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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA DE PERNAMBUCO

Coordenação de LOURDES SARMENTO


 

(Foto de Assis Lima)

 

ALBERTO DA CUNHA MELO

 

 

José ALBERTO Tavares DA CUNHA MELO, poeta, jornalista e sociólogo, nasceu em Jaboatão, Pernambuco, em 08 de abril de 1942. Filho e neto de poetas, fez parte do Grupo de Jaboatão que, conforme o historiador Tadeu Rocha, constitui a nascente da Geração 65 de poetas pernambucanos. Dentre os fatos que marcaram a sua intensa atividade cultural, destacam-se a sua atuação nas Edições Piratas [1979 a 1984], movimento editorial alternativo que publicou mais de 300 títulos de autores novos e consagrados, a criação e organização do Prêmio Anual de Poesia Carlos Pena Filho [1982 e 1983] e a editoria das páginas do Commercio Cultural, do Jornal do Commercio [1982 a 1985]. Na área oficial, exerceu vários cargos públicos, destacando-se a de Gerente de Bem-Estar Social do SESC - Delegacia do Estado do Acre [1980 - 1981]; duas vezes Diretor de Assuntos Culturais da FUNDARPE - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco [1979/l980 e l987 a l989 e o cargo de Diretor do Arquivo Público Estadual de Pernambuco [1988].

 

Na virada do século [2001], foi incluído nas antologias de edição nacional, Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século [2001] e 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira no século XX. Sua obra, Meditação sob os Lajedos [2002], mereceu o quarto lugar da primeira versão do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira No livro Yacala [1999], Alfredo Bosi, coloca a sua obra à altura das dos poetas, Jorge de Lima, Carlos Pena Filho e João Cabral de Melo Neto. Em grande parte de sua poesia, no aspecto formal, destaca-se uso o sistemático do metro octossílabo, o mais rara em língua portuguesa, conforme anota o poeta e crítico César Leal. Atualmente o poeta trabalha no setor de Obras Raras da Biblioteca Pública Central e é editor da coluna Marco Zero, da revista Continente Multicultural

 

Obra publicada: Círculo Cósmico [1966]; Oração pelo Poema [1967]; Publicação do Corpo [1974]; Dez Poemas Políticos [1979]: Noticiário [1979]; Poemas à Mão Livre [1981]; Soma dos Sumos [1983]; Poemas Anteriores [1989]; Clau [1992]; Carne de Terceira com Poemas à Mão Livre [1996]; Yacala [1999]; Yacala [2000]; Um Certo Louro do Pajeú [2001]; Um Certo Jó [2002]; Meditação sob os Lajedos [2002]; Dois Caminhos e uma Oração [2003].

.

MELO, Alberto da CunhaPoema.  Jaboatão, PE: Editora Gurarapes EGM, 2015.  22 p.  13x20 cm.   ilus. col.        Editor: Edson Guedes de Moraes.  Edição limitada, artesanal. Älberto da Cunha Melo”  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Veja também>>> POÈMES EN FRANÇAIS

TEXTO EM ITALIANO

 

Ver mais textos sobre o poeta em: http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/tacm_plata9.htm

http://www.poetasdelmundo.com/verInfo.asp?ID=481

 

 

Leia mais poemas do poeta em:
http://www.albertocmelo.com/ 
http://www.albertocmelo.com/eurocard2/index.php3

 

 

Ver o E-book do livro:http://issuu.com/antoniomiranda/docs/deolindo_tavares.docx/1

 

MELO, Alberto da CunhaHibernações e ressurreições de Deolindo Tavares.  Jaboatão, PE:        Editora Guararapes, 2015.  28 p. ilus col. 20x13 cm. Editor: Edson Guedes de Morais. 
https://issuu.com/antoniomiranda/docs/deolindo_tavares.docx/1?e=1077420/30000297

 

 

 

POEMAS

 

 

Moro tão longe, que as serpentes

morrem no meio do caminho.

Moro bem longe: quem me alcança

para sempre me alcançará.

Não há estradas coletivas

com seus vetores, suas setas

indicando o lugar perdido

onde meu sonho se instalou.

Há tão somente o mesmo túnel

de brasas que antes percorri,

e que à medida que avançava

foi-se fechando atrás de mim.

É preciso ser companheiro

do Tempo e mergulhar na Terra,

e segurar a minha mão

e não ter medo de perder.

Nada será fácil: as escadas

não serão o fim da viagem:

mas darão o duro direito

de, subindo-as, permanecermos.

 

*

 

O céu parece revestido

de uma camada de cimento:

deixo as marquises porque sei

que esta chuva não passará.

Se esperasse um tempo de paz,

nem meu túmulo construiria.

Começo e recomeço a casa

de papelão em pleno inverno.

Um plano, um programa de ação

debaixo de uma árvore em prantos,

e voltar à primeira página

branca e ferida pela pressa.

A poesia já não seduz

a quem mais forte ultrapassou-a,

libertando um pouco de vida

e luz, da corrente de estrelas.

Toda renúncia nos convida

a recomeçar outra busca,

porque algo a inocência perdeu

no chão, para arrastar-se assim.

 

 

*

 

Cai um silêncio de ondas longas

e sucessivas como a chuva.

E que silêncio será esse

que cai assim antes de mim?

Fauna marinha, gestos lentos

de anjos calados golpeando

um polvo em fúria que me espera

(sob os sonhos). Há quanto tempo?

Poucos amigos, tudo salvo,

ainda temos nossas raivas

e uma esperança ilimitada

nos setembros. Mas, até quando?

Caem livros silenciosos

das prateleiras: baixa a luz

morna e abundante sobre as capas.

Que foi feito de tanta noite?

