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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARCUS ACCIOLY


Marcus Accioly na Fliporto 2009 /
Foto Nildo Barbosa Moreira


MARCUS ACCIOLY

 

 

 

Marcus Moraes Accioly nasceu no Engenho Laureano, município de Aliança, Pernambuco, a 21 de janeiro de 1943.

Formou-se em Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, concluído em 1969. Tem o curso de mestrado em Letras, da Universidade Federal de Pernambuco (1980).

Foi vice-presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), seção Pernambuco e professor de Teoria Literária e Literatura Brasileira da Universidade Federal de Pernambuco.

 

Obra:  Cancioneiro (1968); Nordestinados – poemas-canção (1971); Xilografia (1974) ; Sísifo (1976); Poética (1977); Ó(de)Itabira (1980); Narciso (1984);

Íxion (1986); Guriatã (1986); Para(ti)nação (1986); Poética-Popular ; Érato

Latinoamérica; Louvação & Incelença; O Exílio da Canção.  

Trata-se dum domador de palavras, dum fascinado de todos os jogos que a boa Retórica, antiga e moderna, oferece aos artífices do encantamento por meio da expressão verbal. Marcus Accioly faz a coreografia de todos os ritmos, pratica as convenções e as audácias de todos os tempos.”   Fábio Lucas

Veja também: POESIA ERÓTICA de Marcus Accioly

Veja também: POESIA INFANTIL - CORDEL

Leia também:

UM VENTRÍLOQUO COMENTA A POESIA OCIDENTAL — SÍSIFO, DE MARCUS ACCIOLY, por AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA

 


De

Ó(DE)ITABIRA

Rio de Janeiro: Livraria José Olimpio Editora/ INL, 1980.

 

 

VI

 

Ergui tua Torres

para o nunca mais:

pedra sobre pedra

(pedras e metais)

jaspe / lápis-lázuli

quartzos / cristais

         ó

água-marinha

pérolas / corais

         ó

ônix / sardônix

ametista / ágata

topázio / turquesa

turmalina / opala

cinábrio / crisólita

safira / granada

brilhante / berilo

         ó

platina e prata

 

ergui tua Torre

para o nunca mais

 

(minas preciosas

de Minas Gerais)

 

Ouro Preto  /  ouro

pobre nos quintais

 

(galo sobre os quatro

pontos cardeais)

 

ergui tua Torre

onde não supus:

         ó

jardins-Nordeste

que o areal produz:

xiquexiques / cactos

palmas / mulungus

cipós / caatanduvas

(mar de ouriços nus)

quipá  / macambiras

(sói8s de espinhos crus)

coroas-de-frade

         e

mandacarus

 

ergui tua Torre

onde não supus

 

(espelho de pedra

que cega e reluz)

 

há um Olho acima

do teu olho-luz

 

(para o olhar redondo

desce o Olhar-em-Cruz)

 

 

VIII

 

Ninguém não vê

o Carlos invisível

que atravessa montanhas              invisível/mente

escreve em árvores

decifra esfinges

sobe nas pirâmides

escala o Empírio

desce ao fundo Tártaro

cruza desertos

constrói labirintos

voa sem asas

apaga a cor das léguas

percorre séculos

pesar grãos de areia

lava o rosto na luz

 

veste a roupa dos ventos

calça as pedras

curva as ondas do mar

mede o horizonte

roda o sol do equinócio

apressa o dia

guia estrelas e lua

inventa a noite

conversa com animais

imita os pássaros

bebe o orvalho e sereno

come flores

(ninguém não vê

o invisível Carlos)

 

ninguém não vê

o Carlos nunca visto

(pero um porteño peluquero

         sabe

do seu retrato a óleo

ainda moço)

         sabe

um carteiro

do seu domicílio

um alfaiate

das sua medidas

um vendedor-de-livros

do seu gosto

um gerente-de-Banco

do seu crédito

um moço-de-recado

do seu jeito

de mandar um bilhete

ou um poema

“na curva perigosa

                            d

                                o

 

                                      setenta

ao amor que derrapa

em dor e pétala

(ninguém não vê

o nunca visto Carlos)

 

 

X

 

Era uma vez o mundo

                            de Carlinhos

que            cresceu e está rapaz          multinfância

                 mas vive nos caminhos

                            porque

                nas rosas

          sem memória e sem fragrância~

         eppur si muove a infância

 

