RENATA PALLOTTINI
Pallottini's poetry is a mirror of the real world. It reflects all the contradictions of everyday life. It balances between lies and truths, between illusions and frustrations, between life and death, pain and pleasure. Between the ugly and the beautiful. Between hope and despair. To feel and to understand her poems simultaneously is not a challenge because Pallottini is one of the few lucky artists (and people) who combine emotions and reason in a unique, harmonious way, both in her work and in her life. There is no dividing line between the heart and the brain, between the real and the imaginary, between the sophisticated and the simple. These are the qualities that make her and her work so appealing. — Elzbieta Szoka
Observação: Agradecemos a Renata Pallottini a remessa do livro para que pudéssemos publicar uma página dela com o intuito de divulgar a sua obra traduzida ao inglês. Ela foi nossa homenageada na Biblioteca Nacional de Brasilia, em julho de 2009, na série Tributo ao Poeta, por seus méritos como poeta e como figura humana excepcional. A. M.
From
RENATA & other poems
translated by K. David Jackson
Austin, Texas, USA: Host Publications, 2004
ISBN 0-924047-26-7
A um homossexual assassinado
Adestravas cachorros.
Provavelmente nunca te morderam.
Hoje estás para sempre debaixo da térra
morto por homens
que adestraram
demônios.
To A Murdered Homosexual
You used to train dogs.
Probably they never bit you.
Today you are forever beneath the ground
killed by men
who train
devils.
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Poema
Toda a carne
eu te dedico.
A do corpo
a que como.
Todas dedico
meu amor
á tua fome.
Poem
Allflesh
I dedícate.
That of the body
that which I eat.
All I dedícate
my love
to your hunger.
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Elogio da virgindade
Não, não é uma jóia pela qual se paga.
É só a primeira vez de alguma coisa enorme
que envolve o prazer e não envolve o prazer
porque a ciência do prazer é ela mesma prazerosa.
Também não é nada melhor nem pior do que nada.
Mas é um minuto, o minuto antes de,
quando a gente está vivo e fruí a vida
e ainda não sabe o quanto ela se guarda.
Não ignoro o relativo resistir de uma membrana
e todo o lado trágico que isso trouxe á Historia.
Não ignoro o perigo de supervalorizá-la;
mas ressalto o perigo de não lhe dar valor nenhum.
Antes você não sabia de nada, você só sabia
que havia alguma coisa que você quase ignorava.
Agora houve urna dor perfeitamente suportável
e um pequeno prazer perfeitamente suportável.
O melhor vem depois. Mas isto, a descoberta,
a promessa de novas e infinitas angústias,
o começo de um caminho que findará na morte,
isso, meu bem, não da pra perder calmamente
no banco posterior de um automóvel.
In Praise of Virginity
No, it's not a jewel that one can buy.
It's only the first time for something enormous
that involves pleasure and doesn't involve pleasure
because the science of pleasure is herself pleasurable.
It is also not the mark without which all is lost,
legitimacy and its consequent value.
It is nothing better or worse than nothing.
But it is a minute, a minute before,
when we're all alive and enjoying life
and don't know yet how much she has in store for us.
I don't deny the relative resistance of a membrane
and the whole tragic side that this brought to History.
I don't deny the danger of overvaluing it;
but I reemphasize the danger of not giving it any value at all.
Before you didn't know anything, you only knew
that there was something of which you were almost ignorant.
Now there was a perfectly manageable pain
and a perfectly manageable small pleasure.
The best comes later. But that, the discovery,
the promise of new and infinite anguishes,
the beginning of a road that will wind up in death,
that, my sweet, is not something to lose calmly
on the back seat of an automobile.
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Poema
E então, pergunto, por que esta vida
de pão e horas moídas?
Por que não somente um pássaro
na inciência da tarde clara,
uma árvore verde embutida
no musgo da manhã... Por que esta vida?
Por que não uma pedra severa
que não procura, não erra, não espera?
ou então outra vida, outra vida
que não esta, de sal e lâminas finas,
que não esta, de sal sobre as feridas?
Poem
And then, I ask, why this life
of bread and ground hours?
Why not even a bird
in the unknowing clear afternoon,
a green tree growing
in the morning's moss... Why this life?
Why not a severe stone
that doesn't search, doesn't err, doesn't wait?
or then another life, another life
that´s not this one, of salt and fine blades
that´s not this one, of salt on the wounds?
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Monta em pêlo essa besta
Monta em pêlo essa besta
Talvez que te derrube
Não dói mais que ver crianças
Derrubadas no entulho
Não dói mais que as sandálias
Lambuzadas de estrume
Não dói mais do que a dor
que não se torna música
Não dói mais que o amor
que dói mais do que tudo.
Monta em pêlo essa besta
ou te derruba o mundo.
Ride Naked On That Beast
Ride naked on that beast
That might throw you
It's no worse than seeing children
Thrown in the trash heaps
It's no worse than sandals
Smeared with manure
It's no worse than pain
that doesn´t become music
It's no worse than love
that hurts more than all the rest.
Ride naked on that beast
or the world will throw you.
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Os travestis do Hilton
São os travestis do Hilton,
são tão alegres rapazes!
Ah, confessa! Alguma vez
já correste de salto alto?
Podes rir, em ti não dói.
Sabes lá o que é ser dois?
Quem faz barba de manhã:
Joãozinho ou Vivian?
Quem vai ao enterro da mãe?
Podes rir não te faz rugas...
Quem é que empreende a fuga
guardando a dignidade?
De quem é a identidade,
quem apanha dos milicos
e quem paga o silicone?
Quem atende o telefone?
E quem tem os faniquitos?
E aquela esquizofrenia.
Quem se autodefiniria
antes que um outro o defina?
São tão bonitas meninas!
sim: podemos ser felizes.
Ou: não façamos o gueto.
Queremos ser objetos?
Onde estão nossas raízes?
Que o cílio não se desfaça,
que o dente não apareça,
que a barba espessa não cresça!
The Transvestites from the Hilton
They're the transvestites from the Hilton,
They're such happy boys!
Ah, confess it! Have you ever
Run in high heels?
You can laugh, it doesn't hurt you.
Do you know what it means to be two?
Who is it who shaves in the morning:
Johnny or Vivian?
Who goes to Mother's funeral?
You can laugh and not get wrinkles..
Who is it who starts to flee
m a dignified way?
Whose identity is it?
Who gets hit by the soldiers
And who pays for the silicone?
Who answers the telephone?
And who has the little fan club?
It's that schizophrenia.
Who dares define the self
Before another defines it?
They're such pretty girls!
Yes: we can be gay.
Or: let´s not get down in the dirt.
Do we want to be objects?
Will our roots have to pay?
May our eyelashes not come undone,
may our teeth not show,
may our thick beards not grow!
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