Fonte: www.germinaliteratura.com.br
AFFONSO AVILA
(1928 - 2012)
Affonso Celso Ávila (Belo Horizonte MG, 1928). Publicou seu primeiro livro de poesia, O Açude. Sonetos da Descoberta, em 1953. Na época, trabalhava como auxiliar de gabinete do então governador Juscelino Kubitschek e como colaborador dos periódicos Diário de Minas, Tendência e Estado de Minas. Nos anos seguintes, participaria da campanha de JK para presidente e se aproximaria dos poetas concretistas de São Paulo. Em 1961, saiu seu livro Carta do Solo; em 1963, era a vez de Frases-feitas. Em 1967, tornou-se colaborador da revista Invenção, do grupo concretista. Sua identificação com a poesia de vanguarda o levaria a retirar sua participação na I Bienal Nestlé de Literatura, em protesto aos ataques às vanguardas dos anos 60.
Em 1991 recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro O Visto e o Imaginado (1990). Sua poesia, bastante influenciada pelo concretismo, caracteriza-se pela experimentação linguística e pela forte presença temática do erotismo e do engajamento ideológico.
Fonte: www.itaucultural.org.br
Crítico e jornalista, fundador com Fábio Lucas, Rui Mourão e Fritz Teixeira de Salles, da revista Tendência. Organizador, por encargo da Reitoria da Universidade de Minas Gerais, da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, realizada em 1963.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
Veja também>>> POÈMES EN FRANÇAIS
Veja também POESIA VISUAL DE AFFONSO ÁVILA
AFFONSO AVILA - A MANEIRA TEXTUAL DE VER
Ensaio - Por Antonio Miranda
ÁVILA, Affonso. Égloga da maçã. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012.
88 p. Editor: Plinio Martins Filhos. 14x21 cm. Capa dura de cartão. Imagem na página 87, em -&b: “O Filho do Homem” de René Magritte. Vinhetas de Sérgio Luz.
Affonso Ávila continua produtivo e criativo como nunca. “´Égogla da maçã” — que o autor, na dedicatória que me enviou, diz ser uma saga — inclui 40 poemas de dez versos, em que continua barroco e pós-moderno (valha o oximoro!!!), sem renunciar às rimas. Moderno com raízes. Começa evocando “A maçã no escuro” em epígrafe de Clarice Lispector. Inclui imagens da maçã em diferentes, vinhetas de Sérgio Luz. E completa com uma reprodução, em p&b do célebre óleo de René Magritte “Filho do Homem”, com a maçã no rosto. Maçã, “primevo vegetal andrógino”. “duto botânico de seiva e humo”; “lugar e espaço ao guloso de hausto”.
e vinde vede a casca rubra
recamando o alvéolo a que cubra
de sabor degustante a cio
alfa de gozo ou precipício
a uma trasmontante demanda
de apetite e escapante vianda
que foge fugaz ao algo assédio
e refuga o dente ou intermédio
enquanto não madura a tez
e do agora assezonou a vez
(...)
e deglutido o sumo leve
derrotada a ternura breve
impostada de voz de orgasmo
ácido de eflúvio e de pasmo
descartar os grãos ao delírio
ao ai ai rumor de cacto e lírio
e deixá-los brotar semeados
ao acaso do campo e dos fados
indecifrável imagem mítica
genes barro de insídia ofídica
(...)
impúbere ou lasso o sentimento
traz ao nervo o impulso momento
do é agora é sorvê-lo clareira
iniciatória ou derradeira
consumo do mudo do belo
do que o vídeo espalha em espelho
dimanado gozo em convite
de ter ou querer apetite
do beijo do abraço sobejo
de carícias sonhadas sem pejo
De
Affonso Ávila
poeta poente
Ilus. Sérgio Luz
São Paulo: Perspectiva, 2010.