                   2º

 

NAQUELE ESPAÇO ANTIGO

         AGORA JÁ

TÃO DISTANTE

                   DE ITABIRA             FAZ

TANTO TEMPO                   QUE OS ESPINHOS

CRESCERAM

NO CORAÇÃO

 

                   3º

 

Era uma vez o mundo E HAVIA PAZ

NAQUELE ESPAÇO ANTIGO de Carlitos

que AGORA JÁ cresceu e está rapaz

TÃO DISTANTE mas vive nos caminhos

de pedra DE ITABIRA porque FAZ

TANTO TEMPO nas rosas QUE OS ESPINHOS

CRESCERAM sem memória e sem fragrância

NO CORAÇÃO eppur si muove  a infância.

 

 

XII

 

Aprendeste a poética dos pássaros

ou o ritmo elementar das folhas

e das ondas                                           idade

nos cabelos do tempo?                         Andrade

 

Foi preciso Itabira (a necessária

infância)  o teu país de sete cores

                                      arcos-íris

                                         pavão

                                 rosa-dos-ventos

(que em tua face estava colorida)

 

cão-cavalo-carneiro-cabra

                                      e boi

aparando o capim à flor da água

ou ruminando o sono em pedra-viva

 

foi preciso o passado (o embuá

com mil pernas de anos

ou a serpente

arrastando na língua

o pó da idade)

 

foi preciso a esperança-fazendeira

onde o espelho do rio

(a sombra-imagem

dos avós e dos pais

era o teu rosto)

 

 

 

Há um peixe

que diz teu nome

Carlos                             nomenágua

na guelra trespassada

e pronuncia

o silêncio de sílabas

dos rios

e o ruído de números

nas pedras

 

existe um tronco

escrito

com teu nome

rolando ao lodo-verde

do oceano

e imprimindo na espuma

as suas bolhas

de ar e luz

suspensas pela água.

 

 

ACCIOLY, Marcus. Xilografia.  Poesia de Marcus Accioly. Gravada por José Costa Leite.   Recife, PE: CEPE – Companhia Editora de Pernambuco,1974.  s.p.   32,5x20,5 cm.  Apresentação de Ariano Suassuna.  Capa de Geber Accioly.  “ Marcus Accioly “ Ex. bibl. Antonio Miranda. 



 

 

POESIA ERÓTICA

 

 

SAVARY, Olga, org. Carne viva1ª antologia brasileira de poemas eróticos.  Rio de           Janeiro: Editora Anima, 1984,  348 p.  14x21 cm.  Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20.  Col. A.M.

 

 


auparishtaka

      
A noite se penteia com dois pentes
(o sono e o sonho) e eu penso no teu sexo
tentando aproximá-la com mil lentes
o apalpá-lo às vezes feito um cego

       (que seios nus acendem luas doidas
de cães obstinados por mordê-las?)
decerto eu comeria as nuvens todas
e beberia o álcool das estrelas

       na máquina do espaço (tanjo os dedos
na cabeleira cósmica) sonâmbulo
seu te penetro a carne onde os segredos

       (da boca ao ventre e da cintura às nádegas)
mas gozo dentro do meu próprio escândalo
descendo as mãos até a raiz das águas

 

       2º.

 

       onde tu não estás? (sempre te vejo
como um bicho no cio ou feito um pássaro
na gaiola de vidro atrás do espelho)

       onde tu não estás? (em tudo é dentro
se me afasto do tempo estás no espaço
(porque sais dos lugares onde eu entro

       para em mim te encontrares sempre) às vezes
eu atravesso a sombra do teu rosto
como quem cruza um túnel (mexo as fezes
que entre nós dois o coração tem posto)

       porém é farta de pecado e suja
que te quero à lembrança que te ama
(que porco eu sou fuçando a tua vulva
cheirando a peixe sobre o mar da cama?

  

 

       coito in / ver / tido

 

       Sobre duzentas almofadas postas
em seu colchão (já livre de mil panos)
o amor se deita e (sobre mim) de costas
deixa que eu tente possuir seu anus

       (vou penetrando devagar) molhado
está meu pênis de saliva) desço
pelo avesso da carne) do outro lado
(a dois dedos da vulva) eu reconheço

       que aquela região (o amor suporta
a dor do seu prazer) estava in tata
e (violento) arrombo a sua porta

       como se um bárbaro (se fosse
no seu corpo um aríete) !ó mata-
me” (diz o amor) “que o gozo dói de doce”

      

       2º.

