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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
JOÃO CARLOS TAVEIRA

JOÃO CARLOS TAVEIRA  

 

Nasceu em Caratinga-MG, aos 17 de setembro de 1947. Em 1969 mudou-se para Brasília, onde trabalhou na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e na Viação Aérea São Paulo (VASP). De 1987 a 1989 foi diretor da Divisão de Desporto, Lazer e Turismo, na Administração do Núcleo Bandeirante, no Governo José Aparecido de Oliveira. De 1999 a 2002 trabalhou com o Engenheiro e Físico Paulo Gontijo, na organização de algumas obras literárias e na construção do Templo da Ciência. Com formação em Letras Neolatinas, trabalha como revisor e coordenador editorial. Como poeta, publicou seis livros: O Prisioneiro (1984), Na Concha das Palavras Azuis (1987), Canto Só (1989), Aceitação do Branco (1991), A Flauta em Construção (1993) e Arquitetura do Homem (2005).

Tem pronta para publicação toda a sua poesia, reunida de 1984 a 2004. Já apareceu em importantes antologias no Brasil e no Exterior, entre as quais: Antologia da Nova Poesia Brasileira, 1992, de Olga Savary, Chão Interior, 1992, de Eliseu Mol, Alma Gentil, 1994, de Nilto Maciel, Cronistas de Brasília, 1995, de Aglaia Souza, Caliandra – Poesia em Brasília, 1995, de Mário Viggiano, A Poesia  Mineira no Século XX, 1998, de Assis Brasil, Poesia de Brasília, 1998, de Joanyr de Oliveira, A Literatura Brasiliense, 1999, de Wilson Pereira, Antología de la Poesía Brasileña, 2001, de Xosé Lois García (Santiago de Compostela, Espanha), Poetas Mineiros em Brasília, 2002, de Ronaldo Cagiano, Pensamentos da Literatura Brasileira, 2002, de Napoleão Valadares, Trilhos na Cabeça, 2003, de Albert von Brunn (Messina, Itália), Poemas para Brasília, 2004, de Joanyr de Oliveira.

Figura no Dicionário de Poetas Contemporâneos, de Francisco Igreja, no Dicionário de Escritores de Brasília, de Napoleão Valadares, na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa, na História da Literatura Brasiliense, de Luiz Carlos Guimarães da Costa. Pertence à Academia Brasiliense de Letras, à Academia de Letras do Brasil, à Associação Nacional de Escritores e ao Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, de que foi vice-presidente. É membro do Conselho de Cultura do FAC, na Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal. Em 1994 recebeu a Medalha do Mérito Cultural de Brasília.

 

"A contenção rigorosa do verso de João Carlos Taveira também me lembra algo de Rilke no seu despojamento para a indagação do mistério, o reverso do olhar." 

FAUSTO CUNHA

 

"Taveira consegue a maturidade do verso e do silêncio. A música de uma viagem incandescente entre Minas e o amor, passando pelo mundo. Poesia contida, densa, dútil, serenamente humana." CARLOS NEJAR

 

 

 

"Embora muito subjetivo, Taveira é muito representativo de sua região cultural: Minas Gerais. Como a poesia dos seus contemporâneos, a sua poesia é transparente, alheia à cor violenta da poesia nordestina do modernismo. Ou mesmo a paulista verde-amarela de Cassiano Ricardo".  

CASSIANO NUNES  

 

 

VEJA E LEIA:

CATEDRAL SIMBÓLICA DE MARGARIDA – ENSAIOS – sobre CRUZ E SOUSA – texto de João Carlos Taveira

 

Ver>>>>  AQUARELAS DAS PALAVRAS (sobre a poesia de OLEG ALMEIDA), por JOÃO CARLOS TAVEIRA - ENSAIOS

 

Veja tambem o ensaio: UMA TRAJETORIA LUMINOSA : MARIA BRAGA HORTA, por Joao Carlos Taveira http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/uma_trajetoria_luninosa_maria_braga_horta.html

UMA ARTE QUASE MILENAR QUE AINDA TEM CRÉDITO JUNTO A POETAS E LEITORES - João Carlos Taveira

Ver também >>HAICAIS de JOÃO CARLOS TAVEIRA>>

 

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RETRATO ÍNTIMO 

                   Jarbas Junior

 

 

Taveira, amigo, é poeta conciso

e eficaz; quando recebe a musa,

sua inspiração reflui profusa,

vulcânica, o verso avulta preciso!

 

Sua índole lírica de origem lusa

tem o ímpeto varonil do improviso!

Alter-ego oposto ao de Narciso!

Lembra a dicção da arte Andaluza!

 

Ilustre João Carlos Taveira:

aedo, vate, bardo e rapsodo!

Qualquer epíteto denomina

 

o seu talento de alma altaneira,

expressão autêntica de todo

esse engenho de natureza divina!

 Brasília, 28/04/2001.

 

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE. Ano 8 – Número 12 – Maio 2000.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000. 

 

        Exilado

           A Fábio Lucas

 

                I

         Vim dos caminhos
         de Minas
         para o mundo.
         Vim, do susto
         e da vertigem,
         desfazer abismos.

         Vim, e aqui estou,
         com meus arreios,
         buscando halo
         e cavalo
         para o itinerário.

         Trago, nas mãos,
         calos e fuligens,
         e, no peito,
         um mapa
         inconcluso.

 

         II
         Deixei os vales,
         as colinas
         de Minas
         pelo asfalto
         destas ruas,
         pelo acrílico
         das janelas.

         Deixei-me, menino,
         perdido nos rubis
         dos cafezais.

         Deixei-me no homem
         que me divide
         e me acompanha.

 

         III
         Lembro da infância,
         das cabras,
         improvisadas
         montarias.

         Meu norte
         se divisa
         na tessitura
         de uma nuvem.

         Lembro. Lembro
         das estâncias,
         rútilas paragens
         de bois e vento.

         Na tarde sempiterna,
         entre automóveis,
         ainda de lembrança
         me argamasso.

 

 

 

        Poema de aniversário no. 6

        
        
O tempo
         com suas gôndolas,
         abertas lucarnas ao vento,
         esculpe a pele, a carne,
         o cerne do ser
         que em mim
         se faz e pássaro.

