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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O PARNASIANISMO / OS PARNASIANOS / POESIA PARNASIANA
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VICENTE DE CARVALHO

(1866-1924)

 

Nasceu em Santos , estado de São Paulo, Brasil e publicou seu primeiro livro de poesias, Ardentias, em 1885. Formou-se bacharel na Faculdade de Direito de São Paulo SP. participou na Boemia Abolicionista, encaminhando escravos fugitivos para o Quilombo Jabaquara. Candidatou-se a deputado provincial no Congresso Republicano, em 1887, em São Paulo. foi redator do Diário de Santos, e fundou o Diário da Manhã em Santos. Tornou-se Deputado no Congresso Constituinte do Estado em 1891, participando então na Comissão Redatora da Constituinte.

 

Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1909. No período de 1914 a 1920 foi Ministro do Tribunal de Justiça do Estado, em Santos. Em 1924 publicou Luizinha, comédia em dois atos. 

 

Obra poética: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, Rosa de Amor (1902), Poemas e Canções (1908), Verso e Prosa (1909), Páginas Soltas (1911) e Versos da Mocidade (1912). É considerado um dos principais nomes da poesia parnasiana brasileira. 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS    /    TEXTOS EN ESPAÑOL

TEXTOS EN ITALIANO

 

 

VELHO TEMA

 

I

 

Só a leve esperança em toda a vida

Disfarça a pena de viver, mais nada;

Nem é mais a existência, resumida,

Que uma grande esperança malograda.

 

O eterno sonho da alma desterrada,

Sonho que a traz ansiosa e embevecida,

É uma hora feliz, sempre adiada

E que não chega nunca em toda a vida.

 

Essa felicidade que supomos,

Árvore milagrosa que sonhamos

Toda arreada de dourados pomos,

 

Existe, sim: mas nós não a alcançamos

Porque está sempre apenas onde a pomos

E nunca a pomos onde nós estamos

 

 

II

 

Eu cantarei de amor tão fortemente

Com tal celeuma e com tamanhos brados

Que afinal teus ouvidos, dominados,

Hão de à força escutar quanto eu sustente.

 

Quero que meu amor se te apresente

— Não andrajoso e mendigando agrados,

Mas tal como é: — risonho e sem cuidados,

Muito de altivo, um tanto de insolente.

 

Nem ele mais a desejar se atreve

Do que merece; eu te amo, e o meu desejo

Apenas cobra um bem que se me deve.

 

Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;

E vou de olhos enxutos e alma leve

À galharda conquista do teu beijo.

 

 

III

 

Belas, airosas, pálidas, altivas,

Como tu mesma, outras mulheres vejo:

São rainhas, e segue-as num cortejo

Extensa multidão de almas cativas.

Têm a alvura do mármore; lascivas

Formas; os lábios feitos para o beijo;

E indiferente e desdenhoso as vejo

Belas, airosas, pálidas, altivas...

 

Por quê?  Porque lhes falta a todas elas,

Mesmo às que são mais puras e mais belas,

Um detalhe sutil, um quase nada:

 

Falta-lhes a paixão que em mim te exalta,

E entre os encantos de que brilham, falta

O vago encanto da mulher amada.

 

 

IV

 

Eu não espero o bem que mais desejo:

Sou condenado, e disso convencido;

Vossas palavras, com que sou punido,

São penas e verdades que sobejo.

 

O que dizeis é mal muito sabido,

Pois nem se esconde nem procura ensejo,

E anda à vista naquilo que mais vejo:

Em vosso olhar, severo ou distraído.

 

Tudo quanto afirmais eu mesmo alego:

Ao meu amor desamparado e triste

Toda a esperança de alcançar-vos nego.

 

Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste;

Conto-lhe o mal que vejo, e ele, que é cego,

Põe-se a sonhar o bem que não existe.

 

V

 

Alma serena e casta, que eu persigo

Com o meu sonho de amor e de pecado;

Abençoado seja, abençoado

O rigor que te salva e é meu castigo.

 

Assim desvies sempre do meu lado

Os teus olhos; nem ouças o que eu digo;

E assim possa morrer, morrer comigo

Esse amor criminoso e condenado.

 

Sê sempre pura!  Eu com denodo enjeito

Uma ventura obtida com teu dano,

Bem meu que de teus males fosse feito".

 

Assim penso, assim quero, assim me engano

Como se não sentisse que em meu peito

Pulsa o covarde coração humano.

 

 

A FLOR E A FONTE   

 

"Deixa-me, fonte!" Dizia

A flor, tonta de terror.

E a fonte, sonora e fria,

Cantava, levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me, fonte!

" Dizia a flor a chorar:

"Eu fui nascida no monte...

"Não me leves para o mar".

E a fonte, rápida e fria,

Com um sussurro zombador,

Por sobre a areia corria,

Corria levando a flor.

"Ai, balanços do meu galho,

"Balanços do berço meu;

"Ai, claras gotas de orvalho

"Caídas do azul do céu!...

