RUBENIO MARCELO
É poeta escritor, compositor, ensaísta e revisor. Membro titular da Cadeira 35 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), da qual é atualmente integrante da Comissão de Cultura e foi secretário-geral (até outubro/2020). Autor de várias obras (livros e CDs), destacam-se nas suas publicações mais recentes, além do CD "Parcerias", os livros "Horizontes D'Versos", "Voo de Polens", "Veleiros da Essência", "Palavras em Plenitude" (prosa e crítica cultural, Ed. Life) e "Vias do Infinito Ser" (poemas, pela Ed. Letra Livre), este - já em 2ª edição - indicado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) como leitura obrigatória para os Vestibulares 2021/2022/2023 e para o triênio do PASSE. É membro correspondente da Academia Mato-Grossense de Letras (AML). Foi Conselheiro Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul. Reside em Campo Grande/MS.
Veja também:
ACERCA DA CANÇÃO “PILATOS”, de Rubenio Marcelo e Raquel Naveira (por: Ana Maria Bernardelli)
MARCELO, Rubenio. Vias do infinito ser (poemas). Apresentação por Paulo Sérgio Nolasco dos Santos. Prefácio por José Fernandes. . Posfácio: Olga Maria Castrillon Mendes Campo Grande, MS: Letra Livre, 2017. 192 p. 15 X 21 cm. ISBN 978-85-86399-49-7 Ex. bibl. Antonio Miranda
PEDRA FUNDA MENTAL
Veleiros da Essência
vêm de horizontes nunca vistos
e trazem à proa
o mapa das messes inabituais
num tempo infinito
de invictas bandeiras e constelações...
trazem o lábio astral e o astrolábio
das meditações azuis
que tecem sublimes mareações...
têm adriças de sol e cordoalhas de mitos
que atesam a fruição
de transcendentes singraduras...
chegam altivos e sem defensas
traçando itinerários
coesos
afinados com insólitas conhecenças...
transportam sagas ancestrais
e trazem nas gáveas
núncios de auroras ressurgentes...
com místicos galhardetes
mirando os destinos cor de nuvens
afagam elísios
que sibilam prelúdios e vilancetes
e sabem dos seus timoneiros
trajados de brim
em brancas manhãs...
planam em silêncio na crista do verbo
|atentos ao mínimo aceno|
ao barlavento da criação
entre códigos, gaivotas e plenilúnios...
singram íntimas dádivas
para ampliar as escotilhas do sonho
e plenificar faróis nos
e s t a i s
da vaguidade...
vêm do estro
para nos desancorar das ilhas perdidas
vêm para fecundar correntes
no estio das vigílias
e para nos (e)levar
à paz das alvíssimas florações
dos portos longínquos...
Sal da existência
I.
no latente diário de bordo
da estação das verdes aragens
desadormecem
revelações e sagas desveladas...
sangram clepsidras
e flutuam pontiagudos espasmos...
[antigas inquietudes avivam
o ventre nu da memória].
II.
há ilusões, tesouros e querubins
nas rotas dos albatrozes
perdidos
há sortilégios e salmos esquecidos
em tardes carmins...
há pendões de segredos brotando
das lanças fincadas no tempo
demarcando ilhas
arenas e praças ressurgentes...
III.
inexiste a justificativa
do eco azul que excita o penhasco...
é inútil o penhor
do asco que foi volúpia
sem cópia pelos divãs...
não há nenhuma razão no empenho
e nas reprocuras
que perecem no tombadilho sombrio das maresias...
não há rimas e romãs
nem travessias.
IV.
infindas esperas | em fendas | em eras |
já não reaprendem o que era
o cio das íntimas expectações
nas quilhas dos dias...
entre o cenho do devenir e a lividez do silêncio
um terçado espreita as horas...
|faz-se estio o entressonho
V.
no aguardo da caravana do crepúsculo
a certeza medonha
de anúncios e desolação.
em cristais transfigurados
vem a brisa que edifica a lágrima
vêm os dardos que demarcam
o sol da resistência
o sal da existência.
