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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

 

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1952.  É professor titular de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ,  tornando-se   sucessor da cátedra anteriormente ocupada por  Alceu Amoroso Lima e Afrânio Coutinho. Doutor em Letras pela mesma Universidade.

 

 Poeta com muitos livros publicados, destacando-se Todos os ventos (poesia reunida, 2002), que obteve os prêmios  da Fundação Biblioteca Nacional,  da Academia Brasileira de Letras  e do PEN Clube para melhor livro do gênero  publicado no país em 2002.

 

Ensaísta autor de 3 livros, dentre eles João Cabral; a poesia do menos, ganhador de 3 prêmios nacionais, dentre eles o Sílvio Romero, atribuído pela ABL em 1987. Em 2001, organizou a Poesia completa de Cecília Meireles, na edição comemorativa do centenário de nascimento da escritora. Em 2003, publicou Escritos sobre poesia & alguma ficção, reunindo cerca de 50 artigos e ensaios.

 

            Autor de mais de três centenas de  textos (poemas, contos, ensaios) publicados nos principais periódicos literários do  país  e do exterior. Sobre sua obra já escreveram favoravelmente ensaístas como Benedito Nunes, José Guilherme Merquior, Eduardo Portella, Alfredo Bosi, Antônio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet  José Paulo Paes, André Seffrin, Ivo Barbieri, Fábio Lucas e Ivan Junqueira, entre outros.

 

            Eleito em junho de 2004,  tornou-se   o mais  jovem membro da Academia Brasileira de Letras:  http://www.academia.org.br/

 

 Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília – I BIP, com a palestra de encerramento do Simpósio de Crítica de Poesia, na UnB.

 

Veja também: DE UM LEITOR DE POESIA, DO POETA E BIBLIÓFILO ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

Veja também: POESIA INFANTIL DE A. C. SECCHIN>>

 

Veja também o ensaio: Cecília Meireles e os Poemas escritos na India por ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

Veja também o ensaio:  CECÍLIA MEIRELES: SÓ SOMBRA – por ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

Veja também: A POESIA NAS ALTURAS /NOS POEMAS ANDINOS DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO por ANTONIO CARLOS SECCHIN ENSAIO

 

Veja também: LA POESIA EN LAS ALTURAS – EN LA POESIA DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO– por ANTONIO CARLOS SECCHIN - ENSAIO

Veja também: CRUZ E SOUSA – O DESTERRO DO CORPO



SUPLEMENTG  (Suplemento Literário de Minas Gerais.)  Belo Horizonte, Maio/Junho 2018.  Edição no. 1.278.  Diretor Jaime Pedro Gouvêa.   ISSN 0102-06x.                  C      No. 10 740

 

 

COLÓQUIO

Em certo lugar do país
se reúne a Academia do Poeta Infeliz.

Severos juízes da lira alheia,
sabem falar vazio de boca cheia.

Este não vale. A obra não fica.
Faz soneto, e metrifica.

E esse aqui, o que pretende?
Faz poesia, e o leitor entende!

Aquele jamais atingirá o paraíso.
Seu verso conté m a blasfêmia e o riso.

Mais de três linhas é grave heresia,
pois há de ser breve a tal poesia.

E o poema, casto e complexo,
não deve exibir cenas de nexo.

Em coro a turma toda rosna
contra a mistura de poesia e prosa.

Cachaça e chalaça, onde se viu?
Poesia e matéria de fino esmeril.

Poesia é coisa pura.
Com prosa ela emperra e não dura.    

 

                 

 

REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL.  Ano 2, Número 3, jan./ju.. 2020       Brasília, DF: Editora Cajuína,
2020. 124 p.  Presidente: Flavio R. Kothe.   ISSN 2674-8495
 

                

  Serra de Gravatá – in: https://www.google.com/ 

 

 

SONETO SIDERAL 

    Para Maria Lecticia e José Paulo Cavalcanti


Navego em meio à mansidão do espaço,
viajar, eu sei, não passa de quimera.
Pergunto em vão: “No Céu, o que é que eu faço?”.
E sinto em mim a pulsação da Terra.

Diviso o vulto azul do meu planeta,
nuvens que o embalam numa densa lã,
e pouco a pouco o arco-íris da palheta
cobre de cor o corpo da manhã.

Não lembra a Terra uma laranja: um pêssego
de núcleo duro e suavidade externa,
que acorda em mim tudo de humano, nesse go-

-zo de saber que enfim um chão me espera.
Beleza cósmica maior não há
que aquela serra lá de Gravatá.

Rio de Janeiro, 6/1/2020

 

        *

Página ampliada e republicada em setembro de 2023

 

SECCHIN,  Antonio CarlosJoão Cabral de ponta a ponta. Recife: Companhia Editora de Pernambuco - Cepe, 2020.   568 p. 
16 x 22 cm.   ISSN 978-65-86616-23-1
Ex. bibl. Antonio Miranda, autografado pelo autor.

 

Edição compilando edições anteriores, com acréscimo de vários capítulos, um deles – extraordinário – com uma entrevista com JCMN por quem estuda a obra dele há várias décadas. Aqui apresentamos a Apresentação da obra (Nota Editorial) , com os propósitos e novidades  o Sumário para que nossos leitores conheçam as dimensões e o conteúdo, com a nossa entusiasta recomendação, para que adquiram um exemplar da obra. É a maior e mais completa que existe em nosso universo da crítica literária!

 

Veja: JOÃO CABRAL DE PONTA A PONTA, por Antonio Carlos Secchin - Ensaio

 

O PRISMA DE MUITAS CORES. Poesia de Amor portuguesa e brasileira.    Organização Victor Oliveira Mateus. Prefácio  Antônio Carlos Cortes.  Capa Julio Cunha.  Fafe: Amarante: Labirinto, 2010  207 p.      Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

Sete anos de pastor

 

Penetro Lia, mas Raquel é quem me move,
e faz meu corpo desatar toda alegria.
Se tenho Lia, minha pele não navega
nada além de nada em névoa fria.

 

Sete anos galopando em Lia e tédio,
sete anos condenado ao gozo escuro.
Raquel me tenta, e se me beija Lia
minha boca é não, e minha mão é muro.

 

Labão, o puto, perdoai-me nesse instante,
adoro a dor que doer em minha amante.
Vou cravar-lhe um punhal exausto e certo,

 

doar seu sangue ao livro e à ventania.
Quieta Lia será terra em que os cavalos
vão pastar, sob a serra e o deus do dia.