230 p. ilus. ISBN978-85-273-0895-3
Quando estivemos na casa de Affonso Ávila no início do ano, o poeta informou sobre a edição de seu novo livro. Agora já está disponível nas livrarias, para a alegria de seus admiradores. Cada livro de Affonso é uma surpresa, uma proposta original, diferenciada. Poeta Poente é mais lírico, mais prosaico, mas nada de discurso convencional. Linguagem sintética, entre aforística e de invenção, com aquela fluência do palavra-puxa-palavra, ou melhor, sentido-puxa-sentido conforme um ritmo próprio para cada poema. Vale a pena conferir. E tem ainda as ilustrações leves e sugestivas de Sérgio Luz, e a capa projetada pelo artista: um achado! Aliás, que brota do próprio título, como um poema visual... as três últimas letras da primeira palavra e as duas letras da segunda formam " eta po ", bem no sentido onomatopaico da inversão de sentido frasal do Affonso... Certamente que ele, intuitivamente, chegou a esta composição que o artista revelou... "êta po eta"!!! Antonio Miranda
gaia ciência
sábio círculo em torno do nada
do além do aquém
de que é que de quem é quem
lição de cor do ardor do amor
signo perseguido em guia de dor
manifesta confusa desvairada
desvario ou alegria de trâmite curtido
palavra de real gozo de conceituai
léxico anverso controverso
capturado mel da defensiva abelha em sua colmeia
dispersivo pescar na convulsão da ideia
rio de acima de abaixo confluência de águas
e quem mais o quis menos o teve
breve perene sempiterno
nascente de prazer ou de frágua
o que ficou desse riso siso
retórico ressaibo
insólito
contato é impudicícia ou carência de tato
gesto que sai do corpo como um salto de gato
suave rude ardil ou busca de gozo
rei dos sentidos empós do amor ou do afeto
sondagem de quem sonhou e argui de fato
a empáfia escondida entre haustos do só
não temer o impacto da astúcia
colher a rosa no ramo propício enquanto é vermelha
e saborear o odor a cor o íntimo calor
é tarde é breve mas intensa de brilho
signo de infinito clamor
que não calou no estamento do tempo
e rói fundo o apetite que resta
via possível na corrosão do palor
e usá-la a furto oculto
imponderada lapela
fim ou princípio
sorte lançada
defasado cupido
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OUTROS POEMAS
SONETO
Não vos traga tristeza a chuva fria
a se esgueirar nas tardes sem corola.
Sobe o chumbo (o sem cor) das coisas vivas
sufocando o clamor das vossas horas.
Sobre o ontem deitastes. Neve amiga
da pegada os sinais na terra afoga
(vede o exemplo da nuvem que destila
o fel de si na gota que se evola).
Sede o espelho, não mais. O próprio nervo
se desfaça no plano de cristal
onde a imagem enfim se compreende.
Plenitude da origem e do termo
o nimbo vos ensine o largo mar.
Sereis então o grande indiferente.
De “O Açude e os Sonetos da Descoberta”, 1953
CASTRAÇÃO
Com suas iníquas
máquinas de tédio
aprende o degredo
com seus chãos reversos
— com suas escumas
de vinagre e pasmo
celebra os opróbrios
com seu desamparo
— com suas sezões
de pejo e salsugem
arqueja os verões
com seus gozos rudes
— com suas ilhargas
de fuligem e asco
deslembra as novilhas
com seus curvos favos
— com suas obesas
barbelas de adorno
ostenta a vergonha
com seu grão roncolho
De “Carta do Solo”, 1961
IMPROVISO
A palavra justa
a mim não pertence,
busco-a nessa luta
em que não se vence,
trabalho diário,
pelo amor de sempre.
A palavra triste
a mim não pertence,
perco-a numa lide
cujo amor me vence,
trabalho diário
pelo amor de sempre.
A palavra louca
a mim não pertence,
bebo-a noutra boca
e ela me convence,
trabalho diário
pelo amor de sempre.
De Carta do Solo, "Tendência",
Belo Horizonte, 1961.
APARTAÇÃO
(parte do poema Bezerro de Ferro e Sinal)
Com suas rações
de clareira e frondes
rompe o latifúndio
com seus horizontes
— Com suas savanas
de relva e flagelo
demanda os retiros
com seus céus de inverno
— Com sua aventura
de surpresa e faina
deslumbra as nascentes
com seus sais de lama
— Com suas ciladas
de febre e malogro
caminha as vazantes
com seus bebedouros
— Com sua forragem
de perda e silêncio
remorde a distância
com seus nós de tempo.