Uma antecipação do livro:
SINAL DE SI *
entre a cruz
e a encruzilhada da palavra
[sem talvez e sem dar vez
à morte cerebral da ideia]
um poema dá sinal de vida
– quase no vermelho de si
celebra um sinal verde
em destino vicinal...
por sinal
às vezes
produto da dúvida
trafega ao final da luz...
vezes outras
puto da vida
renega o sinal da cruz.
___________ ® Rubenio Marcelo
* poema inédito do meu novo livro "Vias do Infinito Ser", que se encontra(va) no prelo, pela Ed. Letra Livre. Traz prefácio do mestre José Fernandes e apresentação de Paulo Nolasco, além de posfácio de Olga Maria Castrillon Mendes. Na 'orelha': Antonio Carlos Secchin, Gilberto Mendonça Teles e Henrique de Medeiros.
O poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin, timbra na orelha/aba do livro: "Na poesia de Rubenio Marcelo, em vez de o ser humano habitar o cosmo, é o universo que reside no homem. Tudo emana da força da poesia, e é com essa luz de dentro, deflagrada pelo poder do verbo, que subitamente as coisas ganham forma e novo sentido. Como se lê em um de seus poemas, "palavras saltam muralhas e viram estrelas".
MARCELO, Rubenio. Palavras em plenitude. Prosa e crítica cultural. Campo Grande, MS: Life Editora, 2018. 240 p. 16 x 23 cm. Apresentação por Valmir Batista Corrêa. Prefácio por Geraldo Ramon Pereira. ISBN 978-85-8150-454-4. Ex. bibl. Antonio Miranda
Destacamos, para os leitores de nosso Portal de Poesia Ibero-americana, os textos de Rubenio Marcelo sobre a poesia brasileira, com destaque para a criação mato-grossense do sul, a começar por Manoel de Barros, o vate do Pantanal e do Brasil! E a “imortal feiticeira do verso” — a goiana Cora Coralina, e também o nosso eterno Gonçalves Dias.
E uma plêiade de poetas de seu relacionamento como leitor — Rubenio Marcelo, um “apaixonado pelas palavras” — como ressalta Valmir Batista Corrêa, na apresentação do presente livro.
Inclui textos sobre a obra de Henrique Medeiros, Raquel Naveira, Sylvia Cesco, Ângelo Arruda, sobre o “Bazar dos Poetas” de Darci e Ileides, Hélio Serejo, Dom Francisco de Aquino Corrêa, Elisabeth Fonseca, Ileides Muller, Darci Cunha, Walesca Cassundé, Adair José de Aguiar, Reginaldo Albuquerque, Sinval Martins, Janet Izabel Zismmermann (Jiz), Geraldo Ramon, Rubens Costa Marques, Rogério Fernandes Lemos, Gildásio Mendes, Durval Filho, Anísio Moreira, Oliva Enciso, Iolete Moreira, Marcos Estevão dos Santos Moura, Pompéia Barbosa Pereira e, com todo direito, sobre a poesia (sua/suada, pulsante) de Rubenio Marcelo.
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TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
MARCELO, Rubenio. Veleiros da essência. 80 poemas escolhidos pelo autor. Campo Grande, MS: Life Editora, 2014. 192 p. 15x21 cm. Capa: Endrigo Valadão. ISBN 978-85-8150-155-0. Ex. col. Antonio Miranda
“Vem de largos horizontes a poesia de Rubenio Marcelo, portando transcendentes singraduras. Tal como os veleiros de seus poemas, sua essência são mitos, alimentados por sagas ancestrais e auroras ressurgentes”. CARLOS RIBEIRO, da Academia de Letras da Bahia.
Gaivotas
I.
Na barca veleira
dos meus sentimentos
gaivotas pousam cansadas,
como a procurar as luzes efêmeras
das pálpebras do tempo...
Em revoadas, tecem auroras
no vértice das chegadas e partidas
que me eternizam lembranças...
II.
Estas gaivotas
me ardem palavras matinais
e, à noite,
confundem-se
com as estrelas irrequietas
do meu espaço mental...
III.