         Diante do futuro,
         estou completo:
         meio peixe
         meio pássaro
         neste pouco corpo
         em que velejo.

         Porém, sou homem e voz
         dentro da concha:
         libertam-me o peixe
         que inventei na pedra
         e os mares desesperados
         que sulquei na terra
         com minhas penas
         e escamas de esmeraldas.

 

 

 

TAVEIRA, João CarlosA Imposição do poema.  Jaboatão, PE: Editora Gurararapes EGM, 2015.  30 p. ilus. col.  Editor: Edson Guedes de Moraes. 20,5x13 cm.  Edição artesanal, tiragem limitadíssima.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

VEJA O E-BOOK:https://issuu.com/antoniomiranda/docs/jo__o_carlos_tavera

 

 
 

COMUTAÇÃO

O meu peito magnético
 de amperagem difusa,
tem um centro energético,
que a voltagem recusa
sentida.
É o coração mecânico
que, repetidamente,
corta a minha corrente
no painel eletrônico
da vida.
Mas, na caixa de objetos,
eu guardo os sonhos todos:
parafusos e diodos,
e os males mais secretos
também.
E esse curto-circuito,
que envolve o meu sistema,
eu resolvo num poema,
espontâneo, gratuito,
que vem.

(do jornal POIÉSIS Literatura, Pensamento & Arte,
n. 248, jan/fev de 2017, p. 5
)

 

 

ANTIELEGIA

 

        João Carlos Taveira
        homenagem ao poeta Manoel de Barros
        no dia de seu faleciment
o

 

 

Manoel de Barros está morto.

Mas eu já faço um reparo:

Manoel de Barros não morreu.

Morrer, como, se ainda

está vivinho da silva

no coração das crianças,

no desvelo de bichos, de pássaros

e de homens puros?

 

Hoje, 13 de novembro,

chove fininho e devagar

na cidade de Lúcio Costa,

no mesmo instante

em que Manoel de Barros

se transformou em nuvem,

borboleta ou qualquer coisa

de encantar bem-te-vis.

 

Este homem, meus amigos,

não é de morrer assim

sem mais nem menos.

Traz no seu jeito

de menino tímido

qualquer coisa de espanto,

qualquer silêncio de pedra.

 

O poeta, nele, há muito se eternizou

e está solidificado em pérola,

feito diamante incrustado

na tristeza da ostra.

 

Outra coisa: Manoel de Barros

aprendeu a esperteza

dos caramujos

e deve estar destecendo

palavras de beleza

para inventar estrelas

no chão áspero da rua.

 

Afirmo e reafirmo,

minha canção é de alegria

para festejar a metamorfose:

Manoel de Barros

escapou ileso

da irmandade dos homens

e virou passarinho.

 

  

Brasília, 13 de novembro de 2014.

 

 

 

VEJA O E-BOOK:

TAVEIRA, João CarlosA Imposição do poema.  Jaboatão, PE: Editora Gurararapes EGM, 2015.  30 p. ilus. col.  Editor: Edson Guedes de Moraes. 20,5x13 cm.  Edição artesanal, tiragem limitadíssima

 

 

TAVEIRA, João CarlosO prisioneiro. 2ª. edição revista.  Brasília, DF: Thesaurus, 2014.  86 p.  14x21 cm.  Arte da capa: Tagore Alegria. Revisão: Anderson Braga Horta. Diagramação: Salomão Sousa.  Prefácio de Cassiano Nunes. “Edição comemorativa 30 anos”  ISBN 978-85-409-0394-4  “ João Carlos Taveira “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

ROTINA

 

Não sou velho,

não sou moço,

nem cansado,

nem o oposto.

 

Sou apenas um composto

de refratários estilhaços

que se espalham,

todas as manhãs,

no espelho do banheiro.

 

Mas o que seria de mim,

sem essa força que tende

sempre a conduzir,

para o alto,

os meus ideais de artista?

 

O que seria de mim

sem espelho, sem rosto,

sem essas manhãs altruísticas?

 

Sol-posto?

 

 

ANTAGONISMO

 

Não quero essa fúria

que me impele

para o exercício do gesto,

nem esse gesto côncavo

que me torna

enfurecido.

 

Prefiro a mobilidade

de um inseto prisioneiro,

cujo desespero

transcende

a concha da mão

que o esmaga.

 

 

 

 

Lago Paranoá e Ponte JK – foto de Robson Corrêa de Araujo

 

 

POEMA DA MATURIDADE

(Nos 50 anos da Capital)
Brasília

 

JOÃO CARLOS TAVEIRA
         

 

      Brasília abre as asas

        sob o céu,
        na imensidão do espaço
        sobre nós.

       

        Brasília tece uma canção
        de amor,
        na gradação do azul
        de nossa voz.

 

        Há nessa geometria
        de acalantos
        pequenos sons e arpejos
        simultâneos...

 

        Há vida após a vida
        em cada traço,
        no refazer do sonho
        que sonhamos.

 

 

 

BRASLIA REVISITADA

A ADIRSON VASCONCELOS

 

 

JOÃO CARLOS TAVEIRA

 

 

Que sei de ti?
Que sei de mim?
Volto às origens
de tudo: barro.

 

Tumulto e barro
mal comprimidos
no largo espaço
do meu espanto.

 

Vagas lembranças
de um pé-de-vento
e o redemunho
varrendo sonhos.

 

Desde o começo
desta epopeia,
homens e bichos
se circunscreverem

 

em puídos mapas,
em utopias
de sonhadores
do amanhã.

 

Volto ao passado,
vejo o presente
e a solidão
frutificada.

 

 

Poemas publicados originalmente na REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE DISTRITO FEDERAL       Ano XI, N. 8, Brasília , 2017.

 

 

 


 

 

O poeta JOÃO CARLOS TAVEIRA, anfitrião de uma das sessões magnas da I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA (de 3 a 7 de setembro de 2008), no auditório do Museu Nacional de Brasília.

 

 


Fortuna crítica: leia texto de Jarbas Júnior sobre a obra de João Carlos Taveira

 

 

 

 


Extraído de:
2011 CALENDÁRIO   poetas     antologia
Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2010.
Editor: Edson Guedes de Morais

 

/ Caixa de cartão duro com 12 conjuntos de poemas, um para cada mês do ano. Os poetas incluídos pelo mês de seu aniversário. Inclui efígie e um poema de cada poeta, escolhidos entre os clássicos e os contemporâneos do Brasil, e alguns de Portugal. Produção artesanal.