 

 

ANTOLOGIA POÉTICA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Alberto da Costa e Silva.    Antonio Carlos Secchin. Antonio Cícero. Carlos Nejar. Domício Proença Filho.  Geraldo Carneiro. Geraldo Holanda Cavalcanti. Marco Lucchesi. Brasília: Câmara dos Deputados, 2020.   204 p.       ISBN 978-65-87317-06-9
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 "Á noite, o giro cego..."

 

À noite, o giro cego das estrelas, errante arquitetura do vazio, desperta no meu sonho a dor distante de um mundo todo negro e todo frio.

Em vão levanto a mão, e o pesadelo de um cosmo conspirando contra a vida me desterra no meio de um deserto onde trancaram a porta de saída.

 

Em surdina se lançam para o abismo nuvens inúteis, ondas bailarinas, relâmpagos, promessas e presságios,

 

sopro vácuo da voz frente à neblina. E em meio a nós escorre sorrateira a canção da matéria e da ruína.

 

 

SECCHIN, Antonio Carlos. Hálito das Pedras. Organização Diego Mendes Sousa. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2019. 162 p. 14 x 21 cm. (Série: “Item de Colecionador.) “Orelha” do livro por Fábio de Sousa Coutinho. Tiragem: 80 exs. assinados pelo autor e organizador.

 

 

 

FELIZ ANO NOVO 

 

Finalmente comprará sua mansão.
Será engolida pela fome de um tufão.

 

Viverá uma intensa fantasia,
desfeita a meia hora do meio-dia.

 

Encontrará o amor de sua vida:
inerte, num esquife de partida.

 

Ganhará muito dinheiro,

para a doença desgasá-lo por inteiro.

 

Chegará sorrindo ao Céu sonhado.
Mas é domingo. O portão está fechado.

 

 

 

RECEITA DE POEMA

 

Um poema que desaparecesse
à medida que fosse nascendo,
e que dele nada então restasse
senão o silêncio de estar não sendo.

 

Que nele apenas ecoasse
o som do vazio mais pleno.
E, depois que tudo acabasse,
morresse do próprio veneno.

 

 

 

AUTORRETRATO

 

Um poeta nunca sabe
onde sua voz termina,
se é dele de fato a voz
que no seu nome se assina.
Nem sabe se a vida alheia
é seu pasto de rapina,
ou se o outroé que lhe invade
com voragem assassina.
Nenhum poeta conhece
esse motor que maquina
a explosão da coisa escrita
contra a crosta da rotina.
Entender inteiro o poeta
é bem malsinada sina:
quando o supomos em cena,
já vai sumindo na esquina,
entrando na contramão
do que o bom senso lhe ensina.
Por sob a zona da sombra,
navega em meio à neblina.
Sabe que nasce do escuro
a poesia que o ilumina.

 

 

VOZES DE AÇO.XXI Antologia Poética de Diversos Autores. Homenagem ao Acadêmico Antonio Carlos Secchin. Organização, Montagem e Editorial Jean Carlos Gomes. Volta Redonda, RJ: PoeArt Editora, 2019. 102 p. ilus. fotos. p&b e col.
15x 21 cm. ISBN 978-65-5031-008-0 Inclui textos e fotos de poetas brasileiros contempor
ãneos de varias parte do Brasil.


Inclui também a homenagem a Antonio Carlos Secchin, com textos sobre o autor escritos por João Almino, Jean Carlos Gomes, Marisa Lajolo, Alexandra Vieira de Almeida, Álvaro Alves de Faria, Anderson Braga Horta, Dados biográficos, Antonio Miranda, Antonio Torres, Claudia Manzolillo, Igor Fagundes, Luiz Otavio Oliani.José Eduardo Degrazia, Ricardo Vieira Limae Sonia Maria Mzzei. Entrevista, Comentários e poemas do homenageado.

 

SECCHIN, Antonio Carlos. Percursos da poesia brasileira. Do século XVIII ao XXI. 1a. edição, 1a. reimpressão. Belo Horizonte, MG: Autentica Editora Editora UFMG, 2018. 368 p. Inclui bibliografia. ISBN SSSS978-85-513-0302-3 (Autêntica); ISBN 978-85-423-0256-1 (Editora UFMG).

 

Obra essencial para a compreensão do período mais significativo da poesia brasileira, em que Secchin elabora uma “história informal” baseada em quarenta anos de sua experiência como professor, crítico e poeta, e bibliófilo, de forma erudita, mas comunicativa. Um ensaio essencial do texto literário numa perspectiva teórica e histórica, de maneira seletiva, mas representativa de nossa melhor tradição poética. De Tomás Antõnio Gonzaga a Paulo Henriques Britto, “o desleitor de João Cabral” de Melo Neto. Indispensável.

 

Extraído de

 

POESIA VIVA em revista.  v. 6 / Leda Miranda Hühne et al.  Rio de Janeiro: Uapê, 2010.
              166 p.   

 

 

O BANQUETE

 

A Ferreira Gullar

 

Entre mesuras, talheres e finezas,

um garçom serve a morte sobre a mesa.

 

"Quente ou fria?" indaga-me sereno,
e seu olhar tem a doçura de um veneno.

 

"Para o começo, o que quer?

A que matou o guarda? Frango à la bière7.

 

A massa, se preferir algo bem quente,
vai logo arder, em caldeirão,
al dente.

 

Como planeja arrematar a refeição?
Numa bala? Presunto com melão?

 

Caso queira coisa rápida e gelada,
sugiro uma fina fatia do nada."

 

E num gesto incisivo e severo

— como se marca um boi a ferro —

 

adoçou a insípida vida:
pôs no prato O prazer do suicida.

 

Pensar na morte é provar o necessário
destempero entre patrão e operário:

 

um deseja macarronada à mesa,  

outro inclui até o vento na despesa.

 

Ela morte nos expulsa porta a fora:
o contrato já passou da hora.

 

E como nada tenho que lhe apeteça
não me concede aumento ou hora extra.

 

0 garçom mal anota o que lhe digo:
tudo que peço vai entrando no olvido.

 

Ao contemplar a carteira magra e preta,
com 10% da voz insinua uma gorjeta.

 

Faço agora o meu pedido?
Não morrer: desnascer — nunca ter sido.


Apagar de mim a memória inteira,
regressar à árvore de que fui cadeira,

 

sentir um bico de bem-te-vi esfomeado,
mas jamais mofar no almoxarifado.

 

Assim de modo bem pouco alto-falante
a vida se esgarçaria como a ponta de um barbante.

 

Acabar então, canoa seca sem direito a porto.
E partir de mim, confortavelmente morto.