Deixam-me insone
para vigiar
as minhas intenções
e o sarcástico segredo
do fogo dos desejos
ante as dádivas
das direções anunciadas
pelos anjos sem trombetas...
VI.
Estas gaivotas
emprestam-me suas asas
para que eu sinta
[por entre as sombras das realidades caolhas]
a leveza de um novo olhar
no claro-azul
das mutações circundantes...
V.
Estas gaivotas
reinventam rotas
nas minhas retinas...
Adornam a minha solitude:
entendem as certezas
dos meus desalentos
e equilibram o voo
das minhas incertezas...
Infausta criatura de rua
Ali, naquela esquina ensombreada,
uma senhora idosa estende a mão...
Sem forças, leva a vida na calçada,
haurindo os coquetéis da servidão...
O sistema da vã encruzilhada
do mundo deu-lhe a tal obrigação.
Assim, poucos têm tudo; e muitos, nada;
uns repousam em luxo, outros no chão.
Certamente, queria esta senhora
estar em sua casa a esta hora,
descansando ao sabor de um bom lençol..,
Porém, sem condições, vive ao relento,
aceitando, passiva, o sofrimento,
pois este é o país do futebol.
DE ONDE VEM A POESIA...
(para Manoel de Barros)
de um ponto infindo
vindo e indo
em contraluz
ou de uma infinita mira
que gira e gera
estações de neve e fogo...
vem do instante vertical
da ausência e da urgência
perto-distante da espera
vestida de manhãs...
vem em silêncio
sobrepaira
e vira pássaro
celebra horizontes...
Mesa rendida
MesA
Mesa aseM
Redonda adnodeR
Mesa redonda adnodeR aseM
Mesma mesa redonda adnodeR aseM amseM
Mesmíssima mesa redonda adnodeR aseM amissímseM
Mesma mesa redonda adnodeR aseM amseM
Mesa redonda adnodeR aseM
Redonda adnodeR
Mesa aseM
AméM
MARCELO, Rubenio. Voo de polens. 100 sonetos e outros rebentos poéticos. Campo Grande. MS: Life Editora, 2012. 192 p.
VOO DE POLENS
Que se fecundem corações e mentes
e fortemente pulsem horizontes
em novas fontes grávidas de voos
buscando os ventos ou os flamboyants...
Em tons vibrantes, ritos plasmam céus,
descobrem véus e polinizam flamas:
são anagramas dos meus ideais
e os madrigais que flertam minha voz...
De fora em foz, os meus diversos portos
vislumbram hortos, saem das vindimas
em férteis ímãs de sublimações...
Que as florações insones sejam cantos
e que estes tantos versos resolutos
concebam frutos doces como o sonho!
NOSSO (DES)CASO
Não por acaso, o nosso caso está perdido:
Dele fizemos pouco-caso e – assim, de fato –
A essência da emoção perdeu seu arrebato
E o nosso casuísmo ornou todo o sentido...
Se em nós não mais existe o lume prometido,
Constate, por favor, agora o que eu constato:
Nosso próprio descaso, em seu anonimato,
Deixou o nosso caso assim desvanecido...
Em todo caso, a vida segue e, sem pesar,
é preciso entender, com natural pulsar,
que o nosso caso está curtindo o seu ocaso...
Caso me encontre, assim num lance casual,
Nem tente relembrar motivos do final,
Pois sei que o nosso caso já não vem ao caso!
GRAAL DAS METÁFORAS
Sonetos e outros Poemas
Santa Cruz do Rio Pardo, SP: Editora Viena, 2007.
Rubenio Marcelo é um polígrafo prolífero... Vai do soneto mais tradicional ao verso livre, do cordel de fundo popular aos poemas de cunho social, com um vocabulário que deve entusiasmar os lexicógrafos de nossa poesia. Graal das Metáforas é um belo livro: pela generosidade do conteúdo e pela qualidade gráfica de sua feitura. Antonio Miranda
Graal das Metáforas
Nestas cálidas tardes peregrinas,
Se estiveres já sem inspiração,
Ante espelhas da desfiguração.
