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ARCADISMO
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
Cláudio Manuel da Costa (Vila do Ribeirão do Carmo, Minas Gerais, 5 de junho de 1729 — Vila Rica, Minas Gerais, 4 de julho de 1789) foi um advogado, minerador e poeta português do Brasil Colônia. Destacou-se pela sua obra poética e pelo seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Foi também advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e amigo do Aleijadinho, a quem teria possibilitado o acesso às bibliotecas clandestinas que seriam mais tarde apreendidas aos Inconfidentes. Como poeta, transitou entre o Barroco - marca dos seus escritos de juventude, enquanto era estudante de Cânones na Universidade de Coimbra (1749) - e o Arcadismo - a partir do seu contato com o iluminismo, que concebia práticas mais racionais nas belas-letras. Mais informações na wikipedia.
Ver também: CLAUDIO MANUEL DA COSTA em ITALIANO/PORTUGUÊS>
POESIA SEMPRE. Ano 18. 2012. Número 36. Edição dedicada a Minas Gerais. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional, 2012. Editor Afonso Henriques Neto.
Sonetos I
Para cantar de Amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento, Ouvi pois o meu fúnebre lamento, Se é que de compaixão sois animados:
Já vós vistes que aos ecos magoados Do trácio Orfeu parava o mesmo vento; Da lira de Anfião ao doce acento Se viram os rochedos abalados.
Bem sei que de outros Génios o destino, Para cingir de Apoio a verde rama, Lhes influiu na lira estro divino;
O canto, pois, que a minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um peregrino, Se faz digno entre vós também de fama.
VII
Onde estou? Este sítio desconheço: Que fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado, E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado; Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera!
VIII
Este é o rio, a montanha é esta, Estes os troncos, estes os rochedos; São estes inda os mesmos arvoredos, Esta é a mesma rústica floresta.
Tudo cheio de horror se manifesta, Rio, montanha, troncos e penedos, Que de amor nos suavíssimos enredos Foi cena alegre, e uma é já funesta.
Oh! quão lembrado estou de haver subido Aquele monte, e as vezes que baixando Deixei do pranto o vale umedecido!
Tudo me está a memória retratando, Que da mesma saudade o infame ruído Vem as mortas espécies despertando.
XIII
Nise? Nise? Onde estás? Aonde espera Achar-te uma alma que por ti suspira, Se quanto a vista se dilata, e gira, Tanto mais de encontrar-te desespera!
Ah! se ao menos teu nome ouvir pudera Entre esta aura suave, que respira! Nise, cuido que diz; mas é mentira. Nise, cuidei que ouvia; e tal não era.
Grutas, troncos, penhascos da espessura, Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde, Mostrai, mostrai-me a sua formosura.
Nem ao menos o eco me responde! Ah! como é certa a minha desventura! Nise? Nise? Onde estás? Aonde? Aonde?
XXVIII
Faz a imaginação de um bem amado Que nele se transforme o peito amante; Daqui vem que a minha alma delirante Se não distingue já do meu cuidado.
Nesta doce loucura arrebatado, Anarda cuido ver, bem que distante; Mas ao passo que a busco, neste instante Me vejo no meu mal desenganado.
Pois se Anarda em mim vive, e eu nela vivo, E por força da ideia me converto Na bela causa de meu fogo ativo,
Como nas tristes lágrimas, que verto, Ao querer contrastar seu génio esquivo, Tão longe dela estou, e estou a tão perto!
ATO – REVISTA DE LITERATURA. Guesa Errante. NO. 8. Belo Horizonte: Gráfica e Editora O Lutador, janeiro de 2011. Editores: Camilo Lara, Rogério Barbosa da Silva e Wagner Moreira. ISBN 1982-7482 21,5 X 52 cm.
EPÍSTOLA A CRITILO
* Página ampliada e republicada em março de 2024.
Página publicada em agosto de 2015
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