RONALDO WERNECK
(1943- )
“Creio que talvez possamos admitir que axista um movimento artístico intitulado “pos-modenismo” e que sua característica primordial seja a intertextualidade, ou a explicação do diálogo que estabelece com própria arte. Explicação porque não só admite mas mesmo denuncia sua filiação. Nesse sentido, pós-moderno é Ronaldo Werneck, que em 1976 lançou a primeira edição, agora revisitada, de(ste) Selva Selvaggia.” Assim começa Luiz Ruffato a apresentação do poeta-cinético ressaltando seu “barbarismo” fundado no “pensamento concretista”, um oxímoro...
“Sua poesia, que nos suga e seduz, é a da palavra, posta a serviço da própria palavra, recriando outra –sua metamorfose”, completa Lina Tâmega Del Pelaso.
Vem recomendado pelo também mineiro Ronaldo Cagiano... mas Ronaldo é já conhecido de todos, mesmo dos que desconhecem a sua intrigante obra. E antes que me esqueça, ele também é de Cataguases, terra da eterna modernidade... (A.M.)
Ronaldo Werneck participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, 2008.
Página do autor: www.ronaldowerneck.com.br
CATAGUASES QUE TE QUERO VERDE - ensaio por RONALDO WERNECK
LINA LADY LINA - Brasil : DAMA DA POESIA por RONALDO WERNECK - ENSAIOS
Veja também: POESIA VISUAL de Ronaldo Werneck
FRANCISCO MARCELO CABRAL: a emoção é de quem lê
Ronaldo Werneck
VEJA TAMBÉM composição musical com letra de RONALDO WERNECK:
https://www.facebook.com/ronaldo.werneck.100/posts/10156772937597780
MEUS POEMAS EM PORTUGAL - Ronaldo Werneck
na revista DiVersos 32 (2021)
A conceituada revista literária portuguesa "DiVersos/ Poesia e Tradução" acaba de publicar em sua edição n° 32, 2021, comemorativa de seus 25 anos de existência, uma miniantologia de meus poemas. José Carlos Marques, o editor da revista (que se mantém na versão impressa até hoje), abre o espaço (20 páginas) dedicado aos meus poemas com um bem apanhado texto crítico que oferece uma panorâmica de minha trajetória poética:
"Sem o podermos afirmar com segurança, vemos na poesia de Werneck não só o modernismo europeu e o modernismo brasileiro, como ainda toda a corrente da poesia visual e em particular do concretismo e do poema tipográfico, mas numa versão transbordante que contrasta com a austeridade e por vezes secura de algumas dessas correntes. Incluindo incursões no tropicalismo ou dele derivadas, da escrita à música, da fotografia ao cinema (o seu primeiro livro de poesia é um cine-poema!), numa explosão criativa que bebe tanto em todas as fontes literárias como no pulsar barroco de uma cinematografia como a de Glauber Rocha".
Vejam no link a seguir, o texto completo de José Carlos Marques e meus poemas publicados nessa edição da "DiVersos".
https://drive.google.com/file/d/1Wt7UIgk8kK2GGN3oFl78avuYd
OjZ5d/view?fbclid=IwAR3KYk1RXanPkAM7iPUZExUzhYpo_gxnZ2HJGXuJkqzE-YZaOeEvDpmY_SA
CONEXÕES ATLÂNTICAS
Acaba de sair em Portugal o volume V da coleção “Conexões Atlânticas”, reunindo poetas brasileiros e portugueses. A antologia é mais uma realização da In-finita Lisboa, dirigida por Adriana Mayrinck e Emanuel Lomelino. Transcrevo a seguir um de meus dois poemas inéditos publicados nessa edição de Conexões Atlânticas.