Chorava a flor, e gemia,

Branca, branca de terror,

E a fonte, sonora e fria

Rolava levando a flor.

"Adeus, sombra das ramadas,

"Cantigas do rouxinol;

"Ai, festa das madrugadas,

"Doçuras do pôr do sol;

"Carícia das brisas leves

"Que abrem rasgões de luar...

"Fonte, fonte, não me leves,

"Não me leves para o mar!...

" As correntezas da vida

E os restos do meu amor

Resvalam numa descida

Como a da fonte e da flor...

 

 

 PALAVRAS AO MAR

 

Mar, belo mar selvagem

Das nossas praias solitárias! Tigre

A que as brisas da terra o sono embalam,

A que o vento do largo eriça o pêlo!

Junto da espuma com que as praias bordas,

Pelo marulho acalentada, à sombra

Das palmeiras que arfando se debruçam

Na beirada das ondas - a minha alma

Abriu-se para a vida como se abre

A flor da murta para o sol do estio.

 

Quando eu nasci, raiava

O claro mês das garças forasteiras:

Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,

Nadando em luz na oscilação das ondas,

Desenrolava a primavera de ouro;

E as leves garças, como olhas soltas

Num leve sopro de aura dispersadas,

Vinham do azul do céu turbilhonando

Pousar o vôo à tona das espumas...

 

É o tempo em que adormeces

Ao sol que abrasa: a cólera espumante,

Que estoura e brame sacudindo os ares,

Não os saco de mais, nem brame e estoura;

Apenas se ouve, tímido e plangente,

O teu murmúrio; e pelo alvor das praias,

Langue, numa carícia de amoroso,

As largas ondas marulhando estendes...

 

Ah! vem daí por certo

A voz que escuto em mim, trêmula e triste,

Este marulho que me canta na alma,

E que a alma jorra desmaiado em versos;

De ti, de tu unicamente, aquela

Canção de amor sentida e murmurante

Que eu vim cantando, sem saber se a ouvia,

Pela manhã de sol dos meus vinte anos.

 

O velho condenado,ao cárcere

das rochas que te cingem!

Em vão levantas para o céu distante

Os borrifos das ondas desgrenhadas.

Debalde! O céu, cheio de sol se é dia,

Palpitante de estrelas quando é noite,

Paira, longínquo e indiferente, acima

Da tua solidão, dos teus clamores...

 

Condenado e insubmisso

Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo

Uma alma sobre a qual o céu resplende

- Longínquo céu - de um esplendor distante.

Debalde, o mar que em ondas te arrepelas,

Meu tumultuoso coração revolto

Levanta para o céu como borrifos,

Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.

 

Sei que a ventura existe,

Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa.

Como dentro da noite amortalhado

Vês longe o claro bando das estrelas;

Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas

Da alma entreabrindo, subo por instantes...

O mar! A minha vida é como as praias,

E o sonho morre como as ondas voltam!

 

Mar, belo mar selvagem

Das nossas praias solitárias!

Tigre de que as brisas da terra o sono embalam,

A que o vento do largo eriça o pêlo!

Ouço-te às vezes revoltado e brusco,

Escondido, fantástico, atirando

Pela sombra das noites sem estrelas

A blasfêmia colérica das ondas...

 

Também eu ergo às vezes

Imprecações, clamores e blasfêmias

Contra essa mão desconhecida e vaga

Que traçou meu destino... Crime absurdo

O crime de nascer! Foi o meu crime.

E eu expio-o vivendo, devorado

Por esta angústia do meu sonho inútil.

Maldita a vida que promete e falta,

Que mostra o céu prendendo-nos à terra,

E, dando as asas, não permite o vôo!

 

Ah! cavassem-te embora

O túmulo em que vives - entre as mesmas

Rochas nuas que os flancos te espedaçam,

Entre as nuas areias que te cingem...

Mas fosses morto, morto para o sonho,

Morto para o desejo de ar e espaço,

E não pairasse, como um bem ausente,

Todo o infinito em cima de teu túmulo!

 

Fosse tu como um lago,

Como um lago perdido entre as montanhas:

Por só paisagem - áridas escarpas,

Uma nesga de céu como horizonte...

E nada mais! Nem visses nem sentisses

Aberto sobre ti de lado a lado

Todo o universo deslumbrante - perto

Do teu desejo e além do teu alcance!

 

Nem visses nem sentisses

A tua solidão, sentindo e vendo

A larga terra engalanada em pompas

Que te provocam para repelir-te;

Nem buscando a ventura que arfa em roda,

A onda elevasses para a ver tombando,

- Beijo que se desfaz sem ter vivido,

Triste flor que já brota desfolhada...

 

Mar, belo mar selvagem!

O olhar que te olha só te vê rolando

A esmeralda das ondas, debruada

Da leve fímbria de irisada espuma...

Eu adivinho mais: eu sinto... ou sonho

Um coração chagado de desejos

Latejando, batendo, restrugindo

Pelos fundos abismos do teu peito.