* * *
(O ócio campeia seus rebanhos
e unge-os no couro com seus óleos
— Onde em agouro a erva floresce
e mofa e o ressaibo do feno
curte o bojo de seus alforjes
— Onde as cautas feras embuçam
as garras e a indústria do assédio
grava os emblemas de seus coldres
— Onde as esquivas estações
fundam o código do saque
cinge a usura de suas bolsas
— Onde os rijos cardos aguçam
a crista e a penugem da morte
talha o espesso de seus gibões
— Onde errastes tramam as reses
os vãos e os desterros da fuga
move o curso de seus sapatos
— Onde pasce os afãs do vôo
o tempo liba seu cristal
ANTI-SONETOS OUROPRETANOS
I
da vila rica de ouro preto o ouro
do preito o ouro do pilar o ouro
do pórtico o ouro do púlpito o ouro
do paramento o ouro do pálio o ouro
do panteão o ouro do pacto o ouro
do percalço o ouro do perjúrio o ouro
do patíbulo o ouro do proscrito o ouro
do prêmio o ouro do palimpsesto o ouro
do pedágio o ouro do pecado o ouro
do pulha o ouro do podre o ouro
do polvo o ouro do puro o ouro
do pobre o ouro do povo o ouro
do poeta o ouro do peito o ouro
da rima rica de outro preto o ouro
II
a cidade da hera e de idade
a antiguidade de édito e de idade
a posteridade de efígie e de idade
a eternidade de essência e de idade
a majestade de espírito e de idade
a gravidade de espectro e de idade
a dignidade de ênfase e de idade
a imobilidade de enlevo e de idade
a obliquidade de eflúvio e de idade
a soledade de exílio e de idade
a fatalidade de exaustão e de idade
a castidade de espera e de idade
a carnalidade de efêmero e de idade
a cidade de eros e de idade
De: Código de Minas & Poesia anterior.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
ARTE DE FURTAR
O poeta declarou que toda criação é tributária de outras
criações no permanente processo de linguagem da poesia
O poeta afirmou que todo criador é tributário de outros no
processo de linguagem da poesia
O poeta se confessou um criador tributário de outros na
linguagem de sua poesia
O poeta não esconde que sua poesia é tributária da linguagem
de outros criadores
O poeta não esconde que sua poesia é influenciada pela
linguagem de outros criadores
O poeta não faz segredo de que se utiliza da linguagem de
outros poetas
O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de
outros poetas
O poeta é um deslavado apropriador de linguagens
O POETA É UM PLAGIÁRIO
De O discurso da difamação do poeta.
São Paulo: Summus Editorial, 1978]
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De
O VISTO E O IMAGINADO
São Paulo: Perspectiva; EdUsp, 1990
“Affonso Ávila é um mestre. Em Minas, é o cara que consegue fundir a tradição, a cabeça no ano 2 mil. Barroco-ficção científica. Ele mistura futurismo com necrofilia, numa forma única. Ele é dessa geração fantástica que o Brasil produziu neste século.” Paulo Leminsky
patrulha ideológica
te alerta poeta que a p/i te espreita
desestruturou o discurso e embaralhou as letras
te aleart paeto que o pc te recrimina
barroquizou a linguagem e descurou da doutrina
te alaert peota que o sni te investiga
parodiou o sistema e ironizou a política