 

       por detrás o prazer é diferente
do gozo pela frente (e pela boca
e nas mãos e nas) toda a carne é pouca

       para tanto desejo (pela frente
o amor ao próprio amor se satisfaz)
mas é diverso o coito por detrás

       de fêmea (é como os animais copulam)
existe um cio por detrás (um jeito
de puxar os cabelos quando ondulam
como crinas) e o gozo insatisfeito

       precisa de mais gozo para ser
em sua plenitude e goza mais
(se uma só vez o amor acontecer
é preciso que seja por detrás)


 

       templo de kandarya ou maquiné

 

       A lembrança da carne me faz homem
na noite sem ninguém (eu telefono
para os fantasmas) meu amor tem fome
e sede (sonho que antecede ao sono)

       Leio Vatsyayana (Os Kama Sutra)
se a luz divide a sombra em quatro partes
o teu corpo é a quinta (ó imagem ultra-
violeta) e mais cinquenta e nove artes

       do Manual hindu (ó aforismos
sobre o meu coração) sobre o teu ventre
poreja o ar gelado (ó gota entre

       a gruta que se funde em seus abismos)
água entre o espaço e o tempo (entre os limites
do meu desejo) as estalactites

 

       2º.

 

       (agulhas em silêncio) pedra curva
retida pela abóboda (teus dedos
são ausentes de mim feito uma chuva

       suspensa) como o céu debruça estrelas
(de quartzo) desprendes teus cabelos
(cortinado de terras) sobre as temas

       dos teus seios (penetro os doze dígitos
da câmara profunda e salitrosa)
templo de Kandarya (ó edifício
de lábios e de pétalas) a rosa

       da Lapa (descoberta com seus fósseis)
eis a cor dos cristais em que te despes
e gozas na parede qual se fosses
pintada em teu prazer (poses rupestres)
 

[mais poemas no livro...]

 

ACCIOLY, Marcus.   Nordestinados. 3ª edRio de Janeiro: José Olympio Editora; Recife: FUNDARTE, 1986.  226 p. ilus.  13,5x21 cm.  ISBN 85-03-00068-7  Capa: Jair Pinto sobre pintura de Georia O´Keeffe. Xilogravuras de Aluizio Braga. Projeto gráfico de Sylvia Dubeux.  “Prêmio Recife de Humanidades 1972”,  Col. A.M. Edição comercial ilustrada, bem cu’idada.    Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

O Sertão
 

A — O Sertão principia
Depois que acaba a terra,
Ou, sendo mais exato,
Onde começa a peda.

E segue o Sertão-Alto;
Pajeú, Moxotó,
Onde termina o mundo
E então começa o sol.

Ou desce o Sertão-Baixo
Do Rio São Francisco,
Que ostenta uma paisagem
De pássaros e bichos.

Embora o tempo durma
Os sonos da estiagem,
Nas curtas invernadas
O verde abre a folhagem.

       E quando as águas descem
Das cabeceiras curvas,
A pedra ressuscita
Lavrada pelas chuvas.

 

A Caatinga
 

T — Há mais diversidade
Entre a Caatinga e o Agreste
Do que entre a Caatinga
E o Sertão do Nordeste.

Mas essa diferença
Se faz menor ainda
Por ser, Sertão e Agreste,
A zona das Caatingas.

Daí não se distingue
A subdivisão
Que vai arei-Agreste
À  pedra do Sertão.

O trecho que é chamado
Caatinga propriamente;
A faixa dos desertos
Ou praias permanentes.

As praias que se estendem
Por toda a região
Que um dia será mar,
E o mar será Sertão.

 

O Agreste
 

E  — O Agreste se inicia
Onde a Mata termina;
Não por haver fronteiras,
Mas por mudar o clima.

As suas regiões
Se espalham mais avulsas
Doo céu da Borborema
Aos chapadões das Russas.

Com dupla atividade;
Plantio e criação,
Possui um sol mais pássaro
Aceso em seu verão.

