Nasceu no Rio de Janeiro, em 1952. É professor titular de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ, tornando-se sucessor da cátedra anteriormente ocupada por Alceu Amoroso Lima e Afrânio Coutinho. Doutor em Letras pela mesma Universidade.
Poeta com 5 livros publicados, destacando-se Todos os ventos (poesia reunida, 2002), que obteve os prêmios da Fundação Biblioteca Nacional, da Academia Brasileira de Letras e do PEN Clube para melhor livro do gênero publicado no país em 2002.
Ensaísta autor de 3 livros, dentre eles João Cabral; a poesia do menos, ganhador de 3 prêmios nacionais, dentre eles o Sílvio Romero, atribuído pela ABL em 1987. Em 2001, organizou a Poesia completa de Cecília Meireles, na edição comemorativa do centenário de nascimento da escritora. Em 2003, publicou Escritos sobre poesia & alguma ficção, reunindo cerca de 50 artigos e ensaios.
Autor de mais de três centenas de textos (poemas, contos, ensaios) publicados nos principais periódicos literários do país e do exterior. Sobre sua obra já escreveram favoravelmente ensaístas como Benedito Nunes, José Guilherme Merquior, Eduardo Portella, Alfredo Bosi, Antônio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet José Paulo Paes, André Seffrin, Ivo Barbieri, Fábio Lucas e Ivan Junqueira, entre outros.
Eleito em junho de 2004, tornou-se o mais jovem membro da Academia Brasileira de Letras: http://www.academia.org.br/
Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília – I BIP, com a palestra de encerramento do Simpósio de Crítica de Poesia, na UnB.
SECCHIN, Antonio Carlos.Desdizer e antes. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017. 211 p. 15,5x223 cm. Projeto e ilustração da capa: Waltercio Caldass, com finalização de Miriam Lerner. ISBN 978-85-7475-266-2 Ex. bibl. Antonio Miranda
"Destroço à teia, a trama da palavra,
mantendo à fala em que me escondo."
ANTONIO CARLOS SECCHIN
Valeu a pena esperar! O livro voltou ao remetente, reenviado acabou no meu endereço. Eu mereço!!! O "Desdizer e antes", do Secchin, com muito depois. Pura metapoesia, com humor leve e experimental, de bom caráter: "não espere muito de mim", desdiz-se o poeta, criatura que esperei tanto e que tanto se afigura! Quem se diz "cópia pirata de um desejo alheio"... Pirata é o meu desejo de plagiá-lo ao elogiá-lo, e não consigo, meu querido amigo! Diz-nos que "Um poeta nunca sabe onde sua voz termina", falsa modéstia para um acadêmico da ABL! Íntimo de Pessoa, Drummond e Cecília, além de aprofundar-se no discurso poético de João Cabral de Melo Neto! E os supera à sua maneira... Secchin é sem fim! "Tem um lado com / Tem um lado zen". Um lado sim, um sem ou também, só dele, de mais ninguém! Aquele "lado sem /mesmo acompanhado"!...
Sim: "Toda linguagem / é vertigem, farsa, verso fingido" (...) em que ele confessa: "e me deponho, inverso, no subsolo do discurso."
Curso pleno,
Fico por aqui, pois ele já vai longe, inalcançável.
Cinco poemas do livro, entre os metapoemas. Mais, no livro, para seus seguidores.
NA ANTESSALA
Espalhei dezoito heterônimos
em ruas do Rio e Lisboa.
Todos eles, se reunidos,
não valem um só de Pessoa.
Trancafiei-me num mosteiro,
esperando de Deus um dom.
O que Ele me deu foi pastiche
da poesia de Drummond.
Ressoa na minha gaveta
um comido de versos reles.
Em coro parecem dizer:
Não somos Cecília Meireles.
O desavisado leitor
não espere muito de mim.
O máximo, que mal consigo,
é chegar a Antonio Secchin.
CINZAS
Talvez o verão tenha queimado os frutos.
As mãos, ressequidas, apenas recolhem restos.
Cinzas, ardores, ossos.
Havia ali,
não se lembra?,
um rumor de desejo,
que nenhuma palavra salva:
todo poema é póstumo.
Botei a boca no mundo,
não gostei do sabor. Ostras e versos
se retraem
ao toque ácido das coisas tardias.
