Fonte: www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2005
RENATA PALLOTTINI
( 1931 – 2021 )
(São Paulo SP, 1931). Cursou Direito na Universidade de São Paulo (USP) entre 1949 e 1953, onde publicou seus primeiros poemas, nas revistas da faculdade. Também fez o Curso de Filosofia Pura na Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), concluído em 1951. No ano seguinte publicou Acalanto, seu primeiro livro de poesia. Em 1960 ocorreu a montagem de sua peça A Lâmpada, com direção de Teresa Aguiar, em Campinas SP. Lecionou História do Teatro Brasileiro na Escola de Arte Dramática da USP, em 1964. Um ano depois foi encenada sua peça O Crime da Cabra, sob direção de Carlos Murtinho, sua estréia no teatro profissional. Entre 1969 e 1982 publicou oito peças de teatro, foi roteirista do programa infantil Vila Sésamo e diretora da Escola de Arte Dramática da USP.
Nas décadas de 1970 e 1980 trabalhou como tradutora e roteirista de telenovelas e séries para a TV, entre as quais Malu Mulher (TV Globo). Publicou livros de contos, poesia infantil e ensaios. Em 1997 recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Sua obra poética inclui os livros A Faca e a Pedra (1962), Os Arcos da Memória (1971), Noite Afora (1978), Esse Vinho Vadio (1988) e A Menina que Queria Ser Anja (1987). A poesia de Renata Pallatini vincula-se à terceira geração do Modernismo.
Para o crítico Wilson Martins, "poeta independente das escolas transitórias e modas efêmeras, Renata Pallottini restituiu à poesia brasileira o elemento de emoção pessoal e literária de que começou perigosamente a se despojar com João Cabral (...), assim como, e por isso mesmo, passou a evidenciar uma integração cada vez mais sensível na vida coletiva, na existência política do Brasil enquanto nação, pagando o tributo inevitável, oneroso e paradoxal de restringir o alcance de sua poesia no ato mesmo de parecer expandi-lo".
Fonte: www.itaucultural.org.br
“Em Renata coexistem a diversidade de vozes e formas de escrever, em uma poética que,em sucessivos momentos, é clássica, intimista, social, lírica ou metafísica e a coerência, a fidelidade ao questionamento e à investigação de alguns dos grandes temas universais da poesia: a morte, o amor, a alteridade.” Lindolfo Bell
“Renata Pallotini revela um completo domínio do verso e um capacidade rara de criar, dentro de moldes e temas antigos, uma linguagem nova. Seus poemas bíblicos ocuparão um lugar todo especial na poesia de nossos dias.” Paulo Bonfim
A vida vindo a ser o que devia:
absolutamente agora
sem nenhum
outro dia.
R.P.
O EMPENHO DE DAR VIDA Á VIDA,- sobre Renata Pallottini - por André Luís Gomes
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Veja também>>> POÈMES EN FRANÇAIS
Poemas de Renata Pallotini em Português e ENGLISH
De
CHOCOLATE AMARGO
São Paulo: Brasiliense, 2008
6. Minhas velhas
As minhas velhas
Tinham lá os seus modos
De aldeias antigas:
Guardavam o dinheiro
Em lenços enrolados
Que depois enfiavam
No meio
Dos seios
Era um dinheiro que cheirava a leite
A suor, a comida e privação
Um dinheiro sofrido e bom
Como o primeiro coito
As minhas velhas sabiam das coisas:
Fui eu que me esqueci.
7. Não cantes para mim ... (Para a Lydia)
Não cantes para mim
que não te ouço
Tenho o ouvido lanceado
por um dardo
Tempo, talvez,
Talvez o ruído absurdo
das palavras de amor
que me neguei a ouvir
EM OBRAS DE MISTÉRIO
EMPREGUEI minha infância em inversões de ócio.
(Eu disse: em inversões de ócio).
A tristeza imensa e muda das paixões infantis!
Sequer cresci.
Que grande diferença! Minha mão direita
mais de uma oitava.