 

Ah, se o olhar descobrisse

Quanto esse lençol de águas e de espumas

Cobre, oculta, amortalha!... A alma dos homens

Apiedada entendera os teus rugidos,

Os teus gritos de cólera insubmissa,

Os bramidos de angústia e de revolta

De tanto brilho condenado à sombra,

De tanta vida condenada à morte!

 

Ninguém entenda, embora,

Esse vago clamor, marulho ou versos,

Que sai da tua solidão nas praias,

Que sai da minha solidão na vida...

Que importa? Vibre no ar, acode os ecos

E embale-nos a nós que o murmuramos...

Versos, marulho! Amargos confidentes

Do mesmo sonho que sonhamos ambos!

 

NO TEU ANIVERSÁRIO

No lar cercam-te vozes d´alegria
em bando, em nuvens doiro, mariposas
que o teu olhar atrai. Canções e rosas
sob os teus pés desfolham-se à porfia.

A noite, alva corbelha de mimosas
sobre ti volta o arcanjo da poesia.
Nublam-te o sono as ondas vaporosas
do turib´lo do amor, como de dia.

Vives feliz no angélico ambiente
de fortuna, feliz. Mas considera,
que em um pobre, misérrimo, eu doente,

eu vibraria a lira, se pudera
vibrar a lira frágil e inocente
a bruta e hedionda garra duma fera.

De
Vicente de Carvalho
POEMAS E CANÇÕES
(SEGUNDA EDIÇÃO)

Porto: Livraria Chardon, 1909
250 p.  18 cmx 12 cm.

(Conservamos a ortografia antiga, original)

 

CAIR DAS FOLHAS

“Deixa-me, fonte”! Dizia
A flôr, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

“Deixa-me, deixa-me, fonte!””
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...

“Não me leves para o mar”.

E a fonte, rapida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flôr.

“Ai, balanços do meu galho,
“Balanços do berço meu;
“Ai, claras gotas de orvalho
“Caídas do azul do céu!...”

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

“Adeus, sombra das ramadas,
“Cantigas do rouxinol;
“Ai, festa das madrugadas,
“Doçuras do pôr do sol;

“Caricia das brizas leves
“Que abrem rasgões de luar...
“Fonte, fonte, não me leves,
“Não me leves para o mar!...”

         *
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...

 

 

SAUDADE

Belos amores perdidos,
Muito fiz eu com perder-vos;
Deixar-vos, sim: esquecer-vos
Fôra de mais, não o fiz.

Tudo se arranca do seio,
— Amor, dezejo, esperança...
Só não se arranca a lembrança
De quando se foi feliz.

Rozeira cheia de rozas,
Rozeira cheia de espinhos,
Que eu deixei pelos caminhos,
Aberta em flor, e aprti:

Por me não perder, perdi-te;
Mas mal posso assegurar-me
— Com te perder e ganhar-me
Si ganhei, ou si perdi...

 

 

CARVALHO, Vicente deMelhores poemas.  Seleção: Cláudio Murilo Leal.  São Paulo: Global Editora e Distribuidora, 2005.  184 p.  (Coleção Melhores Poemas, direção Edla van Steen. 14x21 cm. ISBN 85-260-1063-8   Ex. bibl. part. Antonio Miranda

 

         CANÇÃO

         Quando passas, bem amada,
         — Clarão, perfume, harmonia —
         Raia o sol e rompe o dia
         Na minh´alma deslumbrada.

         E, vendo-te, ó meu suplício,
         Tenho a vertigem imensa
         De uma criança suspensa
         Na borda de um precipício.

         Como um sonâmbulo errante
         Que vai pela noite afora
         Vendo ao luar hesitante
         Vagos prenúncios de aurora,

         No olhar com que nem me fitas,
         Noite, noite sempre escura,
         — Cheio de ilusões benditas,
         Sonho auroras de ternura.

         Quando acaso me acontece
         Ouvir-te a fala suave,
         Enlevado, me parece
         Que a vida é um gorjeio de ave.

         Nesta tristeza em que eu ando
         Tua voz canta em minha alma
         Como um rouxinol cantando
         Dentro de uma noite calma.

         Passas, e eu vejo-te; falas
         E ouço-te a voz: e esse puco
         Enche de esplêndidas galas
         Toda a minh´alma de louco.

         Mas vais-te —  vai-se contigo
         Tudo quando, num momento,
         A minh´alma, esse mendigo
         Sonhou num sono ao relento...

         Somes-te como se apaga
         O sol envolto na bruma,
         Ou como o floco de espuma
         Que nasce e morre com a vaga;

         E eu, estático e tristonho,
         Embebo o olhar no teu rastro...
         Ó tu que vens como um astro,
         Ó tu que vais como um sonho!


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Foto de Vicente de Carvalho

 

Foto de Vicente de Carvalho

“Poemas e Canções – Segunda edição”
Porto: Livraria Chardon, 1909

 

 

TEXTES EN FRANÇAIS

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Traduções de ANGEL CRESPO
publicadas originalmente en la REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA,

n. 17 Junio 1966 – Editada por la Embajada del Brasil en Madrid, España.

