POESIA MINEIRA
Coordenação de Wilmar Silva
ELIZABETH RENNÓ
Elisabeth Fernandes Rennó de Castro nasceu em Carmo de Minas. Especializou-se em Literatura Brasileira com o Curso de Pós-graduação pela UNIFED/MG. Obteve o título de Mestre em Literatura Brasileira com a aprovação da dissertação A Aventura Surrealista de Ledo Ivo: Invenção e Descoberta, em 1985.
Autora de inúmeros prefácios de livros de literatura e palestras em várias cidades de Minas Gerais, é Presidente Emérita da Academia Feminina Mineira de Letras; Presidente da Academia Municipalista de Minas Gerais; Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e membro da Academia Mineira de Letras.
Possui 10 livro publicados: A Aventura Poética de Ledo Ivo, ensaio. Palavras e Parábolas, Cantata em Dor Maior, poemas. Rascunho de Minas, Um Esboço Histórico e outros ensaios, ensaios. Ronda Universal, poemas, Concha-Lua, romance e De Gil a João, prêmio Eduardo Frieiro para ensaio, em 2000, da Academia Mineira de Letras. Em 2002, obteve os prêmios Nelson de Faria da Academia Mineira de Letras e o prêmio Alejandro Kosé Cabassa da União Brasileira de Escritores, com o seu livro Concha-Lua. Memória Diamantina, ensaio, recebeu o Prêmio Centenário de Juscelino Kubistchek de Oliveira, da Academia Mineira de Letras em 2002.
Integrou várias Antologias, destacando-se A Poesia Mineira do Século XX, organização de Assis Brasil, Reflexos da Poesia Contemporânea no Brasil, França, Portugal e Espanha, da editora Universitária de Lisboa. Revista do Instituto dos Advogados de Minas Gerais; Revista da Academia Mineira de Letras; Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
Recebeu: Placa Comemorativa, em homenagem à Mulher, da Câmara Municipal de Belo Horizonte; Medalha Comemorativa dos 85 anos do Centro da Comunidade Luso-Brasileira; Medalha do Primeiro Centenário do Palácio da Liberdade; Medalha Santos Dumont – Grau Prata; Medalha Bárbara Heliodora da União Brasileira de Escritores; Grande Medalha da Inconfidência.
Fonte: www.ube.org.br
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BRANCA PAZ
Desdenhado o fruto
É a pena de Caim
Que perdura
Para sempre
Desperta Jerusalém
De teu sono profundo
Pois as trombetas de Jericó
Ressoam cânticos de guerra
O tom da discórdia
Tinge os maronitas
Judá se levanta
Israel se cobre de púrpura
Seguem as legiões de César
E deixam rastros de sangue
No deserto cindido
Cinge Marco Antonio sua ilharga
Levantam-se guerreiras
As potências triunfantes
Dominando povos e gentes
Despojados e vencidos
E se sucedem astros-reis
Napoleões de outrora
Furores arianos
Donos de holocaustos
Novas legiões manipuladoras
Que deixam fuzis bombas e mísseis
E implantam engenhos nucleares
E cargas bacteriológicas
A pessoa única e só
Tem destino transviado
A busca do eterno se despreza
Não se reconhece o irmão vietnamita
Que se edifique a paz
Cotidiana e santa
Doméstica e esotérica
De laços fraternos e gavinhas eternas
Que caiam os pétreos muros
Que pontes se levantem
E o cavaleiro da espada chegue a poente
Sobre barreiras sangrentas transpostas
Que as cores humanas
Sejam newtonianas lembranças
De brancura absoluta
Em total integração
Que paterna solicitude
Esteja no despertar do infante
Em seu corpo e em sua alma
Em projeto de vida em ascensão
E que a paz chegue
E se dimensione
Cobrindo a convulsão dorida do planeta.
(Cantata em dó maior, 1997)
A MONTANHA ENCURRALADA
Sempre foste para mim conforto e pena
Hoje só resta em ti o meu lamento
No derruir que só teu corpo encena
Em vascas dores de feroz tormento.
Arrancam-te seiva, cor e sangue
O uberoso ventre se fez atro
Sem a riqueza férrea feita exangue
No devastar deste cruel teatro.
Chega a soluço a voz da passarada
No réquiem de tua voz adormecida
Coro sonoro proteção amada
Em que descia ar de pura fonte
Dos pétreos braços de encosta florida
Ao verde de teu belo horizonte.
RENNÓ, Elizabeth. Ronda universal. Belo Horizonte: Anome livros, 2006. 130 p. 15x21 cm. Projeto gráfico de Hugo Dantas e Wilmar Silva. Capa: galáxia espiral.
VELAS
Espuma flutuante
largada passagem
de um barco
destrói
a memória histórica
desta terra
aportada
por reinóis
em que as torres das igrejas
despontam
nas pontas dos morros
onde acima dos orixás
São Jorge
e o Senhor do Bonfim
salvaguardam
através dos séculos
os limites
da Baía de Todos os Santos
Relembrando tua esteira
surgem
Tomé de Sousa
o Caramuru
e o Bispo Sardinha
nas bordas do teu areal
aportados
e resgatados
de suas injúrias
ou desacertos
velando as velas
de teus barcos
e de teus altares.
CONTEXTURA
Sem loas mil que já tiveste tanto
Por não querer exagerar meu feito
Quero louvar-te neste rude canto
Menestrel primário, vate imperfeito
Que ao pedir à palavra o som de um harpejo
Escande sílabas, esconde o pranto
E forma versos sem nenhum lampejo
E os deposita sob o azul do manto
Tota pulchra es Maria celebrada
Por mares, areias, rios, amenas
Estrofes de Vila Rica encantada
Tecidas dores de aramado alvor
Representando seculares penas
Pela túnica do inconsútil amor.
RENNÓ, Elizabeth. Quatro estações mais uma - Poesia.
Mariana, MG: Aldrava Letras e Artes, 2013. 128 p. Arte da capa: Deia Leal. 14X21cm. ISBN 978-85-89269-60-5. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.
IMENSIDÃO
Do sial emana
a secura do solo
Aos olhos ávidos
desfilam os recortes da Tarde
e a aridez saariana.
Ao redor
por seus limites terrenos
circundam
as águas dos mares da Grécia
Toda a massa
se forma de suas águas
e todo aquele líquido
já não basta
para meus haustos.
A PALAVRA INADIMPLENTE
A palavra inadimplente
foge escorrega
não se faz ver
Sem ela o sentido falha
A folha
imaculada se torna
E o sentimento
que jorra do peito
enrijece emudece
recolhe-se em concha silente
e desaparece.
OLHAR
Meus olhos
buscam a eternidade
e alcançam
apenas seu vislumbrar
ao encontro
das complexidades
que rodeiam
teu impenetrável Ser
imerso e imenso
de interioridades.
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RENNÓ, Elizabeth. NATIVIDADE. Poemas para medir e sobre/viver. Apresentação de J. B.Donadon-Leal. Mariana, MG, Editora Aldrava Letras e Artes, 2021. 76 p. ISBN 978-65-995843-5-0
Ex. bibl. Antonio Miranda
HOSANA
Onde estará
o verdadeiro espírito de Natal
na veredas verdejantes
no canto dos passarinhos
no aroma dos amores-perfeitos
nos ramos dos azevinho?
O Espírito do Natal
estará na Árvores
de bolas douradas
nos laços dos presentes
na fartura das ceias
nos presentes trocados
enrolados por fitas de cetim?
Será este o Espírito do Natal
na comunidade hostil
em romarias às lojas
pelas calçadas molhadas
ou nas compras desordenadas?
O verdadeiro espírito do Natal
está no Amor
na solidariedade
nas orações de uma Noite Santa
à beira do Presépio
na aceitação do Outro
que supera questões e desarmonia
e se postra aos pés do Senhor
suplicando graças ao Pai
Na meditação do Mistério encarnado
louvemos e cantemos aleluias!
elevemos nossas palmas
e glorifiquemos o Menino
que nos foi dado.
ESCREVER
escrever
é sofrer
expor a alma
o corpo
o sangue
o martírio
o delírio
o existir
Restam apenas
o sonho
o desejo
os amores vãos
na eternidade
sonhada
as palavras
de Marguerite
ressoam
em mim
na escrita
que é corpo
que escorre
das mãos
que perscrute
pensamentos
e passa
como tudo passa
nada mais
que a vida
pelos séculos
dos séculos
Amém.
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Página ampliada e republicada em maio de 2023.
Página ampliada e republicada em abril de 2107
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