Na sombra insone do meu quarto,
o vazio vigia, na espreita do que não há:
por aqui passaram
pássaros que não pousaram. Fui traído
por ciganas, arlequins e cataclismos.
De nada me valeram
guardar relâmpagos no bolso,
agarrar nas águas as garrafas náufragas.
LINHA DE FUNDO
Assim meio jogado pra escanteio,
volto ao poema, este local do crime.
Mas é o desprezo que melhor exprime
aquilo que no verso eu trapaceio.
Se pouco do que digo me redime,
cópia pirata de um desejo alheio,
revelo a ti, leitor, o que eu anseio:
um abutre no cadáver do sublime.
A matéria é talvez muito indigesta,
me obriga a convocar um mutirão
para acabar com toda aquela festa
de pétalas e plumas de plantão.
Memória derrubada pelo vento,
quero aqui só lembrar o esquecimento.
AUTORRETRATO
A Flávia Ampan
Um poeta nunca sabe
onde sua voz termina,
se é dele de fato a voz
que no seu nome se assina.
Nem sabe se a vida alheia
é seu pasto de rapina,
ou se o outro é que lhe invade,
numa voragem assassina.
Nenhum poeta conhece
esse motor que maquina
a explosão da coisa escrita
contra a crosta da rotina.
Entender inteiro o poeta
é bem malsinada sina:
quando o supomos em cena,
já vai sumindo na esquina,
entrando na contramão
do que o bom senso lhe ensina.
Por sob a zona da sombra,
navega em meio à neblina.
Sabe que nasce do escuro
a poesia que o ilumina.
RECEITA DE POEMA
Um poema que desaparecesse
à medida que fosse nascendo,
e que dele nada então restasse
senão o silêncio de estar não sendo.
Que nele apenas ecoasse
o som do vazio mais pleno.
E depois que tudo matasse
morresse do próprio veneno.
SECCHIN, Antonio Carlos. Cantar amigo. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017. 47 p. 9x13 cm "Orelha" do livro por José Mario Pereira. ISBN 978-85-74752-67-9 Tiragem: 250 ex. autografados pelo autor. Ex. bibl. Antonio Miranda
"Ao prazer do autor por tais companhias soma-se, para o leitor, o prazer do texto." JOSÉ MARIO PEREIRA
LÊDO LIDO (aos oitent´anos do poeta)
Indagador obsessivo,
Na memória mora um arquivo,
Que se acende, imperativo,
Toda vez que o texto é vivo.
Num sopro superlativo,
Faz do poema um vocativo,
Convocando o ser esquivo
Para o mundo substantivo,
Inventado pelo crivo
Da canção de Ledo Ivo.
Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2004
EM NOME DA ALEGRIA
Em nome da alegria me desarmo,
E tudo vira festa em volta à mesa,
Nesta homenagem a Maria do Carmo,
De Limoeiro a sempre Baronesa.
Recife-Rio, como transpor barreiras?
Trens, automóveis, aviões e barcos?
Qualquer distância se torna pequena
Para expressar o meu afeto a Marcos.
Capibaribe, afluente dos sonhos,
Que traz nas águas o que vive e passa,
Trouxe pra mim a amizade sem fim
De Maria do Carmo e Marcos Vilaça.
UM JANTAR EM LISBOA
Vinte e sete de setembro
Neste Solar dos Presuntos:
Bela festa da amizade,
É dádiva estarmos juntos.
Se o vinho traz a verdade,
Primeiro me vem à ideia
Erguer com felicidade
Um brinde à querida Ecléa.
Respeitando o protocolo
Na sequência deste enredo,
Levantemos nossa taça
Na celebração de Alfredo.
Não é possível esquecer
Cá na terra lusitana
Brilho e beleza que vêm
Da doce figura de Ana.
Mas retornando ao Brasil
O coração mais se ufana,
Porque além de Alfredo e Edla
Eis aqui também Viviana.
Ponte Brasil-Portugal:
Quem há de abrir bom caminho?
O Pedro Alvares Cabral
E João Pereira Coutinho.
É uma inconteste verdade
Que melhor editor não há:
Vivas e braços erguidos
A nosso Jorge Reis-Sá.
Então, sabendo que em verso
Deve uma história ter fim,
Assina embaixo de tudo
Vosso escrevente Secchin.