 

 

 

SUGESTIONES DEL CREPÚSCULO

 

         Trad. de Àngel Crespo

I

 

Al caer el sol, por la tristeza

Que trae la luz crepuscular,

Tiene el acento de quien reza

         La voz del mar.

        

Crece, se arrastra y va pausado

Por las laderas del otero

De sombra el yermo, vago y huero,

De un cielo de astros despojado.

 

Todo se apaga; en todo anida

Una fatiga, un desconsuelo...

Cual la mirada dolorida

Que ai muerto empaña triste velo.

 

Vencida, pues, por un instante,

Por la escena que le rodea,

 

Melancólica, balbucea

La voz piadosa del gigante.

 

Cede la ola y ya no lucha,

Se humilla, empieza a murmurar...

¿Quê pide al cielo que no escucha

         La voz del mar?

 

II

 

Extranñ voz, extraño salmo

Aquel salmo y aquella voz,

Cuya humildad y acento calmo

No parecen dei mar feroz;

 

Del mar pagano, en desenvueltas

Distancias libre, cuya vida

Corre, agitada y desabrida,

En tempestad de olas revueltas;

 

Cuya ternura asustadora

Agride a todo cuanto ama

Y una vez muerde y otra adora

A Ia playa en que se derrama...

 

Torvo gigante repelido

En su pasión lasciva y loca,

Es todo furia: y en su boca

Aúlla el dolor, mora el rugido.

 

La desnudez sueña: e impuro,

Blanco de espuma, ébrio de amor,

Desnudar quiere el seno duro,

Virginal, de Ia tierra en flor.

 

La tierra en flor teme y se apoca,

Quiere escapar: huye y se apena

Tras los montículos de arena

Y dei granito tras Ia roca.

 

Trás de Ias huellas de Ia amante

Que se lê hurta, sigue el mar;

 

Suelta Ias olas adelante,

Como jauría, a olfatear.

 

Y, hallado el rastro, con sus blancos

Penachos de olas, y su airada

Fuerza, en Ia tierra devastada

Lame Ias rocas y barrancos...

 

 

III-

 

Más formidable se revela,

Más amenaza y más asombra

Aullando, anilando entre Ia sombra

Las hondas noches de procela.

 

Tremendo y próximo se advierte,

Llenando el aire y devastando,

El ruído- de un combate a muerte

Que cielo y mar van disputando.

 

En cada ráfaga violenta

El viento agride ai mar sanudo,

Roza su faz con el agudo

Latigazo de Ia tormenta.

 

De entre el estruendo, un estampido

Crece y estalla, alto y mayor,

Cuando, tirano enfurecido,

Truena el cielo amenazador.

 

De cuando en cuando, leve huella

De Ilama vese, entre Io obscuro...

Y el mar recibe el golpe duro

Que le descarga una centella.

 

Mas Ia batalla es suya: cede

El viento al fin... Sosiega el vuelo.,,

 

La somnolencia le sucede

Y Ia luna ilumina el cielo...

 

Del campo su agua se apodera

Y el monstruo, lleno de osadía,

Maldice, insulta, desafia

Y al cielo escupe su salmuera.

 

 

IV

 

El alma torva y libertina

De ese tenaz batallador

Que dei escombro y de Ia ruina

Hace trofeos de su amor;

 

El alma osada y descompuesta

De ese pagano y descreído

Que se desquita y da respuesta

Al mismo cielo enfurecido;

 

El alma altiva, alma bravía,

Dei mar, que vive combatiendo,

Se entrega a Ia melancolia

Conventual, atardeciendo...

 

En su clamor desfallecido,

Confuso y espiritual

Vibra un trasunto del gemido

De un órgano de catedral.

 

Y por Ias playas donde el cielo

Sombras y paz dejando va;

Y por Ias vegas donde el vuelo

Mudo detiene el sabïá;

 

Oyen los yermos espantados

Dei mar contrito en el clamor

La confesión de los pecados

De aquel eterno pecador.

 

          *

 

Escucha bien... De atardecida,

Bajo Ia luz crepuscular,

Es cual plegaria conmovida

La voz tristísima deilmar..,

 

 

AVES FUGITIVAS

 

         Trad. de Àngel Crespo

 

Aves fugitivas que pasáis en bando

Por Ia tarde azul sobre el azul mar,

Aves huidizas que pasáis cantando,

         iQué hacéis, pues? Pasar.

 

Pasáis de repente. En el vasto cielo

Blanco torbellino de repente crece,

Pasa, se retira como vino, en vuelo,

         Y desaparece.

 

De plumas blancura blanda, rumor leve

         De alas que se mueven sin prisa,

         Pasáis como copos de nieve

Que en el viento susurran y disuelve Ia brisa.

 

De todo esto ¿ que queda? ün casi nada: en suma

         Contemplo distraído

Una vaga impresión de blancura de pluma

Y el eco de un rumor cantándome ai oído.