*******************

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

SECCHIN, Antonio Carlos.  Desdizer e antes.  Rio de Janeiro: Topbooks, 2017.   211 p.  15,5x223 cm.  Projeto e ilustração da capa: Waltercio Caldass, com finalização de Miriam Lerner.   ISBN  978-85-7475-266-2  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

         "Destroço à teia, a trama da palavra,
         mantendo à fala em que me escondo
."
                        ANTONIO CARLOS SECCHIN


Valeu a pena esperar! O livro voltou ao remetente, reenviado acabou no meu endereço. Eu mereço!!! O "Desdizer e antes", do Secchin, com muito depois. Pura metapoesia, com humor leve e experimental, de bom caráter: "não espere muito de mim", desdiz-se o poeta, criatura que esperei tanto e que tanto se afigura! Quem se diz "cópia pirata de um desejo alheio"... Pirata é o meu desejo de plagiá-lo ao elogiá-lo, e não consigo, meu querido amigo! Diz-nos que "Um poeta nunca sabe onde sua voz termina", falsa modéstia para um acadêmico da ABL! Íntimo de Pessoa, Drummond e Cecília, além de aprofundar-se no discurso poético de João Cabral de Melo Neto!  E os supera à sua maneira... Secchin é sem fim! "Tem um lado com / Tem um lado zen". Um lado sim, um sem ou também, só dele, de mais ninguém! Aquele "lado sem /mesmo acompanhado"!...
         Sim: "Toda linguagem / é vertigem,  farsa, verso fingido" (...) em que ele confessa: "e me deponho, inverso,  no subsolo do discurso."
         Curso pleno,
         Fico por aqui, pois ele já vai longe, inalcançável.

 

Cinco poemas do livro, entre os metapoemas. Mais, no livro, para seus seguidores.

 

 

 

NA ANTESSALA

 

 

Espalhei dezoito heterônimos
em ruas do Rio e Lisboa.
Todos eles, se reunidos,
não valem um só de Pessoa.

 

Trancafiei-me num mosteiro,
esperando de Deus um dom.
O que Ele me deu foi pastiche
da poesia de Drummond.

 

Ressoa na minha gaveta
um comido de versos reles.
Em coro parecem dizer:
Não somos Cecília Meireles.

 

O desavisado leitor
não espere muito de mim.
O máximo, que mal consigo,
é chegar a Antonio Secchin.

 

 

 

CINZAS

 

Talvez o verão tenha queimado os frutos.

As mãos, ressequidas, apenas recolhem restos.

Cinzas, ardores, ossos.

Havia ali,

não se lembra?,

um rumor de desejo,

que nenhuma palavra salva:

todo poema é póstumo.

Botei a boca no mundo,

não gostei do sabor. Ostras e versos

se retraem

ao toque ácido das coisas tardias.
Na sombra insone do meu quarto,
o vazio vigia, na espreita do que não há:
por aqui passaram

pássaros que não pousaram. Fui traído
por ciganas, arlequins e cataclismos.
De nada me valeram
guardar relâmpagos no bolso,
agarrar nas águas as garrafas náufragas.

 

 

 

LINHA DE FUNDO

 

 

Assim meio jogado pra escanteio,
volto ao poema, este local do crime.
Mas é o desprezo que melhor exprime
aquilo que no verso eu trapaceio.
Se pouco do que digo me redime,
cópia pirata de um desejo alheio,
revelo a ti, leitor, o que eu anseio:
um abutre no cadáver do sublime.
A matéria é talvez muito indigesta,
me obriga a convocar um mutirão
para acabar com toda aquela festa
de pétalas e plumas de plantão.
Memória derrubada pelo vento,
quero aqui só lembrar o esquecimento.

 

 

 

AUTORRETRATO

 

 

A Flávia Ampan

 

 

Um poeta nunca sabe
onde sua voz termina,
se é dele de fato a voz
que no seu nome se assina.
Nem sabe se a vida alheia
é seu pasto de rapina,
ou se o outro é que lhe invade,
numa voragem assassina.
Nenhum poeta conhece
esse motor que maquina
a explosão da coisa escrita
contra a crosta da rotina.
Entender inteiro o poeta
é bem malsinada sina:
quando o supomos em cena,
já vai sumindo na esquina,
entrando na contramão
do que o bom senso lhe ensina.
Por sob a zona da sombra,
navega em meio à neblina.
Sabe que nasce do escuro
a poesia que o ilumina.

 

 

 

RECEITA DE POEMA

 

Um poema que desaparecesse

à medida que fosse nascendo,

e que dele nada então restasse

senão o silêncio de estar não sendo.

 

Que nele apenas ecoasse

o som do vazio mais pleno.

E depois que tudo matasse

morresse do próprio veneno.

 

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

SECCHIN, Antonio CarlosCantar amigo. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017.   47 p.  9x13 cm  "Orelha" do livro por José Mario Pereira.  ISBN 978-85-74752-67-9  Tiragem: 250 ex. autografados pelo autor.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

"Ao prazer do autor por tais companhias soma-se, para o leitor, o prazer do texto." JOSÉ MARIO PEREIRA

 

 

LÊDO LIDO (aos oitent´anos do poeta)

 

Indagador obsessivo,
Na memória mora um arquivo,
 Que se acende, imperativo,
Toda vez que o texto é vivo.
Num sopro superlativo,
Faz do poema um vocativo,
Convocando o ser esquivo
Para o mundo substantivo,
Inventado pelo crivo
Da canção de Ledo Ivo.

 

         Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2004

 

 

EM NOME DA ALEGRIA

 

Em nome da alegria me desarmo,
E tudo vira festa em volta à mesa,
Nesta homenagem a Maria do Carmo,
De Limoeiro a sempre Baronesa.

Recife-Rio, como transpor barreiras?
Trens, automóveis, aviões e barcos?
Qualquer distância se torna pequena
Para expressar o meu afeto a Marcos.

Capibaribe, afluente dos sonhos,
Que traz nas águas o que vive e passa,
Trouxe pra mim a amizade sem fim
De Maria do Carmo e Marcos Vilaça
.

 

 

UM JANTAR EM LISBOA

 

Vinte e sete de setembro
Neste Solar dos Presuntos:
Bela festa da amizade,
É dádiva estarmos juntos.
Se o vinho traz a verdade,
Primeiro me vem à ideia
Erguer com felicidade
Um brinde à querida Ecléa.
Respeitando o protocolo
Na sequência deste enredo,
Levantemos nossa taça
Na celebração de Alfredo.
Não é possível esquecer
Cá na terra lusitana
Brilho e beleza que vêm
Da doce figura de Ana.
Mas retornando ao Brasil
O coração mais se ufana,
Porque além de Alfredo e Edla
Eis aqui também Viviana.
Ponte Brasil-Portugal:
Quem há de abrir bom caminho?
O Pedro Alvares Cabral
E João Pereira Coutinho.
É uma inconteste verdade
Que melhor editor não há:
Vivas e braços erguidos
A nosso Jorge Reis-Sá.
Então, sabendo que em verso
Deve uma história ter fim,
Assina embaixo de tudo
Vosso escrevente Secchin.

