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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





GONÇALVES DIAS

(1823-1864)

 

 

Antônio Gonçalves Dias nasceu no dia 10 de agosto de 1823, nos arredores de Caxias, no Maranhão. Filho natural de português e mestiça, com a morte do pai, que entretanto se casara regularmente, é enviado pela madrasta a estudar Direito em Coimbra (1838). Durante o curso, escreve seus primeiros versos e participa do grupo de poetas medievistas que se reunia em torno do o Trovador. Formado em 1844, regressa ao Maranhão, e conhece Ana Amélia Ferreira do Vale, que lhe inspiraria mais tarde o poema "Ainda uma vez — adeus!".

 

Em 1846, muda-se para o Rio de Janeiro, onde se dedica ao magistério (professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II), ao jornalismo (redator da revista Guanabara) e à elaboração de sua obra poética, teatral e etnográfica e historiográfica, a última das quais relacionada com as várias missões que lhe são destinadas, aqui e no estrangeiro. Faleceu ao regressar de uma viagem à Europa, no naufrágio do "Ville de Boulogne", já próximo do Maranhão, a 3 de novembro de 1864.

 

Escreveu: Primeiros Cantos (1846), Leonor de Mendonça, teatro (1847), Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848), Últimos cantos (1851), Os timbiras (1857), Dicionário da Língua Tupi (1858), Obras Póstumas, 6 volumes; organizadas por Antônio Heriques Leal (1868-1869). Primeiro poeta autenticamente brasileiro, na sensibilidade e na temática, e das mais altas vozes de nosso lirismo, dele foram selecionadas três composições, amostra expressiva de sua duas "maneiras fundamentais, a lírico-amorosa e a indianista.  Fonte: www.e-biografias.net

 

Veja também: GONÇALVES DIAS EM CARTÃO POSTAL ANTIGO

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL

 

TEXTO EN ITALIANO

 

TEXT IN ENGLISH

 

 

CANÇÃO DO EXÍLIO

 

         Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,

            Im dunkeln die Gold-Orangen glühen,

            Kennst du es wohl? - Dahin, dahin!

            Mocht ich ... ziehn.

                                               GOETHE

 

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá,

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar, —sozinho, à noite—

­Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde cantei o Sabiá.

 

            Coimbra - Julho 1843.

 

 

DESEJO

 

         E poi morir.

            METASTÁSIO

 

Ah! que eu não morra sem provar, ao menos

Sequer por um instante, nesta vida

         Amor igual ao meu!

Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre

Um anjo, uma mulher, uma abra tua,

         Que sinta o meu sentir;

Uma alma que me entenda, irmã da minha,

Que escute a meu silêncio, que me siga

         Dos ares na amplidão!

Que em laço estreito unidas, juntas, presas,

Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem

         Num êxtase de amor!

 

            (De Primeiros Cantos)

 

 

NÃO ME DEIXES!

 

Debruçada nas águas dum regato

         A flor dizia em vão

A corrente, onde bela se mirava ...

         "Ai, não me peixes, não!

 

"Comigo fica ou leva-me contigo

         "Dos mares à amplidão,

"Límpido ou turvo, te amarei constante

         "Mas não me deixes, não!"

 

E a corrente passava; novas águas

         Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer curva na fonte:

         "Ai, não me deixes, —não!"

 

E das águas que fogem incessantes

         A eterna sucessão

Dizia sempre a flor, e sempre embalde:

         "Ai, não me deixes, não!"

 

Por fim desfalecida e a cor murchada,

         Quase a lamber o chão,

Buscava inda a corrente por dizer-lhe

         Que a não deixasse, não.

 

A corrente impiedosa a flor enleia,

         Leva-a do seu torrão;

A afundar-se dizia a pobrezinha:

"Não me deixaste, não!"

 

            (De Novos Cantos

 

OLIVEIRA, Alberto dePáginas de ouro da poesia brasileira. Rio de Janeiro: H Garnier, Livreiro-Editor, 1911.   420 p.  12x18 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
Inclui os poetas: Frei José de Santa Rita Durão, Claudio Manuel da Costa, José Basílio da Gama, Thomas Antonio Gonzaga, Ignacio José de Alvarenga Peixoto, Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, José Bonifacio de Andrada e Silva, Bento de Figuieredo Tenreiro Aranha, Domingos Borges de Barros, Candido José de Araujo Vianna, Antonio Peregfrino Maciel Monteiro, Manoel de Araujo Porto Alere, Domingos José Gonçalves de Magalhães, José Maria do Amaral, Antonio Gonçalves Dias, Bernardo Joaquim da Silva Guimarãaes, Francisco Octaviano de Almeida Rosa, Laurindo José da Silva Rabello, José Bonifacio de Andrada e Silva, Aureliano José Lessa, Manoel Antonio Alvares de Azevedo, Luiz José Junqueira Freire, José de Moraes Silva, José Alexandre Teixeira de Mello, Luiz Delfino dos Santos, Casemiro José Marques de Abreu, Bruno Henrique de Almeida Seabra, Pedro Luiz Pereira de Souza, Tobias Barreto de Menezes, Joaquim Maria Machado de Assis, Luz Nicolao Fagundes Varella, João Julio dos Santos, João Nepomuceno Kubitschek, Luiz Caetano Pereira Guimarães Junior, Antonio de Castro Alves, Luiz de Sousa Monteiro de Barros, Manoel Ramos da Costa, José Ezequiel Freire, Lucio Drumond Furtado de Mendonça, Francisco Antonio de Carvalho Junior, Arthur Narantino Gonçalves Azevedim Theophilo Dias de Mesquita, Adelino Fontoura, Antonio Valentim da Costa Magalhães, Sebastião Cicero de Guimarães Passos, Pedro
Rabello e João Antonio de Azevedo Cruz.   

 

 

Y-JUCA-PYRAMA

 

I

 

No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tectos de altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas cohortes
Assombram das matas a immensa extensão.


São rudos, severos, sedentos de gloria,
Já prélios incitam, já cantam victoria,
Já meigos attendem á voz do cantor :
São todos Tymbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá vôa na bocca das gentes,
Condão de prodígios, de gloria e terror !

 

As tribus visinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio
O incenso aspiraram dos seus maracás :
Medrosos das guerras que os fortes accendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

 

No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concilio guerreiro
Da tribu, senhora das tribus servis :
Os velhos sentados praticam de outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum indio infeliz.

 

Quem é ? — ninguém sabe : seu nome é ignoto.
Sua tribu não diz : — de um povo remoto
Descende por certo — de um povo gentil;
Assim lá na Grecia ao escravo insulano
Tornavam distincto do vil musulmano
As linhas correctas do nobre perfil.

 

Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Tymbiras; — no extenso terreiro
Assola-se o tecto, que o teve em prisão;
Convidam-se as tribus dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa funcção.

 

Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda da embira ligeira,
Adorna-se a maça com pennas gentis :
A custo, entre as vagas do povo da aldeia,
Caminha o Tymbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vario matiz.

 

Em tanto as mulheres com leda trigança,
Affeitas ao rito da barbara usança,
O indio já querem captivo acabar :
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil kanitar.

 

 

II

 

Em fundos vasos de alvacenta argila
         Ferve o cauim;
Enchem-se as copas, o prazer começa,
         Keina o festim.

 

O prisioneiro, cuja morte anceiam,
         Sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso
         Jámais verá!

 

A dura corda, que lhe enlaça o collo,
         Mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve
         Do que o festim !

