Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Cartão postal antigo; bilhete postal – old postcard – tarjeta postalantigua –
Editor/publisher M. OROZCO, Rio de Janeiro circa 1904)


GONÇALVES DIAS

(1823-1864)

 

Antônio Gonçalves Dias, poeta maranhense.

 

 

CANÇÃO DO EXÍLIO


Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá;

As aves que aqui gorgeiam,

Não gorgeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrellas,

Nossas vazeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em scismar, sozinho, á noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.

 

 

(Obs. Conservamos a ortografia original, tal como aparece no cartão).

 

Este exemplar  faz parte de uma coleção de 16 “bilhetes postais” da coleção particular de Antonio Miranda registrada no texto Poesia em Cartão Postal Antigo.

 

Veja também: GONÇALVES DIAS EM EM PORTUGUÊS E ESPAÑOL -

 

ENGLISH

 

ITALIANO

 

Veja também: A SEMIÓTICA POÉTICA EM GONÇALVES DIAS por ANTONIO ROBERVAL MIKETEN

 

Veja também: BORGES E GONÇALVES DIAS – por M. Paulo Nunes – ENSAIOS

 

 

 

Imagem extraída  de

DIAS-PINO, WlademirA lisa escolha do carinho (Rio de Janeiro: Edição Europa, s.d. 
20,5x20,5 cm.  33 f. ilustradas  (Coleção Enciclopédia Visual).   Inclui versos de
poetas brasileiros

 

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS

 

A INDEPENDÊCIA E O IMPÉRIO

 


Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (Porto da Estrela, 25 de agosto de 1803 – Valença, 7 de maio de 1880), apelidado de "O Pacificador" e "O Duque de Ferro", foi um militar, político e monarquista brasileiro. Caxias seguiu uma carreira militar, assim como seu pai e tios.

 

 

A  DESORDEM DE CAXIAS

              1839

 — Le crime est immortel!  —
— Ainsi que le remords!
                                 A. Barbier

II

Como, quando o vulcão prepara a lava
Nas entranhas da terra, e à noite lança,
Pela sangrenta, rúbida cratera,
Mais viva chama em turbilhão de fumo,
Ensandece-se o ar, cala-se a terra,
Nem gira a brisa, ou só tufão de vento
Com hórrido fragor sacode os troncos;
Assim também, quando abafadas rosnam
Sanhas do povo, antes que fúrias rompam,
Propaga-se confuso borborinho,
Cresce a agitação naquele e neste,
E um que de febre lhes transforma o siso.
Trêmulos todos, homens e mulheres,
Infantes e anciãos — de mãos travadas,
Turvado o rosto, os olhos lacrimosos,
Lá vão terras do exílio demandando.

Um passo apenas dão que os alumia
Do vulcão popular a lava ardente.
Sob os trépidos pés soluça a terra,
Sobre as cabeças pávidas volteia
Ou rocha em brasa, ou condensada nuvem
De pó desfeito, que resseca os ares,
E d´entre aquele fumo e aquelas chamas,
Naquele horror e medo, estátuas vivas,
Sinistro lampejar de armas descobrem:
Descobrem longe os tetos abrasados,
A pouco e pouco esmorecendo em cinzas;
Escutam gritos de uma voz querida,
De um ser que expira, e que em socorro os chama!
E ali pregados no terreno ingrato
Nem da morte impiedosa fugir sabem,
Nem força têm que lhes escude a vida.
São ali sem ação, sem voz, sem força,
Como que má sezão lhes tolhe os membros,
Ou os sufoca horrível pesadelo.
Mudos, fracos, sem luta, os colhe a morte;
E nus, sangrentos, insepultos jazem!



