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CARLITO AZEVEDO
Nasceu no Rio de Janeiro em 4 de julho de 1961. Cursou Letras na UFRJ.
Obras: Colapsus linguae (1991), As banhistas (1993), Sob a noite física (1996), Versos de Circunstância (2001) e Sublunar (2001). É editor da revista de poesia Inimigo Rumor desde 1997.
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TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
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AZEVEDO, Carlito. Sublunar. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: 7Letras, 2010. 104 p. 13x20 cm. Ex. bibl. part. Salomão Sousa.
VENTO
A manhã e alguns atletas desde cedo que estão dando voltas
—à Lagoa.
Outros seguem para o Arpoador (onde o ar é de sal e insônia
e a beleza ri com uma flor de álcool entre os dentes).
O mar desdobra suas ondas sob o violeta dos
olhos da menina no alto da pedra.
Um falsete fica reverberando sem querer morrer.
Dos cabelos desgrenhados do meu filho
se desprega, ao vento, como um
sorriso, como um relâmpago,
um pensamento triste.
BANHISTA
Apenas
em frente
ao mar
um dia de verão —
quando tua voz
acesa percorresse,
consumindo-o,
o pavio de um verso
até sua última
sílaba inflamável —
quando o súbito
atrito de um nome
em tua memória te
incendiasse os cabelos —
(e sobre tua pele
de fogo a
brisa fizesse
rasgaduras
de água)
AZEVEDO, Carlito. Monodrama. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. 156 p. 13x20 cm. Ex. bibl. part. Salomão Sousa.
EMBLEMAS
(...)
Entre tantos
manifestantes
é ela quem arranca
a primeira
ereção do dia
do segurança
de óculos espelhados
uma pequena
vibração
em um dia cheio
de vibrações
(...)
No saguão do banco
as paredes estão
cobertas de tapeçarias
representando
bardos célebres
da Ásia central
Suba na minha asa esquerda
e eu lhe mostrarei
(vamos voar!)
os mais ocultos recantos
dessa potência comercial
AZEVEDO, Carlito. As banhistas. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1993. 70 -. (Série Poesia) ISBN 85-312-0307-4 Col. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.
ABERTURA
Desta janela
domou-se o infinito à esquadria:
desde além, aonde a púrpura sobre a serra
assoma como fumaça desatando-se da lenha,
até aqui, nesta flor quieta sobre o
parapeito — em cujas bordas se lêem
as primeiras deserções da
geometria.
HOTEL INGLATERRA –
IV
se penso
na morte
apenas
me fala
tua
tabuleta
na noite
mais clara
— concisa,
sincera:
Perdão
Não Há Vagas.
METAMORFOSE
(com Proust e Paz)
- Se esta árvore — que roça
os céus — quando degolada
pelo crepúsculo torna-se
um imenso torso (imerso
em vãos de luz tamisada)
de feune-fille en fleur,
- pela manhã, quando praias
se desfolhando, e em cores
e em cheiros, na inteireza
do branco da claridade,
desveste a mutilação
e vuelve a ser eucalipto.
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AGULHAS DE AMIANTO
Sobre fotografias de Luciana Whitaker
5. Serpente
O nome
como veneno
e o poema como
antídoto
extraído ao
próprio
nome
ABERTURA
Desta janela
domou-se o infinito à esquadria:
desde além, aonde a púrpura sobre a serra
assoma como fumaça desatando-se da lenha,
até aqui, nesta flor quieta sobre o
parapeito — em cujas bordas se lêem
as primeiras deserções da
geometria.
REALISMO
quando estes
olhos
(um zoom
de azuis?)
sobre esta
mínima
pétala de
pálpebra
deixaram correr
de fina estria
a lágrima da
raiva
não morrerão
sóis
não se apagarão
estrelas
apenas outro
sulco na super
fície da face
BANHISTA
Apenas
em frente
ao mar
um dia de verão —
quando tua voz
acesa percorresse,
consumindo-o,
o pavio de um verso
até sua última
sílaba inflamável —
quando o súbito
atrito de um nome
em tua memória te
incendiasse os cabelos —
(e sobre tua pele
de fogo a
brisa fizesse
rasgaduras
de água)
LIMIAR
A via-láctea se despenteia.
Os corpos se gastam contra a luz.
Sem artifícios, a pedra
acende sua mancha sobre a praia.
Do lixo da esquina partiu
o último vôo da varejeira
contra um século convulsivo.
SERPENTE
O nome
como veneno
e o poema como
antídoto
extraído do
próprio
nome
SOB O DUPLO INCÊNDIO
Sob o duplo incêndio
da lua e do neon,
sobre um parapeito de
mármore, entre duas cortinas
jogadas pela brisa marinha
que ao mesmo tempo às suas
coxas e costas dispensava
um hálito incontínuo,
inundando de rubro o restrito
perímetro de seu jarro em cerâmica
e contrastando , imemorial, com a
transitoriedade de tudo ali
(hotel, amor, carros, dia, noite)
uma flor alheia a símbolos
atingia seu ponto máximo
de beleza.
Extraídos de 41 POETAS DO RIO, org, Moacyr Félix. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998. 514 p.
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ÁGUA FORTE
Girando
ritmadamente
(ela submersa
no inferno denso e negro
do café)
esta pequena
colher de prata
da qual
vês apenas
— preso entre teus dedos —
o cabo
sem grandes
arabescos
fazes emergir
em torvelinho
a partir da tona
líquida
escura
uma nuvem de fumaça
até teu rosto
que a recebe
sorrindo
QUATORZE PARA O MEIO-DIA
O olhar, grande oblíquo,
descobre num corpo
oferto outro corpo,
cavo, que diz não,
e o que esse, seu duplo,
dessangra, ressuda,
à ponta, ao calor
do olhar-aguilhão
sublima um terceiro
que é todo espinhaço
de luz (como são
as horas de perda,
os paramos, certas
manhãs de verão)
Extraídos de ESSES POETAS – Uma antologia dos anos 90, org. por Heloisa Buarque de Holanda. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1998.
BAJO PROGRAMA
Pequenas peças, algum lirismo
que a ironia mediatize entretanto<
pouco caso como o resto — uma
pessoa que surja de repente e
da qual note-se apenas o cigarro,
aliás, a cinza que tomba enormemente,
manhãs, mais do que noites.
A flor ausente.
VENTO
A manhã e alguns atletas desde cedo que estão dando voltas
— á Lagoa.
Outros seguem para o Arpoador (onde o ar é de sal e insônia
e a beleza ri com urna flor de álcool entre os dentes).
O mar desdobra suas ondas sob o violeta dos
olhos da menina no alto da pedra.
Um falsete fica reverberando sem querer morrer.
Dos cabelos desgrenhados de meu filho
se desprega, ao vento, como um
sorriso, como um relâmpago,
um pensamento triste.
De Sob a noite física (1996)
NA GÁVEA
Enquanto o vento
sopra contra a flor caduca
da pedra, um som mais belo que o som das
fontes nos seduz a invocar do cubo da treva
nosso de cada noite que nos dê — não outro dia,
cbuva nos cabelos, lampejos do sublime entre pilotis
de azul e abril, mas apenas a vertigem do ato,
o vermelho do rapto, a chegada ao fundo
mais ardente, onde tornar a reunir
cada fragmento nosso, perdido,
de dor e de delicadeza.
De Sob a noite física (1996)
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Adolfo Montejo Navas
Carlito Azevedo (Río de Janeiro, 1961) Voz unánimemente resaltada de la última poesía brasileña. Ha conseguido con una poética plural y al mismo tiempo individualizada conquistar posiciones y dicciones encontradas. En un sentido lato, es el poeta postmoderno por antonomasia que bebe con más intensidad del Modernismo de su país y de los movimientos poéticos posteriores. Sus versos se mantienen en un doble equilibrio entre la tensión de la imagen y la noción de la forma, entre la construcción del poema y la fiesta del lenguaje. Dirige las revistas Inimigo Rumor (poesía) y FicQóes (narrativa), de Río de Janeiro.
OBRA POÉTICA: Collapsus linguae, 1991; As banhistas, 1993; Sob a noite
física, 1996.
BAJO PROGRAMA
Pequeñas piezas, algún lirismo
que la ironía mediatice mientras tanto
poco caso con el resto — una
persona que de repente surja y
de la cual sólo se note el cigarro—,
aparte, la ceniza que derriba desmesuradamente,
mañanas, más que noches.
La flor ausente.
De Collapsus linguae (1990)
BAÑISTA
Solamente
frente
al mar
-—un día de verano—
cuando tu voz
encendida recorriese,
consumiéndolo,
la mecha de un verso
hasta su última
sílaba inflamable—
cuando el súbito
roce de un nombre
en tu memoria te
incendiase los cabellos-
(y sobre tu piel
de fuego la
brisa hiciese
rasgaduras
de agua)
De As banhistas (1993)
VIENTO
La mañana y algunos atletas desde temprano están dando vueltas
-a la Laguna*-.
Otros siguen para el Arpoador (donde el aire es de sal e insomnio
y la belleza ríe con una flor de alcohol entre los dientes).
El mar desdobla sus olas bajo el violeta de los
ojos de la niña en lo alto de la piedra.
Un falsete está reverberando sin querer morir.
De los cabellos desmelenados de mi hijo
se despega, al viento, como una
sonrisa, como un relámpago,
un pensamiento triste.
De Sob a noite física (1996)
EN LA GÁVEA*
Mientras el viento
sopla contra la flor caduca
de la piedra, un sonido más bello que el sonido de las
fuentes nos seduce a invocar del cubo de la tiniebla
nuestro de cada noche que nos dé -no otro día,
lluvia en los cabellos, atisbos de lo sublime entre columnas
de azul y abril- sino sólo el vértigo del acto,
el rojo del rapto, la llegada al fondo
más ardiente, donde volver a reunir
cada fragmento nuestro, perdido,
de dolor y de delicadeza.
De Sob a noite física (1996)
* Laguna de la zona sur de Río.
* Gávea: barrio de la zona sur de Río, famoso por su alterne nocturno y uni-
versitario, así como por la piedra/monte del mismo nombre. El poeta Vinidus
de Moráis era de este barrio.
*Extraídos de Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas. Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil.
VILLARREAL, José Javier. Poesía brasileña, Antología esencial. Madrid: Visor Libros, 2006. 587 p. (Colección La Estafeta del Viento, vol. 13) Dirigida por Luís García Montero y Jesús Garacía Sánchez. ISBN 978-84-9895-098-4 Inclui os poetas brasileiros Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Jorge de Lima, Mário de Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Vinicius de Andrade, Manoel de Barros, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, José Paulo Paes, Haroldo de Campos, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Roberto Piva, Armando Freitas Filho, Carlito Azevedo, Claudia Roquette-Pinto.
A antologia inclui oito poemas de Carlito Azevedo, em português e em español. Selecionamos dois — os mais curtos — por razões de direitos autorais, apenas com a intenção de promover as traduções de José Javier Villarreal.
REALISMO
quando estes
olhos
(um zoom
de azuis?)
sobre esta
mínima
pétala de
pálpebra
deixarem correr
de fina estria
a lágrima da
raiva
não morrerão
sóis
não se apagarão
estrelas
apenas outro
sulco na super
fície da face
(De Sublunar, 2010)
REALISMO
cuando estos
ojos
(¿un zoon
de azules?)
sobre este
mínimo
pétalo de
párpado
dejen correr
de fina estría
la lágrima de la
rabia
no morirán
soles
no se apagarán
estrellas
apenas otro
surco en la super
fície del rostro
DO LIVRO DE VIAGENS
Liliana Ponce não esqueceu o seu casaco no salão de chá
Liliana Ponce nem estaba de casaco
(No Rio de Janeiro fazia um belíssimo dia de sol e dava
gosto olha cada ferida exposta na pedra)
Liliana Ponce, consequentemente, não teve que volta às
pressas para a casa de chá
(a garçonete com cara de flautista da Sinfônica de São
Petersburgo não veio nos alcançar à saída
acenando um casaco esquecido)
Desse modo Liliana Ponce chegou a tempo de pegar o
avião
Partiu para a Argentina
(De Sublunar, 2010)
DEL LIBRO DE VIAJES
Liliana Ponce no olvidó su saco en el salón de té
Liliana Ponce ni siquiera tenía
(En Rio de Janeiro hacía un bellísimo día con sol
y daba gusto mirar cada veta expuesta en la
piedra)
Liliana Ponce, consecuentemente, no tuvo que
regresar con prisa a la casa de té
(el mesero, con cara de flautista de la Sinfónica
de San Petersburgo, no vino a alcanzarla a la
salida enseñándole un saco olvidado)
De ese modo Liliana Ponce llegó a tiempo para
tomar su vuelo
Se fue a Argentina
Página ampliada e republicada em outubro de 2008; ampliada novamente em junho de 2009; ampliada em dezembro de 2016; ampliada em setembro de 2017
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