te alaret poate que o women´slib te corta o genitálio
glosou o objetou sexual e teve orgasmo solitário
te alerat peato que a puc te escanteia
foi tema de mestrado e não quis compor mesa
te areta petoa que a cb não te reedita
gastou muito papel e ouço sangue na tinta
te alrate petao que a abl te indexa
fez enxertos de inglês e sujou a água léxica
te arealt patoe que a cnbb te exorciza
macarronizou o latim e não aprendeu a nova missa
te alatre potae que o esquadrão te desova
traficou palavrinha e não destruiu a prova
te atrela ptoea que o doicodi te herzoga
suspeito sem suspeição e enforcado sem corda
i must be gone and live or stay and die
BARRACOLAGENS
AA (José Felippe de Gusmão / Antonio Dias
Cordeiro / Simão Ferreira Machado / Nuno
Marques Pereira / Diogo de Vasconcellos /
Antonil / Mathis Antônio Salgado)
1
SALTAM OS MONTES DAS MINAS NESTA HORA
VÊ SUA ÁUREA IDADE A ÁUREAS TERRA
A GRANDEZA DA FORTUNA CIFRADA EM BREVE ESPERA DE MAÉRIA E DE TEMPO
2
VI PELAS RUS DESTAS VILAS A UNS HOMENS PENDENCIANDO COM OUTROS
E VI A OUTROS HOMENS ARRASTANO SACOS E CANASTRAS PELAS RUAS E
ESTRADAS
VI A OUTROS CORRENDO ATRÁS DE MULHERES E AS MULHERES CORRENDO ATRÁS
DE HOMENS
VI A OUTROS COMO LOUCOS SALTANDO E MORDENDO A SI PRÓPRIOS
VI A OUTROS ASSENTADOS EM MESS DE MUITOS MANJARES COM AS BOCAS E AS
MÃOS CHEIAS
E OUTROS COM FRASCOS E GARRAFAS POSTOS À BOCA
VI A OUTROS ARREPELANDO-SE PUXANDO PELOS CABELOS E BARBAS
VI A OUTROS EM VARANDAS E OUTROS DEBAIXO DE SOMBRAS DE ÁRVORES
DORMINDO A SONO SOLTO
ESSES HOMENS E MULHERES QUE TENDES VISTOS
NESTAS PARTES DAS MINAS DO OUTRO EM TÃO DIVERSAS FORMAS
FICAI ENTENDENDO QUE SÃO OS SETE PECADOS MORTAIS
3
AS MINAS COMO A CÓLQUIDA TIVERAM O SEU VELO DE OURO
DEFENDIDO PELO DRAGÃO QUE NÃO DORMIA
E POR TOUROS QUE VOMITAVAM CHAMAS
4
CAMINHOS TÃO ÁSPEROS COMO SÃO OS DAS MINAS
AI DE NÓS! AI DO REINO! AI DE MINAS GERAIS!
|
AA (Antonio Vieira / Luis de Góngora / Juan de la Cruz / Garcilaso de la Veja / Oswald de Andrade)
1
OS REMÉDIOS DO AMOR E O AMOR SEM REMÉDIO SÃO AS
QUATRO COISAS E UMA SÓ
O PIRMEIRO REMÉDIO É O TEMPO
TUDO CURA O TEMPO, TUDO FAZ ESQUECER, TUDO GASTA,
TUDO DIGERE, TUDO ACABA,
ATREVE-SE O TEMPO A COLUNAS DE MÁRMORE, QUANTO
MAIS A CORAÇÕES DE CERA?
SÃO AS AFEIÇÕES COMO AS VIDAS, QUE NÃO HÁ MAIS CERTO
SINAL DE HAVEREM DE DURAR POUCO, QUE TEREM DURADO MUITO
SÃO COMO AS LINHAS QUE PARTEM DO CENTRO PARA A
CIRCUNFERÊNCIA, QUE QUANTO MAIS CONTINUADAS,
TANTO MENOS UNIDAS
POR ISSO OS ANTIGOS SABIAMENTE PINTARAM O AMOR
MENINO, PORQUE NÃO HÁ AMOR TÃO ROBUSTO QUE
CHEGUE A SER VELHO
DE TODOS OS INSTRUMENTOS COM QUE O ARMOU A
NATUREZA, O DESARMA O TEMPO
AFROUXA-HE O ARCO, COM QUE JÁ NÃO TIRA
EMBOTA-LHE AS SETAS, COM QUE JÁ NÃO FERE
ABRE-LHE OS OLHOS, COM QUE VÊ O QUE NÃO VIA
E FAZ-LHE CESCER AS ASAS, COMQ EU VOA E FOGE
Y SOL DE EL AMOR QUEDA EL VENENO
2
O SEGUNDO REMÉDIO DO AMRO É A AUSÊNCIA
MUITAS ENFERMIDADES SE CURAM SÓ COM A MUDANÇA
DO AR, AMOR COM A DA TERRA
É O AMOR COMO A LUA, QUE EM HAVENDO TERRA EM MEIO,
DAIO-O POR ELIPSADO
E QUE TERRA HÁ QUE NÃO SEJA A TERRA DO ESQUECIMENTO,
SE VOS PASSASTES A OUTRA TERRA?