III

Turbida reina a bacanal de sangue!
E rei do atroz festim, brinco do vulgo,
Um só campeia! um só, que mal se achega
À lauta mesa, onde enfrasca o vulgo
De carniça e ralé, tocando apenas
O sangue e o vinho, que alimenta o bródio;
Derruba-o logo a popular vindita,
E folga ultriz em torno aos vis despojos,
Que nem de amigas lágrimas se molham,
Nem de talhadas lápidas se cobrem;
Malditos sejais vós! malditos sempre
Na terra, inferno e céus! — No altar de Cristo
Outra vez a paixões sacrificado.
Ímpios sem crença, e precisando tê-la,
Assentastes um ídolo doirado
Em pedestal de movediça areia;
Uma estátua incensastes — culto infame!  —
De política, sórdida manceba
Que aos vestidos, outrora reluzentes,}
Os andrajos cerziu de vil miséria!
No antropófago altar, mádido, impuro
Em holocausto correu de hóstia inocente
Humano sangue, fumegante e rubro..
Insensível à dor, ao pranto, às preces,
Insensível à cãs, à verde infância,
Tudo sorveu a rábida quadrilha!
A treda mente maquinou suplícios,
Torpe vingança! Meditou cruenta
Nos requintes da dor ébria fartar-se,
E lascívia imoral dos lábios deles
Em frontes virginais cuspiu veneno,
Afrontas caiam sobre tanta infâmia!
E se a vergonha vos não tinge o rosto,
Tinja o rosto do ancião, do infante
Que em qualquer parte vos roçar fugindo.
Da consciência a voz dentro vos punja,
Timorato pavor vos encha o peito,
E farpado punhal a cada instante
Sinais no coração fundo morder-vos.
Dos que matastes se vos mostre em sonhos
A chusma triste, suplicante, inerme...
Sereis clemente... mas que a mão rebelde
Brandindo mil punhais lhes corte a vida:
E que então vossos lábios confrangidos
Se descerrem sorrindo — cru sorriso
Entre dor e prazer, — qu´então vos prendam
A poste vergonhoso, e que a mentira
O vosso instante derradeiro infame!
Bradem: Não fomos nós! — e no seu poste
De vaias e baldões cobertos morram.

...................................................

            (POESIAS —  H. Garnier – Rio, 1910)

 

ROMANTISMO / seleção e prefácio Antonio Carlos Secchin.  São Paulo: Global, 2007.  (Coleção roteiro da poesia brasileira. Direção: Edla van Steen.)                           Ex. bibl. Salomão Sousa

 

LEITO DE FOLHAS VERDES

Por que tardas, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d´alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive,; és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arasóia na cinta me apertaram.

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta a bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutes, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

Últimos cantos (1851)

 

I-JUCA-PIRAMA

 

No meio das tabas de amenos verdores,

Cercadas de troncos - cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos d'altiva nação;

São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na guerra, que em densas coortes

Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de glória,

Já prélios incitam, já cantam vitória,

Já meigos atendem à voz do cantor:

São todos Timbiras, guerreiros valentes!

Seu nome lá voa na boca das gentes,

Condão de prodígios, de glória e terror!

As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,

As armas quebrando, lançando-as ao rio,

O incenso aspiraram dos seus maracás:

Medrosos das guerras que os fortes acendem,

Custosos tributos ignavos lá rendem,

Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

No centro da taba se estende um terreiro,

Onde ora se aduna o concílio guerreiro

Da tribo senhora, das tribos servis:

Os velhos sentados praticam d'outrora,

E os moços inquietos, que a festa enamora,

Derramam-se em torno dum índio infeliz.

Quem é? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,

Sua tribo não diz: - de um povo remoto

Descende por certo - dum povo gentil;

Assim lá na Grécia ao escravo insulano

Tornavam distinto do vil muçulmano

As linhas corretas do nobre perfil.

Por casos de guerra caiu prisioneiro

Nas mãos dos Timbiras: - no extenso terreiro

Assola-se o teto, que o teve em prisão;

Convidam-se as tribos dos seus arredores,

Cuidosos se incubem do vaso das cores,

Dos vários aprestos da honrosa função.

Acerva-se a lenha da vasta fogueira

Entesa-se a corda da embira ligeira,

Adorna-se a maça com penas gentis:

A custo, entre as vagas do povo da aldeia

Caminha o Timbira, que a turba rodeia,

Garboso nas plumas de vário matiz.

Em tanto as mulheres com leda trigança,

Afeitas ao rito da bárbara usança,

índio já querem cativo acabar:

A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,

Brilhante enduape no corpo lhe cingem,

Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,

 

II

Em fundos vasos d'alvacenta argila

Ferve o cauim;

Enchem-se as copas, o prazer começa,

Reina o festim.

O prisioneiro, cuja morte anseiam,

Sentado está,

O prisioneiro, que outro sol no ocaso

Jamais verá!

A dura corda, que lhe enlaça o colo,

Mostra-lhe o fim

Da vida escura, que será mais breve

Do que o festim!

Contudo os olhos d'ignóbil pranto

Secos estão;

Mudos os lábios não descerram queixas

Do coração.