Que perverte a céu das tuas retinas ...
Se estas haras infaustas de rotinas
Demudarem teu ser, tua alegria;
E se vires fugir a primazia,
Devida - deste mundo. - à avareza ...
Vem saciar tua sede de beleza
Nas sagradas águas da poesia! ...
Na devir deste cetro venerando,
Um clarão logo exclui as ignotos.
Na rota das indômitos pilotos,
Os mistérios azuis vão rebrotando ...
O graal das metáforas vai doirando
Os brasões da Verbo, com sutileza;
E a Arte, esta divina alquimia,
Vai transfazendo sanha em realeza.
Nas sagradas águas da poesia,
Vem saciar tua sede de beleza! ...
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De
Rubenio Marcelo
Horizonte d´Versos
Poesia Reunida & Inéditos
Campo Grande, MS: Editora Life, 2009
440 p. ISBN 978-85-62660-04-7
Colibri
versos pairam
sobre o poema que eu sonhei
mas não escrevi
minhas palavras
carregam aos ombros
um verde colibri
a plumagem brilhante
da poesia
passeia ao sol
da pele fecunda
da criação
hoje
estio e frieza,
aspereza, estéril espinho
amanhã
quero flores, jardins
e néctares para o meu cuitelinho...
Palmilhando o mundo hipócrita
Com pé atrás, tomei a decisão:
bati o pé, botei o pé no mundo...
E eu, que sempre tive os pés no chão,
de pé pra mão, não perdi um segundo.
Pé ante pé, num mundo em pé de guerra,
notei que, aos poucos, fui perdendo a fé...
Aí pensei voltar os pés pra terra,
mas era tarde... E já não dava pé.
Hoje, de orelha em pé, eu aprofundo
a minha condição de ser no mundo...
Num mundo que taxa aquilo que é crime.
... Este tal mundo é o mesmo mundo imundo
que pisoteia os fracos (e os oprime),
mas lambe os pés dos trastes do regime
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A Arte Maior de Rubenio Marcelo & Jorge Sales
O novo CD de Rubenio com seu parceiro capixaba Jorge Sales está circulando, com as vozes de Cecitônio Coelho, Mara Veloso, Barbosa Lima, Johnny Paz, Marcão, Rubenio Marcelo e músicos. Lançamento do selo ZUADA.
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JORGE SALES: http://jorgesales.com.br/category/musicas
RUBENIO MARCELO: http://www.acletrasms.com.br/membro.asp?IDMCad=8
MARCELO, Rubenio. Reticências... Sonetos, cordéis & outros poemas. Campo Grande, MS: 2003. 124 p. 16x21,5 cm. Capa: Lennon Godoi. Prefácio: Antônio Cunha Lacerda Leite. Impressão e acabamento: Editora Pantanal. . “ Rubenio Marcelo “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Fragmentos
Tarde brumosa sem crepúsculo,
Sem encantamento no infinito...
Tal qual esse contido grito
Que há tanto tempo acumulo.
Navalhas cortam o meu músculo,
Dilacerando um peito aflito.
Na minha cabeça, um monolito
Esmaga um corpo sem estímulo.
... E a tarde morre, lentamente,
Ao som de um sino condolente
Em badaladas de cilício...
E eu, em cisalhas de tormentos,
Tento juntar meus fragmentos
MARCELO, Rubenio. Estigmas do tempo. Campo Grande, MS: 2001. 119 p. 16x22 cm. Capa: Agilitá Propaganda. “Orelhas” do livro por Francisco Xavier Fontenele Nete e Raquel Naveira. Prefácio: Geraldo Ramon Pereira. “ Rubenio Marcelo “ Ex. bibl. Antonio Miranda
MARCELO, Rubenio; LIMA, Fernando Cunha; MILANEZ, Odir. A Odisseia de Xexéu, Xana e Xibina – Uma saga do cotidiano. Campo Grande, MS: Editora Life, 2009. 128 p.15x21 cm. Capa: Endrigo Valadão. Orelha por Daudeth Bandeira. “Prefácio” em versos por Ronaldo Cunha Lima. ISBN 978-85-62660-00-9 “ Rubenio Marcelo “ Ex. bibl. Antonio Miranda
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MAIS POEMAS DE RUBENIO MARCELO
Miscigenação
Está na cara
que a minha cara
é nhambiquara,
é sarará,
é potiguara,
sempre será
assim mulata,
branca, pacata,
tupinambá,
cor de alfena,
negra, morena,
alvissareira,
parda, trigueira,
feição cafuza,
tez mameluca,
em paz profusa,
enfim brazuca!...