Lisboa, 27 de setembro de 2014
Obs.: referências ao casal Ecléa, Alfredo e a sua filha Viviana Bosi; e aos portu¬gueses Ana e Jorge Reis-Sá, ele escritor e editor; João Pereira Coutinho, colunista e escritor.
Extraído de: 2011 CALENDÁRIO poetas antologia Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2010.
Editor: Edson Guedes de Morais / Caixa de cartão duro com 12 conjuntos
de poemas, um para cada mês do ano. Inclui efígie e um poema de cada
poeta, escolhidos entre os clássicos e os contemporâneos do Brasil, e alguns
de Portugal. Produção artesanal. A capa reproduz uma foto do
poeta Antonio Miranda na adolescência (circa 1950).
Antonio Carlos Secchin TODOS OS VENTOS Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002
ISBN 85-209-1299-0
No princípio do princípio
meu início.
Na derivada do nada
minha estada.
No compasso da mudez
minha nudez
"DE CHUMBO ERAM SOMENTE DEZ SOLDADOS"
A José Maurício Gomes de Almeida
De chumbo eram somente dez soldados,
plantados entre a Pérsia e o sono fundo,
e com certeza o espaço dessa mesa
era maior que o diâmetro do mundo.
Aconchego de montanhas matutinas
com degraus desenhados pelo vento,
mas na lisa planície da alegria
corre o rio feroz do esquecimento.
Meninos e manhas, densas lembranças
que o tempo contamina até o osso,
fazendo da memória um balde cego
vazando no negrume do meu poço.
Pouco a pouco vão sendo derrubados
as manhãs, os meninos e os soldados.
ARTES DE AMAR
A Suzana Vargas
paixão e alpinismo sensasão simultânea
de céu e abismo
paixão e astronomia mais do que contar estrelas
vê-las
à luz do dia
amor antigo e matemática equação rigorosa:
um centímetro de poesia
dez quilômetros de prosa
CONFESSIONÁRIO
A Cláudio Murilo
Não posso dar-me em espetáculo.
A platéia toda fugiria
antes mesmo do segundo ato.
Um ator perplexo misturaria
versos, versões e fatos.
E um crítico, maldizendo a sua sina,
rosnaria feroz
conta minha verve
sibilina.
Antonio Miranda e Antonio Carlos Secchin nas palestras
de encerramento do I Simposio Internacional de Poesia,
na Universidade de Brasília, parte da I Bienal Internacional
de Poesia de Brasília, dia 5 de setembro de 2008.
ANTONIO CARLOS SECCHIN : UM FESTSCHRIFT PARA O MESTRE
Festschrift é o termo alemão para um livro em homenagem a um pesquisador, a uma figura ilustre. Geralmente, um reconhecimento em vida para celebrar um personagem da academia, da ciência, da literatura por sua carreira vitoriosa. É exatamente o caso de Antonio Carlos Secchin, ao aposentar-se da Universidade Federal do Rio de Janeiro no auge de sua trajetória de professor, poeta e crítico e pela excepcionalidade de ter conquistado uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
Antonio Carlos Secchin: escritas e escutas é justamente (!!!) o tributo de amigos, ex-alunos, admiradores e escritores de suas relações. Livro em edição fora do comércio, sem editora, sem catalogação na fonte, sem ISBN, mas bem impresso, certamente exemplares limitados para circulação restrita.
Reúne depoimentos, homenagens e estudos. Nomes conhecidos como o poeta Adriano Espinola, a antologista Edla Van Steen, o poeta e acadêmico (da ABL) Ivan Junqueira e muitos outros dão seu testemunho e apresentam textos sobre a obra poética e literária de Secchin, sem deixar de referir-se também ao bibliófilo da literatura brasileira.
Mas não se trata de uma retirada. Ainda jovem (expressão que irrita a muitos...), no caso dele revela sua maturidade numa fase criativa de sua vida, com a certeza de que vamos seguir disfrutando de muitas de suas contínuas empreitadas na poesia, na crítica, nos estudos bibliográficos, em pesquisas, discursos, ensaios, resenhas e textos de sua tão prolixa mas profunda produção. Sem esquecer de sua extraordinária capacidade de comunicação oral, de seu diálogo inteligente e vivaz, de sua convivência fraterna.