Mas um martírio , que encobrir não pode,

Em rugas faz

A mentirosa placidez do rosto

Na fronte audaz!

Que tens, guerreiro? Que temor te assalta

No passo horrendo?

Honra das tabas que nascer te viram,

Folga morrendo.

Folga morrendo; porque além dos Andes

Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

Da fria morte.

Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,

Lá murcha e pende:

Somente ao tronco, que devassa os ares,

O raio ofende!

Que foi? Tupã mandou que ele caísse,

Como viveu;

E o caçador que o avistou prostrado

Esmoreceu!

Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes

Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

Da fria morte.

 

III

Em larga roda de novéis guerreiros

Ledo caminha o festival Timbira,

A quem do sacrifício cabe as honras,

Na fronte o canitar sacode em ondas,

O enduape na cinta se embalança,

Na destra mão sopesa a iverapeme,

Orgulhoso e pujante. - Ao menor passo

Colar d'alvo marfim, insígnia d'honra,

Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,

Como que por feitiço não sabido

Encantadas ali as almas grandes

Dos vencidos Tapuias, inda chorem

Serem glória e brasão d'imigos feros.

"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;

"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,

"As nossas matas devassaste ousado,

"Morrerás morte vil da mão de um forte."

Vem a terreiro o mísero contrário;

Do colo à cinta a muçurana desce:

"Dize-nos quem és, teus feitos canta,

"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa

O índio, que ao redor derrama os olhos,

Com triste voz que os ânimos comove.

 

IV

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

Já vi cruas brigas,

De tribos imigas,

E as duras fadigas

Da guerra provei;

Nas ondas mendaces

Senti pelas faces

Os silvos fugaces

Dos ventos que amei.

Andei longes terras

Lidei cruas guerras,

Vaguei pelas serras

Dos vis Aimoréis;

Vi lutas de bravos,

Vi fortes - escravos!

De estranhos ignavos

Calcados aos pés.

E os campos talados,

E os arcos quebrados,

E os piagas coitados

Já sem maracás;

E os meigos cantores,

Servindo a senhores,

Que vinham traidores,

Com mostras de paz.

Aos golpes do imigo,

Meu último amigo,

Sem lar, sem abrigo

Caiu junto a mi!

Com plácido rosto,

Sereno e composto,

O acerbo desgosto

Comigo sofri.

Meu pai a meu lado

Já cego e quebrado,

De penas ralado,

Firmava-se em mi:

Nós ambos, mesquinhos,

Por ínvios caminhos,

Cobertos d'espinhos

Chegamos aqui!

O velho no entanto

Sofrendo já tanto

De fome e quebranto,

Só qu'ria morrer!

Não mais me contenho,

Nas matas me embrenho,

Das frechas que tenho

Me quero valer.

Então, forasteiro,

Caí prisioneiro

De um troço guerreiro

Com que me encontrei:

O cru dessossêgo

Do pai fraco e cego,

Enquanto não chego

Qual seja, - dizei!

Eu era o seu guia

Na noite sombria,

A só alegria

Que Deus lhe deixou:

Em mim se apoiava,

Em mim se firmava,

Em mim descansava,

Que filho lhe sou.

Ao velho coitado

De penas ralado,

Já cego e quebrado,

Que resta? - Morrer.

Enquanto descreve

O giro tão breve

Da vida que teve,

Deixai-me viver!

Não vil, não ignavo,

Mas forte, mas bravo,

Serei vosso escravo:

Aqui virei ter.

Guerreiros, não coro

Do pranto que choro:

Se a vida deploro,

Também sei morrer.

 

V

Soltai-o! - diz o chefe. Pasma a turba;

Os guerreiros murmuram: mal ouviram,

Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!

Brada segunda vez com voz mais alta,

Afrouxam-se as prisões, a embira cede,

A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.

Timbira, diz o índio enternecido,

Solto apenas dos nós que o seguravam:

És um guerreiro ilustre, um grande chefe,

Tu que assim do meu mal te comoveste,

Nem sofres que, transposta a natureza,

Com olhos onde a luz já não cintila,

Chore a morte do filho o pai cansado,

Que somente por seu na voz conhece.

- És livre; parte.

- E voltarei.

- Debalde.

- Sim, voltarei, morto meu pai.

- Não voltes!

É bem feliz, se existe, em que não veja,

Que filho tem, qual chora: és livre; parte!

