OLGA SAVARY
Nasceu em Belém do Pará, em 1933. Escritora, poeta, contista, novelista, crítica e ensaísta, tradutora, jornalista. Muitos de seus vinte livros mereceram prêmios, inclusive o Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, foram objeto de teses, adaptações e musicada por compositores eruditos e da MPB, em discos e CD. Reside no Rio de Janeiro.
“Olga Savary é senhora de uma gleba fecunda no território da poesia brasileira viva que ninguém aí se nutre deve desconhecer.” Antônio Houaiss
“Acostumada à concisão, sua poesia exercita, com formas breves, com metros curtos, a permanência — qualidade, aliás, que lhe permitiu dominar a estrutura do haicai, talvez avessa às peculiaridades do idioma. Ao estrear numa década violenta da história política do País, Olga Savary atravessou-a com a delicadeza da linha-d´água no papel, sem se permitir a poesia engajada: ela é, de fato, poeta dos elementos, das formas naturais, das pequenas elegias.” Felipe Fortuna
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EM ESPAÑOL / EN ITALIANO
Olga deixou-nos no dia 15 de maio de 2020, vítima do Coronavirus, e aqui nos despedimos dela, com muita tristeza, com estes poemas sobre a morte com que ela se despedia de nós, seus admiradores e seguidores:
Acomodação do desejo III
Deito-me com quem é livre à beira dos abismos
e estou perto do meu desejo.
Depois do silêncio úmido dos lugares de pedra,
dos lugares de água, dos regatos perdidos,
lá onde morremos de um vago êxtase,
de uma requintada barbárie estávamos morrendo,
lá onde meus pés estavam na água
e meu coração sob meus pés,
se seguisses minhas pegadas e ao êxtase me seguisses
até morrermos, uma tal morte seria digna de ser morrida.
Então morramos dessa breve morte lenta,
cadenciada, rude, dessa morte lúdica.
***
Além de mim
Quero apenas
Além de mim, quero apenas
essa tranquilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.
Além de mim
e entre mim e meu deserto
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto de meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.
***
Auto despedida
Há algo nas manhãs que não entendo agora
e a um grito de minhas pernas não atendo.
Ainda depois da noite, noite me espia
e sonho dúvidas enormes e imóveis
como a imobilidade das aranhas.
Tão pouco tempo – e tenho de deixar-me
e queria nunca ter de repartir-me.
Começa a raiva da saudade
que inventei vou ter de mim
Olga Savary é um nome nacional, reconhecido e cultuado. Não a conheço pessoalmente. Conversamos por telefone, longamente, e a voz dela fluía com brilho e vivacidade. Acompanho os livros dela, as antologias, os prefácios, à distância... Agora tive a surpresa de encontrar um exemplar do livro ALTAONDA, com as belas ilustrações do Calasans Neto (que também ilustrou o Jorge Amada de Tieta do Agreste) em primorosa edição do Massao Ohno, de 1970. Edição de mil exemplares, esgotada. Compartilho com os amigos estes dois poemas do livro, rogando a complacência da autora, ao tempo em que a reverenciamos por seu talento. Antonio Miranda
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Extraído de: LEVE COMO UM BEIJA-FLOR. São Paulo, SP: Laboratórios Wyeth-Whytehall Ltda, s.d. 64 p. 25,5X25 cm. Produzido por Segmento Farma. Fotos de beija-flores por Haroldo Palo Jr. Versos dos poetas Adélia Prado, Amadeu Amaral, Cecilia Meireles, Cora
Coralina, Fernando Pessoa, Flavio Venturini Márcio Borges, Joyce Ana Terra, Judith Nunes Pires, Luis de Camões, Lupe Cotrim, Nelson Angelo, Nelson Motta Rubens Queiroz, Olga Savary, Therezinha Guerra Del Picchia e Vinicius de Moraes. “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
SAVARY, Olga. Ara. Poesia. Feira de Santana, BA: MAC, 2016. 81 p. (Coleção Aldebarã- 9. Coordenação editorial: Roberval Pereyr. Capa: Juracy Dórea e George Lima. Ilustração da capa: Juraci Dórea. Editoração e impressão: Edson Machado. Edição limitada a 60 exemplares, confeccionados artesanalmente. Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira. Ex. bibl. Antonio Miranda.
