Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

SIMÕES LOPES NETO

(1865-1916)

 

 

João Simões Lopes Neto (Pelotas, 9 de março de 1865 — Pelotas, 14 de junho de 1916) foi, segundo estudiosos e críticos de literatura, o maior escritor regionalista do Rio Grande do Sul.

 

Filho dos pelotenses Catão Bonifácio Lopes e Teresa de Freitas Ramos, era neto paterno do Visconde da Graça, João Simões Lopes Filho, e de sua primeira esposa Eufrásia Gonçalves, e neto materno de Manuel José de Freitas Ramos e de Silvana Claudina da Silva. Nasceu na Estância da Graça, propriedade de seu avô paterno.

 

Com treze anos de idade, foi para o Rio de Janeiro, estudar no famoso colégio Abílio. Retornando ao Sul, fixa-se em sua terra natal, Pelotas, então rica e próspera pelas mais de cinqüenta charqueadas que lhe davam a base econômica.

 

Envolveu-se em uma série de iniciativas de negócios que incluíram uma fábrica de vidros e uma destilaria. Os negócios fracassaram. Uma guerra civil no Rio Grande do Sul - a Revolução Federalista - e a economia local fora duramente abalada. Depois disto, construiu uma fábrica de cigarros. Os produtos, fumos e cigarros, receberam o nome de "Diabo", "Marca Diabo", o que gerou protestos religiosos. Sua audácia empresarial o levou ainda a montar uma firma para torrar e moer café, e desenvolveu uma fórmula à base de tabaco para combater sarna e carrapatos. Fundou ainda uma mineradora, para explorar prata em Santa Catarina.

 

Casou-se em Pelotas, aos 27 anos, com Francisca de Paula Meireles Leite, de 19 anos, no dia 5 de maio de 1892, filha de Francisco Meireles Leite e Francisca Josefa Dias; neta paterna de Francisco Meireles Leite e Gertrudes Maria de Jesus; neta materna de Camilo Dias da Fonseca e Cândida Rosa. Não tiveram filhos.

 

Como escritor, Simões Lopes Neto procurou em sua produção literária valorizar a história do gaúcho e suas tradições.Entre 15 de outubro e 14 de dezembro de 1893, J. Simões Lopes Neto, sob o pseudônimo de "Serafim Bemol", e em parceria com Sátiro Clemente e D. Salustiano, escreveram, em forma de folhetim, "A Mandinga", poema em prosa. Mas a própria existência de seus co-autores é questionada. Provavelmente foi mais uma brincadeira de Simões Lopes Neto. Em certa fase da vida, empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas.

 

Publicou apenas quatro livros em sua vida: Cancioneiro Guasca (1910), Contos Gauchescos (1912), Lendas do Sul (1913) e Casos do Romualdo (1914).

 

Morreu em Pelotas, aos 51 anos, de uma úlcera perfurada.

 

Fonte: Wikipedia 

 

Leia também:

SIMÕES LOPES NETO AGORA EM CORDEL - adaptação de Arievaldo Viana e ilustrações de Jô Oliveira.

 

LOPES NETO, Simões.   Obra completa.  Organização de Paulo Bentancur. Porto Alegre, RS: Editora Sulina; JÁ Editores, 2003.  1087 p.  16x23 cm.     Ilustração da capa: Enio Squeff.  “ Orelha “  por Moacyr Scliar “  ISBN 85-205-0349-7   “ J. Simões Lopes Neto “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

A GALINHA MORTA

 

Vou cantar a galinha morta:

Por cima deste telhado.

Viva branco, viva negro,

Viva tudo misturado!

 

Eu vi a galinha morta,

Agora, no fogo fervendo...

A galinha foi p´ra outro,

Eu fiquei chorando e vendo!

 

Minha galinha pintada...

Ai! Meu galo carijó...

Morreu a minha galinha,

Ficou o meu galo só.

 

Minha Galina pintada...

Com tão bonito sinal!

Meu compadre me roubou

Pelo fundo do quintal.

 

Minha galinha morta

Bicho do mato comeu:

Fui ao mato ver as penas,

Dobradas penas me deu.

 

A galinha e a mulher

Não se deixam passear:

A galinha o bicho come...

A mulher dá que falar!

 

Eu vi a galinha morta,

A mesa já estava posta;

Chega, chega, minha gente,

A galinha é p´ra quem gosta!

 

Minha galinha pintada,

Pontas d´asas amarelas:

Também serve de remédio

P´ra quem tem dor de canelas...