Hoje o piano é um rastro sob o pó.
Mas não diremos saudade o que é apenas melancolia
da tarde, sob o azul da tarde (o fim da tarde...)
Bebendo vitamina e não absinto,
sentindo um vago rumor longínquo e não o fim de tudo
(minuto degolado ao gume de um ponteiro).
(De O Monólogo Vivo, 1956)
FINAL
Eu te perdi como uma coisa irremediável.
Na luminosa e grave tarde eu te perdi.
Eras o único ser. E agora és sombra,
enquanto as longas ruas se incorporam
ao que do sonho resta.
Eras cilício e rosa,
mas nunca foste verdade.
Olha: o sol colhe retas pelo espaço,
meus dedos se projetam e estendem lâminas
onde se ferem meus pensamentos.
Perdi-te, e Deus não me reencontrou.
Quem sou não sabe de si mesmo, e assim prossigo,
pois te perdi e nada mais importa.
Lembra-te: mais um dia. O tempo cai
como folhas de aço, e uma, e outra...
Entre uma e outra a Hora te roubou
ao meu tempo interior.
Perdi-te
e fico, e nada me concedes,
nem coração, nem mesmo alguma vida...
Tu chegas pelo trem de nunca-e-meia
e eu sempre de partida,
de partida!
(De O Monólogo Vivo, 1956)
LAMENTAÇÃO DOS FILHOS
Do infinito nascemos
para um termo preciso.
De infindas, as penas,
de vago, o aviso.
Nados mornos, frágeis,
de entre dois gemidos.
Quando a morte, a eterna?
Quando o Conhecido?
Que isto já nos cansa,
a nós, os malformados,
desde a distante infância
frutos destinados.
Somos os que a vida
fez limite amargo.
De infindas, só as penas,
de vago, o aviso vago.
(De A Casa, 1958)
O GRITO
Se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse
se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer
se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
se ao menos esta dor sangrasse
(De A Faca e a Pedra, 1965)
INVENTARIO (I)
NUNCA mais saberemos o motivo de tão grandes silêncios.
Aquele amor à solidão será mistério para sempre.
Pouco entendemos no caderno escrito
e nos retratos secos as mãos estão abertas
mas já não propiciam.
Dos papéis encontrados
qual a face que vale?
E estes cabelos brancos
de que amor falariam?
Algum rumo tomavam
tuas raízes ásperas;
os teus ramos escuros
algum vento esperavam...
Quantas palavras colhe a morte
como flores...
INVENTÁRIO (II)
Avó, que pretendias
com as letras escritas,
que palavras dizias
avó, qual a mensagem
que este ouvido perdeu?
Foste tu ou fui eu
avó, quem distraiu
e o trato não cumpriu?
E se estavas calada
tu não dizias nada
ou era erro meu?
Avó, quando morreste,
quem morreu?
(De Os Arcos da Memória, 1971)
POÉTICA (II)
Descer até o fundo
e quando o sentimento
esteja o mais maduro
provocá-lo e feri-lo
para que a voz aflore
mas sem meias-medidas
sem cautela e sem pena:
assim o Poema.
(De Os Arcos da Memória, 1971)
Recebendo o Prêmio Molière, em 1966.
OS MORTOS
Os mortos estão deitados
mas os seus nomes tremulam sobre as campinas como flâmulas,
voam sobre as campinas a memória de suas faces
e a brancura de seus ossos perduráveis;
dizei, dizei dos mortos o que vos parecer,
eles estão deitados sob o limo com os olhos fechados,
com fibras e raízes onde estavam os olhos,
e com sumos e chuvas no lugar que era a boca;
Só a nossa lembrança os reúne e os congrega,
somos nós nossos mortos e estamos enterrados
e jazemos nós mesmos misturados às flores.
Dizei portanto as sentenças e os crimes,
já não podeis condenar-nos à morte.
Já pouco importa.
Porque estamos deitados,
vitoriosos e sós, imaculados, livres,
com as mãos cheias de terra e de silêncio.