 

Comtudo os olhos de ignóbil pranto
         Seccos estão;
Mudos os lábios não descerram queixas
         Do coração.

 

Mas um martyrio, que encobrir não pôde,
         Em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto
         Tia fronte audaz !

 

Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
         No passo horrendo?

Honra das tabas que nascer te viram,
         Folga morrendo.

 

Folga morrendo; porque além dos Andes
         Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
         Da fria morte.

 

Rasteira grama, exposta ao sol, á chuva,
         Lá murcha e pende :
Somente ao tronco, que devassa os ares,
         O raio offende!

 

Que foi? Tupan mandou que elle caísse
         Como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado
         Esmoreceu!

 

Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes
         Revive o forte,
Que soube ufano contrastar as medos
         Da fria morte.

 

 

 

III

 

Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Tymbira,
A quem do sacrifício cabe a honra.
Na fronte o kanitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na dextra mão sopesa a iverapeme,

Orgulhoso e pujante. — Ao menor passo,
Collar d'alvo marfim, insignia de honra,
Que lhe orna o collo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas alli as almas grandes
Dos vencidos Tapuyas, inda chorem
Serem gloria e brasão de imigos feros.


« Eis-me aqui, diz ao indio prisioneiro;

«Pois que fraco, e sem tribu, e sem familia,

« A nossas matas devassaste ousado,

« Morrerás morte vil da mão de um forte.

Vem a terreiro o misero contrario;

Do collo à cinta a musurana desce:

« Dize-nos tu quem és, teus feitos canta,

« Ou, se te apraz, defende-te... » Começa

O indio, que ao redor derrama os olhos,

Com triste voz que os ânimos commove
.
« Eis-me aqui, diz ao indio prisioneiro;

«Pois que fraco, e sem tribu, e sem familia,

« A nossas matas devassaste ousado,

« Morrerás morte vil da mão de um forte.

Vem a terreiro o misero contrario;

Do collo à cinta a musurana desce:

« Dize-nos tu quem és, teus feitos canta,

« Ou, se te apraz, defende-te... » Começa

O indio, que ao redor derrama os olhos,

Com triste voz que os ânimos commove.

 

 

 

IV

 

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

 

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

 

Já vi cruas brigas,

De tribos imigas,

E as duras fadigas

Da guerra provei;

Nas ondas mendaces

Senti pelas faces

Os silvos fugaces

Dos ventos que amei.

 

Andei longes terras,

Lidei cruas guerras,

Vaguei pelas serras

Dos vis Aimorés;

Vi lutas de bravos,

Vi fortes — escravos!

De estranhos ignavos

Calcados aos pés.

 

E os campos talados,

E os arcos quebrados,

E os piagas coitados

Já sem maracás;

E os meigos cantores,

Servindo a senhores,

Que vinham traidores,

Com mostras de paz.

 

Aos golpes do imigo

Meu último amigo,

Sem lar, sem abrigo

Caiu junto a mil

Com plácido rosto,

Sereno e composto,

O acerbo desgosto

Comigo sofri.

 

Meu pai a meu lado

Já cego e quebrado,

De penas ralado,

Firmava-se em mi:

Nós ambos, mesquinhos,

Por ínvios caminhos,

Cobertos d'espinhos

Chegamos aqui!

 

O velho no em tanto

Sofrendo já tanto

De fome e quebranto,

Só qu'ria morrer!

Não mais me contenho,

Nas matas me embrenho,

Das frechas que tenho

Me quero valer.

 

Então, forasteiro,

Caí prisioneiro

De um troço guerreiro

Com que me encontrei:

O cru desasossego

Do pai fraco e cego,

Em quanto não chego,

Qual seja, — dizei!

 

Eu era o seu guia

Na noite sombria,

A só alegria

Que Deus lhe deixou:

Em mim se apoiava,

Em mim se firmava,

Em mim descansava,

Que filho lhe sou.

 

Ao velho coitado

De penas ralado,

Já cego e quebrado,

Que resta? —Morrer.

Em quanto descreve

O giro tão breve

Da vida que teve,

Deixai-me viver!

 

Não vil, não ignavo,

Mas forte, mas bravo,

Serei vosso escravo:

Aqui virei ter.

Guerreiros, não coro

Do pranto que choro;

Se a vida deploro,

Também sei morrer. 

 

 

 

V

 

Soltae-o ! — diz o chefe. Pasma a turba :

Os guerreiros murmuram : mal ouviram,

Nem poude nunca um chefe dar tal ordem !

Brada segunda vez com voz mais alta.

Afrouxam-se as prisões, a embira cede,

A custo, sim, mas cede : o estranho é salvo.

— Tymbira, diz o indio enternecido,

Solto apenas dos nós que o seguravam :

E's um guerreiro illustre, um grande chefe,

Tu que assim do meu mal te commoveste,

Nem soffres que, transposta a natureza,

Com olhos onde a luz já não scintilla,
 Chore a morte do filho o pai cançado,
 Que sómente por seu na voz conhece.

— E's livre; parte.

                          — E voltarei.

                                             — Debalde.

— Sim, voltarei, morto meu pai.

                                               Não voltes!

E bem feliz, se existe, em que não veja

Que filho tem, qual chora : és livre; parte !

—Acaso tu suppões que me acobardo,

Que receio morrer!

                                               — E's livre; parte!

—      Ora não partirei; quero provar-te

Que um filho dos Tupis vive com honra,

E com honra maior, se acaso o vencem.

Da morte o passo glorioso aífronta.

—      Mentiste, que um Tupi não chora nunca,

E tu choraste!... parte; não queremos

Com carne vil enfraquecer os fortes.

Sobresteve o Tupi: arfando em ondas

O rebater do coração se ouvia

Precipite; do rosto afogueado

Gélidas bagas de suor corriam :

Talvez que o assaltava um pensamento ...

Já não... que na enluctada fantasia,

Um pesar, um martyrio ao mesmo tempo,

Do velho pai a moribunda imagem

Quasi bradar-lhe ouvia : — Ingrato ! ingrato !

Curvado o collo, taciturno e frio.

Espectro de homem, penetrou no bosque !

 

 

VI

 

—      Filho meu, onde estás?

                                          — Ao vosso lado !

Aqui vos trago provisões : tomae-as,

As vossas forças restaurae perdidas,

E a caminho, e já!

                           — Tardaste muito!

Não era nado o sol, quando partiste,

E frouxo o seu calor já sinto agora!

— Sim, demorei-me a divagar sem rumo,

Perdi-me nestas matas intrincadas,

Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;

Convém partir, e já!

                              — Que novos males

 

Nos restam de soffrer? que novas dores,

Que outro fado peior Tupan nos guarda?

— As settas da afflicção já se exgotaram,

Nem para novo golpe espaço intacto

Em nossos corpos resta.

                                    — Mas tu tremes !

— Talvez do afan da caça...

                                         — O' filho caro

Um quê mysterioso aqui me fala,

Aqui no coração; piedosa fraude

Será por certo, que não mentes nunca!

Não conheces temor, e agora temes?

Vejo e sei: é Tupan que nos afflige,

E contra o seu querer não valem brios.

Partamos !...

E com mão tremula, incerta

Procura o filho, tacteando as trevas

Da sua noite lúgubre e medonha.

Sentindo o acre odor das frescas tintas,

Uma idéa fatal correu-lhe á mente...