 

A POLCA MANCADA

 

A mancada ´sta doente,

Muito mal, para morrer;

Não há frango nem galinha

Para a mancada comer.

 

A dita polca mancada

Tem mau modo de falar:

De dia corre co´a gente,

À noite manda chamar.

 

A mancada está doente,

Muito mal, para morrer;

Na botica tem remédio

P´ra mancada beber.

 

 

QUERO-MANA

 

Tão bela flor digo agora,

Tão bela flor quero-mana.

Que passarinho é aquele

Que está na flor da banana.

Co´o biquinho dá-lhe, dá-lhe,

Co´as asinhas, quero-mana!

 

Tão bela flor digo agora,

Tão bela flor quero-mana.

Que eu ando neste fado,

A própria sombra m´engana.

 

Tão bela flor quero-mana,

As barras do dia aí vêm.

Os galos já estão cantando.

Os passarinhos também.

 

 

O PINHEIRO

 

Quem tem pinheiros tem pinhas

Quem tem pinhas tem pinhões,

Quem tem amores tem zelos

Quem tem zelos tem paixões.

 

Quem tem pinheiro tem pinha,

Quem tem pinha tem pinhão,

Do homem nasce a firmeza,

Da mulher a ingratidão.

 

Oh! Que pinheiro tão alto,

Com tamanha galharada;

Nunca vi moça solteira

Com tamanha filharada...

 

Oh! Que pinheiro tão alto,

Que por alto se envergou.

Que menina tão ingrata,

Que d´ingrata me deixou!

 

 

O BOI BARROSO

 

Meu boi barroso,

Que eu já contava perdido,

Deixando o rastro na areia

Foi logo reconhecido.

 

Montei no cavalo escuro

E trabalhei logo de espora

E gritei — aperta, gente,

Que o meu boi se vai embora!

 

No cruzar uma picada,

Meu cavalo relinchou,

Dei de rédea p´ra esquerda,

E o meu boi me atropelou!

 

Nos tentos levava um laço

Com vinte e cinco rodilhas,

P´ra laçar o boi barroso

Lá no alto das coxilhas!

 

Mas no mato carrasquento

Onde o boi ´stava embretado,

Não quis usar o meu laço,

P´ra não vê-lo retalhado.

 

E mandei fazer o laço

Da casaca do jacaré,

P´ra laçar meu boi barroso

No redomão pangaré.

 

Eu mandei fazer um laço

Do couro da jacutinga,

P´ra laçar meu boi barroso

No remomão pangaré.

 

Eu mandei fazer um laço

Do couro da jacutinga,

P´ra laçar meu boi barroso

Lá no paço da restinga.

 

E mandei fazer um laço

Do couro da capivara,

P´ra laçar meu boi barroso

E lacei de mia cara.

 

Pois era um laço de sorte,

Que quebrou do boi a balda

Quando fui cerrar o laço,

Só peguei de meia espalda!

 

 

O BALAIO

 

Mandei fazer um balaio

P´ra guardar meu algodão;

Balaio saiu pequeno;

Não quero balaio, não.

 

Corta, meu bem, recorta,

Recorta o teu bordadinho;

Depois de bem recortado,

Guarda no meu balainho.

 

 

O GURAXAIM

 

Lá vem o guaraxaim

Com cara de disfarçado;

Ele vem comer galinha

E soltar cavalo atado!

 

 

O ANU

 

O anu é pássaro preto,

Passarinho de verão;

Quando canta à meia-noite

Oh! que dor no coração!

 

E se tu, anu, soubesses,

Quanto custa um bem querer,

Oh! pássaro, não cantarias

Às horas do amanhecer.

 

O anu é pássaro preto,

Páss´ro do bico rombudo:

Foi praga que Deus deixou

Todo negro ser beiçudo!...

 

 

TROVAS DOS FOLIÕES

 

Aqui chegou o Divino

que a todos vem visitar;

vem pedir-vos uma esmola

p´ra o seu império enfeitar.

 

O Divino Esp´rito Santo

não pede por carestia,

pede somente uma esmola

p´ra festejar o seu dia.

 

O Divino Esp´rito Santo

agradece a sua oferta,

que lhe deram seus devotos,

para fazer sua festa.

 

O Divino agradece

aos senhores e senhoras,

e também aos inocentes

que lhe deram sua esmola.

 

A pombinha do Divino

de voar já vem cansada,

vem pedir aos seus devotos

que lhe dêem uma pousada.

 

O Divino Esp´rito Santo

vai seguir sua jornada;

agradece aos seus devotos

que lhe deram esta pousada.