 

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIS – POEMAS

A FORMAÇÃO DO BRASIL

 

 

A PARTIDA DA MONÇÃO

 

I

Ei-las as toscas naus de borda rastejante
À flor das água, naus de estreitos rios quietos
Ei-las, prestes a abrir para o sertão distante
O seu voo, arrastado e sem glória de insetos.

Nem o porte arrogante, o sobranceiro aprumo
— Altivo no descanso e ousado nos tufões —
Dessas águias que vão bordejando sem rumo
Pelo acaso do mar, feito de turbilhões;

Nem a airosa altivez de velas desfraldadas
Fulgindo ao sol, ao vento abroquelando o bojo;
Nem proas a romper ondas e espumaradas
Pelos parcéis em fúria arroteando o rebojo;

Nada disso que faz o petulante orgulho
De afoutos bergantins e galeras reais:
Calcar a onda, rompê-la, ouvindo no marulho
A comemoração de seus passos triunfais;

Nem adiante, acirrando o desejo atrevido
De aventura e perigo, ânsias de glória, em suma,
— a infinita extensão do mar ermo, perdido
Nos confins do horizonte amortalhado em bruma:

 

Nem o arroubo, a poesia, a esperança fogosa
De ir ao longe, através das ondas, conquistar
A nudez pagã e a virgindade ociosa
De ermas ilhas em flor nas solidões do mar...

 

 

II

Humildes, toscas naus de borda rastejante
À tona dágua, naus de estreitos rios quietos,
Vão apenas abrir para o sertão distante
O seu voo, arrastado e sem glória de insetos.

Levadas no pendor macio da corrente,
Irão seguindo, irão seguindo sem rumor
E sem vontade, mole e resignadamente,
Por um rumo servil, forçado e encantador.

A raiva ados tufões (como a grita afastada
De eco em eco se adoça em suspiro de mágoas)
Esvaída, a morrer de quebrada em quebrada,
Mal roçará de leve a face azul das águas.

Em todo o curso, a terra ao lado, seio amigo,
Companheira constante e proteção fiel,
Pondo o socorro à mão nas ânsias do perigo,
Dando ao gozo de olhar delícias de um vergel.

E o rio, manso...a ondular, murmurando
O se murmúrio igual, monótono estribilho,
Morosa cantilena, em voz baixa e em tom brando,
De mãe que embala o berço onde repousa o filho.

E o rio, manso, manso... a embalá-las, descendo,
No balanço sutil da mole ondulação,
E a arrastá-las, de leve, assim, para o tremendo,
Para o longínquo, vago, infinito sertão.

(POEMAS E CANÇÕES)

 

 

 

FUGINDO DO CATIVEIRO

 

I
Horas mortas.  Inverno. Em plena mata. Em plena
Serra do Mar.

        Em cima, ao longe, alta e serena
A ampla curva do céu das noutes de geada;
Como palpitação vagamente azulada
        De uma poeira de estralas...

 

        Negra, imensa, disforme,
Enegrecendo, a noute, a desdobrar-se pelas
Amplidões do horizonte, a cordilheira dorme.

..............................................................

        Uns tardos caminhantes
Sinistros, meio nus, esboçados na sombra,
Passam como visões vagas de um pesadelo...

São cativos fugindo ao cativeiro.  O bando
É numeroso.  Vêm de longe, no atropelo
Da fuga perseguida e cansada.  Hesitando,
Em recuos de susto e avançadas afoutas,
Rompendo o mato e a noute, investindo as ladeiras,
Improvisam o rumo ao acaso das moutas.

Vão arrastando os pés chagados de frieiras...
De furna em furna a Serra, imensa, se desdobra;
De sombra em sombra a noute, infinda se prolonga;
E flexuosa, em vaivéns, como de dobra em dobra,
A longa fila da noute e das furnas avança...

Vão andrajosos, vão famintos, vão morrendo.
Fica-lhes para trás, para longe, o tremendo
Cativeiro... E através desses grotões por onde
Se arrastam, do sertão que os esmaga e os esconde,
Da vasta escuridão que os cega e que os ampara,
Do mato que obsta e apaga os seus passos furtivos,
Seguem, almas de hebreus, rumo do Jabaquara
                — À Canaã dos cativos...

Vão calados, poupando o fôlego. De quando
Em quando — fios dágua humilde murmurando
As tristezas de um lago imenso — algum gemido,
Um grito de mulher, um choro de criança,
Canta uma novava dor em peito já dorido.
Um bruxoleio mais mortiço da esperança,
A rajada mais fria arrepiando a floresta
E a pele nuva; o espinho entrando a carne; a aresta
De um seixo apunhalando o pé já todo em sangue;
Uma exacerbação nova da fonte velha,
A tortura da marcha imposta ao corpo exangue;
O joelho exausto que, contra a vontade, ajoelha...
E a longa fila segue; a passo, vagarosa,
Galga de fraga em fraga e montanha fragosa,
Bem mais fragosa, bem mais alta que o Calvário...
Um, tropeçando, arrima o pai octogenário;
Os mais valentes dão apoio aos mais franzinos;
E Mães, a agonizar de fome e de cansaço,
Levam com o coração mais do que com o braço
        os filhos pequeninos.