 

Lisboa, 27 de setembro de 2014

 

Obs.: referências ao casal Ecléa, Alfredo e a sua filha Viviana Bosi; e aos portu¬gueses Ana e Jorge Reis-Sá, ele escritor e editor; João Pereira Coutinho, colunista e escritor.

 

  

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHINExtraído de:
2011 CALENDÁRIO   poetas     antologia
Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2010.
Editor: Edson Guedes de Morais /
Caixa de cartão duro com 12 conjuntos
de poemas, um para cada mês do ano. Inclui efígie e um poema de cada
poeta, escolhidos entre os clássicos e os contemporâneos do Brasil, e alguns
de Portugal. Produção artesanal. A capa reproduz uma foto do
poeta Antonio Miranda na adolescência (circa 1950).

 

 

 

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  3

 

A ILHA

 

E olhamos a ilha assinalada

pelo gosto de abril que o mar trazia

e galgamos nosso sono sobre a areia

 

num barco só de vento e maresia.

Depois, foi a terra. E na terra construída

erguemos nosso tempo de água e de partida.

 

Sonoras gaivotas a domar luzes bravias

em nós recriam a matéria de seu canto,

e nessas asas se esparrama nossa glória,

 

de um amor anterior a todo estio,

de um amor anterior a toda história.

E seguimos no caminho de ser vento

 

onde as aves vinham ver se havia maio,

e as marcas espalmadas contra o frio

recobriam de brancura nosso rumo.

 

E abrimos velas alvas que se escondem

dos mapas de um sonho pequenino,

do início de uma selva que se espraia

 

na distância entre mim e o meu destino.  

 

 

 

MARGEM

 

Vou andando para a beira desse porto,

entre cheiros de cigarra e de sardinha

e um desejo líquido de partir.

Meu olhar desliza no horizonte, querendo saber

a que distância um nome deixa de doer.

seu nome, marcado em minha boca

como a polpa de uma pêra .

O navio enorme avisa que vai embora.

Escrevo a palavra salto,

e paro no sal, e não chego ao alto.

A noite está boiando

num óleo grosso de silêncio e luz.

Molho os pés, penso em seu nome: gozo

de um poço tapado. Insônia de musgos

na beira das águas redondas.

Me vejo na ponta do cais,

cacos de luz

abrindo a cara do mar.

Destroços de palavras, pedaços de seu nome,

sílabas que batem contra os cascos.

Estou parado na beira de um porto,

azul e morte no oco do ar.

 

 

 

BIOGRAFIA

 

O poema vai nascendo

num passo que desafia:

numa hora eu já o levo,

outra vez ele me guia.

 

O poema vai nascendo,

mas seu corpo é prematuro, 

letra lenta que incendeia

com a carícia de um murro.

 

O poema vai nascendo

sem mão ou mãe que o sustente,

e perverso me contradiz

insuportavelmente.

 

Jorro que engole e segura

o pedaço duro do grito,

o poema vai nascendo,

pombo de pluma e granito.

 

 

CANTIGA

 

Senhora, é doença tão sem cura

meu querer de vossos olhos tão distantes,

que digo: é maior a desventura

ver os olhos sem os ver amantes.

 

Senhora, é doença tão largada

meu querer de vossa boca tão serena,

que até mesmo a cor da madrugada

é vermelha de chorar a minha pena.

 

 

POEMA DO INFANTE

 

É a noite.

E tudo escava tudo

na língua ambígua que desliza

para o esquivo jogo.

Amargo corpo,

que de mim a mim se furta,

não recuso teu percurso

no hálito das pedras

que me existem em ti

— estéril dorso entre águas

estancadas.

O nada, o perto, o pouco,

não posso dividir

do que se espera o que me habita,

ao fazer fluir a via antiga

de um menino que mediu o lado impuro.

Operário do precário,

me limito nesse corpo amanhecido,

asa e gozo onde a morte mora.

Minha vida, mapeada e descumprida,

está pronta para o preço dessa hora.


TODOS OS VENTOS


De

Antonio Carlos Secchin
TODOS OS VENTOS
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002
ISBN 85-209-1299-0

 

 

 

No princípio do princípio
meu início.

Na derivada do nada
minha estada.

No compasso da mudez
minha nudez

 


 

"DE CHUMBO ERAM SOMENTE DEZ SOLDADOS"

                        A José Maurício Gomes de Almeida


 

De chumbo eram somente dez soldados,

plantados entre a Pérsia e o sono fundo,

e com certeza o espaço dessa mesa

era maior que o diâmetro do mundo.

 

Aconchego de montanhas matutinas

com degraus desenhados pelo vento,

mas na lisa planície da alegria

corre o rio feroz do esquecimento.

 

Meninos e manhas, densas lembranças

que o tempo contamina até o osso,

fazendo da memória um balde cego

 

vazando no negrume do meu poço.

Pouco a pouco vão sendo derrubados

as manhãs, os meninos e os soldados.


 

 

ARTES DE AMAR

 

                        A Suzana Vargas

 

 

paixão e alpinismo                sensasão simultânea

                                            de céu e abismo

 

paixão e astronomia              mais do que contar estrelas

                                             vê-las
                                            à luz do dia

 

amor antigo e matemática      equação rigorosa:

                                             um centímetro de poesia

                                             dez quilômetros de prosa

 

 

 

CONFESSIONÁRIO

                           
A Cláudio Murilo



Não posso dar-me em espetáculo.
A platéia toda fugiria
antes mesmo do segundo ato.
Um ator perplexo misturaria
versos, versões e fatos.
E um crítico, maldizendo a sua sina,
rosnaria feroz
conta minha verve
sibilina.


 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

Antonio Miranda e Antonio Carlos Secchin nas palestras
de encerramento do I Simposio Internacional de Poesia,
na Universidade de Brasília, parte da I Bienal Internacional
de Poesia de Brasília, dia 5 de setembro de 2008.

