JOSÉ LINO GRÜNEWALD
Nasceu no Rio de Janeiro em 1931 e faleceu na mesma cidade em 26.07.2000, advogado e jornalista e tradutor. Foi editor do Correio da Manhã durante muitos anos. Excelente crítico de cinema, foi um dos divulgadores da obra de Jean-Luc Godard no Brasil. Publicou poemas concretos desde a Noigandres 4. Livro publicado: Um e Dois (1958).
O poema concreto da primeira fase do Concretismo — vai e vem — é, imerecidamente, um dos menos conhecidos do movimento. Trata-se de um poema que pode ser lido normalmente, de trás para frente e, também, de cima para baixo e de baixo para cima... ou seja, na mesma intenção de um palíndromo latino. Salvo engano, é o primeiro autêntico palíndromo brasileiro, a menos que se reconheça o maneirismo do barroco ANASTACYO AYRES DE PENHAFIEL (ver), acompanhando observação de Péricles Eugênio da Silva Ramos, no mesmo sentido, como assinalou o poeta e crítico Jayro Luna.
Antonio Miranda
Veja / Vea: RITO, DIRETO E CONCRETO, por José Lino Grünewald
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t e m p o
p a s a t e m p o
p a s s a
(1959)
a v i d a
c o m i d a
a v i d a
b e b i d a
d o r m i d a
a v i d a
i d a
1 9 5 8
s o l o s o m b r a
s o l s o m b r a
s ó s o m b r a
s o m b r a s ó
s o m b r a s o l
s o m b r a s o l o
(1957)
O que José Lino Grunewald diz a respeito do cinema de Jean-Luc Godard vale para sua poesia: “O ato de filmar (poetar)é a experiência, e, por isso, viver vida é viver o cinema (a poesia)”. A busca de sentido existencial através da substantivação das palavras, num movimento circular de repetição, é que singulariza boa parte de sua poesia. O conflito do poeta com sua angústia se traduziu num tipo de composição que impediu seu fechamento no intimismo choramingas e possibilitou precoces experiências participantes por exemplo “petróleo”.
preto
preto um jato
preto
preto um óleo
preto
preto um fato
preto petróleo nosso
nosso
nosso
nosso
nosso
nosso
nosso
nosso petróleo
(1957)
Extraídos de POESIA CONCRETA / seleção de textos, notas, estudos biográficos e crítico e exercícios por Iumma Maria Simon e Vinicius Dantas. São Paulo: Abril Educação, 1982. 112 p. (Literatura comentada)
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v e r
t i c e
d e t e v e r
r e v e r t e
d e t i
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m i m
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Extraído (e remontado) de LA ESCRITURA EN LIBERTAD – ANTOLOGÍA DE POESÍA EXPERIMENTAL. Edic. De Fernando Millán y Jesús García Sánchez. 2 ed. Madrid: Visor Libros, 2005.
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1
2 2
3 3 3
4 4 4 4
c i n c o
De: José Lino Grunewald. ESCREVIVER. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
GRÜNEWALD, José Lino. transas traições traduções. Salvador, Bahia: 1982. 40 f s/pag. ilus. (CÓDIGO 7 ). Traduções de poemas de William Shakespeare, Ezra Pond, William Carlos Williams, T. S. Eliot, e. e. cummings, Dylan Thomas, Pierre de Ronsard, Charles Baudelaire, Stéphane Mallarmé, Guillaume Apolinaire, Guido Cavalcanti, e um poema (até então) inédito de José Lino Grünewald. Ex. bibl. Antonio Miranda
a ira por um fio
no ar dedilha a ira
fio de agulha ou dente
não o que se sempre sente
mas linha de unha em lira.
da ira a lira é devassar
o que trinca o que aperta
é desfiar em tira certa
um fio de um fio no ar.
um rio que não para
um comprimir sem estouro
é tirar entre chifres de touro
a exata linha contra cara.
por fio entenda-se rio
um afiar por fio de ira
correr em cio de mira
longe-longo sem ver desvio
num porfiar dentro da fala
sem sombra sem incerto
presteza de canino aberto
em paralelo ao som à bala
do som que morrenasce
nas estrias do assobio
um raio ou arrepio
luz e frio na face.
da ira a crista é lírio
lume de arco lacre
um cheio hálito acre
à forma e peso de círio.
por forma de ira um copo
um corpo sem cor um corte
por face o vento a sorte
a sorte de ser ar num copo.
um copo sem face açor
de açoite num lamber voa
de lâmina a lábio coroa
sem fim de curva flor.
por flor de círio a pena
a sina de inclinar o flanco
à força de violar o branco
em vazio de vácuo – hiena.
por flor de ira de moinho
por pétala pá de giro só
em digerir nas mãos a mó
e no ar o coração de pinho.
por hiena leia-se língua
e à guisa de lábio pedra
no sal do sal que medra
em laço à mágoa e míngua
num fio de afã palma a palma
por fino contorno de aço
a pena de roer traço a traço
o centro duro escuro da alma.
(escrito em junho de 1959)
ATRAVÉS 1 – Coleção cultural. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1975? 90 p. ilus. p&b Ex. bibl. Antonio Miranda
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Página ampliada em novembro de 2021
Página ampliada e republicada em novembro de 2008; ampliada e republicada em agosto 2010. Ampliada e republicada em agosto de 2017.
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