II

Ei-lo, por fim, o termo desejado
Da subida: a montanha avulta e cresce
De um vale escuro ao céu todo estrelado;
E o seu cume de súbito aparece
De um resplendor de estrelas aureolado.

Mas ai! Tão longe ainda!... E de permeio
A vastidão da sombra sem caminhos.
Um fundo vale, tenebroso e feio,
E o mato, o mato das barrocas, cheio
De fantasmas, de estrépitos, de espinhos.
..........................................................

II
        Aponta a madrugada;
Da turva noute esgarça o úmido véu,
E espraia-se risonha, alvoroçada,
Rosando os morros e dourando o céu.

A caravana trôpega e ansiosa
        Chega ao tope da Serra...
        O olhar dos fugitivos
Descansa enfim na terra milagrosa
        Na abençoada terra
        Onde não há cativos.

Em baixo da montanha, logo adiante,
Quase a seus pés, uma planície imensa,
Clara, risonha, aberta, verdejante:

E ao fundo do horizonte, ao fim da extensa
Macia várzea que se lhes depara
        Ali, próxima, em frente
Esfumadas na luza do sol nascente,
As colinas azuis do Jabaquara...

O dia de ser livre, tão sonhado
Lá do fundo do escuro cativeiro,
Amanhece por fim, leve e dourado,
        Enchendo o céu inteiro.
Uma explosão de júbilo rebenta
Desses peitos que arquejam, dessas bocas
Famintas, dessa turba macilenta:

Um borborinho de palavras loucas,
De frases soltas que ninguém escuta
Na vasta solidão se ergue e se espalha,
E em pleno seio da floresta bruta
Cantas vitória a meio da batalha.

Seguindo a turba gárrula e travessa
Que se alvoroça e canta e salta e ri-se,
Um coitado, com a trêmula cabeça
Toda a alvejar das neves da velhice,
Tardo, afinal, exsurge, à superfície
Do alto cimo; repousa, consolado,
Longamente, nos longes da planície
        O olhar quase apagado;
Distingue-a mal, duvida; resmungando,
Fita-a; compeende-a pouco a pouco; vê-a
Anunciando próxima, esboçando
— No chão que brilha de um fulgor de areia.
Num verde claro de ervaçal que ondei —
A aparição da Terra Prometida...

Todo trêmulo, ajoelha; e ajoelhado,
De mãos postas, nos olhos a alma e a vida;
Êle, o mesquinho e o bem-aventurado,
Adora o céu nessa visão terrena....

E de mãos postas sempre, extasiado,
Murmura, reza esta oração serena
Como um toscos resumo do Evangelho:

“Foi Deus Nosso Senhor que teve pena
        De um pobre negro velho...”

Seguem.  Começa a íngreme descida.
        Descem. E recomeça
A peregrinação entontecida
No labirinto da floresta espessa.
Sob o orvalho das folhas gotejantes,
Entre as moutas cerradas de espinheiros,
Andrajosos, famintos, triunfantes.
Descem barrancos e despenhadeiros.

Descem rindo, a cantar... Seguem, felizes,
Sem reparar que os pés lhes vão sangrando
Pelos espinhos e pelas raízes;
Sem reparar que atrás, pelo caminho
Por onde fogem como alegre bando
De passarinhos da gaiola escapo
— Fica um pouco de trapo em cada espinho
E uma gota de sangue em cada trapo.
............................................................

IV
De repente, como um agouro e uma ameaça
Um alarido de vozes estranhas passa
Na rajada do vento...
                               Estacam.
                                            Como um bando
De ariscos caitetús farejando a matilha.,
Imóveis, alongando o pescoço, arquejando,
Presa a respiração, o olhar em fogo, em rilha
Os dentes, diltada a narina, cheirando
A aragem, escutando o silêncio, espreitando
A solidão; assim, num alarma, instintivo,
Estaca e põe-se alerta o bando fugitivo,
Nova rajada vem, novo alarido passa...

Como, topando o rastro ainda fresco da caça,
Uiva a matilha enquanto inquire o chão agreste,
E de repente, em fúria, alvoroçada investe
E vai correndo e vai latindo de mistura;
Rosna ao dar-lhes na pista a escolta que os procura,
E morro abaixo vem ladrando-lhe no encalço:

Grita e avança em triunfo a soldadesca ufana.

E os frangalhos ao vento, em sangue o pé descalço,
Alcateia usurpando a forma e a face humana,
Almas em desespero arfando em corpos gastos,
Mães aflitas levando os filhinhos de rastos,
Homens com o duro rosto em lágrimas, velhinhos
Esfarrapando as mãos a tatear espinhos;

 

Toda essa aluvião de caça perseguida
Por um clamor de fúria e um tropel de batida,
Foge... Rompendo o mato e rolando a montanha,
Foge... E, moutas a dentro e barrocada afora,
Arrasta-se, tropeça, esbarra, se emaranha,
Arqueja, hesita, afrouxa, e desanima e chora...

