POESIA INFANTIL / INFANTO-JUVENIL
                     
                    
                    De 
                    Marcus Accioly 
                                                              GURIATÃ  
                                                              UM CORDEL PARA MENINO 
                                         
                    Existem várias edições  desta obra de Marcos Accioly, e mais edições deveriam estar disponíveis porque  é uma livro para jovens e adultos, que mereceu prêmios e é bom de ler em  silêncio e em voz alta!!! Marcus é um dos maiores poetas pernambucanos e não é  pouco pois Pernambuco é um celeiro de poetas, como se sabe, com nomes tão  consagrados como Ascenso Ferreira, João Cabral de Melo Neto e Manuel  Bandeira!!! Aqui vão dois fragmentos do livro. Mas deve ser livro inteirinho...  Se não estiver na biblioteca de sua escola, ou na biblioteca pública de sua  cidade, talvez exista na livraria ou em sebos, onde se vende livro usado...  Vale a pena conferir!!! 
                      
                    XXXII 
                      
                    do  trem-de-ferro 
                    Quem  grita na noite? 
                             
                      Não vejo ninguém, 
  é o eco do grito 
                      do apito do trem, 
  é a boca-da-noite 
                      que grita também, 
  é o eco do eco 
                      que ecoa no além. 
   
                      Quem grita na noite? 
   
                      Não vejo ninguém, 
  é o grito da ponte 
                      debaixo do trem, 
  é o vento que chora 
                      por morte de alguém, 
  é o coro das almas 
                      que dizem amém.  
   
                      Quem grita na noite? 
   
                      Não vejo ninguém, 
  é a boca-do-túnel 
                      na frente do trem, 
  é o grito sem grito 
                      de um eco que vem 
                      dos montes que aos montes 
                      ecoam mais cem. 
   
                      Quem  grita na noite? 
   
                      Não vejo ninguém, 
  é o sonho-barulho 
                      das rodas do trem, 
  é a luz de uma estrela 
                      que tange belém 
                      no sino-silêncio 
                      que a noite não tem. 
   
                      Quem grita na noite? 
   
                      Não grita ninguém, 
  é o trem dos fantasmas 
                      nos trilhos sem trem, 
  é a voz dos dormentes 
                      que às vezes contém 
                      o grito da vida 
                    que a morte detém. 
                     
                     
                     
                      LXIX 
                     
  — A ILha é bela 
                      dela eu fui filha 
                      trilha por trilha 
                      trilhei por ela 
                      quando era aquela 
                      espiga-de-ouro 
                      que o vento louro 
                      me havia as queixas 
                      entre as bochechas 
                      feito um besouro. 
                     
                      Fui sem partir 
                      vim sem voltar 
                      (neste lugar 
                      ficar é ir) 
                      pude seguir 
                      graças à brisa 
                      que aqui desliza 
                      e às cabras-cegas 
                      curva as bonecas 
                      penteia e alisa. 
                     
                      Do Sul ao Norte 
                      Oeste a Leste 
                      a Ilha veste 
                      sua cor forte 
                      de um verde corte 
                      dágua do mar 
                      e sobre o ar 
                      pesa um céu nu 
                      que é tão azul 
                      de se chorar. 
                     
                      Além das canas 
                      seus altos mastros 
                      tocam nos astros 
                      que têm pestanas 
                      crescem lianas 
                      da terra aos sóis 
                      e entre cipós 
                      sobem os pensos 
                      jardins suspensos 
                      de girassóis. 
                     
                      O tempo gira 
                      pelo contrário 
                      (ai, mundo-vário 
                      ai, mundo-vira) 
                      nada é mentira 
                      tudo é verdade 
                      quando é de tarde 
                      o galo canta 
                      e o sol levanta 
                      com a claridade. 
                     
                      Mas quanto ao Bicho 
                      que dizer dele? 
  — Sou eu ou ele 
                      encolho ou espicho 
                      no meu capricho 
                      meio-animal. 
  — Ele é fatal 
                      mas nesta Ilha 
                      toda a luz brilha 
                  contra o seu mal.
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