CEREJAS, MEU AMOR
Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.
E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba
e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...
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Com Menotti del Picchia e jornalista Maria Antonia,
recebendo o Prêmio Gazeta, em 1953.
POEMA
E então, pergunto, por que esta vida
de pão e horas moídas?
Por que não somente um pássaro
na insciência da tarde clara,
uma árvore verde embutida
no musgo da manhã... Por que esta vida?
Por que não uma pedra severa
que não procura, não erra, não espera,
ou então outra vida, outra vida
que não esta, de sal e laminas finas,
que não esta, de sal sobre as feridas?
(De Os Arcos da Memória, 1971)
OS TRAVESTIS DO HILTON
SÃO os travestis do Hilton,
são tão alegres rapazes!
Ah, confessa! Alguma vez
já correste de salto alto?
Podes rir, em ti não dói.
Sabes lá o que é ser dois?
Quem faz a barba de manhã:
Joãozinho ou Vivian?
Quem vai ao enterro da mãe?
Podes rir não te faz rugas...
Quem é que empreende a fuga
guardando a dignidade?
De quem é a identidade,
quem apanha dos milicos
e quem paga o silicone?
Quem atende o telefone?
E quem tem os faniquitos?
E aquela esquizofrenia.
Quem se autodefiniria
antes que um outro o defina?
São tão bonitas meninas!
Sim: podemos ser felizes.
Ou: não façamos o gueto.
Queremos ser objetos?
Onde estão nossas raízes?
Que o cílio não se desfaça,
que o dente não apareça,
que a barba espessa não cresça!
Há mil porradas na praça,
há mil gringos de avidez.
Quem sou eu? Quem são vocês?
Somos travestis do Hilton,
tão alegres contumazes,
tão loucos e tão felizes
(ou quase).
(De Cantar meu Povo, 1980)
BURITI CRISTALINO
Para Lamarca e os outros
Ele andou por três dia
na caatinga.
No quarto dia ajoelhou
de fome.
No quinto adormeceu ao pé da baraúna.
No sexto foi encontrado
e metralhado pelos guardas.
E no sétimo
descansou.
(De Cantar meu Povo, 1980)
UM FRUTO
A juventude
houve
como um fruto.
Hoje habito uma casa
polpa madura de mulher
meu corpo.
Amanhã haverá uma flor.
Não sei onde.
(De Ao Inventor das Aves, 1985)
QUIS ACHAR TEU CORPO...
Quis achar no teu corpo uma loucura nova
alguma coisa viva
que lá não estava
e que era só minha
e que eu te emprestava.
Então, deu-me saudade
do tempo em que teu corpo
fruta à prova
já era, por si só, uma loucura nova.
(De Ao Inventor das Aves, 1985)
SAPATOS SOVIÉTICOS E CORAÇÃO CUBANO
Te vejo, velho, andando calmo por uma avenida
com teus sapatos soviéticos e coração cubano.
Não sabes nada de aberturas; tens um sorriso aberto,
cabelo de povo e uma cara de galego emigrado.
Dizes "pá lo que sea, Fidel" e queres viver,
todos queremos viver, mas há um momento
em que o calor faz apertar o sapato.
Sucede a qualquer um; sentas num banco
te descalças lentamente, sacas as meias velhas,
aspiras com prazer e o pé moreno emerge.
Não temas; não precisas olhar para os lados.
Não; ninguém está vendo
esses teus dedos anárquicos...
NÃO
Não me abram a cabeça
o que há está por fora.
Não é coisa que tenha hoje
ou agora.
É um tempo circundante
num espaço: este instante.
TEMPO DE HOMENS PARTIDOS...
(Para o Almino)
Naquele tempo a gente ainda não tinha barriga, lembra?
A gente
acreditava na UNE e na torre do petróleo é nosso
a gente não entendeu a morte do Getúlio
Você foi exilado lá fora
eu fui exilada pra dentro
você casou eu não
você voltou
eu não.
Hoje
você acredita?
Eu
não.
MAIS POEMAS, MAIS...
Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y Trad. Xosé Lois García
Edicións Laiovento
Santiago de Compostela, 2001
SONETO DA TEMPESTADE
Terra. Ou negro horizonte. Ou tempestade.
Pese nos olhos do poente a tarde
como um sono de chumbo, rubro e mudo.
O tempo passa, como as águas passam
dos dois lados da proa, suavemente.
Caminhamos, solenes, para o lado
de onde nos há de vir o fim de tudo:
tempestade, horizonte, ou terra, ou poente.
Mulher e berço, adeus! O enigma zomba
Descoberto. A borrasca se aproxima.
Os homens brotam chuva. A vela pende.
Temos um grande mar de morte, acima.
De um céu para outro céu o lenho tomba,
o oceano aos seus amantes surpreende.
A Casa, 1958.
BOTA-FUMEIRO
Santiago de Compostela
Doces fumos do fumeiro
e doces águas da ria...
Na catedral de Santiago
ninguém sabe o que dizíamos...
Por entre as nuvens do incenso
a própria Virgem se ria
como as imagens do Pórtico
e a chuva de todo dia...
Nosso amor era uma ponte
de Valle-Inclán a Rosalía...
Praça Maior, 1988
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De
Renata Pallottini
LIVRO DE SONETOS
São Paulo: Massao Ohno [1961]
caixa com cartões soltos 15 x 28 cm
II samuel — 13:1
Quem é o irmão de quem e quem não fora,
quem ama à sua irmã, quem não a ama?
Quem vê seu ser por dentro e não por fora,
quem sente a mãe ser mãe, quem a sente ama?
Quem sabe onde a corrente se derrama
e o sentimento represado estoura?
Quem prevê que tal lenha dá tal chama,
que uma se extingue e outra se demora?
Posso eu saber se não te fui irmã
em uma terra de antes? E se o fosse,
quem sabe o que protege e o que consome?
Tudo foi mesmo sangue, na manhã
do mundo. E o sangue é quente, e o sangue é doce
e o sangue é fruto rubro e o fruto é fome.
6-9-1954
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Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y Trad. Xosé Lois García
Edicións Laiovento
Santiago de Compostela, 2001
FINAL
Yo te perdí como una cosa irremediable.
En la luminosa y grave tarde yo te perdi.
Eras el único ser. Y ahora eres sombra,
mientras las largas calles se incorporan
a lo que del sueño queda.
Eras cilício y rosa,
pero nunca fuiste verdad.
Mira: el sol traza rectas a través del espacio,
mis dedos se proyectan y tienden láminas
donde se hieren mis pensamientos.
Te perdi, y Dios no me reencontró.
quien soy no sabe de si misma y así prosigo,
pues te perdi y nada más importa.
Acuérdate: un día más. El tiempo cae
como hojas de acero, y una, y otra...
entre una y otra la Hora te robô
mi tiempo interior.
Te perdí
y quedo, y nada me concedes,
ni corazón, ni siquiera alguna vida...
Tu llegas en el tren de nunca y media
y yo siempre de partida]
ίde partida!
O Monólogo Vivo, 1956
SONETO DE LA TEMPESTAD
Tierra. O negro horizonte. O tempestad.
Pesa en los ojos del poniente la tarde
como un sueño de plomo, rojo y mudo.
El tiempo pasa, como las aguas pasan
a ambos lados de la proa, suavemente.
Caminamos, solemnes, hacia el lado
por donde nos há de venir el fin de todo:
tempestad, horizonte, o tierra, o poniente.
Mujer y cuna, ίadiós! El enigma zumba
Descubierto. La borrasca se aproxima.
Los hombres brotan lluvia. La vela pende.
Tenemos un gran mar de muerte, encima.
De un cielo hacia otro cielo el leño cae,
el oceano a sus amantes sorprende.
A Casa, 1958.
BOTAFUMEIRO
Dulces humos del incensario
y dulces aguas de la ria...
En la catedral de Santiago
nadie sabe lo que decíamos...