 

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. y Trad.  Xosé Lois García

Edicións Laiovento

Santiago de Compostela, 2001 

 

 

PÁSSARO NOTURNO

 

Verdes tempos

verdes campos

verdes muitas vidas

pelos olhos verdes

de minha esperança.

 

Verdes anos

verdes danos

verdes nossos passos

de retorcidos pés

neste verde avião plano.

 

Verdes desenganos

verdes vossos olhos

visigóticos.

 

Sou assim, senhora

vosso amante

e pássaro concentrado

em verdes noites

de um verão tranqüilo.

 

 

NOVA POÉTICA

 

A José Santiago Naud

 

 

Canto, só canto,

dores ao vento,

meu desencanto,

só fingimento.

 

Canto e descanto,

vão instrumento,

o nobre pranto,

do estro, do inverno.

 

O meu ofício?

Só, nutro o belo,

e tudo é nada,

puro artifício,

coisa inventada,

onde o revelo.

 

 

SENTIMENTO MINEIRO

 

A Hildo Honório do Couto

 

Minas está aqui,

dentro e fora de mim,

com seu vasto galope,

corpo se fosse um fardo.

 

Minas está em mim,

anterior ao verso,

paisagem sem cavalo,

halo que se desfaz.

 

Minas está, enfim,

ao rente do meu dorso,

abismo que resiste,

lâmina do meu susto.

 

SIGNOS

 

  Um pássaro hipocampo,  
no abismo da vertigem:  
lanterna do meu sangue,  
coágulo da origem.

 

  Um peixe me bifurca,  
com lâminas de fogo,  
e o outro, em mim, resiste,  
sem regras para o jogo.

 

  Um boi me sobrevoa,  
mugindo para a lua,  
em cujo espanto penso,  
pasto palavra nua.

 

  Mas um cavalo sonha,  
e em pêlo me confrange,  
com vôos e sobrevôos  
do homem para o anjo.

BASTIDOR  

A Solimar de Oliveira, in memoriam

   
Fico-me aqui: sozinho, só,  
so(l)zinho de tão pouca luz,  
que a sombra do meu dia é pus  
dentro da vida – eterna mó.

 

  Moída a carne, os ossos nus,  
os olhos viram cinza e pó,  
só sobra a cisma sobre o dó  
que faz em mim ponto de cruz.

 

  Fico-me só: mas não perdido,  
tecendo sonho em vão tecido,  
pois que não sou o ser que lavra.

 

  Além de mim, um outro tece  
a mesma voz e a mesma prece,  
das quais me faço na palavra.



  DESMISTIFICAÇÃO N. 2

  Não, já não te busco,  
pétala de luz,  
dentro da canção.  

Teço meu soluço,  
dentro do tumulto,  
flauta em construção.

  Voam os pardais,  
pensos pedestais,  
lírios sobre o chão.

 

  Somos dois extremos,  
que o amor, sem remos,  
navegou em vão.


  SONETO DE ASPIRAÇÃO

  Quero prender-te, amada, no meu verso,  
que teço no silêncio e na neblina,  
onde sejas, do centro do universo,  
a métrica resvés e cristalina.

 

  Mas antes, neste sonho, me alicerço  
no ritmo desenhado na retina,  
para que possas, feita bailarina,  
tecer no meu olhar um riso terso.

 

  Quero prender-me a ti e, nesse laço,  
poder gravar em nós, em tom fugace,  
a música e a palavra num só traço.

 

  Depois, rompendo a teia do disfarce,
que existe entre teu corpo e meu abraço,
hei de tecer na luz a tua face.


  IMPROVISO PARA FLAUTA DOCE

  Voar, vencer o mar,  
ó pássaro de seda,  
voar e não cantar
cetim de plumas tredas.

Voar, ganhar o ar,  
em redes, sedes, brisas,  
depois, buscar, no mar,  
as claras águas lisas.

  Voar, alçar as asas,  
falenas sobre as casas,  
as conchas turvas, tortas...

 

  Voar, deixar as fráguas,  
os rios, frias mágoas,  
que em mim são águas mortas.

 

    Poemas extraídos do livro A Flauta em Construção. Brasília: Thesaurus, 1993.  93 p.

 

 

 

TAVEIRA, João CarlosA flauta em construção; poesia.   Brasília: Thesaurus, 1993.  64 p.   “ João Carlos Taveira “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

 

 




Arte gráfica: Edson Guedes de Moraes
– Editora Guararapes – PE - 2016

 



 



SOBRE O LIVRO Arquitetura do Homem DE JOÃO CARLOS TAVEIRA

 

         É João Carlos Taveira um exímio artesão da palavra poética, reinventando a tradição sem perda da contemporaneidade. Verso musical, sonoro, rítmico, construído a partir de uma conjunção feliz de tema e expressão poética.

         Ronaldo Costa Fernandes

 

         Há algumas qualidades na palavra poética de João Carlos Taveira que me parecem fundamentais e que, infelizmente, se não exagero, andam a rarear na praça: o cuidado com a forma —seja gramatical, seja versifica— e a convicção, a consciência de que palavra não é som apenas, nem tão-somente traços na tela da página.

         Anderson Braga Horta

 

         Com a publicação de Arquitetura do Homem, a Thesaurus Editora coloca no mercado a obra de um dos autores de maior nomeada da literatura brasileira. João Carlos Taveira há muito vem se destacando no cenário da literatura nacional não só pela obra sólida, de solene coerência construtiva e temática, mas, também, pela firme atuação na consolidação de várias entidades culturais da Capital.

         Salomão Sousa

O poeta, em sua solidão, demonstra a paciência do observador, deixando-se impregnar pela poesia que lhe traz o cotidiano. Taveira não é só uma pessoa de sólida formação cultural, como um poeta sensível que aprofunda pensamentos e os expressa com uma sapiência madura. Seu trabalho traduz, na sonoridade dos diversos tipos de rima, a necessidade de seu canto por palavras.... (...) O mais recente livro de Taveira, “Arquitetura do homem”  permanece com a musicalidade dos versos, e atinge tal maturidade de expressão que se torna mesmo difícil mencionar exemplos.   Gerson Valle

"Minha surpresa de hoje é João Carlos Taveira, cujo livro "Arquitetura do homem", agora lançado, passa a ocupar uma posição de vanguarda em nossa literatura. Não se trata de estreante, mas de poeta que deixara de publicar livros há 12 anos e agora retorna o seu domínio da palavra, que já existia antes, mas parecia desaparecido."
      Antonio Olinto

 

Navio fantasma

 

Brusca, a barca trafega

nas trevas da existência.

