Alice Ruiz (Curitiba, 22 de janeiro de 1946) é uma poetisa e escritora brasileira. Começou a escrever na adolescência, mas durante muitos anos divulgou seus poemas apenas em revistas e jornais. Publicou seu primeiro livro aos 34 anos de idade. Foi casada com o também poeta Paulo Leminski, com quem teve três filhos: Miguel Ângelo Leminski, Áurea Alice Leminski e Estrela Ruiz Leminski. Fonte: Wikipedia
Obras publicadas: Navalhanaliga (1980) ; Paixão Xama Paixão (1983); Pelos Pêlos (1984); Hai-tropikai (1985); Rimagens (1985); Nuvem Feliz (1986); Vice Versos (1988) ; Desorientais (1996) ; Haikais (1998) ; Poesia Pra Tocar no Rádio (1999) e Yuuka (2004).
Conheci Alice Ruiiz durante o I Festival de Poesia de Goyaz, em 2006, onde travamos uma breve conversação, em clima de congraçamento e tietagem. Fiquei de publicar uma página da autora, consagrando a admiração por seu trabalho. O trabalho de Alice está por toda parte, há muito tempo, circulando por livrarias, bibliotrecas, coleções particulares, saraus e performances, celebrando a popularidade da grande artista. Aqui apenas um registro e um convite para visitar o sitio oficial, para um aprofundamento em sua vasta obra que, além de livros, incluii traduções, parcerias musiciais e tudo o mais. Site oficial: http://www.aliceruiz.mpbnet.com.br/
O poeta Alice Ruiz, oferecendo uma oficina de hai-kai durante a I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA ( de 3 a 7 de setembro de 2008 )
Alice Ruiz (Desorientais. São Paulo: Iluminuras, 1996), aqui, desenha uma cena que divide ao meio a noite, a lua e as perspectivas. A cena nos leva a ver (e pensar) como se fôssemos o que deveras somos: não menos do que dois, isto é, não menos do que eu e outro, ou seja, apenas, sombra de nós mesmos.
RUIZ S., Alice.Outro silêncio haicais. São Paulo, SP: Boa Companhia, 2015. 95 p.
14X21 cm. “ Alice Ruiz S. “ Ex. bibl. Antonio Miranda
o que é aquilo?
coquinhos aos quilos?
almoço de esquilos
chuva de verão
o pássaro no telhado
olha e não molha
um trovão pergunta
outro ao longe responde
pingos nos is
gota de suor
rola pelo rosto
lágrima sem dor
lado a lado
as árvores se olham
e se desfolham
sonho de viagem
não sei se durmo
ou olho a paisagem
De Alice Ruiz PROESIAS
Ilustrações Xiloceasa
[Belo Horizonte]: Tipografia Acaia, 2010
108 p. ilus. col.
"ALICE RUIZ é conhecida e reconhecida por seus livros de haikai. Agora nos brinda com um de "proesias". Sai da linguagem extremamente compacta e minimalista — com que nos acostumou —, para os textos curtos, poéticos, reflexivos, mas também criativos, densos, tensos. Escritura de desdobramentos, ideia-puxa-ideia, entre lírico e filosófico, versilivremente, discurso sem narrativa, sugerindo mais do que dizendo, escrevendo sem descrever. Proesofia, proesia." ANTONIO MIRANDA
Á magia da folha em branco consiste em deixá-la aberta, à espreita,
sempre ao alcance dos olhos. Ela nos olha e chama.
Inflexível em seu chamado e maleável aos nossos achados.
Qualquer que seja. Uma ideia, um verso. Um sonho.
Tudo cabe nela. Nenhum limite nos coloca a não ser o seu
branco imaculado.
Sem palavras esse branco nos seduz a preenchê-lo.
Falta que se desfaz em apelo. E, ainda, em silêncio, esse mesmo
branco, (vazio que se faz da soma de todas as cores/coisas)
nos desafia com sua beleza, sua plenitude indefesa,
sua incomensurável certeza, a encontrar uma palavra que seja igual ou,
ao menos, próxima da grandeza desse branco, abismo visto do
lado do avesso.
Técnica significado. Assim na arte, como na vida.
A forma exterior o interior, o invisível através do visível.
Poesia como um sorriso. Universal.
Palavra, ideia, pensamento, sonho.
Qualquer coisa capaz de sua luz.