Entre las nubes de incienso
la propia Virgen se reía
como las imágenes del Pórtico
y la lluvia de todo el día...
Nuestro amor era un puente
de Valle-Inclán a Rosalía.
Praça Maior, 1988
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TRADUCCIÓN Y NOTA INTRODUCTORIA DE
ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO
LA HUMANA
Del infinito nacemos
para un preciso término.
De infinitas, las penas;
de vago, el aviso.
Nacidos tibios, frágiles,
entre dos gemidos.
¿Cuándo la muerte eterna?
¿Cuándo el conocido?
Que ya esto no fatiga
a los mal formados,
desde la infancia lejana,
destinados frutos.
Somos los que la vida
hizo limite amargo.
De infinitas, las penas;
de vago, el aviso.
Extraído de la obra
VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA
Goiânia: Editora Oriente, s.d.
De CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA.
Introducción, Traducción y Notas de Jaime Tello.
Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Insituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983
LOS MUERTOS
Los muertos están tendidos,
mas sus nombres tiemblan sobre las campiñas
como flámulas,
vuelan sobre las campiñas la memoria
de sus rostros
y la blancura de sus huesos perdurables;
decid, decid de los muertos lo que os parezca,
ellos están tendidos sobre el limo
con los ojos cerrados,
con fibras y raíces donde estaban los ojos,
y con zumos y lluvias en el lugar que era la boca;
Sólo nuestro recuerdo nos reúne y congrega.
somos nosotros nuestros muertos
y estamos enterrados
y yacemos nos mismos mezclados a las flores.
Decid por tanto las sentencias y los crímenes,
ya no podéis condenarnos a muerte.
Ya poco importa.
Porque estamos tendidos,
victoriosos y solos, inmaculados, libres,
con las manos llenas de tierra y de silencio.
(A Faca e a Pedra)
EL GRITO
Si al menos este dolor sirviese
si golpease las paredes
abriese puertas
hablase
si cantase y despeinase los cabellos
si al menos este dolor se viese
si saltase fuera de la garganta como un grito
cayese de la ventana hiciese ruido
muriese
si el dolor fuese un trozo de pan duro
que la gente pudiese engullir con fuerza
después escupir fuera la saliva
ensuciar la calle los carros el espacio el otro
eso otro oscuro que pasa indiferente
y que no sufre tiene derecho a no sufrir
si el dolor fuese sola la carne del dedo
que se refriega en la pared de piedra
para dolor doler doler visible
doler penalizante
doler con lágrimas
si al menos este dolor sangrase
(A Faca e a Pedra)
EL GRITO
(Traduccion de Santiago Kovadloff)
Si al menos este dolor sirviera
si golpease las paredes
si abriera puertas
si cantase y despeinara mi cabello
si al menos este dolor se viera
si saltase de la garganta como un grito
si cayera por la ventana si estallara
si murïese
si el dolor fuera un pedazo de pan duro
que uno pudiese tragar con fuerza
y escupir después
manchar la calle los aufos el espacio el otro
ese otro oscuro que paso indiferente
y que no sufre que tiene derecho a no sufrir
si el dolor fuera sólo la carne del dedo
que se frota en la pared de piedra
para que duela duela duela visiblemente
penosamente
con lágrimas
si al menos este dolor sangrase.
PALLOTINI, Renata. ABC poemas adolescentes. Ilustrações Daniel Kondo. São Paulo: Escrituras, 2007. s.p. ilus.
Mãos:
o avesso de
nãos.
*
Um Não: o que é preciso ter
para lutar
até morrer.
*
O trem
venha de onde vier
sempre vai para o passado.
Tributo a Poeta Renata Pallottini na Biblioteca Nacional de Brasília (29 de julho de 2009). No centro, a homenageada. À esquerda, o ator Augusto Rodrigues e o diretor André Gomes (responsável pela apresentação e pela direção da leitura dramática dos textos). À direita, Antonio Miranda e a atriz Heloisa Sousa.
Página republicada em junho de 2008; ampliada e republicada em junho 2009
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