VILAREJO GOIANO
                  Para José Mendonça Teles
  
                  Esse bugrinho isolado
                  Lá nos confins do Brasil
                  Perdido em pleno cerrado
  É tão belo quanto aqueles
                  Em prosa e verso cantados.
                Seus palácios medievos
                  São o austero casario
                  Dos bandeirantes herdado
                  Rente ao chão, atarracado
                  Aqui e ali um sobrado.
                Tem na praça uma   igrejinha
                  Com janelas de sacada
                  E a sineira de madeira
                  Nada deve às torricellas
                  Da Toscana, da Calábria.
                As pinturas das   paredes
                  Pelo tempo desbotadas
                  São de Giottos mulatos,
                  Os santinhos dos altares
                  São de cerne de Angelim
                A canivete talhados.
                  Têm a rudeza de linhas
                  A força inata da idade
                  De quando um fio de barba
                  Valia a honra empenhada.
                Frente a ela está o   prédio
                  Que foi Câmara e Cadeia
                  A base do pelourinho
                  Dos seus tempos de Julgado.
                  De minas e grupiaras.
                Fica à sombra de   fraguras
                  Mais altas do que as cinturas
                  Dessas cidades muradas,
                  Suas torres são rochedos
                  Por ameias coroados
                Seus merlões, os   interstícios
                  De onde foram arrancados
                  Pela chuva, pelos ventos
                  Desde a era permiana
                  Os cristais e o feldspato.
  
  
                  BEEN FORNIDA
                Cantiga de maldizer
                
                
                Dicem-me que Ruy Sanos
                  Anda ahy de mulher nova
  ´Staa tan preso em seos allares
                  No mas donnea nem trova.
                No mas freqüenta esta   corte
                  Ela lhe poz redea curta
                  Tem o pulso firme y forte
                  Morde o freio ela o encurta.
                Queem é ela, Martin   Vaz?
                  Tu a coñeces muy beem
                  De teos tempos de rapaz,
                  La donneaste tambeem.
                Filha do meirinho-mor
                  Dorotea, a beem fornida
                  Generosa em seo favor
                  Insolente y deslambida.