A POESIA FICARÁ
mesmo que para sempre eu passe
haverá haverá casais
aos beijos às margens do sena
pescadores esparsos beira
pomba e ao largo do tejo
esse o fonema o dilema:
passo a passo descompassado
eu passo para sempre eu passo
e passamos rumo ao esquecimento:
que importa o poema febre fugaz
– peça passe compasso de passagem –
se o pôr do sol sempre brilhará
magnífico no palco de ipanema
pôr do sol que se esvai no céu e some
e apaga no quadro as minas-montanhas
e só sobra o poema feito poesia
homero ronsard shakespeare whitman
pessoa poe rimbaud baudelaire eliot
resta a poesia drummond cabral camões
a poesia ficará
anos muitos anos passados
e esse beijo à beira-sena
à beira-pomba beira-tejo
mãos mãos se enlaçando
namorados à beira rio
séculos séculos depois
sobrarão avencas acácias
e o forte aroma das magnólias
a poesia fica finca ficará
Ronaldo Werneck
Cataguases, maio 2020
WERNECK, Ronaldo. Momento vivo. 71 poemas favoritos & 21 novos. Apresentação por Cláudio Murilo Leal. São Paulo: Editora Tipografia Musical , 2019. 268 p. 16x 23 cm. ISBN 978-68951-19-4
Ex. bibl. Antonio Miranda
vegetais
face a face
a alegria
da verde alface
rotundos
brilhantes
pesquiso
a poesia
do pálido palmito
sobre a mesa
descubro
a selvagem
tristeza
do tomate rubro
sol na rua do sobe e desce
para Antônio Jaime Soares
à sinistra, o sol, o que assombra:
sobre as árvores, o céu tomba
solidário, à espreita
à destra, o dia anoitece
entre as frestas da tarde estreita:
no coração, a sombra cresce:
na rua, o sol sobra e desce.
Cataguases, agosto 2001.
perfume
Amor que vence os tigres, por empresa
tomou logo render-me ; ele me declara
contra o meu coração guerra tão rara
que não me foi bastante a fortaleza
Cláudio Manuel da Costa
o amor sai pelos poros
e me inunda de desatino
por ti
sou torto tato
os dedos cegos
enfim
apontam a ternura
por ti em mim
carrego
o sândalo
sol que ensandece
e exala
a pele
o prazer
a prece
a ungir nossos corpos
sobre o sal
suor que entorpece
Cataguases, 1989
23.10.13
hoje tenho setenta
e de novo e sempre
a vida me inventa
aos setenta e a cada dia
— vírus que me adentra —
tomado sou pela poesia
WERNECK, Ronaldo. o mar de outrora & poemas de agora. Belo Horizonte: Anome livros, 2014. 176 p. 20,5x15 cm. Fotos do miolo: Patricia Barbosa e Ronaldo Werneck. Projeto gráfico e formatação: Valdinei do Carmo. Coordenação editorial: Wilmar Silva de Andrade. ISBN 978-85-98378-91-6 “ Ronaldo Werneck “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Ronaldo Werneck se serve, como em obras anteriores, de um trabalho virtuosístico em cima da palavra. Em Fogalegre, um dos poemas rapidíssimos de agora, brinca com q nome de Audrey Hepburn - happy, rap, help, burn -, tal como Shakespeare, quatrocentos anos antes, pusera sua assinatura em Antonio e Cleópatra, ao dizer que alguém, como um animal, shakes his ears. É com a mesma técnica que Werneck lamenta o mar que rimbaud me roubou. W. J. SOLHA
FOGALEGRE
audrey rap
audrey burn
audrey help
audrey happy
audrey hepburn
MAR DA BAHIA
em cada fresta
azul em festa
no ar
cada finestra
franja de mar
azul
mina um poema
em cada esquina
de mar
Corredor da Vitoria, Salvador, jan 2010
AMOR AOS 70
nem sempre
se ostenta
um amor aos 70
via, deixa esse ser
assim enamorado
esse safenado
descasado ser
de novo casado e se ver
como todo apaixonado
junto (ou aprisionado)
O reencontro dos poetas Ronaldo Werneck e Antonio Miranda no Carpe Diem, em Brasília, no dia 12/05/2015 por ocasião do lançamento do livro "O mar de outrora & poemas de agora".
WERNECK, Ronaldo. Cataminas pombra & outros rios. São Paulo: Dobra Editorial, 2012. 268 p. 22x15 cm. ilus. p&b. ISBN 978-85-63550-76-7 Col. A.M. (EE)
catar-se
terra
de
ascânio lopes enrique de resende
guilhermino cesar humberto mauro
patápio silva rosário fusco
gente
boa
impropria
mente
nenhum deles
al di là delle stelle
nenhum
de lá é
pois
ninguém
de Cataguases
vem
ou quase
pois
ora pois ficou o trilho
pois-pois ferrou-se o boi
réstias de rio rastro de pass(t)agem
piau capim capiau capoeira
pois nem trem mais nem tem
nem pedreira nem diamantina jaça
nem tudo volta à sua volta
paisagem
brilho
fumaça
depois pouco importa
nada de trem não tema
adie(u)a adrenalina
também
pouco exporta
sob pena
de Leopoldina
ou outros prantos
de espermanescer
ou outro lu(g)ar
- deixa falar!
onde se erra
se desterra
tanta
de
augusto dos anjos
al di là
de outros tantos
enganos
e de outros e outros
anjos tontos saltimbancos
pero paraibanos
- xaparlà!