Eu sou pardo, ameríndio, sou mulato,
sou caboclo, moreno, sou castiço,
sou tupi, sou do mar, sou joão-do-mato,
eu sou branco, sou negro, sou mestiço.
® Rubenio Marcelo
A palavra guardada
É preciso nutrir o segredo cristalino
daquela palavra guardada
no núcleo do nosso ser...
Calada, ela pode nos mostrar o veleiro
que nos espera em sóbrias antemanhãs...
A escalada da palavra
precisamente guardada
sublinha a sensatez das conjeturas,
agasalha a previdente chama
das profundezas da alma,
renova as pétalas do porvir...
É necessário florir o desvelo
que doura e apascenta os imperceptíveis
tesouros da essência...
É preciso saber suprir,
em regulares aconchegos do desejo,
a intimidade lúcida do silêncio.
A palavra bem guardada
avigora-se, resguardada,
aguardada,
da aridez trasladada
para a estação das messes...
® Rubenio Marcelo
ALVOS VERSOS OU RIMAS CARMESINS
a mira procura o alvo
o verso mira o eterno
o alvo eterniza a pira
o éter inspira a brisa
que adorna a cor da manhã
amanhã
sol dourado ou nuvens de cinza
flamboyants floridos
ou horizontes carmesins...
o homem tem a fórmula
desta aquarela
universo rima com eterno
e terno rima com verso
a lira ruma pro sonho
a sanha assanha o afã...
quimera é espera vã
alvo rima com mira
verso rima com ira?
® Rubenio Marcelo
VOO DO BESOURO
Uma flauta sibila
movendo os meus sentidos
e me envolvendo...
Qual um rio cristalino
a serpentear pelas minhas entranhas,
cenários-zumbidos
passam de repente.... em cores
fecundantes de prazer.
Aceno pra tudo,
tudo se faz cena e expectações
no painel surreal do sobretempo.
Sou menino desajeitado
transformando compactos élitros
em asas de horizontes...
Sorrio e flutuo
na transversalidade melódica
deste voo-besouro...
® Rubenio Marcelo
ESTAÇÕES DOS VERSOS MEUS
Diversos destinos adormecem
nas estações dos versos
que atravessam
as pontes do meu olhar.
Meus olhos sabem de cor
as trilhas inalcançadas
que se escondem
em paisagens de solidão.
Os versos que me percorrem
voam nas brancas asas
dos pássaros da manhã...
E retornam no gorjear de um sonho
que eu fecundo
na face do horizonte...
Ah... estes versos insones
trazem segredos de nuvens
e olores de lírios transitórios...
Abrem novos caminhos,
bailam na chuva, colorem jardins
entre brisas marinhas
e girassóis de pedra...
Ah... estes versos versáteis
que enxugam o pranto da primavera,
vencem os ofícios dos vendavais
e seduzem o silêncio
das noites outonais.
® Rubenio Marcelo
LUZ...
A luz àquele ser que, iniciado
nos princípios sublimes da existência,
renova a floração da sua essência
e renasce esquecido do passado.
A luz àquele que contempla o fado
no cetro apostolar da providência
e segue em natural obediência
ao rito perenal do aprendizado...
A luz àquele que busca a verdade
na paz transcendental da claridade
gerada da virtude que seduz...
A luz àquele ser que se prepara
pra conceber pra sempre a aura clara...
A luz àquele que sabe ser luz!
® Rubenio Marcelo
GLOBO DA MORTE
No ziguezaguear estrepitante
de suas colossais motocicletas,
em alta adrenalina, os cinco estetas
vão imortalizando aquele instante...