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HAIKAIS
mar bravio
a cada onda
novo silêncio
diante do mar
três poetas
e nenhum verso
manhã de outono
o verde do mar
também amarela
sinal fechado
o menino atravessa
escrevendo versos
contra o prédio cinza
uma só flor
e todas as cores
procurando a lua
encontro o sol
mas já de partida
põr-do-sol
em torno dele
todos os cinzas
começo de outono
cheia de si
a primeira lua
som alto
vento na varanda
a samambaia samba
trânsito parado
os mesmos olhares
e ninguém se olha
último raio de sol
primeiro da lua
outono nascendo
cerimônia do chá
três convidados
e um mosquito
nuvem de mosquitos
tocando violão
silenciosamente
sob a folha ver-escura
a folha verde-clara
trêmula dissimula
RUIZ S., Alice. Jardim de Haijin. Ilustrações de Fê. [Haikais] São Paulo: Iluminuras, 2010. Ilus 16X23 cm. “ Alice Ruiz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
RUIZ S, Alice.Conversa de passarinhos. Haikais. Ilustrações: Fê. São Paulo: Iluminuras, 2008. Ilus. (Livros da tribo) 16x23 cm. “ Alice Ruiz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
basta um galhinho
e vira trapezista
o passarinho
pousados nos galhos
os pássaros balançam
música nos bambus
RUIZ S, Alice.Estação dos bichos. Ilustrações de Fê. São Paulo: Iluminuras, 2011. s.p. 16x23 cm. ilus. col. . “ Alice Ruiz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
dois galos e uma galinha
qualquer pasto
vira rinha
OUTROS POEMAS
DRUMUNDIANA
e agora maria?
o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia
e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria
Nota: Paródia do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade.
SE
se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...
De
[ dois em um]
São Paulo: Iluminuras, 2008
Tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados
tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido
e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado
*
você esqueceu?
isso acontece
só os mortos
não esquecem
*
que viagem
ficar aqui
parada
*
falta de sorte
fui me corrigir
errei
“Em geral, Ruiz emprega versos livres, que raramente ultrapassam oito sílabas. Predominam versos brancos, mas com blocos rimados e ocorrência das chamadas “rimas pobres”, isto é, com terminações em “ao” e formas verbais infinitivas, além de repetições de termos idênticos ou de mesma categoria gramatical. / Há forte presença de tercetos, que incluem índices das estações do ano, o que evidencia a preferência de Ruiz pela composição à maneira de haikai. Digo “à maneira”, pois nos seus haikais cabe a virtualidade metafórica, simbólica, e a alusão sensual, estranhas à forma tradicional. Além disso, o aspecto descritivo do haikai tradicional cede seu lugar decisivo para a agudeza verbal e as figuras de linguagem. (...) A poesia de Ruiz mescla, pois, certo racionalismo construtivo com algo de clima de “desbunde” e da poesia dita marginal, o que resulta, por vezes, num curioso feminismo de viés sedutor. (...) É isso: o verso aparece como objeto final de um desejo que, nascido no corpo, se contenta com as letras, na esperança de que sejam mágicas.” Alcir Pécora, na Folha de São Paulo 7/02/2009
De Alice Ruiz S JARDIM DE HAIJIN
Ilustrações de Fê São Paulo: Iluminuras, 2010.
(Livros da Tribo)
ilus.ISBN 978-85-7321-323-2
"Haijin é a pessoa que faz haikai. Hai de haikai mais jin de pessoa. Portanto, poeta. "
à sombra de outra
pequena árvore cresce
para onde o sol nasce
*
passeio no Ibirapuera
uma cerejeira florida
interrompe a conversa
*
jasmim do cabo
um chão todo florido
e perfumado
*
manhã de primavera
para todas as flores
dia de estreia
RUIZ, Alice. Yuuka. haicais. Porto Alegre, RS: AMEOP – Ame o Poema, 2004. 96 p. ISBN 85-98240-07-9 “ Alice Ruiz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
viola caipira
os remos dos barcos
seguem ritmo
Londrina, 99
a gaveta da alegria
já está cheia
de ficar vazia
arrumando papéis, 97
cinzeiro incesário
o espírito é o corpo
pelo contrário
00
RUIZ, Alice S.Desorientais. Hai-kais. 5ª. edição. São Paulo: Iluminuras, 2001. 125 p. 14x19 cm. Apresentação de José Miguel Wisnik. Capa: Fê. ISBN 85-7321-039-7 “ Alice Ruiz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
fim do dia
porta aberta
o sapo espia
minha casa
o sapo já sabe
entrar e sair
dentro do jardim
o dia chega mais cedo
ao fim
ATLAS Almak 88. São Paulo: 1988. 144 p. 31x43 cm. Ilus. col. Capa: Arnaldo Antunes, Zeto Borges, Zaba Mareau. Editores: Arnaldo Antunes, Beto Borges, G. Jorge Jorge, João Bandeira, Sérgio Alli, Walter Silveira, Zaba Moreau. Inclui poesia visual, arte visual e gráfica de poetas e artistas do período, entre eles Arnaldo Antunes, Duda Machado, Augusto de Cam,pos, Leon Ferrari, José Lino Grunewald, Décio Pignatari, Hélio Oiticica e muitos outros!!! Tiragem: 1500 exs. Capa dura.
FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013. Organização Ricardo Corona. Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2013. 43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil. ISBN 978-85-64029-08-8 Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem, Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger.
nació en Curitiba en 1946. Publicó Naval-hanaliga (1980), Paixão xama Paixão (1983), Pelos Pêlos (1984), Rimagens (con Leila pugnaloni, 1985), Hai Tropikai (con Paulo Leminski, 1985), Vice Versos (1988) y Desorientais (2ª Ed. 1998). También existe una antología-testimonio, Alice Ruiz, editada por la Universidade Federal do Paraná(1997). Se ha especializado en la práctica y enseñanza del haiku. También publicó una historia infantil, Nuvem Feliz, y vários libro de traducciones de poesía japonesa. Es autora de letras de canciones (con músicas de Arnaldo Antunes, Itamar Assumpção, Chico Cesar, José Miguel Wisnick, etc.)
