ROMANTISMO – POETAS ROMÂNTICOS
CASIMIRO DE ABREU
(1839-1860)
Poeta brasileiro. Publicou em vida um único livro, As primaveras (1859), que teve enorme aceitação popular.
Os anseios da juventude e as saudades da infância, por um lado, e o prazer de um firme compromisso com sua terra natal, por outro, conjugaram-se com idêntico peso para fazer da obra de Casimiro de Abreu, precoce, curta e espontânea, uma das expressões mais legítimas da poesia do romantismo brasileiro.
Filho natural de um rico comerciante português e de uma fazendeira envolvidos num caso de amor tempestuoso, Casimiro José Marques de Abreu nasceu na fazenda da Prata, no atual município de Silva Jardim RJ, em 4 de janeiro de 1839. No prefácio de seu único livro publicado em vida, As primaveras (1859), o poeta apresentou-se como "pobre filho do sertão" e ainda como "filho dos trópicos" que deveria "escrever numa linguagem -- propriamente sua -- lânguida como ele, quente como o sol que o abrasa, grande e misteriosa como as suas matas seculares".
Treinado em vão para suceder ao pai nos negócios, transferiu-se para o Rio de Janeiro e, ainda garoto, foi estudar em Portugal (1854). A formação acadêmica, no entanto, foi preterida pela vida de artista e uma entrega cada vez mais total à brasilidade nascente.
No prólogo da cena dramática Camões e o jaú, encenada em 1856 em Lisboa, Casimiro referiu-se, com saudade dos trópicos, ao "Portugal velho e caduco" que não lhe dizia mais muita coisa. Em Camila, fragmentos de um romance inacabado, "os ridículos desta sociedade enfatuada" foram trazidos à baila. Em A virgem loura, diz que foi obrigado, como poeta, a abraçar a vida comercial, "essa vida prosaica que absorve todas as faculdades num único pensamento, o dinheiro, e que, se não debilita o corpo, pelo menos enfraquece e mata a inteligência".
No poema de circunstância "A Faustino Xavier de Novais", ele demonstra não ter sido somente o cantor de uma ternura ingênua. Imbuído do mais puro sarcasmo, aponta suas armas, nesse poema, contra os desvios sociais da época: "Venha a sátira mordente, / Brilhe viva a tua veia, / Já que a cidade está cheia / Desses eternos Manés: / Os barões andam às dúzias / Como os frades nos conventos, / Comendadores aos centos, / Viscondes -- a pontapés. // (...) Pinta este Rio num quadro: / As letras falsas dum lado, / As discussões do Senado, / As quebras, os trambolhões, / Mascates roubando moças, / E lá no fundo da tela / Desenha a febre amarela, / Vida e morte aos cachações."
Foram porém os versos líricos, de fatura em geral bem despojada, que garantiram, após a morte do poeta, o sucesso extraordinário que sua obra alcançou até meados do século XX. Versos que muitas vezes ganharam forma emblemática e entraram para a linguagem corrente, como o que diz que "Simpatia é quase amor".
Ao regressar de Portugal, em 1857, Casimiro de Abreu fixou-se no Rio de Janeiro para continuar sua obra e trabalhar na firma do pai, mas logo foi vítima do mal dos românticos: a tuberculose. Com exatos 21 anos, dez meses e 14 dias, faleceu na fazenda do Indaiaçu, no atual município de Casimiro de Abreu RJ, em 18 de outubro de 1860. Em Lisboa, ele escrevera em 1857 uma "Canção do exílio" ("Meu lar") em que partia da aceitação premonitória, "Se eu tenho de morrer na flor dos anos", para a formulação de um desejo que se realizou plenamente: "Quero morrer cercado dos perfumes / Dum clima tropical."
©Encyclopaedia Britannica
reproduzido em http://br.geocities.com/edterranova/casimiro.htm
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Veja também: CASIMIRO DE ABREU - EN FRANÇAIS
TEXTO EN ITALIANO
TEXT IN ENGLISH
De
Casimiro de Abreu
Obra Completa
Org. Mário Alves de Oliveira
Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial/ Academia Brasileira de Letras, 2010.
