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ALCIDES VILLAÇA
Nasceu em Atibaia, em 1946. Cursou Letras na USP, onde é professor de Literatura Brasileira desde 1973.
Alcides Celso Oliveira Villaça tem graduação (bacharelado e licenciatura) em Letras pela Universidade de São Paulo (1971). Fez mestrado (1976) e doutorado (1984) em Literatura Brasileira, orientado pelo Prof. Dr. Alfredo Bosi, nessa mesma universidade. Aprovado em concurso de Livre-docência (1999), é, desde 2003, Professor Titular de Literatura Brasileira na FFLCH-USP. Tem longa experiência na área de Letras, com ênfase em Poesia Moderna. Vem se dedicando principalmente aos seguintes temas: lírica e sociedade; poéticas de Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Ferreira Gullar ; tendências poéticas contemporâneas. Nos últimos anos tem estudado a produçao contística de Machado de Assis. Vem ministrando com regularidade cursos de graduação e pós-gradução na USP e exercendo suas funções como orientador na área de Literatura Brasileira.
Ver também: POEMAS DE ALCIDES VILLAÇA bilingües PORTUGUÊS –FRANCÊS
VILLAÇA, Alcides. Ondas curtas. São Paulo: Cosac Naify, 2014. 112 p. 11,5X20,5 cm. ISBN 7-85-405-0636-7 “ Alcides Villaça “ Ex. Bibl. Antonio Miranda
Segredos
Quando foi que demoliram o Conservatório Musical Campinas?
Só hoje dei com o edifício novo
com a escada de mármore falso
com as duas velhas palmeiras
verdes quanto verdadeiras
cumprindo nova missão.
Tanto prelúdio de Chopin
tanto estudo de Scriabin
tanta sonata de Scarlatti
me perdiam nos dedos das moças
e voltavam para se fixar
e tanto voltavam e se repetiam
que ainda me perdem e se repetem
entre as palmas verdes e altas
entre sanhaços assustados
entre andorinhas sazonais
entre as raízes surdas
das palmeiras verticais.
MULHERES
As mulheres se olham por relâmpagos. Quando con-
versam entre si, as mais cruéis verdades são trocadas
como inofensivas receitas caseiras. A rigor, é impossí-
vel fotografá-las: ao contrário dos varões, não posam
para o épico, não se interessam pelas formas abstraías
da máquina do mundo e se divertem com a versão fa-
shion da própria verossimilhança. Sua epopeia é uma
forma de riso contra a epopeia, toda concentrada nos
detalhes e na solução pouco material da paixão. Talvez
por isso a mulher-fotógrafa se vista de seus modelos e
contracene consigo mesma quando foca a paisagem, a
paisagem da mulher, o esconde-esconde do vestido, a
sombra prenhe de luz, o caminho da mulher, a espinha
da mulher, o pé em curva, o eterno espelho, os passos
da mulher: a lente da mulher. Qual imagem dada como
transitória deixa de atestar a luz permanente? Que
nossos olhos saibam aprender com o corpo visível da
mulher, com suas metonímias, com suas retinas apon-
tadas que, ao lado da técnica dos fotógrafos de Esparta
há a inversão de jogo das mulheres de Atenas: a luz que
quer voltar para dentro.
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VILLAÇA, Alcides. Viagem de trem. Desenho de Alberto A.Martins. São Paulo, Duas Cidades, 1988. 204 p. (Coleção : Claro Enigma) 14x21 cm. “ Alcides Villaça “ Ex. bibl. Antonio Miranda
PONTEIO
Os olhos tocam primeiro,
mas as palavras por fim.
Mas as palavras repousam,
e os olhos devem seguir.
Os olhos sabem primeiro,
mas as palavras recolhem.
Mas as palavras não colhem
do campo o que os olhos colhem.
Os olhos querem o tempo,
mas as palavras já têm.
Mas nas palavras não cabe
dos olhos esse não caber.
Os olhos olham as palavras,
mas as palavras entoam.
Mas as palavras retornam,
e os olhos nascem além.
Entre olhos e palavras
não fique ânsia ou vagar:
distâncias mudas e cegas
tocam-se, para ver cantar.
O DOIS SIMPLIFICADO
o falo de obus
e a feminina ogiva
o espinho envenenado
a esponja que enceguece
o hipocampo agudo
restinga sem ênfase
o cego de Jocasta
a luz impenitente
o nome do marciano
uma lua ignota
o vago papelório
a sílaba sábia só
o albatroz defenso
columba no arremesso
o fenômeno tenso
folha sob luar
o menino apressado
regaço e barcarola
o fraturado exposto
o anjo senhor da queda
Página publicada em novembro de 2014; ampliada e republicada em agosto de 2015.
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