“Olga Savary é um todo. A poeta, a tradutora, a mulher — e a força esfuziante que irradia. “A vida desabrida”, assim se expressa. São poemas curtos. Voos, talvez. Sobrevoos. Voar é também uma das suas imagens. Olga é asa.”
ANTONIO BRASILEIRO.
“Ara (luz, dia, em tupi) me veio de meu pai russo, Bruno Savary, de origem francesa, engenheiro eletricista e introdutor de luz em tantas cidade brasileiras (...) OLGA SAVARY
Na dedicatória da autora, ela explica o origem e os alcances da edição:
ORIGEM
Tudo estava abaixo
das águas dos oceanos
há milhões de anos.
POESIA
A Fernando Pessoa
Grávida de vida,
vai dizer seu fingimento
e entender o enigma.
GEMINI
Leve, leviano, inquieto,
aventureiro com ou sem aventura,
vem todo — e nem chega perto.
FESTA
Todos os meus lados
veem, eu que não me vejo,
as cores todas: arco-íris.
PODER
Poesia é poder.
O que outro mais o poeta
poderia ter?
NARCISO
És único ser
que te comtemplas na água
com espelho dentro.
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SAVARY, Olga. Retratos. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1989. S.p. 16x15,5 cm. Prefácio de Dalma Nascimento. Ilustrações: nanquins de Henri Matisse. Capa: retratos, óleo de Kazuo Wakabayaschi.
PAZ
Assim tão exata
sem se assemelhar a nada
sendo vária e vaga.
LUZ, CÂMERA, AÇÃO
O poeta cria o sonho
compensando o que lhe falta
com o muito que lhe sobra.
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VIDA
Palavras, antes esquecê-las
lambendo todo o sal do mar
uma única pedra.
(do livro 100 hai-kais, 1986)
ENTRE ERÓTICA E MÍSTICA
As palavras,
Poesia, não só combato.
Durmo com elas.
(do livro 100 hai-kais, 1986)
SAVARY, Olga. Magma. São Paulo: Massao Ohno – Roswitha Kempf Editores, 1981. s.p. 15x22 cm. Inclui, além de poemas, uma Biografia, bibliografia da autora e Fortuna crítica. “Orelha” do livro por Antonio Houaiss.
SATURNAL
Paraíso é essa boca fendida de romã
— bagos de vida,
paraíso é esse mistério de água ininterrupta
fluindo do terminal das coxas,
é a vulva possuída-possuindo
violáceo cacho de uvas,
é esse dorso de vinho navegável
atocaiado para um crime.
PELE
Um favo de mel na boca,
um torrão de sal na anca
roubam para a pele
o calor de animais
simples e vorazes, soltos
como numa catedral,
pele de asno,
pele de mel,
pele de água.
MAPA DE ESPERANÇA
Vinha pisando sobre toda a praia,
o sangue quieto — ou quase quieto —,
os pensamentos leves como espumas
e os cabelos soltos como nuvens.
Trágica como princesa de elegia,
meu estandarte é o desespero,
minha bandeira, indecisão.
Ainda assim, alegria, te festejo.
Arraial do Cabo
1971
LIMITE
Ausente e lassa, queria
estar pisando
a areia fina de Arraial do Cabo,
a areia grossa de Amaralina,
em Goiás Velho urdir a tarde
com Bernardo Elis e Cora Coralina,
farejar
cheiro de candeia por toda Ouro Preto...
mas estou presa à molduras de todos os meus retratos.
Goiás Velho
maio 1972
UMA CENA
Vês acordada como em sonho
o sonho mau tal fosse belo
— o belo horror do real
que nem consciência nítida
ou lúcida, clara, exata,
não como é visto sol a pino
ou através da água,
como quem vê dentro do mar
ou através de um vidro fosco,
mais, no fundo de um espelho,
não o que mostra a imagem
mas aquele que a deforma
inteiro fora de foco.
OUTRA CENA
Sentada estavas quando ele entrou
seguido de uma princesa ou uma serpente.