Sem querer, querendo, acabei participando, por fora, nesta quase resenha, deste livro que me foi dedicado pelo autor em sua recente visita a Brasília. E do qual retiro e compartilho com os nossos milhares de internautas um poema seu que está na contra-capa:
Autoria
Por mais que se escoem
coisas para lata do lixo
clipes, cãibras, suores
restos do dia prolixo
por mais que a mesa imponha
o frio irrevogável do aço,
combatendo o que em mim contenha
a linha flexível de um abraço
sei que um murmúrio clandestino
circula entre o rio de meus ossos:
janelas para um mar-abrigo
de marasmos e destroços.
Na linha anônima do verso,
aposto no oposto de meu sim,
apago o nome e a memória
num Antônio antônimo de mim.
(Texto publicado em 21/06/2011, depois de tê-lo como membro da banca de doutorado do (agora doutor) Oto Reifschneider, cuja tese sobre Bibliofilia, defendida na Universidade de Brasília, também inscreve sua condição de bibliófilo. Do amigo Antonio Miranda)
De Antonio Carlos Secchin ELEMENTOS Poesia
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983.
78 p. (Coleção Poesia Hoje, v. 73)
A seguir, textos extraídos de um exemplar dedicado pelo autor à poeta Marly de Oliveira, em 1988, agora no acervo da Biblioteca Nacional de Brasília
O real é miragem consentida,
engrenagem da voragem,
língua iludida da linguagem
contra a sombra que não peço.
O real é meu excesso.
VER
O dia. Arcos da manhã
em nuvem. Riscos de luz
como vidros arriados.
O claro. A praia armada
entre a sintaxe do verde.
Áreas do ar. Aves
navegando as lajes
do azul.
"DESARMO O RUMO DE MEU DIA FINDO"
A Angela Beatriz de Carvalho
Desarmo o rumo de meu dia findo,
escura fonte que guardou meu sono,
e pressinto os lábios de uma noite vindo
nas âncoras quebradas pelo som do outono.
Eu quero um campo em que as sílabas do vento
me tragam o espaço da manhã tombada.
Quero um tempo novo além do tempo
distraído pelas mãos da madrugada.
E não impeço a terra que já se prepara
num silêncio curvo que anuncia as naves.
E me arremesso a essa praia clara
como um domingo pousado sobre o voo das aves.
SECCHIN, Antonio Carlos. Poema para 2002. Rio de Janeiro: Cacto – Arte e Ciência, 2002. 15x21 cm. Ilustração de Renato Rezende. Edição como “presente para o autor, em ocasião de seus 50 anos, por isso o corte da tela em 50 fragmentos e tiragem de 50 exemplares, numerados de I a V e de 1 a 45, todos assinados pelo autor e pelo pintor.” Direção editorial: Cláudia Ahimsa, Capa e projeto gráfico: Robson Phoenix. Projeto da ilustração: Cláudia Ahimsa. Carpintaria (das capas confeccionadas em madeira): João Ribeiro Neto; acabamentos de marcenaria: W. Gomes Coimbra. Encadernação Ateliê Luiz Fernando Machado (SP). Col. A.M. (LA)
Caxumba, catapora, amigdalite,
miopia, nevralgia, crise asmática.
Dor de dente, dor de corno, hepatite,
diabete, arritmia e matemática.
Helenas, Marianas e Marcelos,
tomate, hipocondria e chicória,
sacerdotes, baratas, pesadelos,
calvície, dentadura e desmemoria.
Pé quebrado, verso torto, ruim de bola,
nervoso, nariz grande, cu de ferro.
Desastrado, imprudente e noves fora
muita prosa pr´um gozo quase zero.
E para coroar todos os danos,
benvindos sejam os meus cinquenta anos.
SECCHIN, Antonio Carlos.50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2006. 84 p. (50 poemas escolhidos pelo autor) 13x21 cm. ISBN 8586276-91-X No frontispício uma xllogravura de Ana Botelho e fotografia do poeta na capa. Col. A.M. (EA)
OU
você pode me pisar
que nem confete
você pode me morder
que nem chiclete
você pode me chupar
que nem sorvete
você pode me lanhar
que nem gilete
só não pode proibir
que nem piquete
se eu quiser escapulir
que nem pivete
“O REAL É MIRAGEM CONSENTIDA”
O real é miragem consentida,
engrenagem da voragem,
língua iludida da linguagem
contra o espaço que não peço.