SE OS MORTOS SÃO TÃO ESQUECIDOS, HAVENDO TÃO POUCA
TERRA ENTRE ELES E OS VIVOS, QUE PODEM ESPERAR E
QUE SE PODE ESPERAR DOS AUSENTES?
SE QUATRO PALMEOS DE TERRA CAUSAM TAIS EFEITOS,
TANTAS LÉGUAS QUE FARÃO?
EM OS LONGES PASSANDO DE GIRO DE ETA, NÃO CHEGAM
LÁ AS FORÇAS DO AMOR
ESTES PODERES TEM A VICE-MORTE, A AUSÊNCIA
OS QUE MUITOS SE AMARAM APARTARAM-SE ENFIM: E SE
TOMARDES LOGO O PULSO AO MAIS ENTERNECIDO,
ACHAREIS QUE PALPITAM NO CORAÇÃO AS SAUDADES,
QUE REBENTAM NOS OLHOS AS LÁGRIMAS E QUE SAEM
DA BOCA ALGUNS SUSPIROS QUE SÃO AS ÚLTIMAS
RESPIRAÇÕES DO AMOR
MAS SE TOMARDES DEPOIS DESTES OFÍCIOS DE CORPO
PRESENTE QUE ACHAREIS?
OS OLHOS ENXUTOS, A BOCA MUDA, O CORAÇÃO SOSSEGADO
Y LA MÁS FUERTE CONQUISTA
EM ESCURO SE HACIA
3
O TERCEIRO REMÉDIO DO AMOR É A INGRATIDÃO
E FERIDO O AMOR NO CÉREBRO E FERIDO NO CORAÇÃO,
COMO PODE VIVER?
QUEM SUFRIRA TAN ÁSPERA MUDANÇA
DEL BIEN AL MAL? O CORAÇON CANSADO!
4
É POIS O QUARTO E ÚLTIMO REMÉDIO DO AMOR E COM O
QUAL NINGUÉM DEIXOU DE SARAR O MELHORAR
DE OBJETO
DIZEM QUE UM AMOR COM OUTRO SE PAGA E MAIS CERTO
E QUE UM AMOR COM OUTRO SE APAGA
GRANDE COISA DEVE SR O AMOR, POIS SENDO ASSIM QUE
NÃO BASTAM A ENCHER UM CORAÇÃO MIL MUNDOS
NÃO CABEM EM UM CORAÇÃO DOIS AMORES
SE ACASO SE ENCONTRAM E PLEITEAM SOBRE O LUGAR,
SEMPRE FICA A VITÓRIA PEL MELHOR OBJETO
O MAIOR CONTRÁRIO DE UMA LUZ E OUTRA LUZ MAIOR
AS ESTRELAS NO MEIO DAS TREVAS LUZEM E RESPLANDECEM
MAIS, MAS EM APARECENDO O SOL QUE É LUZ MAIOR
DESAPARECEM AS ESTRELAS
O MESMO LHE SUCEDE AO AMOR POR GARANDE E EXTREMADO
QUE SEJA
EM APARECENDO O MAIOR E MELHOR OBJETO, LOGO SE
DESAMOU O MENOR
AMOR
HUMOR
(V E i, P. 147-148)
(de Barrocolagens, 1981)
O AÇUDE
Há neste açude lendas afogadas,
deuses dormindo o sono que os transcende.
Nenhuma sede irá buscá-lo incauta.
Nele, porém, dois cães vigiam sempre.
Não há peixes no açude, nem há vagas.
A seu apelo mudo na atende
O vento viajor das madrugadas.
O açude é um cemitério diferente.
Os mesmos cães na ladram. Pelo afã
Soment é que parecem-nos dois cães.
O açude é um muro longo, erguido em gelo,
Que por castigo os deuses sem destino
tornaram mausoléu, doando ao limo
o segredo final para rompê-lo.