Textos extraídos da revista TSÉ=TSÉ n. 7/8 otoño 2000
[Traducciones de R.J., revisadas por A.R.]
fora de mim
imagino na paisagem
a imagem do que fui
fuera de mí
imagino en el paisaje
la imagen de lo que fui
o som da água
na copa dos eucaliptos
vento passando
el sonido del agua
en la copa de los eucaliptos
viento pasando
ponte estreita
a mata inteira canta
o escuro passa
puente estrecho
la mata entera canta
lo oscuro pasa
no escuro das águas
uma voz clara
nada nunca pára
en lo oscuro de las águas
una voz clara
nada nunca para
borboleta na chuva
o peso da gota
ainda mais leve
mariposa en la lluvia
el peso de la gota
aun más leve
a sombra se deita
rede ao mar
sonhos de outro dia
la sombra se echa
red al mar
sueños de otro día
sono do pescador
o peixe quando salta
imita o som do mar
sueño del pescador
el pez cuando salta
imita el son del mar
entre a espuma do mar
e a nuvem toda branca
o vôo da garça
entre la espuma del mar
y la nube toda blanca
el vuelo de la garza
fim de tarde
todas as cores no céu
e a palidez do mar
fin de tarde
todos los colores en el cielo
y la palidez del mar
nuvem sobre nuvem
montanha sobre montanha
onda sobre onda
nube sobre nube
montaña sobre montaña
onda sobre onda
neve ou não neve
onde há amigos
a vida é leve
nieve o no nieve
donde hay amigos
la vida es leve
velha amiga
essa dor antiga
finjo que desconheço
viejo amigo
ese dolor antíguo
finjo desconocerlo
meu corpo que você não sabe
se abre, te recebe
e você nem percebe
mi cuerpo que tu no sabes
se abre, te recibe
y tú ni percibes
meus olhos de coruja
te enxergam no escuro
onde há você é luz
mis ojos de lechuza
te avistan en lo oscuro
donde hay tu es luz
correndo risco
a linha do corpo
ganha seu rosto
corriendo riesgo
la línea del cuerpo
gana su rostro
a luz que acende
apaga estrelas
e os versos que vinham delas
la luz enciende
apaga estrellas
y los versos que vienen de ellas
a luz que acende apaga estrelas
e os versos que vinham delas
la luz que enciende
apaga estrellas
y los versos que vienen de ellas
canto dos pássaros
um grita mais alto:
to fraco, to fraco
canto de los pájaros
uno grita más alto:
estoy flaco, estoy flaco
pássaro sem nome
pergunta quem é?
todos respondem
pájaro sin nombre
pregunta¿quién es?
todos responden
De
Heloisa Buarque de Hollanda Otra línea de fuego - Quince poetas brasileñas ultracontemporáneas.
Traducción de Teresa Arijón. Edición bilingüe.
Málaga: Maremoto; Servicio de Publicaciones,
Centro de Edciones de la Diputación de Málaga, 2009. 291 p ISBN 978-84-7785-8
Jovens e vivazes, provocadores e inovadores... Alice Ruiz... todos jovenzinhos..., Chacal e Chico Alvim, Cristina César, Paulo Leminski, Wally Salomão... e outros mais, num video imperdível, memorável, enviado por Edson Cruz, do Sambaquis, que recebeu do Giuseppe Zani, via Ricardo Aleixo, que... agora passamos adiante. Vejam e repassem....
COMENTÁRIO SOBRE A SUSPENSÃO DO VÍDEO:
Aqui está um bom exemplo da confusão referente à Lei do Direito Autoral no Brasil... Recebemos este vídeo pela Internet, de um dos personagens do vídeo, pedindo a difusão...
Foi o que fizemos. A produtora entrou com um pedido para o reconhecimento de seus direitos autorais. O vídeo não foi publicado em nosso Portal, apenas fizemos um link, a pedido de um dos poetas. A fonte onde está depositado deve ter suspenso a disponibilização do video até que se resolva a questão. Sem entrar no mérito do recurso da produtora, fica sempre aquela pergunta: em alguma instância os poetas participantes do vídeo vão receber por sua imagem? Mas a questão é outra: quando o Brasil vai adotar o FAIR USE, quando a divulgação for sem fins lucrativos, por interesse estritamente cultural? Fica aqui o link cego para representar o dano à cultura. Sem com isso querer contestar o pleito da produtora, cuja decisão cabe à justiça, nos estreitos, estreitíssimos, espaços da lei vigente, que estava em processo final de discussão para ser reformada e que atualmente está de molho... Uma lei só é boa quando for justa para todos.
Página ampliada e republicada em dezembro de 2010; ampliada e reprublicada em fevereiro de 2011; ampliada em dezembro de 2016.