Sem trégua, o timoneiro

avança. E, na dormência

 

de músculos e artérias,

atinge o magma, o centro

do abismo de existir,

fora de si e dentro.

 

As velas retorcidas,

a que ventos sucumbes,

nos vendavais da dor,

ao gozo e seus vislumbres?

 

Há tantos sóis e luas

na árdua travessia!

Melhor não fora o porto

que a vida oferecia?

A vida não deságua

em lisos acalantos?

E não floresce a pedra

nas águas de seus prantos?

 

Ó velas desfraldadas,

de que sonhos se nutrem

a ânsia dos navios,

a fome dos abutres?

 

 

 Profissão de fé

 

 

Amar o metro e a música

na construção do verso,

e a música do verso

na palavra incendida.

 

Buscar e amar o som

dos hiatos e, ao fim,

dar contenção ao ritmo

com que constróis o verso.

 

O poema —esse abismo

sem face— há de surgir

na forma clara e exata

das impressões concretas.

 

Mas amar sobretudo

a precisão do verbo:

pedra fundamental

de tua criação.



Teorema

 

Ódio, te desconstróis na sombra dos dias,

entre o prazer e o largo de um sorriso

que se esboça feito cata-vento

(o triunfo subjaz nos intervalos do sol),

para dissimular a fonte e a fraude do não-ser.

 

(Um homem à beira do abismo

pode assimilar estorvos, cardiopatias,

resquícios de febre, cicatrizes na alma,

restos de infância agregados ao susto,

ao desjeito do corpo e do cansaço.)

 

Uma nesga de alegria talvez inibisse

lembranças, chicotes, castigos, escombros

de memória, restos de paisagem,

noites feitas e refeitas no descuido

de uma vida que se fez do espanto.

 

(Um homem —sem mágoas, sem nódoas—

pode perseverar sobre o menino.

Mas haverá vitória —ou prêmio de consolação—

sobre seu inventário de angústias,

sobre seus anseios de libertação?)



Cantata para baixo profundo

 

I

 

Senhor, velai

por mim, velai

por Vosso filho

crucificado

entre ladrões,

espertalhões,

pobres ovelhas

já desgarradas

de Vosso exército.

 

 

II

 

Velai por mim,

que amordaçado

não tenho voz

nem mesmo força

para vencer

os inimigos

de Vossa casa

hoje invadida

pelos abutres.

 

 

III

 

Senhor, aqui

é o meu refúgio:

rude canção

(um sol sem luz)

em que me esvaio

em asperezas

para louvar

o Vosso nome,

o Vosso nome.

 

 

IV

 

Velai, Senhor,

pelo meu verso

de pé quebrado,

pelos deslizes

de alguns vocábulos,

pela sintaxe

mal construída

a conspurcar

a língua Pátria.

 

V

 

Senhor, olhai

as minhas rimas

tão pobrezinhas,

minhas metáforas

e socorrei

o metro, o ritmo

com que me empenho

em construir

esta oração.

 

 

VI

 

Velai, também,

por meus irmãos

na Poesia,

os sonhadores

do Vosso reino

aqui na Terra,

os construtores

do belo belo

e de outros sóis.

 

 

Cavatina

 

O amor, senhora,

fere no peito

feito cutelo

de vil carrasco.

 

A luz do sol

se faz ausente

rente à agonia

do ser-não-ser.

 

Passam-se os anos

e a sombra cresce

nesse interstício

da vida breve.

Os  poetas José Fernandes, Antonio Miranda e João Carlos Taveira na Biblioteca Nacional de Brasília, durante a homenagem ao poeta goiano Affonso Felix de Souza, em set. de 2009.

 

 

TAVEIRA, João Carlos.  A flauta em construção; poesia.   Brasília: Thesaurus, 1993.  64 p.   13,5x20,5 cm.  Col. A.M. 

 

 

SONATA N° 44, em mim menor

 

Tenho nas mãos um vazio,

no peito, mudo, um gemido,

que são as marcas de estio,

de tempo em mim construído.

 

Traço por traço me lavra,

nervura que já não vibra,

mas teço, fibra por fibra,

dentro da carne, a palavra.

 

Trago nas mãos, transversal,

ríspida flauta de vento,

em cujas notas, de sal,

construo o meu instrumento. 

 


Em Louvor ao Poeta
Jarbas Júnior* 

Autoria do quadro: Andréia Pessoa -
 Técnica: óleo sobre tela:50X60 cm

 

         Poeta é título, brasão de grandeza humana, artista dotado de todas as outras sensibilidades, talento criativo por excelência, alma capaz de ouvir e entender estrelas. Sonho, imaginação, sentimento, ideal, crença: cabe o Olimpo todo em sua lira e o homem comum das ruas também. Intérprete das Vozes interiores, arauto dos mitos, vive entre as Flores do mal e os lírios do campo; traz Vida nova para as Almas mortas. Poeta sem adjetivos, para quem é digno do cognome. Como Píndaro para Alexandre Magno, como Bashô para o Japão (onde o poeta não se curva para o Imperador). Poeta só! Quem é? É o poeta João Carlos Taveira! Ministro? Doutor? Magistrado? Tem investiduras, dinheiro, prestígio político, poder? Não. Poeta unicamente, leu? Não sabe a Arquitetura do Homem? (sua mais recente obra) Ele vive a poesia de suas Poesias; culto, sensível, lúcido espírito! Notável artista da palavra, poeta em tempo integral. Mas a poesia não se revela sem sacrifícios necessários e indispensáveis, sem obstinada dedicação ao Belo e ao Bem; pois a Arte poética exige dor, coragem, desapego, vontade de ser Píton de Endor, cúmplice dos deuses, de Apolo délfico principalmente. É estigma ou condição: poeta não deve ter nem facilidades nem regalias materiais. Camões, por exemplo. Pois, quando conheci o poeta João Carlos Taveira na Thesaurus Editora, pensei: mais um aposentado rico de Brasília, de vida financeira tranqüila, agora, valente beletrista pronto para ofuscar o Parnaso inteiro com as suas Obras poéticas, ledo engano; o poeta nem jornalista era, vivia de revisões. Quer dizer, um bardo em estado puro, sem privilégios, sinecuras, e nem editora de projeção nacional. Autor, porém, dos primorosos poemas de Arquitetura do Homem, versos que são revelações inspiradas do título acima, o DNA lírico da condição humana, do código verbal formador do discurso poético; o Antropocentrismo da capa simboliza que o poeta é a medida real, entre Bergson e Kant, de todas as artes e utopias.

 

         Vejo muito nas academias tantas de Brasília, bravos versejadores de namoro com a poesia e, com raras exceções, não sabem soneto nem verso livre. Escrevem e publicam prosa fraca em forma de poema, aleijados de ouvido, ignoram os artifícios mágicos da rima na melodia da estrofe. (É só lembrar da “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias.) E nesta proposição do ritmo ligado ao sortilégio verbal, observo no estilo do poeta João Carlos Taveira: decassílabos perfeitos, sóbria elegância metafórica, sintaxe harmoniosa, bastante qualidade no lavor do soneto. Poeta tão distante desses poetastros de arcádia. Inteligência vivaz, voz de grande declamador e de baixo-barítono (expert em óperas). Afável, grande e nobre. Tem defeitos? Talvez, fora do soneto!

 

         Poeta João Carlos Taveira empolga também como crítico de literatura da estirpe e têmpera de Agripino Grieco. Honesto, justo e veraz.         Admiro essas vidas dedicadas à Poesia. Quarenta anos de colóquio com as Musas, tantos livros lidos. Às vezes, homenagens, lauréis, prêmios da ABL ou de concursos literários; triunfos miúdos, o sonho do sucesso, da consagração nacional ainda longínquo, o público leitor pequeno local; quem sabe em outra edição venha o reconhecimento. Mas isso só decepciona quando a vaidade é imensa, do tamanho da empáfia, do ego inflado de balão, da soberba enfatuada. Sei o poeta João Carlos Taveira exemplo de êxito relativo e nobilitante nessa questão, sua poesia não depende de exterioridades levianas, dos aplausos efêmeros de circunstância, é resultado do que ele sente e é, ao escrevê-la: poeta! O que vem depois do poema concebido, é destino, Claro enigma, Caminho para a distância; o Sentimento do mundo que julgue! Porque sua natureza de poeta se realiza por si mesma, é congênita, é sua tendência íntima inata. Não precisa ele de palco iluminado, mídia, Estética da vida, para ser suficiente e expressivo. Sísifo mais do que Narciso! Pois a realização de um soneto antológico vale mais do que Mil e uma noites de autógrafos, porque nada supera a glória de criar uma obra-prima, compensa Cem anos de solidão! O poeta João Carlos Taveira é admirável por isso, seu intelecto, cultura, conhecimento, intuição, espiritualidade que põe a serviço da Poesia, da Mensagem que tira dela, da sua Invenção de Orfeu; o que lhe importa é o livro Arquitetura do Homem ter Alguma poesia... o resto é silêncio! 

Brasília, 6-5-2007.

____________________________________________________

* É poeta, romancista e professor de Literatura.
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Taveira entre poetas e amigos (Nilto Maciel)

 

 

VIGGIANO, Alan.  A fortuna crítica de João Carlos Taveira: poesia aquém e além.      Brasília: Edições André Quicé, 2012.  300 p.  15x21 cm

 

 

A leitura de A Fortuna Poética de João Carlos Taveira (Brasília: Editora André Quicé, 2012), de Alan Viggiano, me deixou a sensação de que vale a pena escrever. Se apenas um ou outro leitor se debruçar sobre determinada publicação, mesmo assim o autor poderá sorrir e dizer: fui lido, compartilhei o meu pensamento, o meu sentimento, a minha experiência de vida, a minha memória. Se nenhum crítico aparecer para dizer isto ou aquilo dessa obra, não faz mal. A crítica é necessária, mas a arte pode prescindir dela. Se nenhum jornalista se lembrar daquele compêndio, nem mesmo no dia do lançamento, também não faz mal, pois tudo é transitório. Mas, se o lerem dez, vinte ou cem pessoas, o autor terá sido ungido pelos deuses. Melhor ainda se essas criaturas forem Anderson Braga Horta, Antonio Roberval Miketen, Antonio Carlos Osorio, Antonio Olinto, Ático Vilas-Boas da Mota, Cassiano Nunes, Esmerino Magalhães Júnior, Gerson Valle, Heitor Martins, Henriques do Cerro Azul, José Santiago Naud, Hilda Mendonça, Jarbas Júnior, José Geraldo Pires de Mello, José Jeronymo Rivera, Jota Marinho, Leda Maria Vilaça, Margarida Patriota, Napoleão Valadares, Omar Brasil, Ronald Figueiredo, Ronaldo Cagiano, Ronaldo Costa Fernandes, Salomão Sousa, Wilson Pereira e tantos outros cujos nomes não se faz necessário mencionar agora. E foi isso o que aconteceu com João Carlos Taveira. Não só isso, pois tais seres especiais (que germinam poesia ou prosa literária) elaboraram artigos e estudos da maior importância (e que estão reunidos no volume aqui resenhado).

 

Um deles é Esmerino Magalhães Jr. Digo é, embora tenha partido há alguns anos, pois tanto é real a sua presença entre nós que no livro de Alan Viggiano a sua palavra se sobreleva. E ele, sábio que era, poeta que era (ou é?), também sabia ler a poesia dos contemporâneos. Como se capta neste trecho: “ainda existem poetas que conhecem a tradição, a gramática dos ritmos, a marcenaria dos versos, a cunhagem das palavras-moedas, e que respeitam esses valores na medida em que se transformam em fôrma, que os usam com singularidade e mestria, quando querem, quando a inspiração lhes dita, desprezando tanto as camisas-de-força quanto os adereços fáceis dos modismos, buscando no olvido aquelas coisas que reviverão como novas, porque eternas, e, nunca estacionando com o tempo, jamais se sentindo realizados, sempre in progress, absorvendo inevitavelmente o zeittgeist, mas, enquanto criam suas coleções de palavras de mármore e música, na angústia das madrugadas, olhando com olhos visionários utopias no amanhã”.

 

Outro leitor fora do comum é o também poeta Salomão Sousa, que se apresenta com um dos mais agudos e robustos estudos contidos no impresso de Alan Viggiano: “Tive sempre a poesia como o momento da convulsão, o instante titânico da explosão. O instante de plena juventude, que procura expelir corpo e mente por todos os poros. E, no entanto, a poesia de João Carlos Taveira vem me mostrar que não é nada disso; que a vida é inflamável, mas a criação – lucidez e equilíbrio – não pode prescindir da consciência”. Noutro parágrafo faz uma revelação: “Taveira se insere dentro de um novo surrealismo, que não se desvincula da experiência dos menestréis, dos condoreiros e da veia eterna (a lírica)”. E arremata: “Taveira não precisa de nenhuma poética, precisa apenas do chamamento que estiver no instante”.

 

Também Antonio Carlos Osorio, outro grande poeta brasileiro aportado à ilha de Brasília, não se sente receoso de ser preciso (e não precioso) em relação à poesia de Taveira: “quase cede às vezes à tentação do confessionalismo, saudosista ou reflexivo, com a força da emoção que sente e quer transmitir. E de quando em vez se entrega ao puro jogo formal. Mas reage a tempo, e se revigora de novo nas fontes (narinas ou patas) do ‘fogoso animal’, o ‘cavalo verde’ do belo poema de Fernando Mendes Vianna”.

 

Para encerrar as transcrições, vejamos trecho de artigo escrito por Ronaldo Cagiano: “Poeta que rejeita as ginásticas formais, sem contudo renegar as conquistas do modernismo, Taveira é um poeta clássico, que recepciona em sua engenharia verbal características de vários estilos e tendências”.

 

A Fortuna Poética de João Carlos Taveira não é apenas uma colheita de artigos ou estudos da obra de Taveira. E poderia sê-lo, com méritos. A coleção é muito mais preciosa do que isso, tanto em informações (para pesquisadores, estudiosos, dicionaristas, historiadores, etc.), como na reprodução de poemas contidos em antologias e revistas literárias, assim como traduzidos para idiomas como espanhol e romeno. Há, ainda, três entrevistas, nas quais o poeta se mostra como ser humano e como artista. Numa delas, que tive a honra de realizar, é recente, de 2011, quando já me encontrava em Fortaleza (depois de viver 25 anos em Brasília, em convivência quase diária com Taveira e outros escritores ditos brasilienses). À pergunta “Você acredita em amizade?”, ele não titubeia: “Não só acredito como não sei viver sem meus amigos”. Pois João Carlos Taveira é poeta de primeira categoria e amigo leal (desculpem a redundância). Que o digam os muitos críticos de sua obra poética. E que o diga Alan Viggiano, esse outro fabuloso ente feito de poesia e amizade.

 

Fortaleza, 1.º de novembro de 2012.

 

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TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

ETERNA SIESTA

 

               En memoria de Antonio Machado

 

Tienes una casa con balcón,

plantada en la orilla del Duero,

llena de golondrinas,

unos libros sobre el estante

de tu cuarto

e algunos poemas desparramados

por el suelo.

 

Tienes una guitarra en tu voz,

plantada sobre notas disonantes,

y un pecho angustiado

e triste, muy triste.

іPero tu música y voracidad

no danzan más bajo el sol

del claro día

en la hermosa tierra de España!

 

Eres solamente un hombre,

somnoliento y silencioso,

plantado en las orillas del mundo,

bajo el turbio cielo nuestro.

 

 

Del  libro: Aceitação do Branco, 1991. Traducción del autor.

 

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Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. y Trad.  Xosé Lois García

Edicións Laiovento

Santiago de Compostela, 2001 

 

 

PÁJARO NOCTURNO

 

Verdes tiempos

verdes campos

verdes muchas vidas

por los ojos verdes

de mi esperanza.

 

Verdes años

verdes daños

verdes nuestros pasos

de retorcidos pies

en este verde avión plano.

 

Verdes desengaños

en estos vuestros ojos

visigóticos.

 

Soy así, señora

vuestro amante

el pájaro concentrado

en verdes noches

de un tranquilo verano.

 

 

NUEVA POÉTICA

 

A José Santiago Naud

 

Canto, sólo canto,

penas al viento

mi desencanto,

sólo fingimiento.

 

Canto y descanto,

vano instrumento,

el noble llanto,

de la inspiración, del invento.

 

¿Mi oficio?

Sólo alimento lo bello,

y todo es nada,

 

puro artifício

cosa inventada,

donde lo revelo.

 

(de Aceitação do Branco, 1991)

 

 

SENTIMIENTO MINERO

 

A Hildo Honório do Couto

 

Minas está aquí,

dentro y fuera de mí,

con su profundo galope,

cuerpo si fuese un fardo.

 

Minas está en mí,

anterior al verso,

paisaje sin caballo,

halo que me deshace.

 

Minas está, en fin,

al lado de mi dorso,

abismo que resiste

filo de mi susto. 

 

(de A Flauta em Construção, 1993)

 

 

 

TEXTS EN FRANÇAIS

 

POÈMES EN FRANÇAIS

 

 

 

POEM POUR CHARLOTTE

João Carlos Taveira

 

 

Tout est fini.

Je vais à l'infini,

pendant que vous vous préparez

le lit de roses

à mon corps

exhalé.

 

 

Voir et ne pas se plaindre.

La vie nous a donné l'amour

et ses possibilités.

Mais nous ne savons pas

du moment fragile

dans lequel l'oiseau

fait son nid.

 

 

Pas même le printemps

nous devons nous en vouloir

par malheur

de discordance.

 

 

Alors pardonne moi

et soyez heureux.

Et si tu peux, encore,

donne moi le dernier bisou

quelle minute

n'expire pas

dans l'éternité.

 

Va et oublie tout!  

 

 

Brasilia, le 20 septembre 2018.  

 

 

 

SONETO DE DESENCANTO

(Désenchantement sonnet)

João Carlos Taveira

 

 

J'ai les pieds, j'ai les mains et des absences

que délimitent toucher et paysage;

et j'ai l'angoisse mille et malveillances

du temps accumulé dans mon visage.

 

 

J'ai du sens, les yeux et bouche en usage

que m'ont mis dans un monde d'apparences;

j'ai bien gardées toutes les références

dans tous mes délires sans dégrillage. 

 

 

Et avec des membres, des sens longèves,

mais aussi des pouvoirs surnaturels,

je convertis tous les douleurs en rêves.

 

 

Dans la vie presque tout est anormal

que l'humanité impose aux mortels.

Mais je vois que je suis un animal.

 

 

"Soneto de desencanto", do livro Arquitetura do homem, Thesaurus, 2005, vertido para o francês, em 23.01.2018, por Jorge Antunes, compositor, professor, jornalista e escritor brasileiro radicado em Brasília.

 

 

METHANOIA 

João Carlos Taveira

 

 

Me voici,

cracher sur la plage

par la bouche d'un poisson.

 

Me voici,

nu et dépouillé,

prêt pour la traversée.

 

Et chaque habitant

de la ville choisie,

déjà transformé,

témoignera

de la bonne nouvelle:

la conversion de tous.  

 

C'est le mystère de la foi.

 

Brasilia, 21 janvier 2018 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   -  TEXTS IN ENGLISH

 

Poems translated by Janette Reys

 

 

ELEGIA PARA O POETA ANTÔNIO ALBINO

 

 

A cidade perdeu um habitante,

os pássaros perderam um irmão,

eu perdi um amigo.

 

Em versos cheios de desejo

e volúpia, Albino cantava o amor

com a alma de menino.

 

(Os homens são mesmo pouco metafísicos.

Ainda recordo sua têmpera

na estóica luta contra o tempo.)

 

Mas quem virá nos dizer da saudade

que hoje inaugura sua face de âmbar

no dorso desta ausência?

 

Livre, o poeta viaja e sonha

com amadas, musas, ninfas...

 

Sua palavra nos pertence!

 

          Brasília, 23/4/2007.

 

 

 

ELEGY FOR THE POET ANTÔNIO ALBINO

 

The city lost an inhabitant,

the birds lost a brother,

I lost a friend.

 

In verses full of desire

and voluptuous, Albino sang love

with the soul of a boy.

 

(Men are even little metaphysical.

I still remember its temper

in the stoic fight against time.)

 

But who will come to tell us the longing

which today inaugurates its face of amber

on the back of this absence?

 

Free, the poet travels and dreams

with loved ones, muses, nymphs...

 

Your word belongs to us!

 

          Brasília, 04/23/2007.

 

 

 

 

PEQUENA FÁBULA SOBRE A INVEJA

          (Para Natasha Curtes)

 

 

O jaburu fala mal do pavão,

porque a beleza o incomoda.

 

O pavão fala mal do tucano,

porque não sabe voar.

 

O tucano fala mal do sabiá,

porque não sabe cantar.

 

E o sabiá, por sua vez,

não fala mal de ninguém...

 

 

          (Do livro inédito BIOGRAFIA DO INSTANTE)

 

 

 

 

SMALL FABLE ABOUT ENVY

 

      (To Natasha Curtes)

 

The jaburu speaks badly of the peacock,

because beauty bothers you.

 

The peacock speaks ill of the toucan,

because he does not know how to fly.

 

The toucan speaks ill of the wise bird,

because he does not know how to sing.

 

And the wise bird, on the other hand,

Do not speak ill of anyone...

 

 

         (From the unpublished book BIOGRAFIA DO INSTANTE)

 

 

VISTA PARCIAL

 

Sou pouco exato

dentro de mim.

Meu ser se situa

na forma do espanto.

 

Criei ferrugem

em cada gesto,

e meu pensamento

é corpo adquirido.

 

Sou muito pouco

de mim mesmo:

visualizo a dor

com os olhos do mundo.

 

 

          (Do livro O PRISIONEIRO, 1984; 2.ª edição, 2014)

 

 

 

 

PARTIAL VIEW

 

 

I'm not exact

inside of me.

My being is situated

in the form of astonishment.

 

I created rust

in each gesture,

and my thinking

is body purchased.

 

I'm very little

of my own:

I visualize the pain

with the eyes of the world.

 

 

 (From the book O PRISIONEIRO, 1984, 2nd edition, 2014) 

 

 

 

CANÇÃO DOMÉSTICA

 

Aprendo a vida

na construção do dia.

A xícara de café,

a mesa posta

simbolizam um trabalho

doméstico, solitário.

 

Aprendo o dia

em meu apartamento.

No exercício diário

de ir e vir

entre livros e objetos

vou construindo a vida.

 

Lentamente

aprendo a morte. 

 

          (Do livro CANTO SÓ, 1989)

 

 

 

 

DOMESTIC SONG

 

I learn life

in the construction of the day.

A cup of coffee,

the table laid

symbolize a job

domestic, lonely.

 

I learn the day

in my apartment.

In daily exercise

to come and go

between books and objects

I'm building life.

 

Slowly

I learn death.

 

          (From the book CANTO SÓ, 1989)

 

 

 

 

POEMA DE ANIVERSÁRIO N.º 6

 

O tempo,

com suas gôndolas,

abertas lucarnas ao vento,

esculpe a pele, a carne,

o cerne do ser

que em mim

se faz e pássaro.

 

Diante do futuro

estou completo:

meio peixe 

meio pássaro

neste pouco corpo

em que velejo.

 

Porém, sou homem e voz

dentro da concha:

libertam-me o peixe

que inventei na pedra

e os mares desesperados

que sulquei na terra

com minhas penas

e escamas

de esmeralda.

 

(Do livro ACEITAÇÃO DO BRANCO, de 1991)

 

 

 

 

 

BIRTHDAY POEM # 6

 

The time,

with its gondolas,

open windlasses in the wind,

sculpts the skin, flesh,

the core of being

that in me

if it is done and bird.

 

Looking ahead

I'm full

half fish

half bird

in this little body

in which I sail.

 

But I'm a man and a voice.

inside the shell:

free the fish

that I invented in stone

and the desperate seas

that I rode the earth

with my feathers

and scales

of emerald.