O real é meu excesso.
SECCHIN, Antonio Carlos.Todos os Ventos. Antologia poética. Seleção e prefácio de Arnaldo Saraiva. Vila Nova de Famalicão, Portugal: Edições Quasi, 64 p. (Biblioteca “Arranjos para assobio”). 13,5x20,5 cm. ISBN 989-552-148-0 Col. A.M.
“não tenho tempo para ser eterno”
A. C. Secchin
TRÊS TOQUES
1) Paciência!
O processo desse amor
já caiu em exigência.
2) Impaciência
Amor é bicho precário.
Eu queria avançar no romance,
e você me cortou no sumário.
3) Dialética
Acho que assim
resolvo o nosso problema.
Tiro você da vida
e boto você no poema.
CARNEIRO, Geraldo.Discurso de posse Sr. Geraldo Carneiro. Recepção Sr. Antonio Carlos Secchin. Sessão solene extraordinária do dia 31 de março de 2017. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2017. 36 p. 16x23 cm.
Poeta, ensayista, crítico literario, novelista, profesor universitario de literatura brasileña. Doctor en Letras por la Universidad Federal de Rio de Janeiro. Especialista en la obra de João Cabral de Melo Neto. Autor de varios poemarios entre los que se destacan Elementos y Todos los Vientos (con el que obtuvo el premio Pen Club de Brasil, w003, como mejor libro de poesía).
De Antonio Carlos Secchin
TODOS LOS VIENTOS
Mérida, Venezuela: Ediciones Gitanjali - CONAC, 2009
Traducciones de Yhana Riobueno.
BIOGRAFIA
El poema va naciendo
a paso que desafía:
por momentos yo lo llevo
otras veces él me guía.
El poema va naciendo,
mas su cuerpo es prematuro,
letra lenta que incendia
con la caricia de un puño.
El poema va naciendo
sin mano o madre que lo sustente,
y perverso me contradice
insoportablemente.
Chorro que traga y sostiene
el pedazo duro del grito,
el poema va naciendo,
palomo de pluma y granito.
MARGEN
Voy andando hacia la orilla de ese puerto,
entre olores de cigarro y de sardina
y un deseo líquido de partir.
Mi mirada se desliza en el horizonte, queriendo saber
a qué distancia un nombre deja de doler.
Tu nombre, marcado en mi boca
como la pulpa de una pera.
El navío enorme avisa que se va.
Escribo la palabra salto,
y paro en la sal, y no llego al alto.
La noche está flotando
en un grueso aceite de silencio y luz.
Me mojo los pies, pienso en tu nombre: gozo
de un pozo tapado. Insomnio de musgos
a la orilla de aguas redondas.
Me veo en la punta del muelle,
añicos de luz
abriendo la cara del mar.
Destrozos de palabras, pedazos de tu nombre
sílabas que golpean los cascos.
Estoy parado a la orilla de un puerto,
azul y muerte en lo hueco del aire.
LA ISLA
Y miramos la isla señalada
por el gusto de abril que el mar traía
y recorremos nuestro sueño sobre la arena
en un barco sólo de viento y marejada.
Después fue a tierra. Y en la tierra construida
erguimos nuestro tiempo de agua y de partida.
Sonoras gaviotas a domar luces bravias
en nosotros recrean la materia de su canto,
y en esas alas se desparrama nuestra gloria,
de un amor anterior a todo estío,
de un amor anterior a toda historia.
Y seguimos en el camino de ser viento
donde las aves venían a ver si había mayo,
y las marcas espalmadas contra el frío
recubrían de blancura nuestro rumbo.
Y abrimos velas albas que se esconden
de los mapas de un sueño pequeñito,
del inicio de una selva que se explaya
en la distancia entre mí y mi destino.
CANTIGA
Señora, es dolencia tan sin cura
mi querer de vuestros ojos tan distantes,
que digo: es mayor la desventura
ver los ojos sin los ver amantes.
Señora, es dolencia tan largada
mi querer de vuestra boca tan serena,
que hasta el color de la madrugada
es roja de llorar mi pena.
POEMA DEL INFANTE
Es la noche.
Y todo excava todo
en la lengua ambigua que desliza
al esquivo juego.
