTICA LITERÁRIA, por Ana Maria Bernardelli - EDITORIAL
1. Da violência humana
Os companheiros lavam as mãos sujas de sangue
Próximos às torres das imensas catedrais
Ouvem, silentes, gritos e lamentos
Os ais na garganta reprimidos
Já não os atormenta a lívida dor
O som da batalha é estranha melodia
O sal das lágrimas rega irônico
As flores vermelhas do altivo horror
As trincheiras, quietas,
Aguardam
Da vida e morte
O limbo
Desolador.
2. Da nostalgia
Uma casinha de madeira alva
Num campo de plantas tímidas
Um poço, uma horta
Rodeada de acanhado balaústre
Um pomar, um caminho
E o labirinto de montanhas
A barrar o horizonte...
3. Dos labirintos
O arame farpado dividia
A planície
Uma quase-prisão
Uma quase-euforia
A fenda da montanha
Esqueceu o caminho
A fruta ficou no pé
As pegadas, sepultas na poeira
Talvez
Quando um dia
As letras significarem
E a ferrugem
Corroer a corrente
A vereda se abra...
Ou se bifurque.
4. Das utopias
Não mais o padecimento
Nem masmorras, nem calabouços
A tristeza da ignorância
Não mais
Exílios, cisão, fronteiras
Discórdia, fração!
Não mais
O partível tronou-se uno
O tirano, benigno
A adversidade, prostrada
A destruição, vencida
O vento trouxe a notícia:
O mundo voltou às origens.
5. Das angústias e das súplicas
Não te escondas!
Tua presença me é bálsamo
Conforto, essência
Consolação
Suplico teus sinais
Tal qual o discípulo
Não te ausentes!
Sou fraco, humano
As incertezas me povoam
A alma
Peregrino, não acolho
A vida
Nem me compadeço
Das borboletas
Incautas
Não te afastes!
Sou ridículo
Indigno
A imperfeição me consome
A escuridão é minha luz
A cicatriz da dor
Rouba meu rosto.
Acolha-me!
6. Das preces
Aqui, prostrado,
deposito todos os meus devaneios
as minhas ingênuas fantasias
os meus encantamentos.
Do mais alto farol
vejo o círculo do horizonte
que me aprisiona
Nada mais desejo
sou afeito a extensões
mais profundas,
quero só o dízimo
das utopias!
7. Do esquecimento
O dia fora infeliz
O sol escaldante demorou a se pôr
Não se viam pássaros, as flores esturricadas eram...
Meu Deus, queria não estar ali!
Todos pareciam tão felizes!
Não me lembrei de bem que me tivesse visitado.
Acabrunhava-me sentir-me assim
Tão dolorido, tão pequeno, tão nada.
Alonguei o olhar e avistei o ocaso, enfim.
Achei melhor esquecer aquele dia.
8. Das palavras
As palavras transformam pedras em cinzas.
E como punhais, enfartam corações.
Dificultam emoções
Caminham majestosas
Pelas ruas e pelas luas
A distribuir mentiras piedosas.
Há quem delas vive
O poeta, por exemplo.
O contador de histórias
O acusador e o réu
O amante alvissareiro
E o tolo bajulador.
Ah! As palavras!
Quanto já falaram e falam de ti!
Mesmo assim ainda tens poeira
Poeira atravancando as verdades
As verdades a espalhar enganos
E os enganos, quimeras!
9. Apuração
Por muito tempo, passeei pelo mundo
Diziam-me ser um jardim
Para mim, era um
vasto quintal
de muros cercado inteiro
Tentei mudar os limites
O cruel concreto recuar
Para desespero de uns
E fugaz gozo de outrem
Tanto fiz, tanto somei
Tanto dividi, tanto recrutei
...
Um dia veio em que nada me sobrou
O relógio apurado pelo tempo
Na afinação da eternidade
Marcou o horário do infinito.
10. Deslumbramento
Nascem-me lágrimas
Sempre que olho para o céu.
Observar estrelas
Nascidas no firmamento
E mergulhadas nas ondas
Acompanhar o diário destino do sol
Vê-lo cair de cansaço
Aguardar a pureza da madrugada
Sentir a dança do vento a balançar as folhas
Num frenesi quase infantil
Rodopiando, rodopiando...
Dizer adeus à lua
Aconchegar-se em camas de areia
Olhar o mundo do topo das montanhas
Acarinhar as flores, provar seus espinhos
Seguir a trilha das formigas
Mergulhar, mergulhar só
Não é poesia.
É conversa com Deus.
Em audiência privada.
Página publicada em novembro de 2019
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