- Acaso tu supões que me acobardo,

Que receio morrer!

- És livre; parte!

- Ora não partirei; quero provar-te

Que um filho dos Tupis vive com honra,

E com honra maior, se acaso o vencem,

Da morte o passo glorioso afronta.

- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,

E tu choraste!... parte; não queremos

Com carne vil enfraquecer os fortes.

Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas

O rebater do coração se ouvia

Precípite. - Do rosto afogueado

Gélidas bagas de suor corriam:

Talvez que o assaltava um pensamento...

Já não... que na enlutada fantasia,

Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,

Do velho pai a moribunda imagem

Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! Ingrato!

Curvado o colo, taciturno e frio.

Espectro d'homem, penetrou no bosque!

 

VI

- Filho meu, onde estás?

- Ao vosso lado;

Aqui vos trago provisões; tomai-as,

As vossas forças restaurai perdidas,

E a caminho, e já!

- Tardaste muito!

Não era nado o sol, quando partiste,

E frouxo o seu calor já sinto agora!

- Sim demorei-me a divagar sem rumo,

Perdi-me nestas matas intrincadas,

Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;

Convém partir, e já!

- Que novos males

Nos resta de sofrer? - que novas dores,

Que outro fado pior Tupã nos guarda?

- As setas da aflição já se esgotaram,

Nem para novo golpe espaço intacto

Em nossos corpos resta.

- Mas tu tremes!

- Talvez do afã da caça....

- Oh filho caro!

Um quê misterioso aqui me fala,

Aqui no coração; piedosa fraude

Será por certo, que não mentes nunca!

Não conheces temor, e agora temes?

Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,

E contra o seu querer não valem brios.

Partamos!... -

E com mão trêmula, incerta

Procura o filho, tacteando as trevas

Da sua noite lúgubre e medonha.

Sentindo o acre odor das frescas tintas,

Uma idéia fatal ocorreu-lhe à mente...

Do filho os membros gélidos apalpa,

E a dolorosa maciez das plumas

Conhece estremecendo: - foge, volta,

Encontra sob as mãos o duro crânio,

Despido então do natural ornato!...

Recua aflito e pávido, cobrindo

Às mãos ambas os olhos fulminados,

Como que teme ainda o triste velho

De ver, não mais cruel, porém mais clara,

Daquele exício grande a imagem viva

Ante os olhos do corpo afigurada.

Não era que a verdade conhecesse

Inteira e tão cruel qual tinha sido;

Mas que funesto azar correra o filho,

Ele o via; ele o tinha ali presente;

E era de repetir-se a cada instante.

A dor passada, a previsão futura

E o presente tão negro, ali os tinha;

Ali no coração se concentrava,

Era num ponto só, mas era a morte!

- Tu prisioneiro, tu?

- Vós o dissestes.

- Dos índios?

- Sim.

- De que nação?

- Timbiras.

- E a muçurana funeral rompeste,

Dos falsos manitôs quebrastes maça...

- Nada fiz... aqui estou.

- Nada! -

Emudecem;

Curto instante depois prossegue o velho:

- Tu és valente, bem o sei; confessa,

Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!

- Nada fiz; mas souberam da existência

De um pobre velho, que em mim só vivia....

- E depois?...

- Eis-me aqui.

- Fica essa taba?

- Na direção do sol, quando transmonta.

- Longe?

- Não muito.

- Tens razão: partamos.

- E quereis ir?...

- Na direção do acaso.

VII

"Por amor de um triste velho,

Que ao termo fatal já chega,

Vós, guerreiros, concedestes

A vida a um prisioneiro.

Ação tão nobre vos honra,

Nem tão alta cortesia

Vi eu jamais praticada

Entre os Tupis, - e mas foram

Senhores em gentileza.

"Eu porém nunca vencido,

Nem nos combates por armas,

Nem por nobreza nos atos;

Aqui venho, e o filho trago.

Vós o dizeis prisioneiro,

Seja assim como dizeis;

Mandai vir a lenha, o fogo,

A maça do sacrifício

E a muçurana ligeira:

Em tudo o rito se cumpra!

E quando eu for só na terra,

Certo acharei entre os vossos,

Que tão gentis se revelam,

Alguém que meus passos guie;

Alguém, que vendo o meu peito

Coberto de cicatrizes,

Tomando a vez de meu filho,

De haver-me por se ufane!"

