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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




ANASTACYO AYRES DE PENHAFIEL

 

ANASTÁCIO A. DE PENHAFIEL

Foi membro da  Academia Brasílica dos Esquecidos,  academia de letras do Brasil Colônia fundada em 1724, sob o patrocínio do vice-rei D. Vasco Fernandes César de Meneses na cidade de Salvador, na Bahia.

O autor é incluído em portal literário como piauiense|: https://literaturapiauiense.ufsc.br/autores/?id=4119&locale=pt_BR

“Os Esquecidos” foram cerebrinos fazedores de acrósticos e mesósticos, sonetos joco-sérios e plurilíngues, centões bestialógicos e até engenhos pré-concretos como este Labirinto Cúbico de Anastácio Ayres de Peñafiel, que dispôs de vários modos a frase latina in utroque César (que quer dizer “em um e outro César”).*

*Apus Péricles Eugênio da Silva Ramos, Poesia Barroca, cit. p. 161.

 

 

Ao Excelentíssimo Senhor

Vasco Fernandes César de Meneses,

Vice-Rei do Estado do Brasil

 

 

LABIRINTO CÚBICO

 

 

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O Barroco: Exemplo para a Vanguarda

[uma introdução ao poema de Anastacyo Ayres Penhafiel]

Jayro Luna

Doutor em Literatura Portuguesa (USP)

 

O Barroco por suas características relacionadas ao trabalho de invenção e pesquisa da forma, voltando-se, em muitos casos, para o aproveitamento espacial da página, tem servido de ponto de referência para muitos experimentos poéticos contemporâneos. Além deste as­pecto espacial do barroco, a própria atitude barroquista de entender a obra de arte como um engenho, um artifício, criando assim uma rela­ção lúdica entre autor, obra e público, é outro ponto de forte marca que tem levado estudiosos contemporâneos a reestudar essa época, até então tida apenas como um momento nebuloso marcado pela postura da contra-reforrna religiosa, e por isso mesmo, considerado por alguns críticos como uma época retrógrada e comprometida ideologicamente com uma postura artística envolvida com a supressão da liberdade, visão que os estudos mais recentes e profundos sobre essa época modi­ficaram, principalmente a partir de trabalhos como o de Wolfflin, Walter Benjamim, entre outros, alguns dos pioneiros nessa reavaliação.

No caso que nos interessa, a visão barroca de que a obra pode ser o resultado de um produto probabilístico ou estatístico da ocorrência de signos, cabendo ao artista uma tarefa de controlador do fluxo dessa ocorrêncía, parece ser possível. Para considerar a existência de tal visão, ou algo parecido a isso, pensamos em poemas como o do enigmático Anastacyo Ayres de Penhafiel, do barroco baiano, com seu "Labirinto Cúbico”.


A frase latina "In Utroque Cesar", traduzÍvel como "há um outro césar" ou "de ambos os lados um césar", é um poema aparentemente laudatório ao então vice-rei do Brasil, Vasco César de Menezes. Observa Péricles Eugênio da Silva Ramos, que é possível ler a frase completa, partindo-se de cada "I", fazendo viradas para a esquerda ou direita, para cima ou para baixo, conforme o caso. Comentando produções barrocas como esta, que particularmente para Alfonso Ávila é um exemplo de poema em que prevalece o elemento "gráfico, este de graficidade mais despojada e concreta", para Ávila o Barroco tema característica de ser uma época em que O elemento lúdico assume posturas de jogo do aleatório.

"A esse processo lúdico de encadeamento, seja de formas plásticas. seja de palavras, não soaria imprópria a classificação de sintaxe do aleatório ou estruturação do arbitrário. A 'mistura arbitrária das coisas', referida por Leo Spitzer, explicar-se-ia, deste modo, como um exemplo a mais dentre tantos outros daquele multifário usar bem do jogo da linguagem barroca."(Á VILA, Affonso. O Lúdico e as Projeções do Mundo Barroco, p.57)

Se atentarmos para o poema, ele se baseia na junção de dois triângulos, cuja hipotenusa comum aos dois triângulos retângulos é a diagonal do quadrado que forma o poema, ou seja, a seqüência formada pel­a letra "I". Assim, teremos junto ao ângulo reto do triângulo inferior, e portanto, mais a "oriente" do meio da página, o nome de “César" lido em variações diversas, mas todas, partindo de uma leitura invertida do nome, isto é ao contrário, ou da direita para a esquerda. Já :no triângulo retângulo superior, junto ao ângulo reto deste, temos as mesmas variações com o nome de "César" só que agora na ordem natural de nossa leitura, da esquerda para a direita. Numa analogia dos dois “césares” sugeridos no poema - o César, imperador de Roma; o César, vice-rei do Brasil no inicio do século XVIII - estão aí dispostos como se o poema fosse uma reprodução geométrica do globo, veja lá, Roma no alto à direita; Salvador, em baixo à esquerda. Por outro lado, o fato dos nomes serem lidos em direções opostas, pode ser interpreta­do também como uma sutil "alfinetada" no despropósito da comparação entre o "imperador de Roma" e o "conde de Sabugosa". Observe­mos ainda, que dominando a região central do poema, podemos ler radicais latinos relacionados com a idéia de órbita, como "ortuni". Como um verdadeiro labirinto, esse poema tem cada letra colocada em um lugar específico, conhecendo a disposição do poema como sendo for­mado pelos dois referidos triângulos, a ausência de qualquer letra, pode facilmente ser suprida, ou seja, é um poema que basta uma parte para que se possa recompô-lo integralmente, um controle estocástico dos mais efetivos. Um poema muito próximo, pois, do que ocorre com a geometria fractal, no qual, seguindo uma equação repetitiva, constrói-­se uma seqüência de variações sobre o mesmo tema, a diferença está, evidentemente no geometrismo absoluto do poema.

Ana Hatherly comentando sobre a poesia barroca portuguesa observa que ela tem experimentos muito próximos das vanguardas poéticas:

'"'Na segunda metade do século XX, os poetas Concreto-­experimentalistas contribuíram para o ressurgimento de alguns as­pectos mais criativos da poesia barroca, destacando-se a versatilida­de lingüística, a criatividade imagística, o culto do ludismo e a visualidade do texto."

(HATHERLY, Ana. "A Poesia Barroca Portuguesa" em: Revista do Centro de Estudos

No artigo acima citado, podemos observar alguns poemas cuja criatividade imagistico-visual foi das mais notáveis, como o poema "Pirâmide Solene" de D.Francisco Manuel de MeIo ou o "Anagrama Poético" de Luis Nunes Tinoco que rivalizam em visualidade com o de Anastacyo Aires de Penhafiel.

Desse modo, esperamos ter tocado de forma simples, mas acre­ditamos, conveniente e segura no assunto de buscar demonstrar que as chamadas poesia moderna, de vanguarda e o barroco, têm obras que podem ser estudadas pelo aspecto estocástico com que essas obras po­dem ser conjugadas e que em diferentes espaços culturais e épocas houve momentos em que o poeta trabalhou sua obra sob um ponto de vista matemático, diverso da simples contagem silábica na busca de um melro dito excelente, mas muitas vezes, com o perdão da rima. insuficiente.

Jayro Luna

 

Extraído de LUNA, Jayro.  Caderno de Anotações. Belo Horizonte/São Paulo: Signos/Editora Oporetuno, 2005. p. 77-80.

 

POSIA DOS BRASIS -PIAUÍ

Página ampliada e republicada em dezembro de 2018

 


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