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN : UM FESTSCHRIFT PARA O MESTRE

 

          Festschrift é o termo alemão para um livro em homenagem a um pesquisador, a uma figura ilustre. Geralmente, um reconhecimento em vida para celebrar um personagem da academia, da ciência, da literatura por sua carreira vitoriosa. É exatamente o caso de Antonio Carlos Secchin, ao aposentar-se da Universidade Federal do Rio de Janeiro no auge de sua trajetória de professor, poeta e crítico e pela excepcionalidade de ter conquistado uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

         Antonio Carlos Secchin: escritas e escutas é justamente (!!!) o tributo de amigos, ex-alunos, admiradores e escritores de suas relações. Livro  em edição fora do comércio, sem editora, sem catalogação na fonte, sem ISBN, mas bem impresso, certamente exemplares limitados para circulação restrita.

         Reúne depoimentos, homenagens e estudos. Nomes conhecidos como o poeta Adriano Espinola, a antologista Edla Van Steen, o poeta e acadêmico (da ABL) Ivan Junqueira e muitos outros dão seu testemunho e apresentam textos sobre a obra poética e literária de Secchin, sem deixar de referir-se também ao bibliófilo da literatura brasileira.

         Mas não se trata de uma retirada. Ainda jovem (expressão que irrita a muitos...), no caso dele revela sua maturidade numa fase criativa de sua vida, com a certeza de que vamos seguir disfrutando de muitas de suas contínuas empreitadas na poesia, na crítica, nos estudos bibliográficos, em pesquisas, discursos, ensaios, resenhas e textos de sua tão prolixa mas profunda produção. Sem esquecer de sua extraordinária capacidade de comunicação oral, de seu diálogo inteligente e vivaz, de sua convivência fraterna.

         Sem querer, querendo, acabei participando, por fora, nesta quase resenha, deste livro que me foi dedicado pelo autor em sua recente visita a Brasília. E do qual retiro e compartilho com os nossos milhares de internautas um poema seu que está na contra-capa:



 Autoria

Por mais que se escoem
coisas para lata do lixo

clipes, cãibras, suores
restos do dia prolixo

por mais que a mesa imponha
o frio irrevogável do aço,

combatendo o que em mim contenha
a linha flexível de um abraço

sei que um murmúrio clandestino
circula entre o rio de meus ossos:

janelas para um mar-abrigo
de marasmos e destroços.

Na linha anônima do verso,
aposto no oposto de meu sim,

apago o nome e a memória
num Antônio antônimo de mim.

 

 

(Texto publicado em 21/06/2011, depois de tê-lo como membro da banca de doutorado do (agora doutor) Oto Reifschneider, cuja tese sobre Bibliofilia, defendida na Universidade de Brasília, também inscreve sua condição de bibliófilo.  Do amigo Antonio Miranda)

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

De
Antonio Carlos Secchin
ELEMENTOS
Poesia
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983. 
78 p. (Coleção Poesia Hoje, v. 73)

 

A seguir, textos extraídos de um exemplar dedicado pelo autor à poeta Marly de Oliveira, em 1988, agora no acervo da Biblioteca Nacional de Brasília



O real é miragem consentida,
engrenagem da voragem,
língua iludida da linguagem
contra a sombra que não peço.
O real é  meu excesso.

 

 

VER

O dia.  Arcos da manhã
em nuvem. Riscos de luz
como vidros arriados.

O claro.  A praia armada
entre a sintaxe do verde.
Áreas do ar.  Aves
navegando as lajes
do azul.

 

 

 

"DESARMO O RUMO DE MEU DIA FINDO"

 

                   A Angela Beatriz de Carvalho

 

Desarmo o rumo de meu dia findo,

escura fonte que guardou meu sono,

e pressinto os lábios de uma noite vindo

nas âncoras quebradas pelo som do outono.

 

Eu quero um campo em que as sílabas do vento

me tragam o espaço da manhã tombada.

Quero um tempo novo além do tempo

distraído pelas mãos da madrugada.

 

E não impeço a terra que já se prepara

num silêncio curvo que anuncia as naves.

E me arremesso a essa praia clara

como um domingo pousado sobre o voo das aves.

 

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN
ANTONIO CARLOS SECCHIN

SECCHIN, Antonio CarlosPoema para 2002.  Rio de Janeiro: Cacto – Arte e Ciência, 2002.  15x21 cm.  Ilustração de Renato Rezende. Edição como “presente para o autor, em ocasião de seus 50 anos, por isso o corte da tela em 50 fragmentos e tiragem de 50 exemplares, numerados de I a V e de 1 a 45, todos assinados pelo autor e pelo pintor.” Direção editorial: Cláudia Ahimsa, Capa e projeto gráfico: Robson Phoenix. Projeto da ilustração: Cláudia Ahimsa. Carpintaria (das capas confeccionadas em madeira): João Ribeiro Neto; acabamentos de marcenaria: W. Gomes Coimbra. Encadernação Ateliê Luiz Fernando Machado (SP). Col. A.M. (LA) 

 

Caxumba, catapora, amigdalite,
miopia, nevralgia, crise asmática.
Dor de dente, dor de corno, hepatite,
diabete, arritmia e matemática.
Helenas, Marianas e Marcelos,
tomate, hipocondria e chicória,
sacerdotes, baratas, pesadelos,
calvície, dentadura e desmemoria.
Pé quebrado, verso torto, ruim de bola,
nervoso, nariz grande, cu de ferro.
Desastrado, imprudente e noves fora
muita prosa pr´um gozo quase zero.
    E para coroar todos os danos,
    benvindos sejam os meus cinquenta anos.

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

SECCHIN, Antonio Carlos.  50 poemas escolhidos pelo autor.  Rio de Janeiro: Edições  Galo Branco, 2006.   84 p. (50 poemas escolhidos pelo autor)   13x21 cm.  ISBN 8586276-91-X  No frontispício uma xllogravura de Ana Botelho e fotografia do poeta na capa.  Col. A.M.  (EA)

 

 

OU

 

você pode me pisar

que nem confete

você pode me morder

que nem chiclete

você pode me chupar

que nem sorvete

você pode me lanhar

que nem gilete

só não pode proibir

que nem piquete

se eu quiser escapulir

que nem pivete

 

 

“O REAL É MIRAGEM CONSENTIDA”

 

O real é miragem consentida,

engrenagem da voragem,

língua iludida da linguagem

contra o espaço que não peço.

O real é meu excesso.

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

SECCHIN, Antonio Carlos.  Todos os Ventos.  Antologia poética. Seleção e prefácio de Arnaldo Saraiva.  Vila Nova de Famalicão, Portugal: Edições Quasi, 64 p.  (Biblioteca “Arranjos para assobio”).  13,5x20,5 cm.  ISBN  989-552-148-0    Col. A.M.