Só sabes que teu rosto não mudou
mas em turvo mudou-se o transparente
riso de antes, pesados os gestos.
Viraste uma mulher que acordada
e de frente vê um sonho mau
se sonho e distante já nem sente
e que já não amando é como se amasse
e, perdido o amor, é como se o tecesse.
(do livro Éden Hades, 1994)
NOME
Tu, em tudo presença,
vibrar de asa,
eu, que nem nome tenho,
jamais nua de água,
tu, felicidade do corpo
embasado em brasa,
eu, sequer lembrança,
mero eco na sala,
tu, veneno curare
— e eu é que me chamo naja?
(do livro Éden Hades, 1994)
SAVARY, Olga. Espelho provisório. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editôra, 1970. 124 p. 14x21 cm. Capa e retrato da autora por Scliar. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.
MÃOS ESTENDIDAS
Nessa direção
da janela aberta
vem o Murundu,
o bicho-papão
metendo medo em
quem anda acordado
inda a essas horas.
Em outro lugar
cisma outra criança.
Triste é não poder
ter um outro voo
que não o poético
da imaginação
para a consolar.
E assim ficamos
entre o querer
estendendo as mãos
e deixando-as
cair.
ÁGUA ÁGUA
Menina sublunar, afogada,
que voz de prata te embala
toda desfolhada?
Tendo como um só adorno
o anel de seus vestidos
ela própria é quem se encanta
numa canção de acalanto
presa ainda na garganta.
(do livro Espelho provisório, 1970)
PÁSSARO
A noite não é tua
mas nos dias
—curtos demais para o vôo —
amadureces como um fruto.
Tuas asas seguem as estações.
É tua a curvatura da terra.
Pássaro, metáfora de poeta.
(do livro Sumidouro, 1977)
Extraídos de 41 POETAS DO RIO, org. Moacyr Félix.
Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998. 514 p.
De
LINHA-D´ÁGUA
Prefácio de Felipe Fortuna
Desenhos de Kazuo Wakabayashi
São Paulo: Massao Ohono; Hipocampo, 1987.
DO QUE SE FALA
Em minha poesia
não é só natureza a natureza.
Ao dizer mar
não é só de mar que estou falando.
Falo do falo; o mais, pretexto
quando é à água que me rendo
no mais alto ponto do orgasmo,
no auge mais auge a que chegar se eu pude
em honra da água — mas água do corpo —
quando é à água a se alude.
MAÍUA*
Velame e quilha, proa e popa,
as velas deflagradas e da amurada
vê-se a romper as águas o madeirame.
Amo esta incerteza com que me sagras
e o belo horror do abismo: amor,
sempre o terror do ter, não tendo.
* (do tupi) bicho do fundo do rio, boto encantado.
YRUÁIA*
Par abissal
num mar em fúria
eis-nos tangidos:
navio alado.
Amo este começo de água
lá onde és roxo
e não te escondes, te dás
sem te entregares nunca
(mas se não te entregas,
então quando?)
Amo este início de água,
água onde começas
quando em ti levanta
este levante de pássaros.
*(do tupi): canal que não seca.
SIGNO
Há tanto tempo que me entendo tua,
exilada do meu elemento de origem: ar,
não mais terra, o meu de escolha,
mas água, teu elemento, aquele
que é do amor e do amar.
Se a outro pertencia, pertenço agora a este
signo: da liquidez, do aguaceiro. E a ele
me entrego, desaguada, sem medir margens,
unindo a toda esta água do teu signo
minha água primitiva e desatada.
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OLGA SAVARY
De
SUMIDOURO
Desenhos de Aldemir Martins
São Paulo: Massao Ohno; João Farkas editores, 1977
TERRA
em golfadas envolvo-me toda
apagando as marcas individuais
devora-me até que eu
não respire mais.
Rio, dezembro 1974
SEXTILHA CAMONIANA
Daqui dou o viver já por vivido.
Quero estar quieta, sozinha agora,
igual a uma cobra de cabeça chata,
ficar sentada sobre os meus joelhos
como alguém coagulado em outra margem.