(*) Os poetas cataguasenses Francisco Marcelo Cabral e Maria do Carmo/Carminha Ferreira. Todo mundo é de Cataguases. Inclusive quem não é. O poema diz melhor.
Ronaldo Werneck
Há controvérsias 2.
São Paulo: Arte Paubrasil, 2011. 501 p. ilus.
ISBN 978-85-99629-34-5
Lina Tâmega Peixoto afirma que Ronaldo Werneck tem “a habilidade de jogar com as palavras, uma provocação lúdica às formas verbais para alcançar uma linguagem delirantemente estética”. Com humor, leveza, sagacidade. É o que revela este segundo volume em que compila sua vasta produção de crônicas, ensaios, poemas, resenhas, testemunhos, anotações de viagens, delírios, desaforos, elucubrações. A gente sabe que ele é criativo em tempo integral. Material levado aos jornais e agora em volume caprichado, edição primorosa. Vai um dos poemas para o prazer de nossos leitores:
No coração
da metrópole
veja
menina
o verso brotou
de arranco
na esquina
de ouvidor
com rio branco
oval da face que na noite dança
e continuou
martelo
açoite
fustigando a avenida
veja
menina
como o poema
salta do bolso
e dá vida
menina
veja
menina
era um deca
veja menina às vezes proponho
biternárias sucessões atônitas
estilhaços de sol faíscas de sonho
dez sílabas marcadas pela tÕnica
Veja
menina
era um deca
mas já
na esquina
de alfândega
o troço
ora pois
virou
pândega
depois
— NECA!
Centro do Rio no anoitecer dos anos 60/
Jornal Cataguases/ 22.08.2004
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De
MINERAR O BRANCO
Sâo Paulo: artepaubrasil, 2008
ISBN 978-85-99629-14-7
MAR DE CAMÔES AMAR
FLORBELA ESPANCA
— O que tens, bela? A que vens, Florbela?
— Mar de dor, dor a navegar, Camões.
Velas, clarões de carabelas velhas,
trôpegas, tontas sob o azul: canções.
— E tu, Luís, aonde vais, aonde?
— Mar de Camões amar Florbela Espanca
que se esvai: mar. Flor, bela flor: responde
amor, ao brado de seu bardo e canta.
Mas donde vens, vela, branca luz e tanta?
— Do mar me tens: mar, mar, maralto e largo
Flor D'Alma Bolada Conceição Espanca
esse mar, fado, mar de outroragora
doce amar, tanto mar que amar amargo.
—- Flor, bela flor em desconcerto: chora.
MINASCER
florir entre a macela e a paina e a treva
florir ¡mensamente e saber
que tudo em torno é urna ¡mensa solidão
e a cumplicidade ansiada não existe
Octavio Mello Alvarenga, in Rosario de Minas
minas menina
ha que nascer
ser meniminas
em miNascer
só pra saber
em minasCer
mato minério
trem louco vem
enverdecer
ser minastério
anoitecer
ser minaSer
WERNECK, Ronaldo. Minas em mim e o mar esse trem azul. Cataguases, MG: Poemação Produções, 1999. 144 p. ilus. 15,5x22 cm. Capa: Dounê (sobre foto de RW).