Num habitáculo esférico, eletrizante,
marchetado de luzes inquietas,
estrugem máquinas, em loucas roletas,
aos olhos da plateia vigilante.
Alfim, de súbito, cessam os fragores:
os alazões de ferro e seus senhores
voltam às posições iniciais.
Do globo, abre-se uma portinhola...
Os acrobatas saem da gaiola
e novamente são meros mortais...
® Rubenio Marcelo
GENUFLEXÃO
(Ou: "Uma pecadora e sua cruz")
A noite esmaecendo em leniência...
O templo inda fechado. E a meretriz,
assaz despudorada e tão beliz,
entanto busca a paz da sua essência.
Por um instante, queda-se em latência,
com sua consciência por um triz...
Porém, bem devagar, curva a cerviz
e, genuflexa, faz grã penitência...
Contrita, ante a friagem da calçada,
ressonha amanhecendo aliviada
chorando os seus pecados pra Jesus...
Deixa-se pela fé ser carregada;
pede perdão a Deus, compenetrada,
e parte carregando a sua cruz...
® Rubenio Marcelo
RELENTO
Mais uma noite chega de repente...
E uma imagem trêfega, franzina,
Procura o seu descanso de rotina
Na rispidez do chão indiligente.
Logo adormece na calçada ardente,
Cumprindo a compulsão da sua sina;
Mas sonha que uma chuva repentina
Está molhando o seu corpo indolente...
Acorda e vê que o sonho é verdadeiro;
Levanta-se, buscando um paradeiro,
E sai cambaleando em desalento...
Jogada ao léu na rua da amargura,
Aquela desditosa criatura
Sabe de cor as leis do sofrimento.
® Rubenio Marcelo
BUSCA INSENSATA
Plena segunda... Depois da rotina,
Sai do batente, pensando na vida...
“Esta semana vai ser bem comprida!”,
Reflete e tenta fugir da neblina...
Contempla o caos e buzina e buzina...
Olha pros lados e não vê saída.
Querendo a paz num troféu de bebida,
Para e adentra o boteco da esquina.
... Umas e outras – ‘saideira’ e tal –
Causam surpresas, deixam vistas turvas,
Entortam mais as arriscadas curvas...
No fim da noite... Na reta final...
Uma sirena de dor se aquieta:
Tudo termina no final da reta.
® Rubenio Marcelo
PARCELA
1.
no azul do poema
a luz da canção
agora um clarão
antes tão pequena
não mais quarentena
que se encastela
agora eu e ela
no leme do dia
rumo à escadaria
cantando parcela...
2.
assim, infinito
nessa plenitude
meus pés, amiúde,
procuram o grito
perpassam o mito
ardente aquarela
aurora e estrela
que já predestinam
sazões que sublimam
à luz da parcela...
3.
oh tempo-verdade
gravando o eterno
já não mais hiberno
a outra metade
oh fertilidade
que tudo revela
com justa cautela
quero ressurgir
para refletir
cantando parcela...
4.
no bico do corvo
deixei o meu múnus
e os importunos
punhais do estorvo
agora não sorvo
profana querela
há porta, há cancela
colunas, mansão
adeus solidão
no tom da parcela!
5.
permanentemente
honrarei o rito
quesito a quesito
manhã, sol-poente
se dente é por dente
ardente é aquela
retina que zela
o perfeito instinto
no áureo recinto
do canto-parcela!
® Rubenio Marcelo
TAVERNA
Na inquietude do vazio,
na existência do vulnerável,
há uma taverna
repleta de ébrios
consumidos pelo vício
dos impulsos pontilhados...
Às vezes, quase desacordados,
balbuciam, jogam dados...
Inocentes,
mastigam alardes
em insípidos matizes...
Recordam amores impressentidos,
pressentem dores e diretrizes
nas torres da solidão...
Nas esquinas do nada,
esfarrapados, vagueiam...
Dançam, sorriem,
aplaudem-se
e - assim - são vãs cervizes...
E, assim, vão
aos
d
e
s
l
i
z
e
s
.