616 p. ilus ISBN978-85-98815-19-0
Uma das mais belas surpresas deste fim de ano foi a edição das Obras Completas de um mais populares e até adorados poetas da segunda geração de nosso Romantismo, o fluminense Casimiro de Abreu. Informa-se que o organizador Mário Alves de Oliveira, também poeta, teria dedicado parte de sua vida na compilação desta obra monumental que saiu por uma editora que entra forte no mercado, e com a chancela da Academia Brasileira de Letras. Obra indispensável nas coleções dos amantes da poesia e em bibliotecas públicas e universitárias em geral. Altamente recomendável. A.M. Contato com a editora: editor@ermakoff.com.br e www.ermakoff.com.br.
A VALSA
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co´as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
— Eu vi!...
Valsavas:
— Teus belos
Cabelos,
já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias
Pra outro
Não eu!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
-Eu vi!...
Meu Deus!
Eras bela,
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
—Eu vi!...
Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
-Eu vi!...
Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa,
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida
No chão!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas ...
— Eu vi!...
Rio -1858.
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DEUS
Eu me lembro! eu me lembro! — Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca escuma para o céu sereno.
E eu disse a minha mãe nesse momento:
“Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior do que o oceano,
Ou que seja mais forte do que o vento?!”
— Minha mãe a sorrir olhou pr'os céus
E respondeu: — “ Um Ser que nós não vemos
É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão! meu filho, é — Deus!”—
MEUS OITO ANOS
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!
AMOR E MEDO
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
"Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair das tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.
É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!
Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...
Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...
Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...
MINH´ALMA É TRISTE
Minh'alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o alvor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
E, como a rôla que perdeu o esposo,
Minh'alma chora as ilusões perdidas,
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.
E como notas de chorosa endeixa
Seu pobre canto com a dor desmaia,
E seus gemidos são iguais à queixa
Que a vaga solta quando beija a praia.
Como a criança que banhada em prantos
Procura o brinco que levou-lhe o rio,
Minha'alma quer ressuscitar nos cantos
Um só dos lírios que murchou o estio.
Dizem que há, gozos nas mundanas galas,
Mas eu não sei em que o prazer consiste.
— Ou só no campo, ou no rumor das salas,
Não sei porque — mas a minh'alma é triste!
II
Minh'alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar do dia.
Se passa um bote com as velas soltas,
Minh'ahna o segue n'amplidão dos mares;
E longas horas acompanha as voltas
Das andorinhas recortando os ares.
Às vezes, louca, num cismar perdida,
Minh'alma triste vai vagando à toa,
Bem como a folha que do sul batida
Bóia nas águas de gentil lagoa!
E como a rola que em sentida queixa
O bosque acorda desde o albor da aurora,
Minha'ahna em notas de chorosa endeixa
Lamenta os sonhos que já tive outrora.
Dizem que há gozos no correr dos anos!...
Só eu não sei em que o prazer consiste.
— Pobre ludíbrio de cruéis enganos,
Perdi os risos — a minh'alma é triste!
III
Minh'alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!
E como a flor que solitária pende
Sem ter carícias no voar da brisa,
Minh'alma murcha, mas ninguém entende
Que a pobrezinha só de amor precisa!
Amei outrora com amor bem santo
Os negros olhos de gentil donzela,
Mas dessa fronte de sublime encanto
Outro tirou a virginal capela.
Oh! quantas vezes a prendi nos braços!
Que o diga e fale o laranjal florido!
Se mão de ferro espedaçou dois laços
Ambos choramos mas num só gemido!
Dizem que há gozos no viver d'amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— Eu vejo o mundo na estação das flores
Tudo sorri — mas a minh'alma é triste!
IV
Minh'alma é triste como o grito agudo
Das arapongas no sertão deserto;
E como o nauta sobre o mar sanhudo,
Longe da praia que julgou tão perto!
A mocidade no sonhar florida
Em mim foi beijo de lasciva virgem:
— Pulava o sangue e me fervia a vida,
Ardendo a fronte em bacanal vertigem.
De tanto fogo tinha a mente cheia!...
No afã da glória me atirei com ânsia...
E, perto ou longe, quis beijar a s'reia
Que em doce canto me atraiu na infância.
Ai! loucos sonhos de mancebo ardente!
Esp'ranças altas... Ei-las já tão rasas!...
— Pombo selvagem, quis voar contente...
Feriu-me a bala no bater das asas!
Dizem que há gozos no correr da vida...
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— No amor, na glória, na mundana lida,
Foram-se as flores — a minh'alma é triste!
MINHA TERRA
Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha;
– Hei de dar-lhe a realeza
Nesse trono de beleza
Em que a mão da natureza
Esmerou-se em quanto tinha.
Correi pr’as bandas do sul:
Debaixo dum céu de anil
Encontrareis o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil;
– É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Nas belas tardes de Abril.
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal!
– É uma terra encantada
– Mimosa jardim de fada –
Do mundo todo invejada,
Que o mundo não tem igual.
Não, não tem, que Deus fadou-a
Dentre todas – a primeira:
Deu-lhe esses campos bordados,
Deu-lhe os leques da palmeira,
E a borboleta que adeja
Sobre as flores que ela beija,
Quando o vento rumoreja
Na folhagem da mangueira.
É um país majestoso
Essa terra de Tupã,
Desd’o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará!
– Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes
Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá.
Ao lado da cachoeira,
Que se despenha fremente,
Dos galhos da sapucaia.
Nas horas do sol ardente,
Sobre um solo d’açucenas,
Suspensas a rede de penas
Ali nas tardes amenas
Se embala o índio indolente.
Foi ali que noutro tempo
À sombra do cajazeiro
Soltava seus doces carmes
O Petrarca brasileiro;
E a bela que o escutava
Um sorriso deslizava
Para o bardo que pulsava
Seu alaúde fagueiro.
Quando Dirceu e Marília
Em terníssimos enleios
Se beijavam com ternura
Em celestes devaneios:
Da selva o vate inspirado,
O sabiá namorado,
Na laranjeira pousado
Soltava ternos gorjeios.
Foi ali, no Ipiranga,
Que com toda a majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;
Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade!
Um povo ergueu-se cantando
– Mancebos e anciãos –
E, filhos da mesma terra,
Alegres deram-se as mãos;
Foi belo ver esse povo
Em suas glórias tão novo,
Brandando cheio de fogo:
– Portugal! Somos irmãos!
Quando nasci, esse brado
Já não soava na serra
Nem os ecos da montanha
Ao longe diziam – guerra!
Mas não sei o que sentia
Quando, a sós, eu repetia
Cheio de nobre ousadia
O nome da minha terra!
Se brasileiro nasci
Brasileiro hei de morrer,
Que um filho daquelas matas
Ama o céu que o viu nascer;
Chora, sim, porque tem prantos,
E são sentidos e santos
Se chora pelos encantos
Que nunca mais há de ver.
Chora, sim, como suspiro
Por esses campos que eu amo,
Pelas mangueiras copadas
E o canto do gaturamo;
Pelo rio caudaloso,
Pelo prado tão relvoso,
E pelo tiê formoso
Da goiabeira no ramo!
Quis cantar a minha terra,
Mas não pode mais a lira;
Que outro filho das montanhas
O mesmo canto desfira,
Que o proscrito, o desterrado,
De ternos prantos banhado,
De saudades torturado,
Em vez de cantar – suspira!
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal!
(Lisboa, 1856)
Imagem extraída de
DIAS-PINO, Wlademir. A lisa escolha do carinho (Rio de Janeiro: Edição Europa, s.d.
20,5x20,5 cm. 33 f. ilustradas (Coleção Enciclopédia Visual). Inclui versos de
poetas brasileiros
Proclamação da Independência, de François-René Moreaux (1844)
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTORIA DO BRASIL – POEMAS
A INDEPENDÊNCIA E O IMPÉRIO
SETE DE SETEMBRO
A Dom Pedro II
Foi um dia de glória! O povo altivo
Trocou sorrindo as vozes do cativo
Pelo cantar das festas!
O leão indomável do deserto
Bramiu soberbo, dos grilhões liberto,
No meio das florestas!
Lá no Ipiranga do Brasil o Marte
Enrolando nas dobras do estandarte
Erguia o augusto porte;
Cercada a fronte dos lauréis da glória
Soltou tremendo o brado da vitória:
Independência ou Morte!
O santo amor dos corações ardentes
Achou eco no peito dos valentes
No campo e na cidade;
E nos salões, do pescador nos lares,
Livres soaram hinos populares
À voz da Liberdade!
À roda da bandeira sacrossanta
Um povo esperançoso se levanta
Infante e a sorrir!
A nação do letargo se desperta,
E — livre — marcha pela estrada aberta
Às glórias do porvir!
O país na alegria todo imerso,
Velava atento à roda só de um berço...
Era o vosso, Senhor!
Vós do trono feliz doce renovo,
Vêde agora, Senhor, na voz do povo
Quão grande é seu amor!
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TEXTOS EN ESPAÑOL
TRADUÇÃO DE JAIME TELLO
CASIMIRO DE ABREU
(1839-1860)
AMOR Y MIEDO
I
Cuando te huyo y cauto me desvío
Del fuego ardiente que te cerca, oh bella,
Dices contigo, suspirando amores:
—"; Oh Dios! ¡ qué hielo, qué frialdad aquella!".
¡ Cuánto te engañas!, mi amor es llama
Que se alimenta en el voraz secreto,
Si de ti huyo es porque te amo loco...
Bella eres —mozo soy; tienes amor— ¡ yo miedo!.
Tengo miedo de mí, de ti, de todo,
De la luz, de la sombra, del silencio y las voces,
De las hojas resecas, del llanto de las fuentes,
Y de las horas largas que pasan tan veloces.
El velo de la noche me atormenta,
La luz del alba entumece mis senos,
Y al viento fresco del caer la tarde,
Me estremezco de crueles recelos.
Es que ese viento que en el campo —le jos,
De la cabana el humo vago gira,
¡Soplando un día tornaría incendio
La llama viva que tu risa aviva!
i Ay! Si abrasado crepitase el cedro,
Cediendo al rayo que tormenta envía,
Di: —¿ qué sería de la plantita humilde
Que a su sombra tan feliz crecía ?
La llamarada que se enrosca al tronco
Tostara igual la planta y el racimo ;
La pobre nunca revivir podría
¡Aunque lloviese paternal rocío!
II
Si al calor de la siesta yo te viese,
Temblar mi mano al fuego de las tuyas,
Ajado el blanco traje, ¡ y los cabellos,
Sueltos sobre la espalda alba y desnuda!...
¡ Ay! Si te viese, Magdalena pura,
A medias reclinada sobre el lecho,
Ojos cerrados, voluptuosa y dulce,
Laxos los brazos, ¡ palpitante el seno!...
¡ Ay! Si te viese en languidez sublime
Y protestando con acento trémulo,
Y del pudor las rosas virginales
¡ Tiñendo el rostro, sollozando un beso!...
Di: —¿qué sería de la pureza de ángel,
Del candor de la frente y de las alas ?
—Tú te quemaras, al pisar descalza,
—Loca muchacha— ¡ sobre un piso de ascuas!
¡ En fuego vivo entero me abrasara!
Ebrio y sediento en la fugaz vorágine,
Vil, destrozara con mi dedo impuro
¡ La dulce flor de virginal guirnalda!
Vampiro infame, devorara en besos
La inocencia que tu labio encierra,
Y tú serías en el lascivo abrazo
Un ángel enlodado en cieno de la tierra.
Luego... despierta en el febril delirio,
—Tristes los ojos— cual vano lamento,
Preguntarás: —¿qué fue de mi corona ?...
Y yo diría: —¡ deshojóla el viento!...
¡ Oh, no me llames corazón de hielo!
Me traicioné en el fatal secreto.
Si de ti huyo es porque tanto te amo,
Bella eres —mozo soy; tienes amor— ¡ yo miedo
Extraído de CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introducción, Traducción y Notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Insituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983
TRADUCCIÓN DE ÁNGEL CRESPO
¡ASÍ!
¿Viste a la flor campesina?
Sí: se inclina;
Mustia del tallo pendió.
¿Viste a la flor campesina?
Pues, divina,
Igual que la flor soy yo.
¿Oíste a la triste flauta,
Y del nauta El suspiro en altamar?
¿Oíste a la triste flauta?
Como el nauta
Es de triste mi cantar.
¿No viste a paloma errante,
Zozobrante,
Cuando anochece gimiendo?
¿No viste a paloma errante?
Pues, mi amante,
De igual modo estoy gimiendo.
¿No has visto la barca hendida.
Sacudida
En alas de algún tifón?
¿No has visto la barca hendida?
Pues, querida,
Así va mi corazón.
YURITI
Allá en mi tierra, en el bullir del bosque,
La yurití suspira;
Y cual arrullo son de sus amores
Mis cantos de secretos sinsabores
Cuando llora mi lira.
La paloma, a la tarde, del sendero
Al borde, triste llora;
Tal vez perdida en la floresta ingente,
La pobre llora con su voz gimiente
Por el nido que añora.
Soy como la paloma, y cual sus vocês
Es mi triste cantar;
Flor del trópico, aquí en la Europa fría
Languidezco, llorando noche y día
Recuerdos de mi hogar.
La yurití suspira entre hojas secas
Su canto de ansiedad;
Himno de angustia, férvido lamento,
Un poema de amor y sentimiento,
Un grito de orfandad.
Después..., el cazador llega cantando,
Afina luego el tiro...
La bala acierta y ella cae herida,
Su voz solloza y muere dolorida "
En el postrer suspiro.
Y, como el cazador, la muerte en breve
Consigo ha de llevarme;
Y, sin pesar, cuando la vida ríe,
Sólo iré, con la voz desfallecida,
A la tumba a entregarme.
Y—muerta—la paloma no suspira
Del camino a la vera;
Y cual la yurití—lejos mis lares—
Ya no lloraré más en mis cantares
El nido que perdiera.
TEXTO EN ITALIANO
Extraído de
MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
D I O
Mi ricordo, ricordo ! Ero bambino
Giocavo sulla spiaggia. Il mar ruggia
E, alzando il dorso altivo, si movia
Con bianca spuma, verso il ciel turchino —
Ed io dissi a mamma, in quel momento,
— Che dura orchestra; che furor insano !
Chi può esser maggior dell’Oceáno
Oppure chi sia forte come il vento ? —
E mia madre sorrise : Figlio mio —
Disse — Un Essere, che noi non vediamo,
È piú grande dei mar, che noi temiamo,
Ed è piú forte anche dei vento — è Dio !
MIA MADRE
La pátria formosa, lontano, ricordo,
Piangendo e gemendo ne canto il dolor.
E serbo nel petto l'immagine amata
Del più veritiero, del piu santo amor :
Mia Madre !
Nell’ore tranquille di notti d'Estate,
Seduto, soletto, raccolto in torpore,
lo piango e singhiozzo per chi mi chiamava :
"O figlio diletto dei dolce mio core !"
Mia Madre !
La culla pendente dai rami fioriti,
Felice bambino, riposo mi dava.
E chi quella culla, con tanta premura,
Cantando canzoni, allegra ninnava ?
Mia Madre !
Di notte, alta notte, mentre dormivo,
Sognando quel sogno, dei ciei mormorío,
Chi le mie labbra dormenti sfiorava,
Come angiol che veglia qual soffio di Dio ?
Mia Madre !
Felice il buon figlio che può si contente
In casa paterna, di notte e di giorno,
Sentir la certezza dell’angelo santo:
La stella brillante che veglia dintomo.
Mia Madre !
Perció io adesso, nel suolo d'esilio,
Seduto e soletto, raccolto in torpore,
Sospiro e singhiozzo per mi chiamava :
— O figlio diletto del dolce mio cuore !
— Mia Madre !
NA ESTRADA
Cena contemporânea
(Rio de Janeiro, 1858)
Eu vi o pobre velho esfarrapado
— Cabeça branca — sentado pensativo
Dum carvalho ao pé;
Esmolava na pedra dum caminho,
Sem família, sem pão, sem lar, sem ninho,
E rico só de fé!
Era de tarde; ao toque do mosteiro
Seu lábio a murmurar rezava baixo,
Ao lado o seu bordão;
E o sol, no raio extremo, lhe dourava
Sobre a fronte senil a dupla c´roa
De pobre e de ancião!
E o homem de metal vinha sorrindo
Contando ao companheiro os gordos lucros
Na usura de judeus;
O mendigo estendeu a mão mirrada,
E pediu-lhe na voz entrecortada:
— Um esmola, por Deus!
O homem de metal embevecido
Em sonho de milhões, por junto à pedra,
Sem responder, passou!
O pobre recolheu a mão vazia...
O anjo tutelar velou seu rosto
Mas — Satanás fulgou.
TEXT IN ENGLISH
Poem translated by Frederic G. William
(Luso Brazilian Books)
Brigham Young University Studies, Provo, Utah, USA; Editora da Universidade Feral da Bahia, Salvador, Brasil.
The Waltz
I saw you,
Last night
In the light
At the dance
In a trance,
Where you twirled
And you twirled
Withh red cheeks
As lascivious
Can be;
In the waltz
That´s so false
You were
Joyfully
Lusifullly
Ardently flushed
As you blushed
So serenely
Not thinking
Of me!
I wish
You could feel
All the pain
So insane
That this love
Brings to me!
I wish
You could feel!...
— Don´t deny,
Do not lie…
—I could see!...
While waltzing:
—Your beautiful
Hair loosely
Flowing,
While blowing,
No springing,
Now clinging,
To shoulders
Belonging
To me;
Your dark eyes
Were sighing
Those pure eyes,
Where lysing
And flirting,
You´tremble
With guile
Then you´d smile
To another,
No me!
I wish
You could feel
All the pain
So insane
That this love
Brings to me!
I wish
You could feel!...
—Don´t deny,
Do not lie…
— I could see!...
My God!
You were lovely:
Out dancing
Entrancing
And smiling,
Beguiling,
A nymph
I woud seem
From the dream
Of a groom!
That smile
Filled with guile
Which I saw
On your face,
That you´d send
From your lips
With your soft
Fingertips
Cross the room,
But to whom?!
I wish
You could feel
All the pain
So insane
That this love
Brings to me!
I wish
You could feel!...
—Don´t deny,
Do not lie…
—I could see!...
Then silently,
Jealously,
Ardently,
Lonely,
I saw when
You whirled,
And you twirled
To the waltz
You´re so false
Dancing free!
And sadly
Not gladly
I saw
The whole plot!
But spoke not
Neither crying
Nor sighing,
There was no j
Response
Made by me!
I wish
You could feel
All the pain
So insane
That this love
Brings to me!
I wish
You could feel!...
—Don´t deny,
Do not lie…
—I could see!...
As you waltzed
You grew tired;
Though inspired
You fell prostate,
Disturbed!
And perturbed,
Wondering how,
Thinking wow,
Looking pale
Feeling sore;
Like a rose
In repose
Sweetly grown
That´s been blown
By cruel winds
You were battered,
And tattered,
Then lifeless
You fell to
To the floor!
I wish
You could feel
All the pain
So insane
That this love
Brings to me!
I wish
You could feel!...
—Don´t deny,
Do not lie…
—I could see!...
*
Página ampliada em setembro de 2022
*
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