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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POÉSIE BRÉSILIENNE EN FRANÇAIS
Coordination de ARICY CURVELLO 

ASTRID  CABRAL

ASTRID  CABRAL

 

EM PORTUGUÊS  EN FRANÇAIS 

Voz no Exílio  

Saudade de paisagem

com palmeira vasculhando o céu.

Vento rasgando bananeira

papagaios de papel

no anil entornado da tarde.

 

Meu país,

o lirismo não me deixa cega,

oh terra que me faz feliz/ infeliz

tão farta que estou

de tantos falsos aristocratas

e mendigos tão reais.

 

Meu país,

a saudade não me deixa mentir,

oh terra onde vivo dividida

entre paixões e compaixões.

Oh terrível gangorra

de orgulho e vergonha! 

 

Bainha aberta 

Crava em meu corpo essa espada crua.

Quero o ardor e o êxtase da luta

em que me rendo voluntária e nua.

Meu temor é a paz pós-união:

desenlace derrota solidão.

 

Cegueira 

No começo

o amor era tão cego

que vivíamos

de tropeço em tropeço.

No começo

o amor era tão cego

que não nos víamos.

Carecíamos do tato

para nos conhecer. 

 

 

POR TODA A PARTE  O  RIO

 

 

Por toda a parte o rio

solta serpente a rojar-se

na paisagem da planície

cobra domada à força por

barrancas e algemas de pontes

ou cativo fragmento no pote

na palma côncava do púcaro

no copo translúcido e mínimo

leite a pojar o seio das cuias.

Em águas batismais comungo

e mergulho o arcaico corpo de

remotíssimo passado anfíbio

nós todos tão sáurios tão

irmãos de peixes e quelônios

e espelho o rosto em fuga por

águas igualmente fugitivas

e comigo vai o rio rente rindo

roendo ruindo riando submim

num subsolo de sonhos.

 

 

 

CABRAL, Astrid.  Couer sans frein; poèmes truduits du portugais (Brésil) par l´autore.    Fontanay Le Conte, France: Chez les arêtes,  Collection les fruits étranges. s.p.  14x19 cm.   ISBN 978-2-915886-20-7  Col. A.M.

 

 

Segredo

 

Camuflar o sentimento

em camadas de recato.

Não deixar que a emoção

transborde a concha do prato.

Cuidar que a avidez do mais

não suste de vez o passo

e a cobiça aflita acabe

sendo embaraço ao abraço.

Contentar-se com o pouco

e prudente, fazer disso

compromisso com o tesouro

futuro, o júbilo adiado

até que o outro perceba

e não mais seja surdo

ao rumor do amor oculto.

 

 

Abraço póstumo

 

Cinge-me o dedo

vizinha à minha

a. aliança dele.

 

No meio da noite

seu par de chinelos

acolhe-me os pés.

 

Através meus olhos

seus óculos escuros

este mundo espiam.

 

Também seu relógio

herança em meu pulso

marca vãos minutos.

 

Chaves e carteira

dele abrem-me portas

de acesso ao tangível.

 

Metonímia à parte

sinto-me abraçada

não só pelas sobras.

 

 

Cegueira.

 

No começo

o amor era tão cego

que vivíamos

de tropeço em tropeço.

No começo

o amor era tão cego

que não nos víamos.

Carecíamos do tato

para nos conhecer.

 

 

Fusão

 

Não te quero

assim a meu lado

e sim em mim.

De tal forma

interpenetrados

que eu deixe de ser eu

e tu de seres tu.

Sejamos pois um nós

singular e não plural

trançados sem dó

num só nó.

 

 

 

 

EN FRANÇAIS  

 

Voix dans l’ Exil

 

Nostalgie de paysage

avec palmier balayant le ciel.

Vent qui déchire bananier

perrroquets de papier

dans l’indigo débordant du soir.

 

Mon  pays,

le lyrisme ne me laisse aveugle

oh terre qui me rend heureuse / malheureuse

si gorgée que je suis

de tant de faux aristocrates

et de mendiants si réels.

 

Mon pays,

la nostalgie ne me laisse mentir,

oh terre où je vais  partagée

entre passions et compassions.

Oh terrible balançoire

d’orgueil et de vergogne!

 

 

{“Voix dans l’ Exil” consta  da antologia bilingüe Port./Francês “Povos e Poemas/ Peuples et Poèmes”, publicada  pela Universitária Editora, de Lisboa (Port.), em 2003, organizada e traduzida por Jean-Paul Mestas com uma equipe de tradutores,pois a obra reúne poetas de cerca de cem países.)

 

 

                                                        Ø  Đ  Φ   

 

Gaine ouverte

 

Enfonce dans mon corps cette  épée crue.

Je veux  l’ardeur et l’ extase de la lutte

dans laquelle je me rends volontaire et nue.

Ma crainte est la paix post-union:

dénouement déroute solitude.

                            

Aveuglement

 

Au début

l’ amour était si aveugle

qu’on vivait

d’ achoppement en achoppement.

Au début

l’amour était si aveugle

qu’on ne se voyait pas.

On avait besoin du toucher

pour se connaître.

 

 

(Os dois últimos poemas/ Les deux derniers poèmes: antologia “Poésie du Brésil”, seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos, como nº 13 da revista literária francesa  “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997. Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros.)

 

 

                                                           Ø  Đ  Φ   

 

PARTOUT  LE  FLEUVE

 

 

Partout le fleuve

libre serpent trainant

dans le paysage de la plaine

couleuvre domptée à force

par les berges et les chaînes des ponts

fragment captif du pot

dans la paume concave du vase

du verre translucide et infime

lait comblant le sein des calebasses.

Dans les eaux baptismales je comunnie

je trempe mon corps archaïque

du lointain passé amphibie

nous tous si sauriens

aussi frères des poissons et de les chéloniens

je miroite mon visage en fuite

sur les eaux tout aussi fugitives

et tout près de moi, le fleuve suir souriant

rongeant remuant ruisselant sous moi

dans un sous-sol de songes.

 

 

 

                                                  Ø  Đ  Φ   

 

 

[ Tradução ao Francês por Sophie Lesage.- Editado por Les Arètes, La Rochelle, França, em 2008.] 

 

 

 

 

CABRAL, Astrid.  Couer sans frein; poèmes truduits du portugais (Brésil) par l´autore.    Fontanay Le Conte, France: Chez les arêtes,  Collection les fruits étranges. s.p.  14x19 cm.   ISBN 978-2-915886-20-7  Col. A.M.

 

Secret

 

Camoufler le sentiment

sous des couches de réserve.

Ne pas permettre à l'émotion

de déborder au creux de la vaisselle.

Faire attention à ce que l'avidité

n'arrête pas la bonne marche

et que la convoitise sans limite

ne gêne pas l'accès à l'entente.

Etre contente du peu

et prudente, sorte de pari

pour le trésor futur,

la jouissance ajournée

jusqu'à ce que l'autre

cesse d'être sourd

à la rumeur de l'amour caché.

 

 

Etreinte posthume

 

A mon doigt

voisine de la mienne

son alliance.

 

Au milieu de la nuit

sa paire de chaussons

accueille mes pieds.

 

À travers mes yeux

ses lunettes foncées

regardent ce monde.

 

De même sa montre

héritage à mon pouls

marque des minutes vides.

 

Son portefeuille et ses clés ^

ouvrent pour moi les portes

de l'accès au tangible.

 

Métonymie mise a. part

je ne me sens pas étreinte

seulement par cela.

 

 

Cécité

 

Au début

Famoùr était si aveugle

qu'on vivait

d'achoppement en achoppement.

Aa début

l'amour était si aveugle

qu'on ne se voyait pas.

On avait besoin du toucher

pour se connaître.

 

 

 

Fusion

 

Je ne te veux pas

ainsi à coté de moi

mais plutôt en moi

de telle façon

qu' interpénétrés

je ne sois plus moi

tu ne sois plus toi

que nous soyons u-n nous

non pluriel mais singulier

les deux tressés sans peine

dans un seul nœud.

  

 

 

 

Página publicada em set. 2008, revisada e republicada em outubro de 2008;. novamente ampliada e republicada em fevereiro de 2009. Ampliada e republicada em novembro de 2013.




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