 

“não tenho tempo para ser eterno”
A. C. Secchin

 

 

TRÊS TOQUES

 

1) Paciência!

 

O processo desse amor

já caiu em exigência.

 

2) Impaciência

 

Amor é bicho precário.

Eu queria avançar no romance,

e você me cortou no sumário.

 

3) Dialética

 

Acho que assim

resolvo o nosso problema.

Tiro você da vida

e boto você no poema.

 

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN
CARNEIRO, Geraldo.  Discurso de posse Sr. Geraldo Carneiro. Recepção Sr. Antonio          Carlos Secchin. Sessão solene extraordinária do dia 31 de março de 2017.  Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2017.  36 p.  16x23 cm.  

  

  =================================================================

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN


Poeta, ensayista, crítico literario, novelista, profesor universitario de literatura brasileña. Doctor en Letras por la Universidad Federal de Rio de Janeiro. Especialista en la obra de João Cabral de Melo Neto. Autor de varios poemarios entre los que se destacan Elementos y Todos los Vientos (con el que obtuvo el premio Pen Club de Brasil, w003, como mejor libro de poesía).

 

Antonio Carlos Secchin

De
Antonio Carlos Secchin

TODOS LOS VIENTOS

 Mérida, Venezuela: Ediciones Gitanjali - CONAC, 2009

Traducciones de Yhana Riobueno.  

 

BIOGRAFIA

 

El poema va naciendo

a paso que desafía:

por momentos yo lo llevo

otras veces él me guía.

 

El poema va naciendo,

mas su cuerpo es prematuro,

letra lenta que incendia

con la caricia de un puño.

 

El poema va naciendo

sin mano o madre que lo sustente,

y perverso me contradice

insoportablemente.

 

Chorro que traga y sostiene

el pedazo duro del grito,

el poema va naciendo,

palomo de pluma y granito.

 

 

MARGEN

                                              

Voy andando hacia la orilla de ese puerto,

entre olores de cigarro y de sardina

y un deseo líquido de partir.

Mi mirada se desliza en el horizonte, queriendo saber

a qué distancia un nombre deja de doler.

Tu nombre, marcado en mi boca

como la pulpa de una pera.

El navío enorme avisa que se va.

Escribo la palabra salto,

y paro en la sal, y no llego al alto.

La noche está flotando

en un grueso aceite de silencio y luz.

Me mojo los pies, pienso en tu nombre: gozo

de un pozo tapado. Insomnio de musgos

 a la orilla de aguas redondas.

Me veo en la punta del muelle,

añicos de luz

abriendo la cara del mar.

Destrozos de palabras, pedazos de tu nombre

sílabas que golpean los cascos.

Estoy parado a la orilla de un puerto,

azul y muerte en lo hueco del aire.

 

 

 LA ISLA

                                                       

Y miramos la isla señalada

por el gusto de abril que el mar traía

y recorremos nuestro sueño sobre la arena

 

en un barco sólo de viento y marejada.

Después fue a tierra. Y en la tierra construida

erguimos nuestro tiempo de agua y de partida.

 

Sonoras gaviotas a domar luces bravias

en nosotros recrean la materia de su canto,

y en esas alas se desparrama nuestra gloria,

 

de un amor anterior a todo estío,

de un amor anterior a toda historia.

Y seguimos en el camino de ser viento

 

donde las aves venían a ver si había mayo,

y las marcas espalmadas contra el frío

recubrían de blancura nuestro rumbo.

 

Y abrimos velas albas que se esconden

de los mapas de un sueño pequeñito,

del inicio de una selva que se explaya

 

en la distancia entre mí y mi destino.

 

 

CANTIGA

 

Señora, es dolencia tan sin cura

mi querer de vuestros ojos tan distantes,

que digo: es mayor la desventura

ver los ojos sin los ver amantes.

 

Señora, es dolencia tan largada

mi querer de vuestra boca tan serena,

que hasta el color de la madrugada

es roja de llorar mi pena.

 

 

POEMA DEL INFANTE

                                              

Es la noche.

Y todo excava todo

en la lengua ambigua que desliza

al esquivo juego.

Amargo cuerpo,

que de mí a mí se hurta

no rechazo tu recorrido

en el hálito de las piedras

que me existen en ti

— estéril dorso entre aguas

estancadas.

La nada, lo cercano, lo poco,

no puedo dividir

de lo que se espera lo que me habita,

y hacer fluir la vía antigua

de un muchacho que midió el lado impuro.

Operario de lo precario,

me limito en ese cuerpo amanecido,

ala y gozo donde la muerte mora.

Mi vida, mapeada y descumplida,

está lista para el precio de esa hora.

 

 

Antonio Carlos Secchin

 

De
Antonio Carlos Secchin
ESCRITOS SOBRE POESIA & ALGUMA FICÇÃO
Rio de Janeiro: Ed. Uerj, 2003. 301 p.
ISBN 85-7511-035-7


Antonio Carlos Secchin, além de poeta e acadêmico, é um dos mais reconhecidos críticos e ensaístas da área da Literatura e cabe registrar aqui esta obra. Inclui trabalhos sobre Castro Alves, sobre o Romantismo brasileiro, Cruz e Souza, Raul Bopp, João Cabral de Melo Neto, Machado de Assis, Álvares de Azevedo, sobre o Parnasianismo, o Simbolismo e o Modernismo, sobre Davi Arigucci Jr, Jorge de Lima, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Alphonsus de Guimarães Filho, José Castello, José Paulo Paes, Afonso Félix de Sousa, Ferreira Gullar, Neide Archanjo, Marly de Oliveira, Fernando Fortes, Ivan Junqueira, Paulo Hecker Filho, Ana Cristina Cesar, Wally Salomão, Antonio Cícero, Alexei Bueno, Renato Rezende, Fabricio Carpinejar, Arlete Nogueira da Cruz, Ricardo Thomé e João Alexandre Barbosa, além das entrevistas que o poeta Antonio Carlos Secchin concedeu recentemente a vários jornais e revistas.  Imperdível.

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

SECCHIN, Antonio Carlos. João Cabral: uma fala só lâmina.  São Paulo: Cosac Naif, 2014.  480 p.  ilus.  14,5x23 cm. Projeto gráfico: Paulo André Chagas.  ISBN 978-85-405-0764-7  Analisa, livro a livro, toda a obra de João Cabral de Melo Neto, incluindo os textos de seu livro João Cabral: a poesia do menos ( 1985 ) e os ensaios posteriores, revisados, que produziu sobre a poesia cabralina. Secchin é o mais destacado estudioso da obra do poeta pernambucano.  “ Antonio Carlos Secchin “  Ex. bib. Antonio Miranda

 

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ANTONIO CARLOS SECCHIN

ANTONIO CARLOS SECCHIN E ANTONIO MIRANDA reencontram-se na  FLIPORTO 2009, Porto de Galinhas, Pernambuco, em novembro de 2009.