Enquanto o agave, o milho,
A palma para o gado,
Divide o Agreste em sítios,
Fazendas e roçados;

Nos antilatifúndios
Das divisões rurais,
Divide o Agreste em sítios,
Fazendas e roçados;

Nos antilatifúndios
Das divisões rurais,
Se plantam, em canteiros,
As flores cereais.

      
A Mata-Seca

R —
Quem vem da Paraíba
Rumo-Capibaribe,
Encontra a Mata-Seca
Em duas se divide;

Os vestígios da mata
Cobrindo as cocurutas,
E o reflorestamento
Dos engenhos de açúcar.

Além de uma paisagem
Demais canavieira;
Capelas, casas-grandes,
Cercados , cambiteiras,

Bagaços sob o sol,
Carros-de-boi cantando,
E as chaminés mais altas
De usinas safrejando.

Quando, de março a agosto,
Na Mata-Seca inverna,
Já se espera, em setembro,
Verão na primavera.

 

A Mata-Úmida

R — Possui a Mata-Umida
Um chão canavieira
Que é do Capibaribe
Até chegar Barreiros.

       As árvores mais altas
Procuram recolher
As chuvas que transformam
A terra em massapê.

Max desde o Ipojuca
Às regiões fronteiras,
Se explora, além das canas,
O ciclo das madeiras.

E enquanto em  São Francisco
Vão derrubando as matas,
No Cabo se apresentam
Destilarias, fábricas,

E caminhos de açúcar
De Catende e Trapiche,
Que invadem, como os mangues,
O asfalto do Recife.

 

O Litoral 

A — O Litoral se estende
Dos altos Tabuleiros
Ás praias arenosas
Ornadas de coqueiros;

Ou, de Pontas de Pdra
À beira-mar de Olinda,
Cruzando uma paisagem
De frutas e salinas.

E segue, ao Sul da orla,
Gaibu, Tamandaré
Puiraçu, que chamam
Praia de São José.

Quem desce para o encontro
Das chuvas do caju,
Avista, pelo Norte,
A velha Igarassu;

E as velas afastando
Lá de Itamaracá,
Os homens que nasceram
De frente para o mar.

 

ACCIOLY, Marcus.  Érato: 69 poemas eróticos e uma ode ao vinho. Rio de Janeiro:  José Olympio, 1990.  107 p. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

Eu sou o lobo-branco de mim mesmo
(e não a ovelha-negra) eu sou um antro
sem saída de mim (ó minha antro-
pologia de dor) eu sou meu ermo
e meu termo e meu erro (eu sou aquele
que já fui e serei) eu não sou eu
nem sou outro (senão o que viveu
com ar e água e terra e fogo à pele)
sendo tão só eu nunca fui sozinho
10    (avistando meu rosto sobre as águas
me vi dentro de mim) são sem caminho
os mus pés (minha boca fala pelas
mudos) e (furados pelas lágrimas)
meus olhos brilham cegos das estrelas.

É 

         eu (lobo branco de mim mesmo) bicho
que se autodevora em seu ofício
de ser ou de não ser (eis a canção)
cantei a terra e a guerra (sou o homem
que na areia assinou o próprio nome
20    mas o mar o afogou com a solidão)
não sei quem sou (talvez esteja) penso
que nasci (pois respiro com tal fôlego
que a minha voz é grito no silêncio)
um dia eu me darei comigo morto
e não será tão tarde (a fé eu tenho
que remove palavra) o amor eu sei
que move sol e lua (ó arte e engenho)
eu sou o anjo contra o qual lutei

 

                               R

 

       Nasci no aceiro dos canaviais
30    quando (em lugar do sol) a lua a pino
(in)fluiu sobre o mês de meu destino
como nos cães e loucos (meus iguais)
para as margens do mar eu fui menino
e respirei o fôlego das águas
que (s em meus olhos rebentaram lágrimas
o
na minha boca borbulharam )h_in

                                                    U
sitiadas ondas (vim para a cidade
na adolescência)_ ó carne camponesa
(ó alma litorânea) onde a beleza
40    é vera & onde bela é a verdade
(morri com minha mãe e meus avós
ós
mas ressuscitarei do tempo em  v—)
oz

 

*

 

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/pernambuco/pernambuco.html

 

Página publicada em setembro de 2021

 

 

 

 

Publicado em fevereiro de 2008; Página ampliada em junho de 2020

 


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