 

Se despeçam, nobre gente,

que a pombinha do Divino

vai seguir sua jornada,

visitar outros vizinhos.

 

 

O GAÚCHO FORTE

 

Sou gaúcho forte, capeando vivo

Livre das iras da ambição funesta;

Tenho por teto do meu rancho a palha

Por leito a pala, ao dormir a sesta.

 

Monto a cavalo, na garupa a mala,

Facão na cinta, lá vou eu mui concho;

E nas carreiras, quem me faz mau jogo?

Quem, atrevido, me pisou no poncho?

 

Por Deus, eu digo! que já fiz, um dia,

Uma gauchada de fazer pasmar:

De — ginetaço — ela deu-me o nome;

Tinha razão; eu lhes vou contar:

 

Foi que num dia numa bagualada,

Passei o laço num quebra, um puava;

Montei; ferrei-lhe na paleta a espora;

Ele ia às nuvens, porém eu brincava!

 

Mas, de repente, o animal se atira;

E sai correndo, pela várzea fora;

E eu, que, folheiro, lhe pisei a orelha,

Maneei as bolas, e o bagual estoura.

 

Gauchadas destas, tenho feito muitas,

Por isso ela me chamou um dia,

Rei dos monarcas, gauchão em regra!

Por Deus! te digo: que ela não mentia!

 

E, se duvidam, eu já marco a raia,

E que se enfrene parelheiro ousado;

Tiro ou parada; não reservo guasca;

E sou o juiz... de facãozinho ao lado!...

 

Lá no fandango, de botas e esporas,

Danço a tirana, o folgazão balaio;

E ainda mesmo que me dêem pancadas,

Saio rolando, porém; qual! não caio!

 

Lá na cidade, qualquer um baiano,

Pode, sem susto, me passar bucal;

Mas, tenho consolo, que cornetas desses,

Cá nos meus pagos têm passado mal!...

 

Se lá me perco nas encruzilhadas;

Eles sorriem pro me ver assim;

Aqui eu monto num cuerudo desses,

E rio, mesmo sem lhe dar mau fim.

 

Isto é que é vida; o demais é história;

E nem invejo do monarca a sorte;

Se a fronte cinge-lhe uma c´roa de ouro

Eu cinjo a c´roa de um gaúcho fote...

 

Se ele adormece em florido leito,

Sobre os arreios, é meu sono igual;

Se ele se nutre de iguarias mil,

Eu de churrasco, muita vez sem sal!

 

Não tenho trono onde vá sentar-me,

Nem falsa corte de adulação servil:

Mas sou a glória, perenal e eterna,

Da minha terra, do feliz Brasil!

 

         Zeferino Vieira Rodriguez

         (Camaquã)

 

 

 A ROCEIRA

 

Minha mãe nasceu na roça,

E eu criei-me na palhoça,

Eu sou filha do sertão;

Sou delgada e sou faceira,

Como o leque da palmeira,

Como o ramo do chorão.

 

Minha irmã é mais morena...

Tem os seios de açucena,

Tem os lábios de carmim...

Minha irmã é tão mimosa!

Minha irmã chama-se Rosa...

Porém gostam mais de mim!

 

Eu vagueio pelos campos,

Semelhante aos pirilampos,

As mariposas azuis...

Sei cantar... e canto e choro...

Sei bordar com fios d´ouro

Sei rezar na minha cruz.

 

Eu sei tudo quanto quero!

Sou esbelta, sou faceira,

Como a rama do chorão...

Minha mãe nasceu na roça,

Eu criei-me na palhoça,

Eu sou filha do sertão!

 

A quem amo? Não o digo;

Fique o segredo comigo,

Guardado no coração!

Amo os valos... amo a roça...

Eu criei-me na palhoça

Eu sou filha do sertão!

 

         Lôbo da Costa (Auras do Sul)

 

 

MUSA GAÚCHA

 

Bonitaça no mais a Maricota.

Guapetona chinoca requeimada,

Braba como potranca malmarcada

Quando, de cola alçada, se alvorota.

 

Um defeito qualquer ninguém lhe nota:

Mãos pequenas, a face colorada,

E uma graça dengosa, malcriada,

Se requebra o fandango, a perdigota.

 

Não quer casar; e quando algum pealo

De sobre-lombo atiram-lhe, no calo

Ofendida se sente e faz negaça,

 

Pega o freio nos denes, e adeusito!...

Que então, como bagual que sai no jeito,

Nem à bola se pega a matreiraça!...

 

 

Página publicada em maio de 2008.



Voltar para a  página do Rio Grande do Sul Voltar ao topo da página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar