MARCELO TÁPIA
Escritor, editor e publicitário, nascido em Tietê , São Paulo, em 1/1/1954. Reside em São Paulo. Ressaltemos seus livros: Primitipo (1982), O bagatelista (1985), Rótulo (1990) e Pedra volátil (1996). Dirige a Casa Guilherme de Almeida, em São Paulo.
De
Marcelo Tápia
VALOR DE USO
São Paulo: Annablume, 2009. 87 p.
(Coleção [e] Editorial)
ISBN 978-85-63141-02-6
“Marcelo Tápia sabe, por/em suas criações e revisões, que a melhor filosofia se dá pela poesia. Poesofia, como pretendia Roberto Juárroz. Um grande filósofo e um grande filósofo culminam na poesia. Valor de Uso insere-se nessa linha do fazer poético, indo às origens e , chegando até mesmo ao sem sentido, “sem remorso póstumo”, como pretende o poeta, ao “admitir o inexistente” , sendo o que será, como dá a entender.” ANTONIO MIRANDA
Ver também Poesia Visual do mesmo autor>>>
URBE
prensada pelo tempo
a vida me escorre
entre os dedos
e no chão se evapora
na premência do agora
sob o eterno do sol
ARTIFÍCIO
con
venham
fui
parar atrás
do início
con
sigam
irei
saltar além
do precipício
com
parem
ando
com tudo
prefixo
con
tornem
contudo
precipitando
tudo isso
7
edulcorare
doce que formiga não come,,
suco que mosca não ronda:
doce sem doce,
suco sem suco,
leite sem leite,
queijo sem queijo,
carne sem carne,
ovo sem ovo,
etc. sem etc.
cores
sabores
aromas
sem fonte
sem alma
sem ser
que os origine
conteúdos ausentes,
formas a iludir nossos sentidos
palavras alternativas,
sentidos iludidos
INCERTEZA
a controvérsia é uma prova
clara
de que não se vê
com clareza
a clareza é uma prova
controversa
de que se vê
com certeza
CAMINHO*
Todas as contradições estão no homem.
Machado de Assis, Esaú e Jacó
Por mais que tente o mais e mais de mim,
falhas de nascença renascem filhas
dos erros, brotam errantes de medo,
refazem cursos feitos de deslizes;
e eu, humano em limites e em vacilos,
conformo-me com as tortas matrizes
do meu eu, do meu ser e do meu corpo,
e pelas falhas meu perdão concedo
a mim, e sigo e sigo por princípio,
que só não seguirei depois de morto;
e assumo os buracos e desacertos
que entrementes entrem no meu caminho
repisando-os pra poder chegar perto
de um sim que se acerte por si e por
fim
*Um soneto de 15 linhas... Faz sentido! Tápia podia ficar nas 15 linhas, mas preferiu avançar a última palavra para o fim... assim, sem ponto, para que a forma desse sentido ao conteúdo, como é o ditame da melhor criação. Resta saber se foi um ato de ruptura, no fim do processo, ou se premeditou o rompimento do cânone. Pouco provável... A. M.
Página publicada em janeiro de 2010.
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