Amargo cuerpo,
que de mí a mí se hurta
no rechazo tu recorrido
en el hálito de las piedras
que me existen en ti
— estéril dorso entre aguas
estancadas.
La nada, lo cercano, lo poco,
no puedo dividir
de lo que se espera lo que me habita,
y hacer fluir la vía antigua
de un muchacho que midió el lado impuro.
Operario de lo precario,
me limito en ese cuerpo amanecido,
ala y gozo donde la muerte mora.
Mi vida, mapeada y descumplida,
está lista para el precio de esa hora.
De
Antonio Carlos Secchin ESCRITOS SOBRE POESIA & ALGUMA FICÇÃO
Rio de Janeiro: Ed. Uerj, 2003. 301 p.
ISBN 85-7511-035-7
Antonio Carlos Secchin, além de poeta e acadêmico, é um dos mais reconhecidos críticos e ensaístas da área da Literatura e cabe registrar aqui esta obra. Inclui trabalhos sobre Castro Alves, sobre o Romantismo brasileiro, Cruz e Souza, Raul Bopp, João Cabral de Melo Neto, Machado de Assis, Álvares de Azevedo, sobre o Parnasianismo, o Simbolismo e o Modernismo, sobre Davi Arigucci Jr, Jorge de Lima, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Alphonsus de Guimarães Filho, José Castello, José Paulo Paes, Afonso Félix de Sousa, Ferreira Gullar, Neide Archanjo, Marly de Oliveira, Fernando Fortes, Ivan Junqueira, Paulo Hecker Filho, Ana Cristina Cesar, Wally Salomão, Antonio Cícero, Alexei Bueno, Renato Rezende, Fabricio Carpinejar, Arlete Nogueira da Cruz, Ricardo Thomé e João Alexandre Barbosa, além das entrevistas que o poeta Antonio Carlos Secchin concedeu recentemente a vários jornais e revistas. Imperdível.
SECCHIN, Antonio Carlos. João Cabral: uma fala só lâmina. São Paulo: Cosac Naif, 2014. 480 p. ilus. 14,5x23 cm. Projeto gráfico: Paulo André Chagas. ISBN 978-85-405-0764-7 Analisa, livro a livro, toda a obra de João Cabral de Melo Neto, incluindo os textos de seu livro João Cabral: a poesia do menos ( 1985 ) e os ensaios posteriores, revisados, que produziu sobre a poesia cabralina. Secchin é o mais destacado estudioso da obra do poeta pernambucano. “ Antonio Carlos Secchin “ Ex. bib. Antonio Miranda
ANTONIO CARLOS SECCHIN E ANTONIO MIRANDA reencontram-se na FLIPORTO 2009, Porto de Galinhas, Pernambuco, em novembro de 2009.
ANTONIO CARLOS SECCHIN EM BRASÍLIA
Antonio Carlos Secchin pronunciando uma palestra na abertura do I Seminário sobre o Futuro do Livro – O Livro de Arte no Brasil, na Faculdade de Ciência da Informação, Universidade de Brasilia, dia 28 de outubro de 2012. Veja matéria: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7261
Antonio Miranda e Antonio Carlos Secchin em visita à Chácara Irecê, no Município de Cocalzinho, Goiás, na tarde do dia 28 de outubro de 2012.
SECCHIN: uma vida em letras. Maria Lucia Guimarães de Faria e Godofredo de Oliveira Neto, organizadores. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. 548 p. 16x23 cm. (Crítica, Letras e Artes) ISBN 978-85-7108-377-6 Constituído por seções: I - O Ensaista; II – O Poeta; III – O Professor. IV – Entre-Livros. Uma “Síntese cronológica”, uma “Bibliografia” do Autor, as “Legendas das fotos” da vida e trajetória do acadêmico e os dados dos (muitos!) autores dos textos, autoridades da crítica literária, acadêmicos, escritores, poetas e amigos. Sem desmerecer os demais, vão alguns nomes: Nélida Piñon, Alfredo Bosi, Antonio Candido, Benedito Nunes, Eduardo Portela, Claudio Murilo Leal, Carlos Felipe Moisés, Gilberto Mendonça Teles, Ivan Junqueira, Arnaldo Niskier, Adriano Espíndola, Carlos Nejar, Ferreira Gullar, etc, etc e os brasilianistas Charles A. Perrone e Giovanni Ricciardi. Col. A.M.