Param...
         Perto, bramindo, a escolta o passo estuga.
Os fugitivos, nesse aproximar da escolta
Sentem que vai chegando o epílogo da fuga:
A gargalheira, a algema, as angústias de volta...

 

Além, fulge na luz da manhã leve e clara,
O contorno ondulante e azul do Jabaquara.

Adeus, terra bendita! Adeus, sonho apagado
De ser livre! É preciso acordar, e acordado
Ver-te ainda, e dizer-te um adeus derradeiro
E voltar, para longe e para o cativeiro.

................................................................

 

        E enquanto a caravana
Desanda pelo morro atropeladamente,
Ele, torvo, figura humilde e soberana,
Fica, e a pé firme espera o inimigo iminente.

Hércules negro! Corre, abrasa-lhe nas veias
Sangue de algum heroico africano selvagem,
Acostumado à guerra, a devastar aldeias,
A cantar e a sorrir no meio da carnagem,
A desprezar a morte espalhando-a às mãos cheias...

Não pode a escravidão domar-lhe a índole forte,
E vergar-lhe a altivez, a ajoelhá-lo diante
        Do carrasco e da algema:
Sorri para o suplício e a fito encara a morte
        Sem que lhe o braço trema,
Sem que lhe ensombre o olhar o medo suplicante.

Erguendo o braço, ele ergue a fouce; a fouce volta,
E rola sobre a terra uma cabeça solta;
Sobre ele vem cruzar-se o gume das espadas...
“Ah, prendê-lo, jamais!” respondem as fouçadas
Turbilhonando no ar, e ferindo, e matando.

De lado a lado o sangue espirra a jorros... Ele,
Ágil, possante, ousado, heroico, formidando,
Faz frente: um contra dez, defende-se, e repele.

E não se entrega, e não recua, e não fraqueja.
Tudo nele, alma e corpo ajustado, peleja:
O braço luta, o olhar ameaça e desafia,
A coragem resiste, a agilidade vence.

E, coriscando no ar, a fouce rodopia.

Afinal, um soldado, ébrio de covardia,
Recua; vai fugir...Recua mais; detém-se:
Fora da luta, sente o gosto da chacina;
E vagarosamente alçando a carabina,
Visa, desfecha.

        O negro abrira um passo à frente,
Erguera a fouce, armara um golpe...
                                                   De repente
Estremece-lhe todo o corpo fulminado.

Cai-lhe das mãos a fouce, inerte, para um lado,
Pende-lhe, inerte, o braço. Impotente, indefeso,
Ilumina-lhe ainda a face decomposta
Um derradeiro olhar de afronta e de desprezo.

Como enxame em furor de vespas assanhadas,
Assanham-se-lhe em cima os golpes sem reposta,
E retalham-n´o à solta os gumes das espadas...

E retalhado, exausto, o lutador vencido
Todo flameja em sangue e espirra num rugido.

 

 

             (POEMAS E CANÇÕES – Monteiro Lobato,
                1924 – 6ª. ed.)

*

TEXTES EN FRANÇAIS

 



 PREMIÈRE OMBRE

 “ Il m´aime... un peu… beaucoup.. pas du tout… tendrement...”
“ Faudra-t-il qu´une fleur, enfant, puisse te dire,
Mes regards, se fixant sur ton si doux sourire,

Disent combine je t´aime et, je sens, tu le crois…”
“ Il m´aime… un peu…  beaucoup… pas du tout… “Incertaine,
Tu trembles, attendant encore cette fois
Une dure sentence, une sentence vaine.

Comme si cette fleur, passant entre nou deux,
De son ombre pouvait obscureir notre vie ! “
“ Pas du tout..
pas du tout ! Depuis hier mes yeux
T´avaient en vain cherché…
Mon âme endolorie

A déjà deviné ce que me dit la fleur...
Je te vois près de moi, de mes yeux pleins de larmes ;
Je sens tes baisers; mais j´ai perdule bonheur.
Tu m´appartiens, je sens... et, malgré mês alarmes,

Je te serra em mes bras; dans um songe agite,
Surge horrible, sans fin, je crois toujours entendre
Bien loin, la rumeur d´un pas précipité
Qui s´éloigne de moi... Bien!  Qui pourra me rendre

Tant de bonheur perdu?
Dis-moi qu´en songes vains
Mon esprit agite...
Dis-smoi que je suis folle,
Que se suis bien heuresse et que tu m´appartiens...
Que ton baiser n´est point ton âme qui s´envole

Me murmurant tout bas um éternel adieu!
L´inefable douceur de ta si tendre lyre
Chante encor en mon coeur, et dans tes vers de feu,
Dans le libre d´amour j´appris un jour à lire.