 

 

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN EM BRASÍLIA

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

Antonio Carlos Secchin pronunciando uma palestra na abertura do I Seminário sobre o Futuro do Livro – O Livro de Arte no Brasil, na Faculdade de Ciência da Informação, Universidade de Brasilia, dia 28 de outubro de 2012. Veja matéria: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7261

 

Antonio Miranda e Antonio Carlos Secchin em visita à Chácara Irecê, no Município de Cocalzinho, Goiás, na tarde do dia 28 de outubro de 2012.

 

 

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN

SECCHIN: uma vida em letras. Maria Lucia Guimarães de Faria e Godofredo de Oliveira         Neto, organizadores. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. 548 p. 16x23 cm. (Crítica, Letras e Artes)  ISBN 978-85-7108-377-6  Constituído por seções: I -  O Ensaista; II – O Poeta; III – O Professor. IV – Entre-Livros. Uma “Síntese cronológica”, uma “Bibliografia” do Autor, as “Legendas das fotos” da vida e trajetória do acadêmico e os dados dos (muitos!) autores dos textos, autoridades da crítica literária, acadêmicos, escritores, poetas e amigos. Sem desmerecer os demais, vão alguns nomes: Nélida Piñon,  Alfredo Bosi, Antonio Candido, Benedito Nunes, Eduardo Portela, Claudio Murilo Leal, Carlos Felipe Moisés, Gilberto Mendonça Teles, Ivan Junqueira, Arnaldo Niskier, Adriano Espíndola, Carlos Nejar, Ferreira Gullar, etc, etc  e os brasilianistas Charles A. Perrone e Giovanni Ricciardi.  Col. A.M.


ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

Extraído de

 

HOLLANDA, Heloisa Buarque de, seleção e introdução. 
26 POETAS HOJE. Rio de Janeiro: Editorial Labor do Brasil, 1976.  206 p.  ilus.   18 cm. (Coleção de Bolsos Labor, 1) 

Inclui os poetas: Adauto, Afonso Henriques Neto, Ana Cristina César, Antonio Carlos de Brito, Antonio Carlos Sechin, Bernardo Vilhena, Carlos Saldanha, Chacal, Charles, Eudoro Augusto, Flávio Aguiar, Francisco Alvim, Geraldo Eduardo Carneiro, Isabel Câmara, João Carlos Pádua, Leila Miccolis,s Leonardo Fróes, Luiz Olavo Fontes, Ricardo G. Ramos, Roberto Piva, Torquato Neto, Vera Pedrosa, Waly Sailormoon, Zulmira Ribeiro.

 

Poemas de ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

            Tempo: saída & entrada

 

        O tempo de minha avó,
meu feijão era mais sério.
Havia um ou dois óculos
me espiando atrás
de molduras roídas.
Mas eu era feliz,
dentro da criança
o outono dançava
enquanto pulgas vadias
dividiam os óculos.

         Dentro da criança,
as pulgas espiavam
o outono vazio,
dividiam minhas molduras
roídas por óculos vadios.
No tempo de meu feijão
minha avó era mais séria.

 

 

         Ver

 

        O dia. Arcos da manhã
em nuvem. Riscos de luz
como vidros ariados.

         O claro. A praia armada.
entre a sintaxe do verde.

         Áreas do ar. Aves
navegando as lajes
do azul.

 

        

         Inventário

 

        um urso caolho
um piano antigo
seu silêncio de madeira
cheio de fugas para brincar lá fora
passarinho morto na janela que nem um tambor
quebrado

 

 

        Visita

 

        O verso era um abraço salgado
que os peixes telegrafaram.
Era um cisne louco
bicando o amor.
Era o secreto frio
trancado na boca.
Era o tempo roendo os móveis,
os olhos, a conta do gás.

 

 

         “O meu corpo se entrelaça”

 

         O meu corpo se entrelaça
ao suspiro, e tira e caça
no concreto de um soluço
essa pele decifrada
pelo espaço de meu sangue.
E com fúria e flama
não derrubo  que me abarca,
nem rebato à minha posse
as premissas do que sinto:
eu devoro o meu amor,
arbitrário como um cinco.

 

 

         Aviso

 

        desfiz noivado
vendo sem uso
almofadas soltas
jogo
mesinha mármore rosa
cama sofá arquinha

         .  .  .

        

         Não, não era ainda a era da passagem
do nada ao nada, e do nada ao seu restante.
Viver era tanger o instante, era linguagem
de se inventar o visível, e era bastante.
Falar é tatear o nome do que se afasta.
Além da terra, há só o sonho de perdê-la.
Além do céu, o mesmo céu, que se alastra
num arquipélago de escuro e de estrela.

 

        

        A Fernando Pessoa

 

         Ser é corrigir o que se foi,
e pensar o passado na garganta do amanhã.
É crispar o sono dos infantes,
com seus braço de inventar as buscas
em caminhos doidos e distantes.

         É caminhar entre o porto e a lenda
de um tempo dardejado contra o mar.
Domar o leme das nuvens, onde mora
o mito e a glória de um Deus a naufragar.

         .   .   .

 

         Uma ovelha me ama de repente.
O seu sonso é para o sêmen dos pastores,
que nela vão depondo com cuidado
seu suor, seus capins e seus amores.
Eu a tenho com vigor bem vagaroso,
e sua baba à minha boca se condena,
e tanto meu desejo não se esquiva
quanto mais o seu berreiro me acena.
Amante e amada em grama e gozo confundidos,
as espigas se envergonham, se vergando ao jogo aberto.
Permutamos nossa pele, confidências e ganidos,
e meu pênis se proclama nessa vulva que penetro.

         .   .   .

 

         Há um mar no mar que não me nada
e não se entorna em ser espuma ou coisa fria.
Me sinto cheio de palavra e de formato,
murado em mim sob a ciência desse dia.
Na sonância do que vive,
minha fala é desistência,
e dizer é corroer o que se esquiva,
reter a letra a cicatriz do som vazio.
Sou apenas quinze avos da loucura,
a dar um nome à ironia do que dura.

         .   .   .

 

         Uma palavra, outra mais, e eis um verso,
Doze sílabas a dizer coisa nenhuma.
Esforço, limo, devaneio e não impeço
Que este quarteto seja inútil como a espuma.

