VESPASIANO RAMOS
(1884 – 1916)
O poeta maranhense Joaquim Vespasiano Ramos, nascido em Caxias no dia 13 de agosto de 1884, passou seus últimos dias na então vila de Porto Velho, Comarca de Humaytta, Estado do Amazonas, hoje município de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia no início de dezembro de 1916 e faleceu no dia 26 do mesmo mês.
Nasceu nas condições mais humildes, desde cedo começou a trabalhar no comécio local, no entanto buscando sempre o saber tornou-se um viajante compulsivo, que levaria o conhecimento a outros povos, durante a sua vida viajou por quase toda a região norte e tambem o sul do Brasil.
Publicou sua obra poética em diversos jornais e revistas de seu tempo. É considerado o precusor da literatura em Rondônia.
Em sua homenagem foi contruído um grande centro recreativo, em Rondônia,e no Maranhão, uma das mais belas praças da capital recebe o seu nome.
É patrono da cadeira n° 32 da Academia Maranhese e da cadeira n°40 da Academia Paraense de Letras. (Fonte: Wikipedia)
RAMOS, Vespasiano. Coisa alguma... 3ª. edição. São Luis do Maranhão: Conselho Estadual de Cultura, 1984. 224 p. Inclui “Apêndices” com textos sobre o autor.
CRUEL
Ah, se as dores que eu sinto ela sentisse,
se as lágrimas que eu choro ela chorasse;
talvez nunca um momento me negasse
tudo que eu desejasse e lhe pedisse!
Talvez a todo instante consentisse
minha boca beijar a sua face,
se o caminho que eu tomo ela tomasse,
se o calvário que eu subo ela subisse!
Se o desejo que eu tenho ela tivesse,
se os meus sonhos de amor ela sonhasse,
aos meus rogos talvez não se opusesse!
Talvez nunca negasse o que eu pedisse,
se as lágrimas que eu choro ela chorasse
e se as dores que eu sinto ela sentisse! . . .
SAMARITANA
Piedosa gentil Samaritana:
Venho, de longe, trêmulo, bater
À vossa humilde e plácida cabana,
Pedindo alívio para o meu viver!
Sou perseguido pela sede insana
Do amor que anima e que nos faz sofrer:
Tenho sede demais, Samaritana
Tenho sede demais: quero beber!
Fugis, então, ao mísero que implora
O saciar da sede que o consome,
O saciar da sede que o devora?
Pecais, assim, Samaritana! Vede:
- Filhos, dai de comer a quem tem fome,
Filhos, dai de beber a quem tem sede.
ÂNSIA MALDITA
Ninguém mais do que tu saberá quanto
Padeço, agora! e, em lágrima, advinha
A minha'alma apagar-se, neste pranto,
Beatriz! Alma em flor! Suave encanto,
Que me salvar, pensei, dos altos, vinha:
O quanto peno, o quanto sofro, enquanto
Imagino que nunca serás minha!
Foram, por ti, as lágrimas que os olhos
Meus derramaram! só por ti, somente
Que minh'alma, do Amor contra os escolhos,
Há de, convulsa, soluçar, um dia,
A derradeira lágrima pungente
E o derradeiro grito de agonia!
(Cousa Alguma, 1916)
SONETO
( fatalidade )
Desde esse instante, sem cessar, maldigo,
aquele instante de felicidade!
Para que tu vieste ter comigo,
meu amor, minha luz, minha saudade?!
Dês que te foste, foram-se contigo
todos os sonhos desta mocidade...
A tua vinda - fora-me um castigo;
a tua volta - uma fatalidade!
Dês que te foste, dentro em mim plantaste
a ânsia infinita dos desesperados
porque voltando, nunca mais voltaste...
Correm-me os dias de aflições, cobertos:
eu entrei para o amor de olhos fechados
e saí para a dor de olhos abertos!
CRUEL
Ah, se as dores que eu sinto ela sentisse,
se as lágrimas que eu choro ela chorasse;
talvez nunca um momento me negasse
tudo que eu desejasse e lhe pedisse!
Talvez a todo instante consentisse
minha boca beijar a sua face,
se o caminho que eu tomo ela tomasse,
se o calvário que eu subo ela subisse!
Se o desejo que eu tenho ela tivesse,
se os meus sonhos de amor ela sonhasse,
aos meus rogos talvez não se opusesse!
Talvez nunca negasse o que eu pedisse,
se as lágrimas que eu choro ela chorasse
e se as dores que eu sinto ela sentisse! . . .
POBRE AMOR
Quando de ti me afastaram,
Que sentimento! que dor!
Sei que meus olhos choraram,
Quando de ti me afastaram.
Pobre amor!
Tu surpreendeste, cantando,
Meu coração, ao luar!
Lembro-me bem que foi quando
Eu vinha desabrochando
Para amar!
E é grande fatalidade
Sem lenitivos à dor,
Não seres minha, é verdade,
É grande fatalidade,
Pobre amor!
Tua lembrança, formosa,
Mil desenganos me traz:
Nunca mais, alma ditosa,
Para os teus braços, formosa,
Nunca mais!
O sonho de minha vida,
Pobre de mim, sonhador!
Toda esperança é perdida,
O sonho de minha vida.
Pobre amor!
Pudesse esta alma, pudesse,
Esquecendo-te, viver,
Se um outro amor lhe viesse,
Talvez esta alma pudesse
Te esquecer!
Esquecer! Desiludida
De te esquecer, linda flor,
Eu tenho esta alma perdida,
O sonho de minha vida,
Pobre amor!
Página preparada por ZENILTON DE JESÚS GAYOSO MIRANDA
e publicada em junho de 2008. Ampliada e republicada em dezembro 2008, ampliada e republicada em fevereiro de 2015.
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