A esperança nova se agarra

entre as barreiras e as ossadas

de nossos morros. E por que

morremos antes de salvá-la?

 

 -----------------------------------------------

 

  

ALTA RESIDÊNCIA *

 

Pequenino e trêmulo ser,

que medrosamente apertaste

a campainha desta casa

de pedra: hoje eu te atenderia.

 

Ontem ainda era possível

recusar a tua presença,

simular um grande silêncio

até que, em prantos, te afastasses.

 

As quatro torrentes do Éden

puseram abaixo estas muralhas;

hoje, eu quero receber-te

em festa, e as torrentes não deixam.

 

Grito no terraço que estou

aqui, e ninguém acredita

que esta casa seja habitada;

ninguém quer voltar ao deserto.

 

Como estou humilde depois

que estou sozinho e a ninguém

posso dar a minha humildade,

como estou sozinho depois.

 

 

* Extraído de POETAS DA RUA DO IMPERADOR. Recife: Pool, 1986.  Coletânea em homenagem ao Dr. F. Pessoa de Queiroz  e ao jornalista Esmaragdo Marroquim.

 

CLAU

 

Alberto da Cunha Melo
CLAU
(POEMAS)

Ilustrações do Autor
Recife: Imprensa Universitária,
Universidade Federal de Pernambuco, 1992

 

Cláudia Cordeiro, minha querida amiga, foi a Musa homenageada pelo notável poeta pernambucano Alberto da Cunha Melo. Cláudia é a CLAU que nós homenageamos aqui... Um exemplar dessa obra esgotadíssima foi-me enviado por ela neste Natal de 2009, como exemplo ilustrativo (as ilustrações são do próprio Alberto) de nossa amizade em favor da poesia, já que ela é uma grande divulgadora por meios presenciais e digitais.
Antonio Miranda

 

NOBREZAS


 Vista-se de jambo,
a cor imã
do sangue velho,
e das frutas
caindo abandonadas
no lamaçal
da delícia degradada,
porque este traje
de machucada mortalha
tem a cor da vida
que vamos, juntos,
ressuscitar.


ALIADOS

Enquanto discutíamos
eu e Clau,
o cerco lá fora,
ouvíamos Chopin,
em plena clareira
da mata amazônica;
e lá fora havia
um certo gigante
de barro queimado,
que tramava e bebia;
mas Chopin, revoltado,
tocava o “Noturno”
e tudo dormia.

 

 

 

TEXTO EM ITALIANO


 


MELO, Alberto da Cunha.  Poesia Presente. Recife: Fundação Cultura Cidade do Recife,  2009.   envelope com folhas soltas.  “ Alberto da Cunha Melo “  Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

MELO, Alberto da CunhaDois caminhos e uma oração. Meditação sob os lajedos.  Yacala.  Oração pelo poema. São Paulo: A Girafa Editora; Recife, PE: Instituto Maximiano Campos, 2003.  351 p.  14x21 cm. ISBN 85-89876-03-9  Capa e gráfico LYZ – Comunicação Visual. “Alberto da Cunha Melo “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

        CAVALO DE CARROÇA

 

          Em frente à loja, lá no Agreste,
          um cavalo pende a cabeça
          e espera, sob o sol a pino,
          que alguma nuvem apareça

          no céu forrado de correias
          em chamas, como suas veias,

          que as moscas deixem de boiar
          na água cinzenta de seus olhos,
          ou volte o dono a chicotear

          esse corpo, essa coisa ruim,
          pela estrada que não tem fim.

 

 

 

MELO, Alberto da Cunha.  Poesia completa. Organização de Claudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo.  Rio de Janeiro: Record, 2017.   1.000 p.  “Orelha” do livro por Martim Vasques da Cunha.  Capa: Tulio Cerquiza; imagem: Maria Kaloudi. . Fotógrafos: Maria Assis Lima; João Castelo Branco. . col. ISBN 978-85-01-10917-0    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

“...não hesitou em ser também um experimentador radical do estilo literário, sem se esquecer da tradição quer o sustentou, na conquista de formas próprias para expressar seus impasses pessoais — como recuperar a métrica do octassílabo branco, nos poemas da primeira fase; e a criação inovadora da “retranca” (onze versos distribuídos em estrofes seguidas de um quarteto, um dístico, um terceto e, finalmente, um novo dístico), durante o seu período de maturidade.”  MARTIM VASQUES DA CUNHA

 

“Em suma, minha poesia deveria ser tão parecida comigo quanto minha voz, o ruído dos meus passos, as explosões de minha natureza contraditória. A arte é o último reduto do indivíduo, apesar de sua função social, de seu compromisso ontológico com o destino humano.”  ALBERTO DA CUNHA MELO

 

 

De Yacala (1999), reeditado na Poesia Completa (p.357-411):

 

  1. EXÓRDIO

Levamos fogo, não esponjas,
ao trono de excremento
disputando o mesmo vazio
de uma estrela no firmamento;

 

Jarros negros e estrelas, tudo
é uma busca de conteúdo;

 

ou somos renúncia ou cobiça,
atravessando esses planaltos
feitos de cinza movediça,

 

mas todos estamos em casa,
como os voos dentro das asas.

 

 

043.

 

Uma súplica de Yacala,
pintaram as quatro paredes
internas, da única sala,
invariavelmente de verde;

 

Não por querer belo por dentro
o seu túmulo de cimento,

 

Mas para usar o giz barato
sobre esse verde, quando o sono
for ataca-lo no teclado,

 

e a dor, sem mudar o suplício,
for adotada como um vício.

 


Poema extraído de SALMOS DE OLINDA, p. 555, do livro POESIA COMPLETA de Alberto da Cunha Melo, foto de João Castelo Branco:

 

 

Página ampliada e republicada em maio de 2018.

 

 



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