(fragmento)
o pomba
a ponte
o tudo
nada
- quem violões
quem tumbas
quem mulher
quem vida
escorrendo
diáfana
como o rio flou
flutuando
como
quem entre neblina sepulturas e nesgas de alvorada
?
maCio
para Daniela Aragão
terra molhada terra tecer
esse corpo só esse ser geo
graficamente aqui a meu lado
amor maCio amor melado
Juiz de Fora, novembro 2004
& meta-poema
a Affonso Romano de Sant´Anna
[
erra
quem no poema
introduz
a puta palavra puta
não pelo que em si encerra
luz! luz!
mas pela forma impoluta.
mais vale égua
— trepada sem trégua
mais vale vaca
— estuprada a faca
mais vale lady
— mesmo que ela peide
mais vale mãe
— quer ganhe ou não ganhe
corte de seu poema
puta palavra pura
este alazão esconso
cravado em sua gema
o que fica
é um resto de pica
que freme
— sans cesse—
endurece
enobrece
& dignifica
o que
dobra
e fica
é só sua obra
o que sobra
do poema
germe
sêmen
que salta
&
— upa —
se catapulta de sua garupa
Cataguases, 1991
Poemas extraídos de NOITE AMERICANA DORIS: DAY BY NIGHT. Rio de Janeiro: Íbis LIbris; Cataguases: Poemação Produções, 2006. 168 p. ilus.
RE/TOMADA VISUAL
O Poeta na Praça
A Ferreira Gullar
findo o seu cantar
manhã já no meio
o galo-gullar
não cisca:
antes
levanta a crista
e logo ei-lo
esguio
elegante
pela praça do lido:
ereto e no prumo
rumo-leme
passa apressado o poeta
-ZAZ!
esbaforido
o poema bufa atrás:
— a poesia freme
Rio, 2001
Pound/O Mergulho
I would bathe myself in strangeness:
(…)
On to be out of this,
This that is all I wanted
— save the new.
Ezra Pound
A Sérgio Ribas Câmara
nas entranhas
das estranjas
me banhar
lá quero estar
lá onde vou
fico relax
& magnífico
lá quero estar
eu queimo
eu ardo
eu me acabo
lá quero estar
de novo
mais uma vez
make it new
lá quero estar
um mergulho
onde
new faces
luas ares
um mergulho
onde
o sol
não se esconde
lá quero estar
como fora
daqui está
o estopim
claro alarido
ensolarando o sonho
lá quero estar
São Paulo, 1977
CENA 2
tudo que em mim criança
e circo e clowns e dança
tudo que em mim convida
para a festa da vida
e roda roda-rota
rota-roda de acordes
tudo que me recorde
tutto che me a m´acord
ch´é una festa la vita
os pés sujos de infância
tem-pó e água límpida
as mãos suja de dolce
vita em meio: estrada
rota-receio-ponte
de vida e vitelloni
alegria que dança
tutto tutto que em mim
rimini-relembrança
minas em mim redime
tudo que em mim menino
rota-rito-fellini
Cataguases, mar. 2001
Quase-quases
para Sérgio França
quase-quases
quase maia-água
quase meia pata
quase meia cata
quase meia pataca
quase meia pacata
quase-quases
pataca
pacata
pataca
pacata
pataca
quase-quases
pacataguases
Cataguases dez. 1998
amada: flashback1
o retrato nas mãos
ser e grafia
e o tempo entre nós
por trás de cada dia
há que pesar o tempo
encontro grave e vago
no chíaroscuro momento
que só a nós pertence
não-pensamento
há que pesar o tempo
minha amiga minha amada
trazê-Io à luz da alegria
clarão entrevisto
nas frestas da noite
entre ti e tido e tudo
às margens do novo dia
pesá-lo e dizer
a corpo nos conduza
às veredas da aurora
1. Poema musicado por Carlinhos Vergueiro. A canção resultante, “Ser & Grafia” foi gravada
por Edinho Gonçalves no CD Dentro & Fora da Melodia, de RW.
ENVOI
RRRONALDO WWWERNECK
E A POEMAÇÃO
mar interior de minas
mar íntimo, labiríntico
absíntico!!!
egoistica
mente
a gente
se reconhece nos outros.
wwwerneck, doble w, triple w, veja:
alfarrrábico
wwwerborrágico
todo triângulo é vaginal
todo ângulo é marginal
— voragem, miragem, vertigem,
então, afinal — elogiá-lo?
— plagiá-lo?!
ronaldo sempre
em movie/mento:
orgiástico, frenético, cáustico
(um arquétipo) e multifacético.
isso mesmo: cinético
imaginador
— maiakovskiano
mallarmáico
dadaísta – pois
e depois “o mundo é táctil”
dúctil, réptil
“feito de tudo
e de nada”
“o universo / de sua cama”
você engana...
(que bacana! que sacana!)
até acho que ama...