Do filho os membros gélidos apalpa,

E a dolorosa maciez das plumas

Conhece estremecendo : foge, volta,

Encontra sob as mãos o duro craneo,

Despido então do natural ornato !...

Recúa afflicto e pávido, cobrindo

A's mãos ambas os olhos fulminados;

Como que teme ainda o triste velho

De ver, não mais cruel, porém mais clara,

Daquelle exicio grande a imagem viva

Ante os olhos do corpo afigurada.

Não era que a verdade conhecesse

Inteira e tão cruel qual tinha sido;

Mas que funesto azar correra o filho,

ElLe o via ; elle o tinha alli presente;

E era de repetir-se a cada instante.

A dor passada, a previsão futura

E o presente tão negro, alli os tinha;

Alli no coração se concentrava,

Era num ponto só, mas era a morte!

—      Tu prisioneiro, tu?

—      Vós o dissestes

—      Dos indios?

—      Sim.

—      De que nação?

       — Tymbiras.

—      E a musurana funeral rompeste,

Dos falsos manitôs quebraste a maça...

—      Nada fiz... aqui estou.

                                              Emmudecem;

Curto instante depois prosegue o velho :

—      Tu és valente, bem o sei; confessa,

Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo !

—      Nada fiz, mas scraberam da existência

De um pobre velho, que em mim só vivia...

—      E depois?...

—      Eis-me aqui.

— Fica essa taba?

Na direcção do sol, quando transmonta.

Longe?

           — Não muito.

— Tens razão : partamos.

E quereis ir?...

         — Na direcção do occaso.

 

 

 

VII

 

« Por amor de um triste velho,

Que ao termo fatal já chega,

Vós, guerreiros, concedestes

A vida a um prisioneiro.

Acção tão nobre vos honra,

Nem tão alta cortezia

Vi eu jámais praticada

Entre os Tupis, — e mais foram

Senhores em gentileza.

 

« Eu porém nunca vencido,

Nem nos combates por armas,

 Nem por nobreza nos actos;

Aqui venho, e o filho trago.

Vós o dizeis prisioneiro,

Seja assim como dizeis;

Mandae vir a lenha, o fogo,

A maça do sacrifício

E a musurana ligeira;

Em tudo o rito se cumpra!

E quando eu fôr só na terra,

Certo acharei entre os vossos,

Que tão gentis se revelam,

Alguém que meus passos guie;

Alguém, que vendo o meu peito

Coberto de cicatrizes,

Tomando a vez de meu filho, D

e haver-me por pai se ufane ! »

 

Mas o chefe dos Tymbiras,

Os sobrolhos encrespando,

Ao velho Tupi guerreiro

Responde com torvo accento :

 

— Nada farei do que dizes;

E' teu filho imbelle e fraco !

Aviltaria o triumpho

Da mais guerreira das tribus

Derramar seu ignóbil sangue :

Elle chorou de cobarde;

Nós outros, fortes Tymbiras,

Só de heroes fazemos pasto.

 

Do velho Tupi guerreiro

A surda voz na garganta

Faz ouvir uns sons confusos, C

Como os rugidos de um tigre.

Que pouco a pouco se assanha !

 

 

 

VIII

 

« Tu choraste em presença da morte!

Na presença de estranhos choraste!

Não descende o cobarde do forte;

Pois choraste, meu filho não és !

Possas tu, descendente maldicto,

De uma tribu de nobres guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,

Seres presa de vis Aymorés.

 

Possas tu, isolado na terra,

Sem arrimo e sem pátria vagando,

Regeitado da morte na guerra,

Regeitado dos homens na paz,

Ser das gentes o espectro execrado;

Não encontres amor nas mulheres;

Teus amigos, se amigos tiveres,

Tenham alma inconstante e fallaz !

 

Não encontres doçura no dia,

Nem as côres da aurora te ameiguem,

E entre as larvas da noite sombria

Nunca possas descanço gozar;

Não encontres um tronco, uma pedra,

Posta ao sol, posta ás chuvas e aos ventos,

Padecendo os maiores tormentos,

Onde possas a fronte pousar.

 

Que a teus passos a relva se torre,

Murchem prados, a flor desfalleça,

E o regato que límpido corre,

Mais te accenda o vesano furor;

Suas aguas depressa se tornem,

Ao contacto dos lábios sedentos,

Lago impuro de vermes nojentos,

Donde fujas com asco e terror!

 

Sempre o céo, como um tecto incendido,

Creste e punja teus membros maldictos,

E o oceano de pó denegrido

Seja a terra ao ignavo tupi!

Miserável, faminto, sedento,

Manitôs lhe não falem nos sonhos,

E do horror os espectros medonhos

Traga sempre o cobarde após si.

 

Um amigo não tenhas piedoso

Que o teu corpo na terra embalsame,

Pondo em vaso de argilla cuidoso

Arco e frecha e tacape a teus pés !

Sê maldicto, e sósinho na terra:

Pois que a tanta vileza chegaste,

Que em presença da morte choraste;

Tu, cobarde, meu filho não és. »

 

 

 

IX

 

Isto dizendo, o miserando velho

A quem Tupan tamanha dôr, tal fado

Já nos confins da vida reservara,

Vae com tremulo pé, com as mãos já frias

Da sua noite escura as densas trevas

Palpando. — Alarma! alarma ! — O velho pára;

O grito que escutou é voz do filho,

Voz de guerra que ouviu já tantas vezes

Noutra quadra melhor. — Alarma! alarma

— Esse momento só vale apagar lhe

Os tão compridos trances, as angustias,

Que o frio coração lhe atormentaram

De guerreiro e de pai: — vale, e de sobra.

Elle que em tanta dôr se contivera,

Tomado pelo súbito contraste,

Desfaz-se agora em pranto copioso,

Que o exhaurido coração remoça.

 

A taba se alborota, os golpes descem,

Gritos, imprecações profundas soam,

Emmaranhada a multidão braveja,

Revolve-se, ennovela-se confusa,

E mais revolta em mor furor se accende.

E os sons dos golpes que incessantes fervem

Vozes, gemidos, estertor de morte

Vão longe pelas ermas serranias

Da humana tempestade propagando

Quantas vagas de povo enfurecido

Contra um rochedo vivo se quebravam.

 

Era elle, o Tupi; nem fôra justo

Que a fama dos Tupis — o nome, a gloria,

 Aturado labor de tantos annos,

Derradeiro brasão da raça extincta,

De um jacto e por um só se aniquilasse.

— Basta! já clama o chefe dos Tymbiras,

— Basta, guerreiro illustre! assaz luctaste,

E para o sacrifício é mister força. —

0 guerreiro parou, caiu nos braços

Do velho pai, que o cinge contra o peito,

Com lagrimas de jubilo bradando :

« Este, sim, que é meu filho muito amado !

« E pois que o acho em fim, qual sempre o tive,

« Corram lives as lagrimas que choro,

« Estas lagrimas, sim, que não deshonram. »

 

 

 

SE SE MORRE DE AMOR!

 

Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surprende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orchestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embellezada e solta em tal ambiente,
No que houve, e no que vê prazer alcança

Sympathicas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flôr entre os cabellos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano de amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso ó delírio,
Devaneio, illusão, que se esvaece
Ao som final da orchestra, ao derradeiro
Clarão que as luzes no morrer despedem;
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
 De amor igual ninguém succumbe á perda.

Amor é vida; é ter constantemente;
Alma, sentidos, coração — abertos
Ao grande, ao bello; é ser capaz de extremos,

De altas virtudes, té capaz de crimes !

Comprehender o infinito, a immensidade,

E a natureza e Deus; gostar dos campos;

D'aves, flores, murmúrios solitários;

Buscar tristeza, a soledade, o ermo,

E ter o coração em riso e festa;

E á branda festa, ao riso da nossa alma

Fontes de pranto intercalar sem custo;

Conhecer o prazer e a desventura

No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto

O ditoso, o misérrimo dos entes :

Isso é amor, e desse amor se morre !

 

Amar, e não saber, não ter coragem

Para dizer que amor que em nós sentimos;

Temer que olhos profanos nos devassem

O templo, onde a melhor porção da vida

Se concentra; onde avaros recatamos

Essa fonte de amor, esses thesouros

Inexgotaveis, de illusões floridas;

Sentir, sem que se veja, a quem se adora,

Comprehender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,

Seguil-a, sem poder fitar seus olhos,

Amal-a, sem ousar dizer que amamos,

E, temendo roçar os seus vestidos,

Arder por afogal-a em mil abraços :

Isso é amor, e desse amor se morre!

Se tal paixão porém emfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em reciproco affecto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas — em puro céo de extasis puros;
Se logo a mão do fado as torna extranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;
Que será do que fica, e do que longe
Serve ás borrascas de ludibrio e escarneo
?
Pôde o raio num píncaro caindo,
Tornal-o dois, e o mar correr entre ambos;
Pôde rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Signaes mostrando da alliança antiga;
Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separam, morrem
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se apparencia de vida, em mal, conservam,
Anciãs crúas resumem do proscripto,
Que busca achar no berço a sepultura!

 

Esse, que sobrevive á própria ruina,
Ao seu viver do coração, — ás gratas
Illusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insomni
Devaneiando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a appetecida imagem;
Esse, que á dor tamanha não succumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!

 

 

 

AINDA UMA VEZ, ADEUS

 

Emflm te vejo! — emfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te
Que não cessei de querer-te,
Pezar de quanto soffri. Muito penei!
Cruas anciãs, Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti!

 

Dum mundo a outro impellido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas azas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz !
Baldão, ludibrio da sorte
Em terra estranha, entre gente
Que alheios males não sente,
Nem se condóe do infeliz!

Louco, afflicto, a saciar-me
De aggravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,

 

Passos da morte senti;
Mas quasi no passo extremo,
No ultimo arcar da esperança,
Tu me vieste á lembrança :
Quiz viver mais e vivi!

Vivi; pois Deus me guardava
Para este logar e hora !
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.

 

Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a afflicção quanto pôde,
Sei quanto ella desfigura,

E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu !

 

Nem uma voz me diriges !...
Julgas-te acaso offendida?
Déste-me amor, e a vida
Que m'a darias — bem sei;
Mas lembrem-te aquelles feros
Corações, que se metteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto luctei!

 

Oh ! se luctei! .. mas devera
Expôr-te em publica praça,
Como um alvo á populaça,
Um alvo aos dicterios seus !
Devêra, podia acaso
Tal sacrifício acceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?

 

Devêra, sim; mas pensava
Que de mim te esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
Te esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me acceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu quinhão de dôr !

 

Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no emtanto
Nem me pódes encarar;
Erro foi, mas não foi crime;
Não te esqueci, eu t'o juro :
Sacrifiquei meu futuro.
Vida e gloria por te amar!

 

Tudo, tudo; e na miséria
De um martyrio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei :
a Ella é feliz (me dizia)
"Seu descanço é obra minha. »
Negou-m'o a sorte mesquinha... }
Perdôa, que me enganei!

 

Tantos encantos me tinham,

Tanta illusão me afagava
De noite, quando aecordava,
De dia em sonhos talvez !
Tudo isso agora onde pára?
Onde a illusão dos meus sonhos?
Tantos projectos risonhos,
Tudo esse engano desfez !

 

Enganei-me!... — Horrendo cháos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra,
Não pôde voltar atraz !
Amarga irrisão ! reflecte :
Quando eu gozar-te pudera,
Martyr quiz ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais !

 

Louco, julguei adornar-me
Com palmas de alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
Com o que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
'Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.

 

Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fôra;
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a puzera...
E eu ! eu fui que a não quiz !

 

E's de outro agora, e p'ra sempre !
Eu a misero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quasi descrendo dos céus !
Dóe-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus !

Dóe-te de mim, que te imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão ! de não ter ousado
Viver contente e feliz !
Perdão da minha miséria,
Da dôr que me rala o peito,
 E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz !

 

Adeus, que eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida comtigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve adeus !

 

Lerás porém algum dia
Meus versos, da alma arrancados,
De amargo pranto banhados,
Com sangue escriptos; — e então
Confio que te commovas,
Que a minha dor te apiade,
Que chores, não de saudade,
Nem de amor,— de compaixão.
 

 

 

DIAS, Antonio Gonçalves.  Obras posthumas de A. Gonçalves Dias precedidas de umanoticia da sua vida e obras pelo Dr. Antono Henriques Leas. Poesias posthumas.  I. Versos modernos  II. Versos antigos  III. Poema americano  IV. Hymnos  V. Voltas e mottes glosados  VI. Satyras    Paris: H. Garnier, Livreiro-Editor, 1909.   352 p.   

(mantendo a ortografia da época)

 

 

 

SE MUITO SOFFRI JÁ, NÃO M´O PERGUNTES

 

Se muito soffri já, se ainda soffo
          Por teo amor ?!
Não m´o pergunte ! que do inferno a vida
          Não é pior !...

Eu ! vegetar da terra entre os felizes !
          Que faço aqui ?
Sonhos de amor, de glória, — lá se forão
          Atrás de ti !

A ver se encontro d´esperança um raio
          Ólho em redor,
E nada vejo, e mais profunda sinto
          No peito a dôr !

Que faço aqui ? Dias cançados, anos
          Sem fim — durar !
Depois que te perdi, viver ainda,
          Viver ! pensar !...

Eu, não! Quem for feliz que prese a vida,
          Tema perdel-a !...
Por mim, não tenho horror, nem tedio á morte,
          Clamo por ella !

Bedicta  seja pois a que mandada
          Me for — por Deos.
Matar-me, não ; que quero, ver-te ainda
          Feliz nos céos !

Mas no pego da dôr, em que me abysmo,
          — Nesta afflicção
Negra como a do cego que na estrada
          Esmóla o pão !

Como a do viajor que pelas trevas
          Sem tino vae,
E, errado o trilho, se empenhou nas matas,
          Nem delas sae !

Neste viver sofrendo, errante, louco,
          Misero Job,
Que amigos e inimigos á porfia
          Pungem sem dó !

Às veses, da amargura no remanso,
          Ao Creador
Minha alma eleva cânticos de graças,
          Hymnos de amor !

Que se estivesse em mim renascer hoje,
          Soffrer o que soffri...
Eu quisera viver para inda amar-te
          E amado ser por ti!

 

Manáus – 16 de Junho de 1861

 

 

 

CONSENTE-ME ESCREVER AUI MEO NOME!

 

Ao teo livro uma pagina roubando,
Consente-me escrever aqui meo nome.
É talvez quanto resta de um amigo.
Quando a terra o seo corpo já consome.

Isto apenas! que o homem — fragil barro,
A vida frue apenas um momento,
Bem feliz quando lega uma saudade,
Ou deixa atrás de si um pensamento !

Vive tu, vive feliz, enquanto
O meo destino sigo caprichoso.
Fará tua ventura a de um amigo,
E a dita de ambos me fará ditoso.

 

Rio de Janeiro – 17 de Março de 1851

 

 

 

SONETO VI

Baixel veloz,que ao húmido elemento
A voz do nauta experto afoito entrega,
Demora o curso teo, perto navega
Da terra onde me fica o pensamento !

Enquanto vais cortando o salso argento,
Desta praia feliz  não se desprega
(Meos olhos, não, que amargo pranto os rega)
Minha alma, sim, e o amor que é meo tormento.

Baixel, que vais fugindo despiedado,
Sem temor dos contrastes da procela,
Volta ao menos, qual vais tão apressado.

Encontre-a eu gentil, mimosa e bella !
E o pranto qu´ora verto amargurado,
Póssa eu verter então nos lábios d´ella!

 

 

Rio de Janeiro – 17 de Junho de 1847

 

 

 

MONTELLO, Josué.  Para conhecer melhor Gonçalves Dias. Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores, 1973.  138 p.  14x20,5 cm.  Capa de Vera Duarte.  “ Josué Montello “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

"Convém assinalar que a parte melhor da lírica de Gonçalves Dias produziu-a ele entre os vinte e os vinte e seis anos. A famosa Canção do Exílio é de 43. Os Últimos Cantos foram impressos em 51, quando o poeta tinha vinte e sete anos. Foi portanto tão precoce quanto os outros nossos grandes românticos. As poesias póstumas não lhe aumentam a glória. O prefácio

dos Últimos Cantos mostra que o poeta se sentia desanimado e esgotado.

 

Se não foi mais precoce do que os outros, teve mais do que eles o senso da sobriedade e da harmonia. Tudo se equilibra em sua poesia: o sentimento

amoroso e o religioso, o gosto da natureza, o patriotismo, a simpatia pela raça indígena dizimada. A desventura amorosa ajuntando-se à humildade do nascimento, e esta foi causa daquela, encheu-lhe o coração de uma melancolia incurável, que dá a tantas de suas poesias um acento de funda desesperação.

 

Se não foi o introdutor do índio na poesia brasileira, todavia foi o único que soube insuflar grande vida no tema tão caro ao sentimento nacional. Pouco

importa o que haja de artificial nos seus índios: há sempre emoção e da melhor em todos os seus poemasindianistas — I-Juca-Pirama, Marabá, Leito de Folhas Verdes, Canto do Piaga, etc." CLARINDO SANTIAGO

 

 

 

CANÇÃO DO TAMOIO

(Natalícia)

 

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos,

Só pode exaltar.

 

II

 

Um dia vivemos!

O homem que é forte

Não teme da morte;

Só teme fugir;

No arco que entesa

Tem certa uma presa,

Quer seja tapuia,

Condor ou tapir.

 

III

 

O forte, o cobarde

Seus feitos inveja

De o ver na peleja

Garboso e feroz;

E os tímidos velhos

Nos graves conselhos,

Curvadas as frontes,

Escutam-lhe a voz!

 

IV

 

Domina, se vive;

 

Se morre, descansa

Dos seus na lembrança,

Na voz do porvir.

Não cures da vida!

Sê bravo, sê forte!

Não fujas da morte,

Que a morte há de vir!

 

 

V

 

E pois que és meu filho,

Meus brios reveste;

 

Tamoio nasceste,

Valente serás.

Sê duro guerreiro,

Robusto, fragueiro,

Brasão dos tamoios

Na guerra e na paz.

 

VI

 

Teu grito de guerra

Retumbe aos ouvidos

D'imigos transidos

Por vil comoção;

E tremam d'ouvi-lo

Pior que o sibilo

Das setas ligeiras,

Pior que o trovão.

 

VII

 

E a mãe nessas tabas,

Querendo calados

Os filhos criados

Na lei do terror;

Teu nome lhes diga,

Que a gente inimiga

Talvez não escute

Sem pranto, sem dor!

 

VIII

 

Porém se a fortuna,

Traindo teus passos,

Te arroja nos laços

Do imigo falaz!

Na última hora

Teus feitos memora,

Tranquilo nos gestos,

Impávido, audaz.

 

IX

 

E cai como o tronco

do raio tocado,

Partido, rojado

Por larga extensão;

Assim morre o forte!

No passo da morte

Triunfa, conquista

Mais alto brasão.

 

X

 

As armas ensaia,

Penetra na vida:

Pesada ou querida,

Viver é lutar.

Se o duro combate

Os fracos abate,

Aos fortes, aos bravos,

Só pode exaltar.

 

 

 

[ DIAS, Antonio Gonçalves gonçalves dias 1864-1964.  Manaus, AM: Clube da Madrugada; Editôra Sérgio Cardoso, 1965.  73 p. ilus. fot.   Inclui: "Gonçalves Dias no Amazonas – Cronologia levantada por Geraldo Pinheiro", Ö poeta Gonçalves Dias no centenário do seu falecimento", por Agnello Bittencourt; e os "Poemas de Gonçalves Dias escritos em Manaus".

 

 

ESTÂNCIAS

 

I

 

O nosso índio errante vaga;
Mas por onde quer que vá,
Os ossos dos seus carrega;
Por isso onde quer que chega
Da vida n'amplo deserto,
Como que a pátria tem perto,
Nunca dos seus longe está !

 

 

II

 

Tem para si que a poeira
Daquele que choram morto.
Quando a alma já descansa
Da eternidade no porto,
Nenhures está melhor
Do que na urna grosseira
Que a cada momento enxergam,
Que de instante a instante regam
Com seu prantear de amor !

 

 

III

Ando como ele incessante,
Forasteiro, vago, errante,
Sem próprio abrigo, sem lar,

Sem ter uma voz amiga
Que em minha aflição me diga
Dessas palavras que fazem
A dor no peito abrandar !
 

         ——————————

E sei que morreste, filha !
Sei que a dor de te perder
Enquanto eu fôr vivo, nunca,
Nunca se há de esvaecer !
 

Mas qual teu jazigo ?  e onde
Jazem teus restos mortais?...
Êsse lugar que te esconde, |
Não vi : — não verei jamais !

 

 

         IV 

Não sei se aí nasce a relva,
Se algum arbusto s'inflora
A cada nova estação;
Se a cada nascer da aurora
O orvalho lágrimas chora
Sobre êsse humilde torrão !
Se aí nasce o triste goivo,
Ou só espinhos e abrolhos,
Ou se também de alguns olhos
Recebes pia oblação.

 

         V

Sei que o pranto, que se verte
Longe do morto, não basta :
E' pranto que a dor não gasta,
Que nenhum alívio traz !
Sei que ao partir-me da vida,
Minha alma andará perdida
Para saber onde estás !

 

VI

 

Irei beijar teu sepulcro,

Chorar meu último adeus,

Depois, remontando aos céus,

Direi a Deus : "Aqui estou !"

Tu, dentre o côro dos anjos,

— Dos Serafins resplendentes —

Então — as asas candentes,

Que a vida não maculou,

Desprega ! — e meiga, humilhada,

Ao trono do Eterno vai,

E na linguagem dos anjos,

Dize a Jesus :   "E' meu pai !"

VII

 

Êle humanou-se ! — quis ser

Filho também de mulher;

Mas id'homem, não; porque os céus

Não têm espaço bastante

Para um homem — pai de Deus !