Mas o chefe dos Timbiras,

Os sobrolhos encrespando,

Ao velho Tupi guerreiro

Responde com tôrvo acento:

- Nada farei do que dizes:

É teu filho imbele e fraco!

Aviltaria o triunfo

Da mais guerreira das tribos

Derramar seu ignóbil sangue:

Ele chorou de cobarde;

Nós outros, fortes Timbiras,

Só de heróis fazemos pasto. -

Do velho Tupi guerreiro

A surda voz na garganta

Faz ouvir uns sons confusos,

Como os rugidos de um tigre,

Que pouco a pouco se assanha!

 

VIII

"Tu choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte;

Pois choraste, meu filho não és!

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,

Seres presa de via Aimorés.

"Possas tu, isolado na terra,

Sem arrimo e sem pátria vagando,

Rejeitado da morte na guerra,

Rejeitado dos homens na paz,

Ser das gentes o espectro execrado;

Não encontres amor nas mulheres,

Teus amigos, se amigos tiveres,

Tenham alma inconstante e falaz!

"Não encontres doçura no dia,

Nem as cores da aurora te ameiguem,

E entre as larvas da noite sombria

Nunca possas descanso gozar:

Não encontres um tronco, uma pedra,

Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,

Padecendo os maiores tormentos,

Onde possas a fronte pousar.

"Que a teus passos a relva se torre;

Murchem prados, a flor desfaleça,

E o regato que límpido corre,

Mais te acenda o vesano furor;

Suas águas depressa se tornem,

Ao contacto dos lábios sedentos,

Lago impuro de vermes nojentos,

Donde fujas com asco e terror!

"Sempre o céu, como um teto incendido,

Creste e punja teus membros malditos

E oceano de pó denegrido

Seja a terra ao ignavo tupi!

Miserável, faminto, sedento,

Manitôs lhe não falem nos sonhos,

E do horror os espectros medonhos

Traga sempre o cobarde após si.

"Um amigo não tenhas piedoso

Que o teu corpo na terra embalsame,

Pondo em vaso d'argila cuidoso

Arco e frecha e tacape a teus pés!

Sê maldito, e sozinho na terra;

Pois que a tanta vileza chegaste,

Que em presença da morte choraste,

Tu, cobarde, meu filho não és."

 

IX

Isto dizendo, o miserando velho

A quem Tupã tamanha dor, tal fado

Já nos confins da vida reservada,

Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias

Da sua noite escura as densas trevas

Palpando. - Alarma! alarma! - O velho pára!

O grito que escutou é voz do filho,

Voz de guerra que ouviu já tantas vezes

Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!

- Esse momento só vale a pagar-lhe

Os tão compridos trances, as angústias,

Que o frio coração lhe atormentaram

De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.

Ele que em tanta dor se contivera,

Tomado pelo súbito contraste,

Desfaz-se agora em pranto copioso,

Que o exaurido coração remoça.

A taba se alborota, os golpes descem,

Gritos, imprecações profundas soam,

Emaranhada a multidão braveja,

Revolve-se, enovela-se confusa,

E mais revolta em mor furor se acende.

E os sons dos golpes que incessantes fervem,

Vozes, gemidos, estertor de morte

Vão longe pelas ermas serranias

Da humana tempestade propagando

Quantas vagas de povo enfurecido

Contra um rochedo vivo se quebravam.

Era ele, o Tupi; nem fora justo

Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,

Aturado labor de tantos anos,

Derradeiro brasão da raça extinta,

De um jacto e por um só se aniquilasse.

- Basta! Clama o chefe dos Timbiras,

- Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,

E para o sacrifício é mister forças. -

O guerreiro parou, caiu nos braços

Do velho pai, que o cinge contra o peito,

Com lágrimas de júbilo bradando:

"Este, sim, que é meu filho muito amado!

"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,

"Corram livres as lágrimas que choro,

"Estas lágrimas, sim, que não desonram."

 

X

Um velho Timbira, coberto de glória,

Guardou a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi!

E à noite, nas tabas, se alguém duvidava

Do que ele contava,

Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!

"Eu vi o brioso no largo terreiro

Cantar prisioneiro

Seu canto de morte, que nunca esqueci:

Valente, como era, chorou sem ter pejo;

Parece que o vejo,

Que o tenho nest'hora diante de mi.

"Eu disse comigo: Que infâmia d'escravo!