(De O AÇUDE e Sonetos da Descoberta, 1953)
Recomendamos:
OLIVEIRA, Anelito de. A aurora das dobras: introdução à barroquidade poética de Affonso Ávila. Montes Claros, MG: Inmensa, 2013. 179 p. ilus. 21x30 cm. ISBN 978-85-6460605-0 Texto a partir da tese de doutorado do autor. “Anelito de Oliveira” Ex. bibl. Antonio Miranda
ÁVILA, Affonso. A Lógica do erro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002. 204 p.. 15,5x21 cm. ISBN 85-273-0290-X Ex. bibl. Antonio Miranda
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TEXTO EN ESPAÑOL
TEORÍA DE LAS PURETAS
Trad. de Juan Tello
la realidad es la de los puretos
la real edad es la de los puretos
la hilaridad es la de los puretos
(su filosofia es el civismo
su filosofia es el cinismo
su filosofia es el si mismo)
el credo es el dinero
el cristo es el dinero
el critério es el dinero
(su verdad es la cia
su verdad es la cifra
su verdad es el cifrado)
el estadista es el usurero
la estadística es el userero
la estatua ecuestre es el usurero
(su paisaje es el blanco
su paisaje es el banco
su paisaje es el balance)
el hombre puro es el paladino
el hombre público es el paladino
el hombre pútrido es el paladino
(su política es la del bendecido
su política es la del beneficio
su política es la del bien nacido)
el herrete es la libertad
la herrumbre es la libertad
la herradura es la libertad
(su retórica es el rui
su retórica es el ruido
su retórica es la ruina)
el hábito es la familia
el hálito es la familia
el alibi es la familia
(su moral es la fachada
su moral es la fe ciega
su moral es la fiesta cierta)
el patrón es la mediocridad
el padrón es la mediocridad
el panteón es la mediocridad
(su cátedra es la maña
su cátedra es el trivio
su cátedra es lo trivial)
el tema tierno es la sensibilidad
el tierra-a-tierra es la sensibilidad
la terratenencia es la sensibilidad
(su poesía es la de bilac
su poesía es la del vivac
su poesía es la del destajo)
el mito es la desconfianza
la mística es la desconfianza
la mistificacación es la desconfianza
(su ideología es la forma
su ideología es la fuerza
su ideología es la horca)
Extraído de CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introducción, traducción y notas de Juan Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de América Latina, Universidad Simón Bolivar, 1983.
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ELECCIÓN DEL USURERO
El oso si se carona
con su lisonja
(los cortesanos escriben sus edictos) .
El oso si se corona
con su ungüento
fios cortesanos insertan su engaño)
El oso si se carona
con su incienso
(los cortesanos entonan sus coros)
El oso si se carona
con su ponzoña
(los cortesanos conspiran en sus sufragios)
El oso si se carona
con sus esponjas
(los cortesanos decíden su sanción)
El oso si se carona
con su ombligo
(los cortesanos disponen su casaca)
El oso si se corona
con su joroba
(los cortesanos aprontan sus mujeres)
El oso si se carona
con su calvície
(los cortesanos adornan su palacio)
El oso si se carona
con su oro
(los cortesanos sirven su banquete)
El oso si se carona
con su usura
(los corfesanos recogen sus ofrendas)
POESÍA TESTIMONIAL LATINOAMERICANA.Org. y traducción: Saúl Ibargoyen; Jorge Boccanera. México, DF: Editores Mexicanos Unidos, 1999. 347 p
Poetas Antonio Miranda e Affonso Ávila,
encontro em Belo Horizonte, fev. 2010.
ÁVILA, Affonso. Código de Minas. Nova edição em texto integral. Capa: Desenho de Sebastião Nunes. ISBN 85-7388-010-4
Rio de Janeiro: Sete Letras, 1997. 122 p.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda
eu em mim
eu em minas
eu em minas de mim
eu em outros
eu em óxido
eu em óxido de outros
eu em texto de minas
eu em templo de minas
eu sem tempo de minas
eu em parnaso de outros
eu em partido de outros
eu em paródia de outros
eu em onírico de mim
eu em omisso de mim
eu em opaco de mim
eu em camada de óxido
eu em câmara de óxido
eu em câncer de óxido
eu em modorra de minas
eu em montanha de minas
eu em montagem de minas
eu em análogo de outros
eu em anódino de outros
eu em anônimo de outros
eu em inepto de mim
eu em insípido de mim
eu em inóspito de mim
eu em fossa de óxido
eu em fóssil de óxido
eu in-fólio de óxido
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Página ampliada e republicada em junho de 2024
Página ampliada e republicada em abril de 2008; republicada em fevereiro de 2009
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