| Coordination de ARICY  CURVELLO 
 DARCY   FRANÇA  DENÓFRIO
 
 
 ALGA MARINHA
 Alga marinha lançada ao mar aberto,
 navego à deriva – não estou presa a nada.
 
 Quero achar o meu caminho – o do começo –
 mas me instalaram nesse arremesso
 e não conheço a maré do princípio
 que me jogou nesse permanente risco.
 
 Alga marinha nesse amaro mar,
 sem pontos cardeais, mapa-múndi
 ou estrela-guia, vivo à deriva.
 
 Não conheço meu porto (asseguro)
 e um dia só serei verdes cabelos
 envolvendo corpos destroçados
 
 que viajaram na maré montante
 e chegaram afogados de aurora
 à praia maior – de todos os oceanos.
 
 (Amaro mar – 1988)
 
 
 ALGUE MARINE
 
 Algue marine lancée en pleine mer,
 je navigue à la dérive – Je ne suis attachée à rien.
 
 Je veux trouver mon chemin – celui du commencement –
 mais on m´a installé dans cet jet
 et je ne connais pas la marée du debut
 qui m’a jeté dans ce risque permanent.
 
 Algue marine dans cette mer amère,
 sans des points cardinaux, mappemonde
 ou étoile à suivre, je vis à la dérive.
 
 Je ne connais pas mon port (j'assure)
 et un jour je ne serais que des cheveux verts
 en envellopant des corps déchirés
 
 qui ont voyagé dans la marée montante
 et qui sont arrivés, noyés de l’aurore,
 à la plus grande plage – de tous les océans.
 
   ----------------------------------------------------------------------   ESCAPE
 
 Conheço a distância
 que vai entre o sonho
 e a dura realidade.
 
 E conheço a fórmula
 de amortecer o susto
 e a queda do último piso.
 
 Olhar sem crer lá fora
 esse vidro que corta
 e fechar, atrás de si, a porta.
 
 Plantar, como sempre faço,
 essas flores no paredão do muro
 para deslumbrarem os meus olhos.
 
 E, nessa lente distorcida,
 em que capto a beleza,
 mesmo aquela que não existe,
 
 ficar musgo sobre a rocha
 – véu veludoso verde veludo –,
 cobrindo essa faca que cega o corte.
 
 (Ínvio lado – 2000)
 
 
 
 FUITE
 Je connais la distance
 qui va du rêve
 à la dure realité.
 
 Et je connais la formule
 d’amortir la peur
 et la chute du dernier étage.
 
 Regarder sans y croire dehors
 ce verre qui coupe
 et fermer, derrière-soi, la porte.
 
 Planter comme d’habitude je fais
 ces fleurs sur les remparts
 pour éblouir mes yeux.
 
 Et, dans cet objectif mal encadré
 dont je saisie la beauté
 même celle qui n’existe pas,
 
 
 devenir mousse sur le rocher– voil velouteux vert velours –
 en couvrant ce couteau
 qui émousse le  tranchant.      DÍVIDA
 
 Porque ninguém foi ao fundo
 de minha alma solitária
 visitar-lhe o último segredo;
 porque me bateram à porta
 sem de fato desejar entrar;
 porque beberam o vinho
 que eu fabricava e servia
 sem, de fato, comigo partilhar;
 e, ainda, porque me enganaram
 quando mais queria acreditar,
 a vida me deve alguma coisa:
 não essa matéria de preencher
 vazio de vísceras ou labirinto interior
 – mas a própria vida.
 
 
 DETTE
 
 Puisque personne n’est allé au fond
 de mon âme solitaire
 visiter son dernier secret;
 puisqu’on a frappé à ma porte
 sans vraiment vouloir y entrer;
 puisqu’ils ont bu du vin
 que je produisait et en servait
 sans, même pas, le partager avec moi;
 et, encore, puisqu’ils m’ont trompé
 quand je voudrais y croire d’avantage,
 la vie me doit quelque chose:
 pas cette matière pour remplir
 le vide des viscères ou le labyrinthe interieur
 – mais la vie elle-même.
 
 (Poemas de dor & ternura – 2008)
 
 
 
 (Poemas traduzidos pelo Dr. Marco Aurélio Vianna França.)
 
 |