Coordination de ARICY CURVELLO
STELLA LEONARDOS
EM PORTUGUÊS / EN FRANÇAIS
Madrigal
Se achares alguém morando
nalgum castelo de nuvens
sou eu.
Se ouvires alguém cantando
uma cantiga de espuma
sou eu.
Se vires alguém semeando
punhados de flor inúteis
sou eu.
Este meu viver sonhando
tecido de amor absurdo
é teu.
Casa de Ana Jansen
Em São Luís, noite sem lua,
no canto de certa rua,
chamada de Rua Grande,
uma carruagem de chamas
estronda aterrorizante
em meio às trevas em pânico.
—Vai sem freio? — Olha o cocheiro!
—De cabeça decepada!
—Vôte! Que animais são estes?
Duas mulas sem cabeça?
—Dois baios decapitados.
—E quem a velha lá dentro?
—Quem mais senão Ana Jansen
Condenada à pena eterna?
—Abrenúncio! – Vade retro!
—Tomara que vá pro inferno!
Em São Luís, noite sem lua,
no canto de certa rua,
chamada de Rua Grande
treme a casa de Ana Jansen
até que as últimas chamas
se consumam na distância.
Pelas praias
De pontas de areia me olham
do Calhau até São Marcos
araçajis e olhos d’ água.
Assunto o mar. Azurado.
De esmalte azul figurado
como se fosse de heráldica.
Há sangue-azul nestas águas?
Talvez na imersa cidade
de Dom Sebastião, quem sabe?
Mas em praias sãoluisenses,
a poesia pé-descalço
e cabelo ao vento indaga
de que cor serão as águas
desse imenso beira-mar.
Busco as vividas palmeiras
onde cantava o sabiá.
E de um canto de alvoroço
soa dança-de-caroço
- originária do coco? –
refletindo-se nas águas,
nas águas louras do mar.
EN FRANÇAIS
Madrigal
Si tu trouves quelqu’un qui loge
dans quelque château de nuages
c’ est moi.
Si tu entends quelqu’un chanter
un cantique d’ écume
c’ est moi.
Si tu surprends quelqu’un qui sème
des poignées de fleurs inutiles
c’ est moi.
Cette mienne vie en rêvant
tissu d’amour absurde
c’est moi.
Maison d’ Ana Jansen
À São Luís, nuit sans lune,
á l’angle d’une rue
appelée Grande Rue
une voiture de flammes
gronde terrifiante
dans les tenèbres en panique.
—Sans frein? - Vois le cocher!
—Tête decapitée!
—Tu vois? Quels animaux!
Deux mules sans tête?
—Deux bais decapitées.
—Et qui la vieille là-dedans?
—Qui mieux sinon Ana Jansen
vouée àla peine éternelle?
—Dieu m’en garde! – Vade retro!
—Elle a été em enfer!
À São Luís, nuit sans lune,
À l’ angle d’une rue
appellée Grande Rue
treme a casa de Ana Jansen
jusqu’ à ce que les dernieres flammes
se consument dans la distance.
Sur les plages
Me regardent des bouts de sable
de Calhau à São Marcos
araçajis et yeux d’ eau.
Sujet la mer. Azurée.
De métaphorique émail bleu
comme dans l’héraldique.
Y-a-t-il du sang bleu dans ces eaux?
Peut-être la ville immergée
de Dom Sébastien, qui sait?
Mais sur les plages de São Luís
La poésie pied déchaussée
et la tête au vent s’ enquiert
de la couleur des eaux
de cet immense bord de mer.
Je cherche les palmiers vécus
où chantait le sabia´ .
Et d’un chant d’ émotion
Bruit une danse-du-noyau
- originaire du coco? –
qui se reflète dans ces eaux,
dans les eaux blondes de la mer.
(Do volume bilingüe “Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal”, Universitária Editora, de Lisboa (Port.) 2000, com organização e tradução de Jean-Paul Mestas.)
Página publicada em setembro de 2008
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