Coordination de ARICY CURVELLO
ELISABETH RENNÓ
Luar
Por plena lua
de teu albor
ronda
alvaluz
Éter em eterno
solilóquio
em plenilúnio
repõe
reflexos
de plenitude
Invasão metafórica
e sóis meteoros
em moroso ondear
aportam
sonoros
em tristeza calma
no chão
de mareada alma.
* * *
Clair de lune
A l’ apogéé
de ta nitescence
rôde
une lumière blanche
L’ éther dans l’ éternel
monologue
em pleine lune
renvoie
des reflets
de plenitude
Invasiom metáphorique
et soleils météores
en un lent ondoiement
arrivent
sonores
et de tristesse calme
sur terre
âme ternie.
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A montanha encurralada
Sempre foste para mim conforto e pena
Hoje só resta em ti o meu lamento
No derruir que só teu corpo encena
Em vascas dores de feroz tormento.
Arrancam-te seiva, cor e sangue
O uberoso ventre se fez atro
Sem a riqueza férrea feita exangue
No devastar deste cruel teatro.
Cheira a soluço a voz da passarada
No réquiem de tua voz adormecida
Coro sonoro proteção amada
Em que descia ar de pura fonte
Dos pétreos braços de encosta florida
Ao verde de teu belo horizonte.
* * *
La montagne acculée
Tu fus toujours pour moi soulagement et peine
Aujourd’hui reste seul en toi mon lamento
Dans le délabrement que ton corps met en scène
En affres douloureux de terrible tourment.
Couleur et sang t’extirpèrent la sève
Le ventre ubéral se fit ténébreux
Sans la rude abondance en fait anéantie
Par le saccage de theatre implacable.
Vien le hoquet le cri d’une volée d’oiseaux
Au requiem de ta voix endormie
Choeur sonore soutien aimé
En qui descendait air de source pure
Des bras pierreux d’un versant fleuri
Le vert de ton bel horizon.
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Submersão
A pedestal de carne húmida
vinha o mar
e seu bramido
era maior que as ondas
batendo nas pedras
em que o limo de séculos
prateara
de pranto negro e assustador
O canto das sereias
era forte
a seus ouvidos de Ítaca
e não havia
nenhuma deusa para fechá-los
As coisas
que o mar trazia
eram restos do passado
e provas de presente
vivências de antevisão
em aura de futuro
Abriu-se a linha das águas
do bíblico caminhar
e à angústia suportada
deu-se eterno repousar.
* * *
Submersion
Au piédestal de chair humide
venait la mer
et son grondement
était plus fort que celui des lames
frappant les pierres
sur qui le limon des siècles
argentait
de sanglots noirs et alarmants
Le chant des sirènes
était puissant
à ses oreilles d’ Ithaque
et n’ avait
aucune épaisseur pour les boucher
Les choses
que la mer entraînait
étaient des débris du passé
et des preuves du présent
ressemblances de prévision
en aura de futur
S’ouvrît la ligne des eaux
du chemin biblique
et de l’angoisse endurée
se donna un repos éternel.
(Da antologia bilingüe “Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França,
Itália e Portugal”, da Universitária Editora, de Lisboa (Port.), 2000, com
organização e tradução de Jean-Paul Mestas.)
Página publicada em setembro de 2008. |