 

 

VIII

 

Bem sabe êle quanta glória
Sente o pai, que um anjo tem !
Julgará que, pois perdida
Teve uma filha na vida,
Não a perca lá também !

 

Manaus, 1.° de maio de 1861.

 

 

 

 

 

  

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de Washington Delgado

 

 

CANCIÓN DEL EXILIO

 

         Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,

            Im dunkeln die Gold-Orangen glühen,

            Kennst du es wohl? - Dahin, dahin!

            Mocht ich ... ziehn.

                                               GOETHE

 

Mi tierra tiene palmeras

En donde canta el sabiá;

Las aves que aquí gorjean,

No gorjean como allá.

 

En nuestro cielo hay más luces,

En nuestras vegas más flores,

En nuestros bosques más vida

Y vida con más amores.

 

Al pensar, solo, en la noche

Más placer encuentro allá;

Mi tierra tiene palmeras

En donde canta el sabiá.

 

Mi tierra tiene primores

Como no las hallo acá;

Al pensar -solo y de noche­

Más placer encuentro allá;

Mi tierra tiene palmeras

En donde canta el sabiá.

 

No permita Dios que muera

Sin que vuelva para allá;

Sin que goce los primores

Que no encuentro por acá;

Sin que vea las palmeras,

En donde canta el sabiá.

 

 

DESEO

 

¡Que no me muera sin gustar, al menos

Por un breve momento, en esta vida

         Amor igual al mío!

Permite, Dios, que en esta tierra encuentre

Una mujer, un ángel, la obra tuya

         Que sienta como yo.

¡Un alma afín, hermana de la mía

Que mi silencio escuche, que me siga

         Por la amplitud del aire!

¡Que estrechamente unidas, nuestras almas

Dejen la tierra y hacia el cielo suban

         En éxtasis de amor!

 

 

!NO ME DEJES!

 

Asomada a las aguas del arroyo

         Dijo en vano la flor

A la corriente donde se miraba ...

         "iAy, no me dejes, no!

 

"Quédate aquí o trasládame contigo

         A la amplitud del mar.

Límpida o turbia, te amaré por siempre.

¡No me dejes jamás!"

 

La corriente pasaba, iban las aguas

         Tras otras siempre en poso

Inclinada la flor, decía en vano:

         "!Ay, no me dejes, no!"

 

A las aguas que huían incesantes

         En igual sucesión,

Siempre hablaba la flor, en vano siempre:

         "!Ay, no me dejes, no!"

 

Por fin desfallecida, ya en el suelo,

         Marchita y sin colar,

Busca el arroyo aún para decirle

         Que no la deje, no.

 

La impiadosa corriente la envolvía

         Y, mortal, la arrastró.

AI hundirse decía, pobrecita:

         "!No me dejaste, no!"

 

 

I JUCA-PIRAMA

(fragmentos)

 

IV

Mi canto de muerte,

Guerreros, oíd:

Hijo de la selva,

En selvas crecí;

Guerreros, provengo

De tribu tupí.

 

EI hado inconstante

Ha tornado errante

La tribu pujante

En la que nací.

Norteño, por suerte,

Soy bravo, soy fuerte,

Mi canto de muerte,

Guerreros, oíd.

 

Ví en guerras e intrigas

Tribus enemigas,

Las duras fatigas

Guerreras probé.

En ondas falaces

Sentí los mordaces

Silbidos fugaces

Del viento que amé

 

Corrí luengas tierras,

Luché en duras guerras,

Vagué por las sierras

De los Aimorés.

Ví lides de bravos,

Ví fuertes esclavos

De hierros cargados

En manos y pies.

Ví campos talados,

Arcos vi quebrados

Y brujos cuitados

Sin sus maracás.

Vi a tiemos cantores,

Sirviendo a señores,

Que fingen traidores,

Amor a la paz.

 

Sin hogar ni abrigo,

Al golpe enemigo,

mi mejor amigo

¡Cayó junto a mí!

Con faz como ajena,

Plácida y serena,

Tan amarga pena

Callado sufrí.

 

Mi padre a mi lado,

Ciego y quebrantado,

De penas calado,

Se apoyaba en mí.

Entrambos, mezquinos,

Por malos caminos,

Cubierto de espinos,

Llegamos aquí.

 

El viejo, entretanto,

Sufría ya tanto

El hambre y quebranto

¡Que ansiaba morir!

Ya no me contuve

Al bosque me atuve,

Las flechas que tuve

Me iban a servir.

 

Luego, forastero,

Caí prisionero

De un grupo guerrero

Con el que topé.

Los trágicos ruegos

De mi padre ciego

Al ver que no llego,

Triste imaginé.

 

Era yo la guía

En su hora sombría,

La única alegría

Que Dios le dejó.

En mí se apoyaba,

En mí se afirmaba,

En mí descansaba,

¡Hijo suyo soy!

 

¿Qué resta al cuitado

Viejo quebrantado,

Ciego, abandonado?

Tan sólo morir.

El tiempo tan breve

Que su vida leve

Acabarse debe,

¡Dejadme vivir!

 

Yo, sin menoscabo,

No vil sino bravo,

Seré vuestro esclavo,

Volveré hasta aquí.

Corre sin desdoro

EI llanto que lloro,

La vida no imploro:

¡También sé morir!     

 

Extraído de TRES POETAS ROMÁNTICOS: GONÇALVES DIAS, CASTRO ALVES, SOUSÃNDRADE. Prólogo de Luis Jaime Cisneros. Traducciones de Washington Delgado, Arturo Corcuera y Javier Sologuren.  Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1984.  109 p.

(Tierra Brasileña. Poesía, 20)

 

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TRADUÇÕES DE JAIME TELLO


De CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA
Caracas: Centro Abreu Lima de Estudios Brasileños, Instituto de Altos Estudios de América Latina, Universidad Simón Bolivar, 1983

 

 

LECHO DE VERDES HOJAS

 

¿ Por qué tardas, Jatir, que con demora

A la voz de mi amor mueves tus pasos ?

La brisa nocturnal mueve las hojas

y en las ramas del bosque rumorea.

 

Bajo la copa del altivo mango

Nuestro lecho gentil cubrí celosa

Con mimoso tapiz de blandas hojas,

Donde un rayo lunar salta entre flores.

 

La flor de tamarindo abrióse, ha poco,

¡ Ya exhala el jazmín más dulce aroma!

Como una prez de amor, con estas preces,

En nocturnal silencio el bosque exhala.

 

Brilla la luna, brillan las estrellas,

Corren perfumes al correr la brisa,

A cuya magia aspírase un quebranto

De amor, ¡ mucho más dulce que la vida!

 

Sean valles o montes, lago o tierra,

Doquiera que tú vayas, noche o día,

Va siguiendo tras tí mi pensamiento;

 

Soy tuya, tu eres mío: ¡ nunca amé a otro!

 

Mis o jos otros ojos nunca vieron,

No sintieron mis labios otros labios,

Ni otras manos, Jatir, sino las tuyas

Ciñeron a mi cuerpo la arasoia.

 

La flor del tamarindo está entreabierta,

Ya exhala el jazmín más dulce aroma;

 

También mí corazón, como estas flores,

Mejor perfume ante la noche exhala.

 

¡ No me escuchas, Jatir, ni tardo acudes,

A la voz de mi amor que en vano llama!