 

Tu m´appelas un jour; j´accourus à ta voix,
Je te suivis heureuse et bénissant ma vie,
Rêvant mille bonheurs.
Parle encore une fois,
Oh!
Parle-moi toujours de l´amour infinite,

Qu´autrefois tu juras, sirene au chant trompeur,
Qui m´attiras un Jour vers la mer azurée;
Mon âme en des haillon que couvrent sa pudeur
Suit de loin sur le sol tes pas, tour éplorée.

Ne m´abandonne poit! Je veux être toujours
L´ombre fidèle qui t´accompagne san cesse,
Sans souci des climats où m´emporte l´amour,
Ne m´abandonne point! Oh! rends-moi ta tendresse.

Vois donc comme l´aurores imonde de ses feux
De ses monts sourcilleux les cimes élevés.
Je suis jeune et suis belle.
Oh! lis, lis dans mes yeux
Combien je t´aime; viens! De fleurs immaculées

Possé sur mon sein un je veux orner ton front.
Quel suave matin, matina couleur de rose,
Que dá voir ton amour, amour ardente, profond!
Je t´ai donné ma vie...Elle est ton bien, ta chose…

Dissipe-la, jouis de ce printempos en fleur,
Qu´à tes pieds je dépose en esclave soumise.
Ne m´abandonne point, bien-aimé de mon couer,
Qui , semblable à l´oiseau sur l´aile de la brise

Cherchant à poser sur un flexible rameau,
Vins un jour, par hasard, fixer ton vol Nouveau
Ce ramave si doux que me chantait: “Je t´aime!”



MATIN DU SOLEIL

 A l´ombre d´un bouquet de myrthes dont la brise,
Dont le brise légère en tourbillon neigeux
Effeuillait les bouquets, je vis un jour Elise
Errante ça et là, seulette, air très heureux.

Oh! comme elle était belle! Elle avait sur sa face
La faicheur de la rose, e du lis la blancheur.
Fi´le aux yeux de velours, fille pleien de grâce,
Elle avait tour l´éclat de l´aurore, sa souer.

Son révail matinal fut toujours un sourire.
Sa marche était si douce et son pied si léger
Quse le sol l´accueillait en amant qui soupire.
“C´est le soleil! “chantait un oiseau du verger,

Apercevant Elise; et partout sur ses traces
L´ombre fuyait honteuse au-devant de splendeurs
De cette belle en qui brillaient toutes les graces.
Insouciante, heureuse, à travers les senteurs

Des arbres printaniers à la sève féconde,
Elle marche au hasard, souriant aux oiseaux,
Courant de fleur en fleur; et tantôt elle sonde
D´un regard espiègle, au travers des rameaux,

Pour découvrir d´un nid la nombreuse nichée;
Tantôt se yeux rêveurs s´arrêtent un instant
Sur le frémissement d´une épaisse ramée
Qui palpate et gémit aux caresses du vent.

En tour et tour autour elle sente le délire
Des mystiques accents d´un concert nuptial.
Chaque fleur au soleil entr´ouvre sonn calice
Arrosé par les pleurs du brouillar matinal,

Humide encore ainsi qu´une lèvre docile
Sur laqueille l´amour eût surprise un baiser.

Comme un biche aux bois, sa marche est très subtile:
Parfois elle bondit, praissant voltiger.

Je la surprends seulette, effrayée, indécise;
De ses pieds nus à peine ele effleure le sol
Tour tapissé de mousse; et l´adorable Elise
Veut s´enfluir, jurity prête à prendre le vol...

J elui saisis les mains; et l´oreille ravie
De l´enfant et tout bas j´entonne qui supplie,
Fleur humaine sans cesse en pleine floraison.

Se âme alors et m´écoute attentive.
Et tout son corps s´agite en un frémissement.
Amante, irrésolue, amouresse et craintive,
Elle est prête à ceder... résistant cependant.

Le sein gonflé d´amour, ele a peur, ele n´ose...
Quand tout à coup (ainsi qu´une biche des bois
A l´ombre des forêts, pendant qu´elle repose,
S´enfuit effarouchée aux terribles abois

D´une ment de chiens), par un effort suprême
Élise de mes mains s´échppe brusqument.
C´est en vain; je m´élance après celle que j´aime;
Vautour plus affamé, fondant rapidement,

Ne se jeta jamais sur une inoffensive
Et timide colombe; effrayant les pinsons
En sa course sans frein, la belle fugitive
Vole sur les fosses, les mares, les buissons.

Élise  peu à peu ralentit as carrière,
De fatigue épuisée; et son sein haletant,
Essoufflé va se rompre... Heurtant contre une pierre
Elle fait um faux pas et s´arrête un instant.

Et moi, la soutenant tandis qu´elle chancelle,
Sur ses faces en feu je depose un baiser,
Gage d´amour payé par un sourire d´elle.
Et la noce commence `a l´ombre du verger.

 

*

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Página publicada em abril de 2023.



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Página publicada em outubro de 2021


 

Página ampliada e republicada em outubro de 2008



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