Daqui dou o viver já por vivido.
Rio, 1973
CERNE
Nada a ver com a fonte
mas com a sede
Nada a ver com o repasto
mas com a fome
Nada a ver com o plantio
mas com a semente
Recife – Olinda, 11 setembro 1974
De
Olga Savary
EDEN HADES
Poesia
Capa de Guita Charifker
São Paulo: Massao Ohno, 1994.
Autora de muitos livros e antologias, Olga é também pioneira no que hoje convencionamos intitular Creative Commons... Em 1994 ela já abria seus poemas à difusão: "Permitida a reprodução dos poemas contidos neste livro desde que citados autor e fonte."
UMA CENA
Vês acordada como em sonho
o sonho mau tal fosse belo
— o belo horror do real
que nem consciência nítida
ou lúcida, clara, exata —,
não como é visto sol a pino
e sim através do fogo
ou através da água,
como quem vê dentro do mar
ou através de um vidro fosco,
mais, no fundo de um espelho,
não o que mostra a imagem
mas aquele que a deforma
inteiro fora de foco.
POESIA ERÓTICA
SAVARY, Olga, org. Carne viva. 1ª antologia brasileira de poemas eróticos. Rio de Janeiro: Editora Anima, 1984, 348 p. 14x21 cm. Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20. Col. A.M.
Mar
I
para ti queria estar
como convém a deuses
tendo na boca a esperma
de tua espuma.
Violenta ou lentamente o mar
no seu vai-e-vem pulsante
ordena vagas me lamberem coxas,
seu arremesso me cravando
uma adaga roxa.
II
Amo-te, amo-meu-inimigo,
de mim não tendo piedade alguma.
Amo-te, amor-sol-a-pino,
feroz, sem nenhuma sombra.
Estás inteiro em mim
e vou sozinha.
Ao ver-te, amor, minha sorte ficou
como se diz: marcada.
Mar é o nome do meu macho,
meu cavalo e cavaleiro
que arremete, força, chicoteia
a fêmea que ele chama de rainha,
areia.
Mar um macho como no h� nenhum.
Mar um macho como no h igual
e eu toda água.
dionisíaca
Nos rins o coice da flama,
cavalo se égua cavalgada e cavalgando
a pradaria da cama.
vida
das uvas roxas que abocanho
em tua boca e em teu fruto exposto
que faço meu vinho, meu sangue,
que para ti como um rio corre,
minha paixão, muso do meu canto
vindo do fundo da terra,
basalto e magma, esperma
de fundas furnas e de grutas
e das fendas submersa
de onde atocaiado tu me espias,
para ti meu canto, um também roxo canto
uivando das entranhas, mãos, garganta
a me dizer: vida
a ser trazida
entre os dentes
atravessada
tal uma faca.
Nome
Dar às coisas outro nome
que não o vosso, amor, não pude.
Nem pude ser mais doce e sim mais rude
por conta das lamentações mais ásperas,
Por causa do agravo que pense ser vosso.
Amor era o nome de tudo, estava em tudo,
era o nome do macho cheirando a esterco,
a frutos passados e a raízes raras.
De posse da intimidade da água
e da intimidade da terra,
a animais vorazes é a que sabíamos.
Amor com quem me deito e deixo montar
minhas coxas em forma de forquilha e onde
amor abre caminho pelas minhas águas.
práxis amandi
Na práxis de então
bem pouco se aprendia
com as vagas teorias
da chula sacanagem.
Quase sempre havia alguém
que não gozava
e se perdia
no meio da viagem
Hoje se sabe,
de Kama Sutra a Sade
passando de Ovidio à Barabarela
por dentro de Vinicius de Morais,
que amar é arte requintada
e há de
melhor acontecer a quem mais sabe.
Começa-se a bolina pelos olhos,
ou pela planta dos pés
que tanto faz
mas que se o faça como quem não quer
chegar além do simples arrepio.
Que se tateie muito de leve e manso
por cada canto da pele o corpo inteiro
e sempre no sentido
inverso ao da penugem.
Bem lentamente caía nos declives
e nos valados mais fundos e escondidos.
