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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


pedro tierra

pedro tierra

 

Pseudônimo de Hamilton Pereira, que nasceu em Porto Nacional (TO), em 1948. Viveu em seminários e prisões. Por sua militância na Ação Libertadora Nacional (ALN), cumpriu cinco anos de prisão (1972/77) em Goiânia Brasília e São Paulo, sofrendo tortura. Libertado, contribuiu para fundar e organizar Sindicatos de Trabalhadores Rurais. É membro da diretoria executiva do PT desde 1987.  Foi secretário de Cultura do Distrito Federal. Desde 2003 é presidente da Fundação Perseu Abramo. Militante informal do MST; participou da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Bibliografia:Poemas do Povo da Noite, Menção Honrosa no Prêmio Casa de Las Américas, em 1977(Sigueme, Salamanca, Espanha, EMI, Milão, Itália, e Livramento, S. Paulo); Missa da Terra sem-males, em parceria com Pedro Casaldáliga e Martin Coplas (Livramento, Tempo e Presença, S. Paulo); Missa dos Quilombos, com Pedro Casaldáliga e Milton Nascimento (disco da EMI); Água de Rebelião (Vozes); Inventar o Fogo (Goiânia); Zeit der Widrikeiten , antologia (Edition DIÁ, Berlin); Dies Irae (Edição do autor, Goiânia, e MLAL, Roma, Itália).
 

Seleção e apresentação de SALOMÃO SOUSA

 

 

Ver também: POEMAS DE PEDRO TIERRA EM PORTUGUÊS E ITALIANO

 

 

De
Pedro Casaldáliga
Pedro Tierra

AMERÍNDIA
MORTE E VIDA

Prefácio de Frei Beto
Petrópolis: Vozes, 2000. 109  p .ilus
ISBN 85-326-2309-3
Capa com foto de Fritz Tschol



Segue um fragmento deste livro singular do poeta Pedro Tierra, que me fez a seguinte dedicatória:
Para Miranda, que partilha a paixão pelos livros este exercício de desenterrar o espelho da História para mirarmos uma das faces ocultas do nosso rosto. Com um abraço
Pedro Tierra, BSB, 2011”

 

Eu era a Terra livre,
eu era a Água limpa,
eu era o Vento puro,
fecundos de abundância
repletos de cantigas.

Eu fazia um caminho cada vez que passava.
Era a Terra o caminho.
O caminho era o Homem.

Eu era a Terra inteira,
eu era o Homem Livre.

======================================================================================

 

OFICINA

 

Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.

                                                                       Che Guevara

 

Ao companheiro Luiz José da Cunha, assassinado em julho de 1973

 

 Há nesta cidade uma oficina.

Há nesta noite uma oficina.

Os ferreiros são apenas sombras,

na hora tardia dos encontros.

 

Reter a palavra quando o gesto é possível.

Descer a rua como a bruma sobre o mar.

O vigia não perceba mais que o vento,

um sereno mais intenso.

 

Há neste país uma oficina.

Há uma oficina na América.

Percebemos daqui o martelar das ordens:

recortar no aço o rosto dos ferreiros,

 

a mão taciturna dos ferreiros.

Trabalhar no ferro a vontade

dos escolhidos, a alma retificada

na dor, a crença que resistiu purificada.

 

Há na madrugada uma oficina.

Há no sangue do povo uma oficina

de reservas infinitas,

que se reconstrói a cada minuto.

 

Você, companheiro, encontre os homens

que labutam na forja

e diz a eles por mim:

não malhem na bigorna sem ternura.

 

 

A HORA DOS FERREIROS

 

Quando o sol ferir

com punhais de fogo

                   e forja

a exata hora dos ferreiros,

varrei o pó da oficina

e a mansidão dos terreiros,

libertai a alma dos bronzes

e dos meninos

desatada em som

e nessa aguda solidão

que em ondas se apazigua

— ponta de espinho antigo —

na carne

         do coração.

 

Convocai enxadas,

foices, forcados, facões,

grades, cutelos, machados,

a pesada procissão dos  ferros

afeitos ao rigor da terra

                   e da procura

e, por fim, as mãos,

                   resignadas,

multiplicadas no cereal maduro.

 

Mãos talhadas em silêncio

                   e ternura,

que plantam a cada dia

sementes de liberdade

e colhem ao fim da tarde

celeiros de escravidão.

 

Esgotou-se o tempo de semear

e inventou-se a hora do martelo.

Retorcei na bigorna outros anelos

e a força incandescente deste mar

de ferros levantados.

 

Esgotou-se o tempo de consentir

e pôs-se a andar

a multidão dos saqueados

contra os cercados do medo.

 

Homens de terra

e relâmpago!

Convertei em fuzis vossos arados,

armai com farpas e pontas

a paz de vossas espigas!

 

 

Poema – Prólogo

 

Fui assassinado.
Morri cem vezes
e cem vezes renasci
sob os golpes do açoite.

Meus olhos em sangue
testemunharam
a dança dos algozes
em torno do meu cadáver.

Tornei-me mineral

memória da dor.

Para sobreviver,

recolhi das chagas do corpo

a lua vermelha  de minha crença,

no meu sangue amanhecendo.

 

Em cinco séculos

reconstruí minha esperança.

A faca do verso feriu-me a boca

e com ela entreguei-me à tarefa de renascer.

 

Fui poeta
do povo da noite
como um grito de metal fundido.

Fui poeta
como uma arma
para sobreviver
                           e sobrevivi.

Companheira,

se alguém perguntar por mim:

sou o poeta que busca

converter a noite em semente,

o poeta que se alimenta

do teu amor de vigília

                   e silêncio

e bebeu no próprio sangue

o ódio dos opressores.

 

 Porque sou o poeta
dos mortos assassinados,
dos eletrocutados, dos “suicidas”,
dos “enforcados” e “atropelados”,
dos que “tentaram fugir”,
dos enlouquecidos.

Sou o poeta
dos torturados,
dos “desaparecidos”,
dos atirados ao mar,
sou os olhos atentos
sobre o crime.

Companheira,

virão perguntar por mim.

Recorda o primeiro poema

que lhe deixei entre os dedos

e dize a eles

como quem acende fogueiras

num país ainda em sombras:

meu ofício sobre a terra
é ressuscitar os mortos
e apontar a cara dos assassinos.

Porque a noite não anoitece sozinha.

Há mãos armadas de açoite

retalhando em pedaços

o fogo do sol

e o corpo dos lutadores.


Venho falar
pela boca de meus mortos.
Sou poeta-testemunha,
poeta da geração de sonho
                                      e sangue

sobre as ruas de meu país.

Sobreviveremos

 

 

Perdemos a noção do tempo.

A luz nos vem da última lâmpada,

coada pela multidão de sombras.

A própria voz dos companheiros tarda,

 

como se viesse de muito longe,

como se a sombra lhe roubasse o corte.

Nessa noite parada sobrevivemos.

Ficou-nos a palavra, embora reprimida.

 

Mas o murmúrio denuncia que a vitória

não foi completa. Dobra o silêncio

e envia o abraço de alguém

cujo rosto nunca vimos e, todavia, amamos.

 

Nessa noite parada sobrevivemos.

Sobreviveremos.

Ficou-nos a crença, de resto, inestinguível,

na manhã proibida.

(74)

 

 

Carandiru: Pavilhão 111

 

Minha matéria são os diários.
Nada mais verdadeiro. Objetivo.
E nada mais falso.
Nada mais verdadeiro
na sua falsidade.
Nada mais falso
na sua verdade perecível,
Vendida  na banca,
O que me reserva
a verdade do dia seguinte?

A verdade dos aços?
do fogo
cuspido cela adentro?

Ou a verdade da carne
mastigada, sem fuga possível?

A alva verdade dos dentes
dos cães?

Ou a verdade da marcha
dos homens de cinza,
escopeta no gancho do braço,
metralhadoras?

Ou a verdade dos nus?
A verdade da batalha
narrada pelos gatilhos,
ou a desamparada verdade
dos corpos
empilhados
pelos que vão morrer
com tiros na nuca?

Que verdade afinal me apazigua?
autoriza-me a seguir reproduzindo
impotente, os minuciosos gestos diários
— essa forma imperceptível de morte —,
a presumir que apesar de toda ruína
permanecemos todos
inalteradamente humanos?