         Agora é hora de ter mais seriedade,
Senão a musa me dará o não eterno.
Convoco a rima, que me ri de eternidade,
Calço-lhe os pés, lhe dou gravata e um novo terno.

         Falar de amor, oh, pastora, é o que eu queria,
Mas os fados já perseguem teu poeta,
Deixando apenas a promessa de poesia,

         Matéria bruta que não cabe no terceto.
Se o deu frecheiro me jogasse a sua seta,
Eu tinha a chave pra tancar este soneto.

 

***

Na sequência de sonetos metalinguísticos, hoje apresento “Trio”, inicialmente publicado em 2002 e de novo,  bastante modificado,  em Desdizer (2017). Cita-se o nome completo de Bilac – Olavo Brás Martins de Guimarães Bilac – como exemplo de alexandrino perfeito, com cesura na sexta sílaba. Também é considerado tecnicamente correto o acentuado na quarta e na oitava. Constatei que os outros dois mais afamados nomes de nosso Parnasianismo, mediante certa manobra (desfazer ditongos  em prol de hiatos, no poema assinalados com o extinto, porém, no caso, funcional trema), igualmente formavam alexandrinos. Assim, eu já dispunha, de graça, de 3 dos 14 versos do soneto, rs. Nos demais, referi o  tom algo engravatado de alguns poemas, a crença na imortalidade de suas obras,  aludi a versos e títulos famosos (“Ser palmeira”, “Vaso grego” e “Vaso chinês”, de Alberto de Oliveira, “Ora (direis) ouvir estrelas”, de Bilac, “As pombas”, de Raimundo Correia”) e por fim contrapus   a maestria “domesticada” do poema às forças indomáveis que podem assediar   a acomodada rotina  de um versejador.

 

 

Trio 

 

Olavo Brás Martins  dos Guimarães Bilac,

que no Parnaso ecoa como voz primeira,

já vê que ali  bem cabe, de gravata e fraque,

um poeta que tentou  vestir-se de palmeira:

 

Antônio Marïano Alberto de Oliveira,

que  deposita em  vaso  os versos que semeia,

responde que o futuro esconde  da fogueira

Raïmundo da Mota Azevedo Correia.

 

Poupados do terror  que a vida dissemina,

arremessando ao chão  as pombas e as estrelas,

declaram que na  jaula justa e alexandrina

 

não há de  haver perigo ou plano de perdê-las.

O trio adestra o verso à limpa luz do dia.

Lá fora a fera rosna a fome da poesia.

 

 

IARARANA – revista de arte, crítica e literatura.  Salvador, Bahia.       No.  4– 2000 
Ex. bibl. Antonio Miranda

                

“Repara como a tarde é traiçoeira”

                    A Luís Antonio Cajazeira Ramos

 

Repara como a tarde é traiçoeira:
dentro dela se abriga o desengano
desse dia que acabou sendo somente
um resto de boneco, arame e pano.

Previamente me abraçam a noite e o dano
de tudo que não foi compartilhado,
senão como um pão velho sobre a mesa
na espera seca e vã do inesperado.

Não me consola a música do mundo,
nada espero que acene em meu socorro;
se a imagem do presente paralisa,

de passado é bem certo que eu não morro.
Indiferente à sorte ou ao inferno,
não tenha tempo para ser eterno.

 

Luz

Le jour n´est pas pur que le fond de mon coeur
Racine

      A Ivo Barroso

 

ao ver
o não
que sai
da dor

som
da voz
já vai
no sim

no tom
do céu
não vi
mais luz

do que
no sol
que há
em mim

 

Aire

Áspera guitarra rasga o ar da praça.
Há um pássaro parado na garganta de Carmen.

Embarca o pássaro na lábia do acaso.
Ácido cenário de pátios e compassos.

Passam rápidos máscaras e presságios.
Espada e Espanha, abraço incendiário,

Cantam alto as artes do espetáculo:
lançar-se à brasa e matar-se no salto.

 

 

“De chumbo eram somente dez soldados”

De chumbo eram somente dez soldados,
plantados entre a Pérsia e o sono fundo,
e com certeza o espaço dessa mesa
era maior que o diâmetro do mundo.

Aconchego de montanhas matutinas
com degraus desenhados pelo vento;
mas na lisa planície de alegria
corre o rio feroz do esquecimento.

Meninos e manhãs, dessas lembranças
que o tempo contamina até o osso,
fazendo da memória um balde cego

vazando no negrume de um poço.
Pouco a pouco vão sendo derrubados
as manhãs, os meninos e os soldados.

 


POESIA VIVA em revista. v. 6 / Leda Miranda Hühne et al. Rio de Janeiro: Uapê, 2010. 166 p. ISBN 978-85-85666-90-3
Ex. enviado (autografado) gentilmente a Antonio Miranda pelos editores Leda e Augusto.

 

 

             O BANQUETE

A Ferreira Gullar

Entre mesuras, talheres e finezas,
um garçom serve a morte sobre a mesa.

“Quente ou fria?”, indaga-me sereno,
e seu olhar tem a doçura de um veneno.

“Para o começo, o que quer?
A que matou o guarda? Frango à la bière?

A massa, se preferir algo bem quente,
vai logo arder, em caldeirão, al dente.

Como planeja arrematar a refeição?
Numa bala? Presunto com melão?

 

 



Caso queira coisa rápida e gelada,
sugiro uma fina faria do nada.”

E num gesto incisivo e severo
— como se marca um boi a ferro —

adoçou a insípida vida:
pôs no prato O prazer do suicida.

Pensar na morte é provar o necessário
destempero entre patrão e operário:

um deseja macarronada à mesa,
outro inclui até o vento na despesa.

Ela morte nos expulsa porta a fora:
o contrato já passou da hora.

E como nada tenho que lhe apeteça
não me concede aumento ou hora extra.

O garçom mal anota o que lhe digo:
tudo que peço vai entrando no olvido.

Ao contemplar a carteira magra e preta,
com 10% de voz insinua uma gorjeta.

Faço agora o meu pedido?
Não morrer: desnascer — nunca ter sido.

Apagar de mim a memória inteira,
regressar à árvore de que fui cadeira,

sentir um bico de bem-te-vi esfomeado,
mas jamais mofar no almoxarifado.

Assim de modo bem pouco alto-falante
a vida se esgarçaria como a ponta de um barbante

*

Página ampliada e republicada em novembro de 2023           

*

 

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html

 

Página ampliada e republicada em dezembro de 2021

 

 

 

Página ampliada e republicada em junho de 2018; ampliada em dezembro de 2019; amplianda em 02/2021

 

 

 

 

 

 

 
 
 
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