Teça, com os dedos leves, pelo a pelo,
roçando o eriçando cada uma
das papilas digitais —as mais sensíveis—
desde os agudos picos aos mais túmidos
e úmidos abismos,
como se cada polpa de dedo fosse língua.
Não se abandone então.
Não perca o tino,
que o pássaro do espasmo é fugidio,
e cansa de voar
nas brumas da emoção
do ser em cio.
Daí por diante
passe a refletir
frente dos espelhos,
e crie — a dois ou a dez —
todas as formas de ir
e posições
passíveis das possíveis
contorções.
Prossiga nos caminhos da surpresa
e não se escandalize
se a resposta vir maior que a empresa.
Pois que, por suas mãos
os deuses são,
e não se sabe onde
explodindo seus próximos desejos.
E tendo tudo isto posto,
tome todo tento à tentação
de sua companheira.
E, se tiver força e sã ciência,
refreie os seus ginetes,
sorva a seiva que lhe molha os lábios,
inspire fundo,
até que a égua úmida, esgotada,
estanque o seu galope,
e se abandone, como quem se esquece
da própria servidão
da vida e morte,
na relva dos lençóis.
E então comece.
TEXTOS EM ESPAÑOL
TRADUCCIÓN Y NOTA INTRODUCTORIA DE
ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO
Olga Savary nacipó em Belém, Pará, Brasil, em 1933. Hija única de padre ruso y madre brasileña, estúdio em Belém, Fortaleza (Ceará) y em Rio de Janeiro. Publicó muhcos poemas em diários y revistas de Rio, Belém y Belo Horizonte, entre 1951 y 1955, firmados bajo el seudónimo de Olenka. Es considerada uno de los tres nombres femeninos más importantes de la moderna poesía brasileña. Circuída de niebla y de desvelo, su poesía se nos aparece como un vasto amanecer urbano pó cuyas desiertas esquinas se entrecruzasen, sonâmbulos, los fantasmas del símbolo y de la realidad, que no se presenta como elemento decorativo sino integrada a la vida del poema. Olga se detiene en búsqueda de lo íntimo personal, desmenuzando las propias raíces. La vigilancia com el delírio que poderosamente las invade. Embriaguez que no se resiste a la exactitud del rostro de una verdad siempre elusiva y que se expresa, tensa, serenamente, en imágenes de tiempo perdido u olvidado. Libros: Espelho Provisório (1970), Sumidouro (1977), Altaonda (1979) y Linha d´Água (1979). Excelente traductora de Pablo Neruda.
INÚTIL
Si fueras estrella
yo sería ese pedazo de cielo
que te sustenta.
Si fueras alga
yo sería esa despaciosa ola
que te acaricia muy despacio.
Si fueras un vago sonido
o tono em el fin de la tarde
yo sería esse no imaginado viento
que te desencadena.
Mas por qué pensar en ello
si te busco y no sé quién eres
si me esperas e ignoras quién soy.
EL DESEO ABSOLUTO
Crear el amado
sin la injusticia de la forma
sin el egoísmo del nombre.
NOMBRE
No eran lirios los lírios
caídos en la arena, caídos
en la arena lLila de la noche
casi noche.
No eran lirios, no eran
como tu sombra, yo sé,
pero eran mucho más lírios
que los lirios. Por eso
ellos serán llamados lirios.
Extraído de la obra
VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA
Goiânia: Editora Oriente, s.d.
MEYA PONTE. REVISTA QUADRIMESTRAL DE LITERATURA. No. 16 Editor: Arnaldo Sarty. Pirenópolis, Goiás: 2003. 162 p. 16 x 22,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
ZÔO
Ferida pela beleza,
acre cheiro de zoológico,
eu vou morrer de prazer pela beleza.
(Possuem todas as folhas
minhas línguas verdes,
amazônicas,
e carregada de imagens
bebo no silêncio as ausências todas
com o coração cheio de dardos).
Faz a guerra do amor, monstro sereno,
que do futuro me lembro vagamente.
*
Página ampliada e republicada em janeiro de 2023
Página republicada em junho de 2008; ampliada em setembro de 2018; ampliada em junho de 2020
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