¡ Tupã !* ¡ Ya nace el sol! ¡ Del lecho inútil

La brisa matinal barre las hojas!

 

* Denominación Tupí del trueno, empleada

por los misioneros jesuítas. (N. del T.)

 

 

MARABÁ*

 

Vivo sola; ¡ nadie buscarme procura!

Pero, ¿acaso hechura

No soy de Tupã?             

Si algún hombre acaso de mí no se esconde,

    '”Eres", me responde,
    "¡Eres Marabá!".

" Mis o jos son garzos, color de zafiro,

Tienen luz de estrellas, y tierno brillar;

Imitan las nubes de un cielo de añil,

¡ Sus colores copian las ondas del mar!".

 

Y si algún guerrero no huye a mi paso;

"Tus o jos son garzos",          

Responde enojado: "Eres Marabá".

Prefiero unos ojos bien negros, lucientes, ;

    '”Ojos refulgentes,

    “Negros y retintos, ¡ no como anajá!. **;

 

"Oh, mi rostro tiene blancura de lirios ,

Color de la arena pulida del mar;

Las aves más blancas, lasconchas más puras

Nunca son más blancas, nunca brillan más".

Y si aún me escuchas mis acres delirios:

"Blanca como lirios,

Eres", me responde; "pero Marabá: ,

"Prefiero una cara color de guayaba,

'”una piel tostada

“Del sol del desierto, ¡ no flor de cajú !".***

 

'”Mi cuello tan leve se curva agraciado,

'Pecíolo pendiente del cactus en flor;

“Mimosa, indolente, me tiendo en el prado,

“ ¡ Como un sollozante suspiro de amor!".

“Amo la estatura flexible, ligera,

“Cual una palmera",

Me responden: “Pero eres Marabá:

“Más prefiero el cuello de la ema**** orgullosa,

“Que anda vanidosa,

“Reina de los campos que cruzando va."

 

“Mis rubios cabellos en ondas descienden

“Nunca el oro puro tuvo un brillo así;

“Las brisas del bosque de ellos se prenden,

“Al verlos tan bellos como un colibrí".

 

Pero me responden: "Tus largos cabellos

“Son rubios, son bellos,

“Pero son rizados; eres Marabá:

“Prefiero cabellos bien lacios, bien lisos

“No pelo de rizos,

“Color de oro fino, como curajá''.

 

¿ Y las dulces voces que tenía aquí dentro

A quién las diré?

El ramo de acacia en la frente de un hombre

Jamás ceñiré;

 

Jamás un guerrero de esta arasoia

Me despojará:

Vivo solitaria, llorando mezquina,

¡ Que soy Marabá!

 

(  *) Mestiza de blanco e indio. (N. del T.)                    i

( **» Maximiliana regia Mart., una especie de palmera. (N.delT.l

( ***) AnacardiumoccidentaleL.elmarañónomerey (N.delT.).

{****) Rhea americana (L.) el avestruz ema. o ñandú suramericano

(N.delT.)

 

 

SI TE AMO, ¡NO SE!

 

¡ Amar! si te amo, no sé.

Oigo por ahí pronunciar

Esa palabra de modo

Que no sé lo que es amar.

 

Si amar es soñar contigo,

Si es pensar, despierto, en ti,

Tenerte en mi alma presente

¡ Todo olvidado de mí!

 

Si es codiciarte, quererte

Como bendición de Dios.

Solamente a ti en la tierra ¡

Como allá, arriba, al Señor;

 

Si es dar la vida, el futuro,

Para decir que te amé;

 

Amo; aunque si te amo

como oigo decir —¡ no sé !.

 

 

 

TRADUCCIONES DE ANGEL CRESPO

 

 

 

EL MAR

                Frappé de la grandeur farrouche
                   je tremble... et-ce sbsien toi, vieux lion que je touche,
                   Océan, terrible océan!              TURQUETY

         Océano terrible, mar inmenso
        De procelosas olas que se enroscan
        Floridas reventando en blanca espuma
                En uno y otro polo,
        Al fin... al fin te veo; al fin mis ojos
        Trémulos clavo en tu cerviz indómita,
        Y tu iracundo, bábaro rugido
                Al fin medroso escucho.

 

           ¿En donde hubiste, oh piélago profundo,
        Ese rugido tuyo? En vano el mazo
        Enloquecido de los ventos hiende
                Cuanto golpes, y llama.

 

           Del abismo profundo las mil olas
        Que avaro guardas em tu seno undoso;
        Al terrible rugir del viento bravo
                Tu rugido ensombrece.
        En vano truena horríssona tormenta;
        La voz del trueno, que estremece al cielo,
        No cubre tu clamor. ¿Dónde la hubiste,
                                Majestuoso Océano?
 
           Oh mar, ese rugido es eco incierto
        De la voz creadora que te hizo:
        Sea, dijo; y tú fuiste, y a las rocas
                Tu solas arrojaste.

           De noche, cuando el cielo es puro y limpio,
        Tomas tu suelo azul, corren tu solas
        Sobre luceros mil; los ojos nuestros
                Entre los cielos túrbanse.
        De la voz de Jehová un eco incierto
        Pienso que es um rugir; sola, perenne,
        Imagen de lo eterno, reflejando
                Las acciones de Dios.

 

           Sola contigo, pues, la mente libre
        Se eleva, sube al cielo ardiente; altiva
        Y de esten lodo terrenal se limpia,
                Como el bronce en el fuego.

 

           La ardiente Musa, a tu canción unida,
        Glorificaal Señor de las alturas
        Con la frente más alta que las nubes
                Y los pies sobre tí.

 

            ¿Qué hay más flerte que tú? Cuando se eriza
        Tu terrible melena, la flotante
        Nao, de artificio extremo, en breve tempo
                Húndese y se aniquila.

 

          Nada en la tierra tu poder resiste,
        Pero un grano de arena te detiene,
        ¡Tan fuerte contra el hombre, tan si fuerza
                Contra cosa tan flaca!

 

          Pero en aquel instante que me espera
        En que de esta pasión he de evadirme,
        Iré tan alto, oh mar, que allí no legue
                Tu sonoro rugido.

 

          Aún más fuerte que tú será el alma:
        Sin saber de temor, espacio y tempo,
        Con un gesto abrirá el estrecho círculo
                Del mundo y de los cielos.

 

          Entonces, entre estrelas consteladas,
        Cantando himnos de amor en arpas de ángeles,
        Sonará más potente que tu solas
                Al morder la áurea arena.

 

          Será más dulce que el sencillo canto
        De nostalgia virgen, cuando llena
        La noche el mundo, y que la mansa brisa
                Que suspira entre flores.

 

       

        LECHO DE HOJAS VERDES

 

        ¿Por qué tardas, Jatir, que con desgana
        A la voz de mi amor mueves los passos?
        La brisa de la noche, entre las hojas,
        en los altos del bosque rumorea.

 

          Bajo la copa del altivo mango
        Nuestro lecho gentil cubrí celosa
        Con delicada alfombra de hojas blandas,
        Desde la luz lunar juega entre flores.

 

¡La flor del tamarindo abrióse há poco
Y ya exhala el jazmín más dulce aroma!
Como una prez de amor, como estas preces,
En la noche silente el bosque exhala.

 

Brilla la luna, brillan las estrelas,
Vuelan perfumes al volar la brisa,
A cuyo influjo mágico respírase
Un desmayo de amor, mejor que vida.