Para você, desde BSB,
alcaparras, algazarras,
farras e fanfarras!!!
ANTONIO MIRANDA
28.01.2006
MELLO, Regina. Antologia de Ouro III. Museu Nacional da Poesia – Organização. Belo Horizonte : Arquimedes Edições, 2014. 136 p.
15 x 21 cm. ISBN 978-85-89667-50-0
Ex. bibl. Antonio Miranda, exemplar enviado por Regina Mello.
Panem et circenses
palavra pão coti
diano em ano
panaceia cota
de dano em dano
um verso e seu re
verso opus físsil pá
lavrador de ver
so panis et coellum pana
ceia et circenses se pa
larva de rapina em vão
um desvão do ver
bordado em pó e pano
ceia e um só coti
diano em ano ver
so um só me de
forma e fundo
pão e circo
in Selva Selvaggia /1976
Panem et circenses
palavra pão coti
diano em ano
panaceia cota
de dano em dano
um verso e seu re
verso opus físsil pá
lavrador de ver
so panis et coellum pana
ceia et circenses se pa
larva de rapina em vão
um desvão do ver
bordado em pó e pano
ceia e um só coti
diano em ano ver
so um só me de
forma e fundo
pão e circo
in Selva Selvaggia /1976
SLD 3– suplemento/literatura/difusão anexo ao "Cataguases"
16 - 6 – 1968 Cataguases, Minas Gerais: 1968 4 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda
um corpo sim
noite a dentro
remoer em re
moer a me
mória de mim
um corpo sim
cama adentro
cor e pó
em si dentro
silêncio denso
um corpo sim
o mim de mim
um corpo tombado
um corpo miss
tério penetrado
um corpo sim
um corpo amado
um corpo quente
a meu lado:
geograficamente.
matinal
o rosto contra o espelho
gilete ávida percorrendo
áspera
a face marcada
olhos gastos, óculos castos
mergulho no dia claro
aventura recomeçada
agora e a cada hora
círculo
e surge teu dorso dourado
e vem com a aurora teu rosto
e agora e ainda uma vez e outra mais
aqui estamos
no fragor de lençóis
emaranhados
alvos
nus
abandonados
aqui estamos
mar de arranhões
lentas mordidas
e o relógio tique-
taqueando o tempo
alvos
nus emaranhados
aqui estamos
mar de arranhões
saltam poemas de meus dedos
saltam poemas de meus dedos
saltitantes saltam
poemas soltos
salientes
saltitam em vão
e vão
pelo vão
vão por aí esses poemas
não mais os prendem os meus dedos
não mais meus
— não!
esses são seus
Cataguases, 01/08/18
*
MEUS POEMAS EM PORTUGAL - Ronaldo Werneck
na revista DiVersos 32 (2021)
A conceituada revista literária portuguesa "DiVersos/ Poesia e Tradução" acaba de publicar em sua edição n° 32, 2021, comemorativa de seus 25 anos de existência, uma miniantologia de meus poemas. José Carlos Marques, o editor da revista (que se mantém na versão impressa até hoje), abre o espaço (20 páginas) dedicado aos meus poemas com um bem apanhado texto crítico que oferece uma panorâmica de minha trajetória poética:
"Sem o podermos afirmar com segurança, vemos na poesia de Werneck não só o modernismo europeu e o modernismo brasileiro, como ainda toda a corrente da poesia visual e em particular do concretismo e do poema tipográfico, mas numa versão transbordante que contrasta com a austeridade e por vezes secura de algumas dessas correntes. Incluindo incursões no tropicalismo ou dele derivadas, da escrita à música, da fotografia ao cinema (o seu primeiro livro de poesia é um cine-poema!), numa explosão criativa que bebe tanto em todas as fontes literárias como no pulsar barroco de uma cinematografia como a de Glauber Rocha".
Vejam no link a seguir, o texto completo de José Carlos Marques e meus poemas publicados nessa edição da "DiVersos".
https://drive.google.com/file/d/1Wt7UIgk8kK2GGN3oFl78avuYdm-OjZ5d/
view?fbclid=IwAR3KYk1RXanPkAM7iPUZExUzhYpo_gxnZ2HJGXuJkqzE-YZaOeEvDpmY_SA
VEJA e LEIA outros poetas de MINAS GERAIS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/minas_gerais.html
Página publicada em julho de 2021
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