DORVAL DE MAGALHÃES
Dorval de Magalhães era o neto mais novo de Inácio Lopes de Magalhães, o fundador da fazenda que deu origem à cidade de Boa Vista. Professor Dorval como era conhecido, era formado em Agronomia, ingressou na literatura aos 60 anos, após se aposentar. Historiador, pesquisador, escritor e poeta de vocação e coração, teve quatro livros publicados, é autor da letra do Hino de Roraima . Foi Secretário Municipal da Educação e de Urbanização, quando criou o Horto Municipal; implantou a Academia Roraimense de Letras, presidindo-a durante 11 anos. Era um poeta, um escritor que dedicou a sua vida de 92 anos ao povo de Roraima. Dorval morreu em Fevereiro de 2006, imortalizado pela Academia Roraimense de Letras e, principalmente na memória de todo aquele que ama essa terra, pois seus feitos, legados literários e humanos, por ele deixado são, inesquecíveis. O que poucos sabem, é que Roraima deve a ele o próprio nome, Roraima, o Território Federal assim denominado, em 1960, por Lei do Deputado Federal Valério Caldas de Magalhães, seu primo, atendendo veemente preito de Dorval, desde quando em campanha eleitoral no ano de 1958.
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MAGALHÃES, Dorval de. Áurea. Boa Vista, Roraima: UBE-AM, 1984. 75 p. 14x21 cm. Capa: Walniro. “Edição Comemorativa de Fundação da União Brasileira de Escritores de Roraima – UBE-RR (02.06.84) e III Encontro Norte/Nordeste de Escritores – Roraima (30.5 a 3.6.84). “ Dorval de Magalhães “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Áurea é livro que vale como circunstância e como expressão perene de amor. São poemas despretensiosos, despreocupados com a estética, mas muito sentidos e sendo esse sentimento mesmo sua beleza e força maiores. Se lhe falta o poema como corpo estrutural, esbanja-se-lhe pelas páginas muita poesia, não a nível de linguagem, mas como essência e teor. Flávio Souza
LEMBRANÇAS
“... pois já sei que não mata grande dor..."
Camões
Quantas vezes voei sobre estas matas
Tendo outras metas, outros pensamentos...
Agora são martírios e lamentos,
Ideias conflitantes, insensatas.
Outrora via rios e cascatas
Em sinfonia harmónica com os ventos. ..
Vislumbro agora cirros bem cinzentos
E paisagens de cores inexatas.
É o caminhar do tempo indecifrável...
É o dilúvio de imensas traições,
São abrolhos na estrada interminável,
São catadupas de interrogações,
Nuvens, brumas, mistério intolerável,
Um mundo todo feito de ilusões.
(Improviso a bordo do avião da Cruzeiro. Boa Vista-
Manaus, 26.06.72, após a missa de 7.° dia)
ENTRE A MULTIDÃO
"Quero escrever, falar e não consigo. . ."
Virgínia Vitorino
Fui ao Maracanã, então jogavam
BRASIL/PORTUGAL. Lenços multicores,
Bandeiras mil, em mãos dos torcedores,
Todo Estádio, parece, dominavam.
Ao contrário doutros que buscavam
O que fizessem ali os jogadores,
Eu buscava esquecer os dissabores
Nos fugazes momentos que passavam.
E vendo o povoléu em sobressalto,
Gritando aqui, ali, em todo canto,
Bradando por Euzébio e por Tostão,
Eu desejava gritar muito mais alto:
NINGUÉM IGUAL A MIM JÁ SOFREU TANTO,
DE QUANTOS, DESTA IMENSA MULTIDÃO!
Rio (Maracanã), 20.07.72
VOANDO
''A noite caiu na minh'alma,
fiquei triste sem querer. . ."
Carlos Drummond de Andrade
'Stou sorvendo esta bebida
Com o maior constrangimento. . .
Quero esquecer as desditas
Embora por um momento,
Voando neste avião
Pelo azul do firmamento.
A mágoa que me devora
E dentro d´alma se encerra,
Não se transforma, jamais,
Quer voando sobre a serra,
Passando pelo infinito
Ou plantado lá na terra.
Viajo com minhas dores
Pelo azul da imensidão,
Pra aonde eu vou elas seguem
Com a maior obsessão,
Seguem todos os meus passos,
Não me deixam nunca. . . não!
Voo Rio/Brasília, 29.07.72.
Página publicada em julho de 2014
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