Pois não, era um bravo;

Valente e brioso, como ele, não vi!

E à fé que vos digo: parece-me encanto

Que quem chorou tanto,

Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"

Assim o Timbira, coberto de glória,

Guardava a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi.

E à noite nas tabas, se alguém duvidava

Do que ele contava,

Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".

 

POETS OF BRAZIL - A bilingual selection.  POETAS DO BRASIL - uma seleção          bilingüe.  Trad. Frederick G. Williams.   New York: Luso-Brazilian Books, 2004.          430 p.          Ex. bibl. Antonio Miranda

 

     MARABÁ *

            Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupã?
Se algum dentre os homens  de mim não se esconde,
—Tu és, me responde,
—Tu és Marabá!

— Meus olhos são garços, são cor de safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam da vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge aos meus passos:
“Teus olhos são garços,”
Responde enojado; “mas és Marabá:
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
“Uns olhos fulgentes,
“Bem retos, retintos, não cor d´anajá!” 1

— É alvo meu rosto de alvura dos lírios,
— Da cor das areias batidas do mar;
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.

Se ainda me escuta meus agros delírios:
“És alva de lírios,”
Sorrindo responde; “mas é Marabá:
“Quero antes um rosto de jambo corado,
“Um rosto crestado
“Do sol do deserto, não for de cajá.” 1

 

*Mestiça
1 Flora brasileira de cor alva ou dourada.

 

 

       MARABÁ 1

 

 I live all alone; no one seeks me; they hate me!
Did he not create me
Aren´t I from Tupá?
If one of the men doesn´t hide when he meets me,
— He says, as he greets me,
— You are Marabá!

My eyes are blue-green,  they´re the color of saphires,
— It´s starlight that fills them, they glow tenderly;
— They imitate clouds of an indigo heaven,
— They imitate colors of billowing sea!

If some of the warriors don´t run when they hear me:
“Your blue eyes endear me,”
One spitefully tells me; but you´re Marabá:
 “I´d rather have dark eyes, deep-hued shining
sprightly,
“Two eyes flashing brightly,
“Pitch black as the night, not the pale anajá! 1

—My cheeks are as white as the delicate lily,
— The color of sand when it´s washed by the sea;
— The fairest of birds, and the purest  of sea shells
— Are not any whiter, nor brighter than me.

If he is still listening to my tragic story:
“You´re fair, morning glory,”
He smiles as he tells me; “but you´re Marabá:
“I wish fir a face that´s dark brown as is proper,
“As face tanned like copper
“By sun from the desert, not flower of cajá. 1

— My figure curves lightly, so gracefully gentle,
— Like blooms on a cactus that arch from above,
— Ans childlike I play, running free through the
meadow,
As light as a whisper, a soft sigh of love!

“I love a sleek figure, so supple when playing,
“Like palm trees while swaying,”
But then they will tell me, “you are Marabá:
“My preference´s the neck the proud rhea holds
steady,
“Who struts around heady,
And governs the meadows and fields of cajá.”

— My blond hair is wavy, the curls hang in ringlets,
— The purest of gold is no match for its shine;
— The breeze in the trees of the wood is enamored,
— To see hair so lovely. So hummingbird-fine!

Yet they always tell me: “Your long golden tresses,
“Though lovely, distress us,
“They curl into ringlets; you are Marabá:
“I´d rater have straight hair, that´s smooth and yet
flowing,
“Long hair that´s worth showing,
“Not colored with gold dust, not like anajá.”

The sweet, tender words that I´ve saved up inside me
With a whom shall I share?
A branch of acacia tied round a man´s forehead
I´ll never prepare:

And never a warrior shall loosen my loincloth
And claim, me, Tupá:
I live all alone, always crying, just dying.
For I´m Marabá!

1  Half-caste
1  Brazilian flora of a light-colored or goldens hue.



DESEJO

Ah! Que eu não morra sem provar ao menos
Sequer por um instante, nesta vida
Amor igual ao meu!
Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre
Um anjo, uma mulher, uma obra tua,
Que sinta o meu sentir;
Uma alma que me entenda, irmã da minha,
Que escute o meu silêncio, que me siga
Dos ares na amplidão!
Que em braço estreito unidas, juntas, presas,
Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem
Num êxtase de amor!    