.
.
f e l i z e s . . .
® Rubenio Marcelo
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Antonio Miranda e Rubenio Marcelo no lançamanto da pedra fundamental da nova sede da Academia Sul-mato-grossense de Letras, em Campo Grande, MS, dia 12/12/2011
Vejam o texto e as fotos do:
REENCONTRO DE RUBENIO MARCELO E ANTONIO MIRANDA
REENCONTRO DE RUBENIO MARCELO E ANTONIO MIRANDA
Encontro com o Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, o poetíssimo Antonio Miranda (também Professor Emérito da UnB e um dos maiores nomes da poesia nacional contemporânea). Na pauta nossa de duas horas (na BNB) tratamos de vários assuntos referentes à Literatura (especialmente a do nosso centro-oeste), falamos acerca da valorização do Livro, da poesia como ato de leitura e exercício crítico, das feiras literárias e bienais (ele que coordenou a inesquecível BIP - Bienal Internacional da Poesia, 2008; e que está indo agora para Lima/Peru, onde a sua obra e o seu espetáculo poético musical “Tu País está Feliz” serão apresentados).
Poeta de vanguarda por essência e autor de dezenas de obras, Antonio Miranda contou-me de seus projetos atuais (e da BNB) e, ao final, permutamos os nossos livros mais recentes.
Viva a Literatura! (Via Facebook, 15/08/2016)
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TEXTOS EN ESPAÑOL
RUBENIO MARCELO
PARTIDA Y AÑORANZA
I.
Era mañana, brisa mansa,
Cuando dejé Fortaleza,
Con un mixto de tristeza,
Tranquila, fe y esperanza...
Trago todo en el recuerdo,
Jamás yo pude borrar
Tres faces a gesticular:
Mi padre, mi madre, mi hermano.
Fue con dolor en el corazón
Que dejé mi lugar!
II.
Dejé mi hogar, mi calle,
Mi guitarra trovador
Que acunó mi amor
En tantas noches de luna!
Salid con el alma desnuda
Y, en mi pecho, una congoja,
Acordando mi suelo, mi mar
Y subiendo en el avión...
Fue con dolor en el corazón
Que dejé mi lugar!
III.
Desde arriba, pude ver
Mi Playa del Futuro.
En aquel instante, perdí interés,
Me dio ganas de descender.
Pero como iría a hacer?
Si no aprendí volar;
Si no podía quedar
Ni cambiar mi decisión.
Fue con dolor en el corazón
Que dejé mi lugar!
IV.
Y en el frío aeroplano,
Veloz y cortando los aires,
Vi yendo mis verdes mares
Y los cocotales soberanos...
Vi mis miles de planes
Y las brumas de mi soñar
Suman, queden allá
En el puerto de la soledad.
Fue con dolor en el corazón
Que dejé mi lugar!
V.
La gente crece sin ver
Que el mañana es oculto;
La gente queda adulto,
Hace mil cosas sin querer...
Parte en un amanecer,
Aún queriendo quedar;
Finge sonreír, no llorar,
En un largo ahogo de mano...
Fue con dolor en el corazón
Que dejé mi lugar!
VI.
Todo pasó, estoy cambiado,
Lejos del terruño natal.
Sólo la añoranza es igual,
Con ella estoy codo con codo...
Cuando me acuerdo del pasado
Y quedo a meditar,
Ella viene a acunarme;
Sin ella, yo no vivo no...
Fue con dolor en el corazón
Que dejé mi lugar!
AMANHÃ
Letra da música: poema de ANTONIO MIRANDA
Música e interpretação de RUBENIO MARCELO
https://www.youtube.com/watch?v=LM2r28Hw6qY
Página republicada em dezembro de 2007; ampliada e republicada em janeiro de 2010 e em dezembro de 2011. Atualizada em janeiro de 2012. Atualizada em junho de 2017. Atualizada em julho de 2019.
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VEJA e LEIA outros poetas de MATO GROSSO DO SUL em nosso Portal:http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/mato_grosso_sul/mato_grosso_sul.html
Página republicada em julho de 2022
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