 

          (From the book ACEITAÇÃO DO BRANCO, 1991)

 

 

NEW BRAZILIAN POEMS. A bilingual anthology after Elizabeth Bishop. Translated & edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2019. 128 p. 16 x 23 cm. ISBN 978-85-7823-326-6 

 

Includes 60 poets in Portuguese and English.

 

 

POEM FOR CHARLOTTE

 

It's all over.
I leave for infinity,
while you prepare
a bed of roses
for my bloodless
body.

Look and do not complain.
Life has given us love
and its possibilities.
But we do not know
of the fragile moment
when the bird
makes its nest.

Not even the spring
can blame us
for the misfortune
of mismatch.

So, forgive me
and be happy.
And if you can, yet,
give me the last kiss,
that this moment
does not vanish
into eternity.

Go and forget everything!

 

 

 

POEMA PARA CHARLOTTE

 

Tudo está terminado.

Eu parto para o infinito,

enquanto preparas

o leito de rosas

para o meu corpo

exangue.

 

Vê e não te queixes.

A vida nos deu o amor

e suas possibilidades.

Mas não sabemos

do frágil instante

em que o pássaro

faz seu ninho.

 

Nem a primavera

há de nos culpar

pelo infortúnio

do desencontro.

 

Então, perdoa-me

e sê feliz.

E se puderes, ainda,

dá-me o último beijo,

que o minuto

não se extingue

na eternidade.

 

Vai e esquece tudo!

 

 

?

POEMAS BILÍNGUES DE JOÃO CARLOS TAVEIRA — PORTUGUÊS/ALEMÃO

 

 

 

METANOIA

 

Ao Padre Marcelo Rossi

 

Eis-me aqui,

cuspido na praia

pela boca de um peixe.

 

Eis-me aqui,

nu e despojado,

pronto para a travessia.

 

E cada habitante

da cidade escolhida,

já transformado,

dará testemunho

da boa nova:

a conversão de todos.

 

Eis o mistério da fé.

 

 

METHANOIE

 

An Pater Marcelo Rossi

 

Hier bin ich,

Spucke am Strand

durch den Mund eines Fisches.

 

Hier bin ich,

nackt und ausgezogen,

bereit für die Überfahrt.

 

Und jeder Einwohner

der gewählten Stadt,

schon verwandelt,

wird aussagen

der guten Nachrichten:

die Umwandlung aller.

 

Dies ist das Geheimnis des Glaubens.

 
 

POLIEDRO

Ah! Que poema resiste

aos solavancos da carne

e à inútil geometria?

 

— Paty, Patrícia, Bianca.

 

Em caracol, na parede,

minha sombra serpenteia

sem álibi nem sursis.

 

Estou curvo, destravado

ante o desfecho do dia:

nem caça nem caçador.

 

No entanto, alarde não há

dentro da noite inventada.

É o verbo que reverbera.

 

— Paty, Patrícia, Teresa.

 
 

POLYHEDRON

Ah! Welches Gedicht widersteht er?

zu den Höckern des Fleisches

und nutzlose Geometrie?

 

— Paty, Patrícia, Bianca.

 

In der Schnecke, an der Wand,

meine Schattenschlangen

ohne Alibi oder Sursis.

 

Ich bin gekrümmt, nicht gesperrt

vor dem Ende des Tages:

weder eine Jagd noch ein Jäger.

 

Rühmen aber gibt es keine

in der erfundenen Nacht.

Es ist das Verb, das nachhallt.

 

— Paty, Patrícia, Teresa.


 

POEMA PARA CHARLOTTE

 

Tudo está terminado.

Eu parto para o infinito,

enquanto preparas

o leito de rosas

para o meu corpo

exangue.

 

Vê e não te queixes.

A vida nos deu o amor

e suas possibilidades.

Mas não sabemos

do frágil instante

em que o pássaro

faz seu ninho.

 

Nem a primavera

há de nos culpar

pelo infortúnio

do desencontro.

 

Então, perdoa-me

e sê feliz.

E se puderes, ainda,

dá-me o último beijo,

que o minuto

não se extingue

na eternidade.

 

Vai e esquece tudo!

 

 

 

GEDICHT FÜR CHARLOTTE

 

Alles ist fertig.

Ich gehe ins Unendliche,

während du dich vorbereitest

das Rosenbeet

zu meinem Körper

ausatmete.

 

Sehen und beschweren Sie sich nicht.

Das Leben hat uns geliebt.

und seine Möglichkeiten.

Aber wir wissen es nicht

der zerbrechliche Augenblick

in dem der Vogel

macht sein Nest.

 

Nicht einmal im Frühling

Du musst uns die Schuld geben.

durch Unglück

der Nichtübereinstimmung.

 

Also vergib mir

und sei glücklich

Und wenn Sie noch können,

Gib mir den letzten Kuss

was für eine Minute

nicht aussterben

in der Ewigkeit.

 

Geh und vergiss alles!

 

 

COMIDA TÍPICA

 

Edgar Degas sabia.

Flávio Kothe sabe.

Bisque de lagosta

e haddock defumado

ao molho pistache e tâmaras

são pratos cheios de gente vazia.

 

No entanto, frango

com quiabo e angu

é prato típico

da cozinha mineira

que baiano não come.

 

Edgar Degas virou anjo.

Flávio Kothe descansa

após a feijoada de domingo,

que ninguém é de ferro

nesta terra chamada Brasil.

nesta terra chamada Brasil.

 

 

 

TYPISCHE LEBENSMITTEL 

 

Edgar Degas wusste es.

Flávio Kothe weiß es.

Hummerbiskuit

und rauchte Schellfisch

zu Pistazien-Sauce und Datteln

sind Gerichte voller leerer Menschen.

 

Jedoch Huhn

mit Okra und Angu

Es ist ein typisches Gericht

von Minas Gerais Küche

welches Bahia nicht isst.

 

Edgar Degas wurde ein Engel.

Flávio Kothe ruht sich aus

nach dem sonntag feijoada,

dass niemand Eisen ist

in diesem Land namens Brasilien.

 

 

 

 

Página republicada em dezembro 2007; ampliada e republicada em setembro de 2015. Ampliada em janeiro de 2019. AMPLIADA em fevereiro de 2019

 

 

 

 
 
 
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