De
Pedro Tierra
O PORTO SUBMERSO
Brasília: 2005
90 p.

Um rio quando barragem
tem a espinha quebrada,
vira um rio paralítico
feito um animal vivo
que morreu só a metade:
a outra metade viva pulsando
solta, como veia aberta a foice...
Um rio quando barragem anoitece
as manhãs que cultivava...

 

Querosene

Nunca se soube
se por fome,
                   sede
o pura danação.

Foi apanhado
estendido sobre o ladrilho da taverna
mamando querosene
na torneira do tambor.

Adquiriu desde então
em tom esverdeado,
                            guenzo
e uns olhos iluminados
como se tivesse tragado
as nascentes da lua.

Os meninos da rua
lhe atiravam fósforos
para conferir se acendia,
querosene.

 

De
Pedro Tierra
ÁGUA DE REBELIÃO
Petrópolis: Vozes, 1983

Reúne os últimos poemas da prisão e os primeiros poemas da liberdade de Pedro Tierra.


VIOLA

Viola de todo silêncio,
que canto aprisionas
nas cordas do mastro?

Que mares libertas?
Que sal de cantigas
semeias, subterrânea?

Corda de viola:
cano possível,
silenciado.

Vela, veleiro, viola,
mastro, velame,
braço aberto

em metal vermelho,
intenso metal
desesperado.

Viola-veleiro,
nave noturna,
ave sem verso,

o vento de mãos humanas
arranque das cordas
um canto de facas feridas.

 PPSP, dez. 75

 

De
Pedro Tierra
DIES IRAE
Oito testemunhos indignados
e uma ressurreição
Prefácio Pedro Casaldáliga
Ilustrações Otávio Roth
Brasília: 1999

 

"Esses poemas do Dias Irae e todos os que Pedro Tierra já escreveu carregan en si, como um ventre nativo, o sangue e o nervo da mais legítima literatura latino-americana. O poema A memória do anjo, por exemplo, palpita com as evocações e indagações de um Pedro Páramo."   Pedro Casaldáliga 



(FRAGMENTOS)

Hoje, o silêncio pesa
como os olhos de uma criança
depois da fuzilaria(...)

Se calarmos
as pedras gritarão...

*

Trago na palma da mão
um punhado da terra
que te cobriu.
Está fresca
é morena, mas ainda não é livre
como querias.

*

A verdade da batalha
narrada pelos gatilhos,
ou a desamparada verdade
dos corpos empilhados...

*

E quando a algum deles recorro
e indago
o que recolho é que não importa
o porto
mas a paixão de navegar...

Pedro Tierra

De
Pedro Tierra
POEMAS DO POVO DA NOITE
2 ed. São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
Edição comemorativa dos 30 anos da 1a. edição: 1979-2009
ISBN 978-85-85938-58-1


Poesia visceral. Tierra veio do seio da terra, lá do Tocantins onde o Brasil se levantou contra a opressão, mas sabe que a luta não terminou e que o verso ainda reverbera.  O poeta anuncia: "Fui assassinado. / Morri cem vezes/ e cem vezes renasci/ sob os golpes do açoite.// Meus olhos em sangue/ tetemunharam/ a dança dos algozes/ em torno do meu cadáver."  A.M.



O SANGUE DO RIO

Vesti a água de escura de meu povo.
Comi a lama negra dos esgotos.
Fui leito de suicidas
                        e assassinados.
Fui Rio da Guarda: cemitério de mendigos.

Recebi no corpo o vômito das indústrias,
os andrajos da vida,
bagaço de esperanças acorrentadas
Ao ritmo seco das máquinas.

Tornado lama, abri meu caminho
nos olhos de uma cidade amarga.
Transitei pelo avesso dos jardins,
o avesso da paisagem publicada.

Leito de assassinados,
levo meus passos agora
ao dia de me encontrar,
como o rio que conduz
muitos outros no meu corpo
pra hora certa com o mar.

 

 

 

Página publicada em abril de 2008; ampliada e republicada em abril de 2010

 

Metadados; POESIA DE PROTESTO – POESIA DE RESISTÊNCIA – POESIA POLÍTICA



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