 

La flor que se abre cuando rompe el alba,
Una vuelta del sol, no más, vegeta;
Aquella flor soy yo que está esperando
Dulce rayo de sol que me da vida.

 

 Sea en vales o en montes, tierra o lago,
Donde quiera que vayas, día o noche,
Siempre va en pos de tí mi pensamento;
¡Mío tú, tuya yo, sin más amores!

 

Mis ojos otros ojos nunca vieron,
No sintieron mis labios otros labios,
Ni outra mano, Jatir, sino la tuya
La flor del araza me ciñó el talle.

 

La flor del tamarindo está entreabierta
Y ya exhala el jazmín más dulce aroma;
También mi corazón, como estas flores,
Mejor perfume con la noche exhala.

 

No me escuchas, Jatir, ni tardo acudes
A la voz de mi amor, que llama en vano.
¡Oh Dios, ya rompe el sol: del lecho inútil
Barra las hojas mañanera brisa!

 

 

 

 

 

TEXTO EN ITALIANO

 

Extraído de

 

MIRAGLIA, TolentinoPiccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

IL CANTO DEL "PIAGA"

 

0 Guerrier delLa Tribo sacrata,
0 Guerrier delia Tribo "Tupi",
Gli dei parlan nei canti dei "Piaga"
Pei Guerrieri il mio canto s'udi.

 

Questa notte, la luna già morta,
"Anhangá" mi vietava sognar;
Nell’orribile antro ove dormo,
Rauca voce comincia a chiamar.

 

Apro gli occhi, inchieto, pauroso,
"Manitòs" che prodígio qui c'è !
Arde il legno, resina fumosa,

Che non fu oggi acceso da me !

Ecco sorge ai miei piedi un fantasma,
Un fantasma che sembra uno stuol;
Liscio craneo riposa al mio lato,
S'attorciglia una serpe nel suol.

 

Il mio sangue gelò nelle vene,
Tut’intiero il mio corpo tremò;
Fredd’orror s'infiltrò nelle membra,
Freddo vento il mio volto sfiorò.

 

Cosi brutto, pauroso, tremendo,
 O Guerrier, quello spettro apparí,
Gli del parlan nei canti dei "Piaga",
Pei Guerrieri il mio canto s'udí.

           

     ----o----

         

Piaga — Sacerdote e mago degl'indiani del Brasile
Tribo — Sta per tribu (pron. brasiliana)
Tupi — Uno del gruppi indiani dei Brasile
Anhangá — Pron. agnangà-spirito cattivo
Manitò — Spirito cattivo degl'indiani del Sud America.

 

CANZONE DELL'ESILIO

 

La mia terra ha delle palme
Ove conta il "sabiá",
L'uccello che qui gorgheggia
Non gorgheggia come là.

Il nostro cielo ha più stelle,
I nostri campi, più fiori,
I nostri boschi, più vita,
La nostra vita, più amori.

Nei sognar, solo, di notte,
Più piacere io trovo là;
La mia terra ha delle palme
Ove canta il "sabiá".

La mia terra ha bellezze
Ch'io non trovo mai di qua;
Nel sognar, solo, di notte,
Piu piacere io trovo là.

La mia terra ha delle palme
Ove canta il "sabiá".
Non permetta Dio ch'io muoia,
Se non torno prima là

E non goda le bellezze
Che non trovo mai di qua;
Senza ch'io veda le palme
Ove canta il "sabia".

 

---o---

 

Sabiá — passero dei Brasile.

 

 

Extraído de

 

 

POESIA SEMPRE.  Revista Semestral de Poesia..   Ano 3 – Número 6 – Fevereiro  1995.           Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro.   ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Canzone dell'esilio

 

("Canção do Exílio")

 

 

 

La mia terra ha la palmiera *
D'onde canta il sabià;**
Qua anche trillano gli uccelli,
 Ma il gorgheggio è un altro là.

 

Ha più stelle il nostro cielo,

I verzieri hanno più fiori,
C'è più vita ai nostri boschi.
Vita là più trova amori.

 

Se di notte penso, solo,

II      piacere cerco là,

La mia terra ha la palmiera
D'onde canta il sabià.

 

Ha la terra mia splendori,

Non li trovo uguali qua;

Se — di notte, solo, — penso,

Il piacere cerco là;

La mia terra ha la palmiera

D'onde canta il sabià.

 

Non permetta Iddio ch'io muoia

Se non prima tomi là

E rigoda gli splendori

Che qua mai non troverò,

E riveda la palmiera

D'onde canta il sabià.

 

Traduzione de Giuseppe Ungaretti

 

 

*        Palmeiras: oso dire 'palmiere! "invece di palma "e "di palmizio "anzitutto per leu/anici del versa e pai perché palmiera indica un infinita varietà di piante brasiliane tra le quali manca però quella del dattero propriamente chiamata palma opalmizio.

**      Sabià: è il comune nome delle quattordici varietà d'uccelli della famiglia dei tordi viventi in Brasile. Sono i flautisti del bosco. Quando migrano si tengono uniti nello stormo con un trillo corale. Passati, si sente il silenzio delle cose. Non si sente più altro.

 

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TEXT IN ENGLISH

 

THE OXFORD BOOK OF LATIN AMERICAN POETRY: a bilingual anthology   edited by Cecilia Vicuña and Ernesto Livon-Grosman. Agawam. MA, USA: Oxford University Press, 2009.  561 p.  16x24,5 cm. Contracapa, capa dura.  ISBN 978-0-19-512454-5  Ex. bibl. Antonio Miranda

ANTONIO GONÇALVES DIAS - Poet, dramaturge, and essayist, Dias was a prominent figure in Brazilian Romantic poetry. Orphaned at a young age, he had dual interests in both literary and scien­tific subjects. In the end, his writing efforts were influenced by his scientific work as ethnographer, linguist, and historian. The theme of the Brazilian native is prevalent in his writing, as is the humanistic nature of the characters of his plays. In addition to his writing career, Dias was a member of the Instituto Historico y Ceografico Brasileiro. PRINCIPAL WORKS: Primeiros cantos (1846), Ultimos cantos (1850), Brasil e Oceania (1852)

 

 

Song of Exile / Canção do exilio

 

Odile Cisneros, trans.

 

 

My land has swaying palms
Where the
sabid bird sings;
The song of birds in this land
Is a very different thing.

Our fields have lovelier flowers,
Our skies have more stars above,
Our forests are more full of life,
Our lives are more full of love.

If alone at night I ponder,
More delights my country brings;
My land has swaying palms
Where the
sabid bird sings.

My land is full of charm;

Of which I find nothing here;

If alone at night I ponder,

More delights my country brings;

My land has swaying palms

Where the sabid bird sings

May the Lord forbid I die
And allow me to return
And allow me enjoy the charms
Of which I find nothing here;
May I sight the swaying palms
Where the
sabid bird sings.

 

Extraído de

THE OXFORD BOOK OF LATIN AMERICAN POETRY: a bilingual anthology   edited by  Cecilia Vicuña and Ernesto Livon-Grosman. Agawam. MA, USA: Oxford University Press, 2009.  561 p.  16x24,5 cm. Contracapa, capa dura.  ISBN 978-0-19-512454-5

 

 

 

 

 

Página ampliada e republicada em junho de 2009; ampliada e republicada em abril 2015; ampliada em janeiro de 2016. Ampliada em julho de 2017; ampliada em novembro de 2017



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