 



PUJOL, Hypolyte.  Anthologie Poètes Brésiliens. Preface de M. de Oliveira Lima.  S. Paulo: 1912.  223 p.    
Ex. biblioteca de Antonio Miranda


 

MON PAYS A DES PALMIERS… (*)

Dans nib pays, du sein des forêts vierges
Jusques au ciel s´élèvant les palmiers
Où le sabia sur les monts et les berges
Chante le soir ses amours printaniers.

Le Rossignol de vos vertes campagnes
Ne chante point comme notre sabia,
Et les oiseaux que peuplent vos montagens
N´entonnent point le matin comme lá.

Sous notre ciel on voit bien plus d´étoiles;
Dans nos vallons on voit bien plus de fleurs.
Le firmament est là toujours sans voiles,
Et nos amours respirent plus d´ardeurs.

Lá, nos jardins répandant plus d´arome;
En nul pays je me plais comme là,
Où les palmiers se croisent en un dôme,
Où vient le soir chanter le sabia.

En mon pays on voit mille merveilles
Qu´hélas ! ici je ne retrouve pas!...
A rêver seul sous des nuits sans pareilles,
Où donc trouver du plaisir comme lá ?



Sous nos palmiers, sous leur couronne altière
Où le sabia la nuit s´em va gémir,
Permets, ó Dieu, qu´à mon heure dernièrre
Je puisse rendre mon dernier soupir !


MALÉDICTION DU TAPUY
(Du poéme Os Tymbiras.)

 Eh! quoi !  pleurer en facae de la mort?
Devant les ennemis laisser tomber des larmes ? 
Ah! non, non, tu n´es plus le fils de l´homme fort !...
Jette à la mer ta massue et tes armes !
Ah ! puisses-tu, vil descendant mandit
D´une noble tribu, privé de sépulture,
Voir ton nom abhorré se perdre dans la nuit,
Des Aymorés devenir la pâture !

Ah! puisses-tu, de tous abandonné,
Errant bien loin des tiens sur la terre étrangère,
Maudit même de dieux, de homme dédaigné,
Rejeté même des dieux, des hommes dédaigné,
De nos tribos pedre le souvenir !
Que tes rares amis, si quelque ami te reste,
Soiente ave toi maudits ! Puissé-je à l´avenir
Même oublier ta naissance funeste !

Puisses-tu dans la lumières du jour
Ne jamais rencontrer de douceur bienfaisante ;
Et si se n´est assez, que l´aurore à son tour
Cache à tes yeux as splendeur rayonnante!
Pulses-tu sur le long de ton Chemin
Ne rencontrer pas même où reposer ta tête,
Une Pierre, un vieux tronc ; où reposer par la faim,
Aux loups des bois disputer leur conquête !

 

(*) Cette poesie fut écrite à Lisbonne, où le poète brésilien se trouvait malade. Il mourut hors de as patrie.

 



DIAS, Antonio Gonçalves. GONÇALVES DIAS  BICENTENÁRIO SELEÇÃO DE POEMAS.
Ilustrações de Uendell Rocha.   Brasília: Confraria dos Bibliófilos de Brasíla, 2003-           2004.  103 p.  ilus, p&b  21 x 28 cm.  Capa dura. 
Exemplar biblioteca de Antonio Miranda
 


CANÇÃO DO TAMOIO (Natalícia)

I

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida.
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.

        II

Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não tema da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Que seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nascestes,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos    
D´imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d´ouvi-lo
Peor que o sibilo
Das setas ligeiras,
Peor que o trovão.

VII

E a mãe nessas tabas,
Querendo calados
Os filho criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga,
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do imigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Parido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X


As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos
Só pode exaltar.


NÃO ME DEIXES! 

Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
A corrente, onde bela se mirava...
“Ai, não me deixes, não!”

“Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares a amplidão,
“Límpido ou turvo, te amarei constante
“Mas não me deixes, não!”

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
“Ai, não me deixes não!

E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
“Ai, não me deixes não!”

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
“não me deixaste, não!”
 

 

*
Página ampliada em setembro de 2024


VEJA e LEIA outros poetas brasileiros em INGLÊS em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_ingles/brazilian_poetry_index.html
Página publicada em maio de 2023
 

* 

Página ampliada e republicada em maio de 2022

*

Página ampliada em outubro de 2021

          

 

 

Ampliada e republicada em dezembro de 2017. ampliada e republicada em junho 2018.

 



Voltar para o topo da página Voltar para a página de poesia Brasil Sempre

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar