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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ZENILTON DE JESUS GAYOSO MIRANDA


ZENILTON DE JESUS GAYOSO MIRANDA BRASIL

 

 

[ ZENILTON GAYOSO ]

 

 

Poeta nascido no Maranhão, em 1975, residente em Brasília.

 

Graduado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (1999), mestrado em Ciências da Informação (2001) e especialização em Inteligência Organizacional e Competitiva (2006), pela mesma instituição. Atualmente Analista de Nível Superior da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Unidade Cerrados.

 

Na área ambiental atua em Botânica (Taxonomia de Bromeliaceae e Orchidaceae), especialização pela Escola de Paisagismo de Brasília, e Desenvolvimento Sustentável e Direito Ambiental, Organização e Gestão da Informação Ambiental, com ênfase em Biodiversidade e Plantas Ornamentais.

 

É ilustrador científico de espécies do cerrado e também de obras artísticas. 


Veja também: Poesia Visual  

VEJA TAMBÉM E-BOOK " SEMINA">>

http://issuu.com/antoniomiranda/docs/semina

 

 

VEJA TAMBÉM E-BOOK  “DELIRIUM TREMENS” de Salomão Sousa, Antonio Miranda e Zenilton Gayoso

 

http://issuu.com/antoniomiranda/docs/delirium_tremens_e70b670d069397


 

Poema naturalista para um jabuti morto (de como explicar poema a um jabuti morto - homenagem a Joseph Heinrich Beuys)

Ai de ti, jabuti, que golpeias o poema,

A poesia já defunta nas entranhas das linhas,

Feita de liras e letras mesquinhas.

Pois, morta, já não suspira,

Mas enlouquece os cifrões dos gostos,

Fingindo os ofícios dos moucos.

Poucos fios a lira explora,

Se a letra é mesquinha,

No jargão do poema, ela borra.

Morto o poema,

Espancado o jabuti,

Poeta, ai de ti.

 

 

NUAS AS ILHAS DE ION
(poema arqueológico)

 

POESIA ARQUEOLÓGICA DE ZENILTON GAYOSO

 

Zenilton de Jesus Gayoso Miranda Brasil, melhor dizendo, ZENILTON GAYOSO, é um artista plástico, cientista da informação e poeta, amalgamando estas confluências criativas.

 

E nos revela uma curiosa e instigante “intervenção poética”, que ele intitula Poema arqueológico.

 

Gayoso nos conta que seu ato poético parte da subversão assistida de pressupostos metodológicos que aproximam este fazer da arqueologia do saber, como proposta por Michael Foucault.

 

Em face do saber expresso documentalmente ele considera o documento a partir de atos e limiares epistemológicos cuja abordagem suspendem o acúmulo indefinido dos conhecimentos expressos.

 

Quebram sua lenta maturação e os introduzem em um tempo novo, a ignorar inícios silenciosos a busca de origens infindáveis para, afirmativamente (expressão de resquícios, mas também início de saber), buscar a identificação de um novo tipo de racionalidade e de seus efeitos múltiplos.

 

Para tanto, aborda o documento promovendo deslocamentos e transformações de conceitos, retirando camadas de significações, corroendo distribuições recorrentes de sentidos lineares que rompem as unidades arquitexturais do saber expresso documentalmente.

 

A intervenção provoca nova carga de gerações de movimentos, perturbando as continuidades de criação do texto inicial e sua historicidade.

 

No caso concreto, Gayoso partiu de um minúsculo missal antigo, comprado em leilão de antiguidades e começou a cobrir textos com a caneta tinteiro, deixando a vista as palavras que ia escolhendo do texto impresso para criar um novo e inusitado texto poético.

 

Daí a arqueologia literária, escavando na escritura antiga e ressaltando as palavras em sua própria composição. Só mesmo conferindo para entender o sentido de sua criação, ou recriação:

 

 

 

 







 

MANUSCRITOS

(2015-2016)

 

 

teme corredores

adjuca termos nas constelações

ancião de frestas

atesta nas aparas

o naco das coisas

e nos lapsos o espaço molesta

nas frações e nesta

tombadas as vésperas

exaspera as regras

evolveu da sombra primeva

e pariu

geometria e árvore

ao cismo das clepsidras

paira compasso e prumo

a infundir nas partículas

as peles leves das ausências

um tempo seu alarido crepita

 

que torne em sal

a gota a vazar

do desespero

e no bulbo do pelo

enferruje o circuito

das sensações das peles

a elevar do vento

a fúria

augúrio das ferraduras

e a beber dos sopros a fuga

a vedar os poros

a vazar os olhos

a sangrar os ossos

sejam esses os nossos

 

a correr correria

quebrada hora a voltar

extinta do tempo

dentro  das sondas

cerzidas de halos

anatomias sobre si

em círculos

 

ode ao tu

 

oh tu talhado em talcos

consignaria vívido o toque

das antinomias a fartar

em teus pulsos

o vício das perfumarias

 

oh tu cuspido e escarrado

a forças estranhas

que apreços trazes

gravados no lado sombrio

de tuas entranhas

 

oh andarilho parco

de passos turvos

sobre o leito

vem desmedir o feito

que as forças

jorram a soluçar no tempo

a esmagar-te o peito

 

contemplativo senhor

oh tu a vigiar o silêncio

no cerne do estrondo

e seus feitos

vem desfibrar a cortina

que o puído na trama

será teu legado

por firma e direito

 

consensual promotor das lides

dos desterros sacas

olhos e tripas

por serem néscios

os sujeitos

 

vítima e vate suporte

dos fios das passagens

o contexto a infundir

na talha dos tempos

os defeitos a salivar

estimas e despeitos

quando a cal brunir

 

oh tu que culminas

oh tu que malogras

oh tu que aninhas

oh tu que equivocas

oh tu que ressupinas

 

vem cozer o molho

das chaves ambíguas

de suas brocas vem

esmerar no vazio o breu

que defecas a jorro

e não desbotas vem

salpresar sorrisos

a cabo de quem a fé

estocas mas vem

vem sem luvas e sem botas

vem balizar o fel

que a boca está posta

 

 

nas entrelinhas a ternura

golpeia a incompletude do espaço

nada se toca

na aderência

para a consecução da fábula

acrisolar o costume

o pneu move-se pelo atrito

a lagartixa conquista

seu domínio vertical

estanca a aporia dos afetos

somente o toque

pois todo toque repulsa

mesmo a letra a tinta

que o papel estranha

pois a pedra na agua mais pesada afunda

e a bexiga no ar projeta fuga

 

e o sal atrás

 

 

o dizível

o indi(vi)zível

interpelam-se na sobra dos ditos

sombreiam-se nos meios

com flagelos a costurar os veios

anseios da voz no que vejo

e no que me olha um fecho

no sumidouro das calas

estala da fala o seio

imagem mais que palavra

palavra mais que meio

de constranger os signos

e nestes o vácuo que permeio  



 

LÍRIOS 

Doem os teus lírios solitários

Em casa

Na mesa escura

Nos jarros entretecidos

Onde sufocam o colorido

E o aroma é incerto

As gotas sombrias, todas,

Voltam-se perplexas

A refletir o ar parado

De vereda invernal

De bosque úmido

Nos olhos de antes

Fuga e cristais

 

Mas não somente os lírios e as varandas

O ar

A mesa e a casa plena de ócio

Mais o duplo aquém, estático,

Suspenso,

Na plácida impressão

Do ausente alarido dos lírios

Das vozes dos lírios

Que denunciam saudades geminais.
 

VAZIO 

O vazio

que não o só

É construto de partes

Irreconciliáveis voltas

No vasto escuro exposto

Da que tensa

Em mim debela:

A parte que me cabe

Do vazio renitente

De outros vazios pares

 

 

AVES FORA ...

 

Ave estreita

Furtiva figura

Em um dia cego

Nesse ante vôo razoado

Alinho, calado

De pé ante pé descalço,

E com uma réstia fria

Pelo teu bico calvo

Inconteste te laço.

 

Sob castas de moscas vítreas

Em festivo alvoroço

Dou-te um véu sisudo

E espumas largas

Ao teu pescoço

Para repousares salva desse tremendo escorço

Das vagas e ventos funéreos

Donde despencas vertida em tédio.

 

Ave implume

Moléstia do dia

Veste teu manto

Desce teu séqüito

Trina no corte

Dessa faca pífia

Serena na noite em que vagando faltas

Emplastro votivo

Aves fora vasta.

 

 

CHUVA GRANULAR

 

Na granularidade da chuva

Vejo dardos hirsutos

Arremeterem farpas

Sobre meus músculos expostos.

À parte de mim

Adentram cartilagens flácidas

Que empedernidas crescem

Enquanto atônito durmo.

 

Ferem essas agulhas comensais

As delicadas pústulas

Os passos e as sombras

Do caminho destro que sigo.

Bravias, abstraídas de nexos e subcutâneos medos

Avançam convexas

Sobre minha carne puramente nervos.

 

Absorto,

A parte de mim,

Esse corpo nu, corpo retrorso,

Não é mais estípulas ou véus,

Vive minimamente,

Mas absorve, laivos de gotas.

 

 

TEUS OLHOS

 

Pois morro da vida que vivo

E vivo da vida que morro”.

 

Edgar Morin

 

Sempre haverá beleza

Enquanto puder tocar

A face mais simples da vida

E não duvidar

Que mais suave que a brisa

Tua face sempre há de estar

No tempo

Desperta e risonha

Na íris desses olhos vazados

Qual flor que às estações ignora.

 

Enquanto houver primaveras

Sempre viverão

Floras de amores cingidas

E flores no amor impressas

Que teus olhos colherão,

E mais que em sonhos

Verdades

Aos meus apascentarão.

 

Mais dias, mais dores, mais vastos

Eu sei, repousarão

Nos braços dos teus socorros

Os calos dos dias que levo

Pois quanto mais vivo

Mais calo

“Pois morro da vida que vivo

E vivo da vida que morro”.

 

Em dias de brisas caladas

E brumas no tempo caídas

Meus pés caminharão

A via da imagem impressa

No verbo solidão.

 

Estou fatigado, mas corro

Com os pés descalços

plantados nesse vasto

Deserto de cardos

Que jorra,

Em amenidades assíncronas,

Um coração em cortes.

 

(Letra musicada por Tiego)

 

 

 

 

 

ZENILTON de Jesus GAYOSO Miranda, artista plástico, ilustrador científico e mestre em Ciência da Informação fez uma didática e exemplar palestra sobre LIVRO DE ARTE, LIVRO-OBJETO e LIVRO-DE-ARTISTA na Biblioteca Nacional, em junho passado, para os bibliotecários da casa, orientando na formulação de uma política de acervamento, tratamento técnico e organização da coleção da instituição. Apresentou muitas obras de sua coleção pessoal, na condição de um bibliófilo com um patrimônio bibliográfico importante deste tipo de material, mas também de obras sobre a fauna e flora, viajantes e pesquisadores da nossa história natural e outras preciosidades da cultura brasileira. É também co-editor, com Antonio Miranda, da Poexillio, participando como responsável pela seleção, impressão digital e acabamento artesanal das edições, assim também como colaborador da seção bibliográfica do Portal de Poesia Iberoamericana, inclusive na seção bibliográfica do site Poebiblio —   http://poebiblio.com.br/   — com a descrição e as imagens das capas e ilustradores de edições especiais.

 

 

  

GAYOSO, Zenilton. Ode ao tu. Jaboatão, PE: /Jaboatão dos Gurarapes: Editora Gurararapes EGM, 2020. S. p. ilus. col. 14 x 13,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

https://issuu.com/antoniomiranda/docs/ode_ao_tu

 

 

 



 

 Na foto: Edmilson Caminha, Antonio Miranda, Abhay K. , Makarand R. Piranjape,  Lilia Diniz e, Zenilton Gayoso  na sessão do Chá com Letras, Embaixada da Índia, 14/10/2016, em Brasília. CLICK S/FOTO para ampliar.

 

Poemas inéditos de Zenilton Gayoso
(em julho de 2017)

 

ante ao que não contar

aprender a dissimular

a estupidez

sem as coisas que talvez

se deixou de perder

reproduzir sui generis o dever

estar só de si a um

estar vestido de um

pavor canhestro e correr

correr e correr

a corroer o ser comum

violo os nós que engatam

a engrenagem antes que acudam

respirações de septo algum

e vago vago e vago

a transpor no silêncio algo

do inteiro selvático

que o nó nos sós combate

alteridade e cinza até

render-se o vento

portanto sou um

e o mesmo detento

portando na mesma dor

o nexo

 

 

ao cortar o galho

o valor maior seca

a fuga do carbono

nega a providência ao âmbar

adormece

da janela laivos

de tempo memórias

rasgam o espaço da elegia

os mísseis esfriam às pontas góticas das janelas

recuadas sombras

assentam-se na planura

suspensas carícias as folhas assentem

ao vendaval

sussurra no cerne um risco

a seiva ancora a selva

e a poeira o ente

o espectro perfeitamente

coincide nas planuras

à solidão do espéculo

à dimensão dialógica

o espectro nem coisa

nem parte nem forma nem eco

 

 

ternura acolhe peles mármores

nos mármores infunde rudes e rumina

murmurações de areias

 

engasga dos gases moradas e ombreia

solventes espasmos das réstias feias

aos invólucros dos bichos que à pele semeia

 

seria igual a tranças

de pulsar espontâneo das veias

o fiar antigo da pele de falha fissura borda

 

a ternura

entremeadas bocas saliva exposta

dorme no breu no sumo do eu adeja

saibro rogado ao intemperismo da seiva

 

(03/08/2017)


Poemas ineditos

 

A REARQUITEXTURA

 

Passo nos pomos das geometrias,

orno, depois — após o ócio das coisas,

o cogito das arestas, passo de gárgulas

na lavra das cantarias — sempiternas vias

suplício do granito nas pérgolas.

 

Flácida e peluda

como alegoria, astuta e hostil

como gozo de puta, assim

será vossa mesura

oh vil arquitetura,

senhora de proxenetas,

mãe das conurbações

e das gavetas!

 

Brancas eram as cidades às margens do Amazonas,

caiadas paredes, alvas

fontes, orifícios mais que portas:

torrentes de assimetrias, nas faces das gentes

onde Boghianni leu kadwéu

leio leo com essas assimetrias de papel,


Oh profundo abismo

Oh posta de peixe frito

Oh Cornualha, oh chouriços

Onde a arquitetura bebe

seus inícios

costuro um vértice

afronteiriço, não sei se

no Olduvai no

Ngorongoro ou no estio

bastam tuas ilhargas,

teus postes, teus frisos.

 

assim sacia a sanha

dos engenhosos quartéis

o sonho justo

de quem casando

quer casa, mas vai de

luto lutar, até guarnecer

de escorbuto o viço

atroz do engenho puto

por mais pagar

por muito render

seu soldo ao saldo

aviltante dos juros incessantes

 

Ah minha casa minha

dívida, mais dividiria

as forças se houvera,

se a vileza assim não

maltratara, este fiel

pagador que a mó talhara

 

de pele de lodo

de barro

ou cimento

tudo quanto

no papel

estimo

vou trabalhando

a corpo

descoberto

a feitura

da caverna

— que lamento

foi para não

mais em hora

boa

à vaidade dos

à toa

qual caixote

e para parte

dos de sorte

alojar-se

 

em

camarote

como

quem

em galho

trepa

ah corja

de

dementes

não sabeis

da

morada

que

penetrais

ser

casa

também

gente!

 

Em sendo corpo mais aprouvera às complexas paredes das células,

impor limites aos destroços, pois corpo como casa resta o fosso

depois das novas arquiteturas; após racional o pensamento e de todo

fábrico à vontade livre ser memento corre no homem o desejo

de não mais natural o ser e como é dentro assim se vai ao fora

pois és tu oh vil arquitetura, desse lapso prostra-natura, a exata

carnadura

assinatura mesmo

do confesso genticídio

que no dentro ou nos externos

por onde toca teu ofício

vais sorver seiva e viço

por que não és o passadiço

és o que passa a montante

e jusante do fluxo que instruis

de diagonais sectarismos

foste tu mãe das pirâmides

foste tu mãe das fortalezas

avó genitora dos planetas

que em ti dão plantel às mutações

dos hábitats e seus senões


 

Como as aparas do teu

pesadelo não velo o teu

desterro, vivo-o pois ele

sou eu

insidioso maço das mutações

provectas no teu gentilício

pois foste o forte ente

somático a quebrantar

no espírito errático

o desejo fátuo

de moradia

assim no augúrio

da luz ausente

assim no dia

foste foz

e embocadura

pois em tudo a separar

em ti depura

os meios da organização futura

pois se partes, logo supuras

em forma nova o degredo

da anterior criatura

esta és tu, solerte e vil arquitetura.


 

Corro os cômodos, coroo as

fechaduras, masco quantas coroo

nos vãos dos tijolos nas nervuras

as límpidas tessituras das pedras

nas argamassas, os grânulos nos

fios das desmesuras, pois foste além do mínimo, teceste os

visgos ignotos das matérias os quais no mais das eras

levarão teu selo e assinatura, posto que vindimas sarmentos

de taipas e mosto bebes de alvenarias

glória e gula em ti supura

oh vil arquitetura.

 

Passo das brancas casas à brancura

Das estruturas, teus arcos: “lugar

sem osso”, teus pilotis jovens títeres

servis. Não esgoto e claro está

tua torpe ossatura por levares

nos dentros mais trevas que engenho

pondo-te rédeas e me empenho

em dizer das rupturas

que são pares combinados

da mesma conjuntura, pois renovando teus artifícios, aos arcobotantes

tornando esquadrias de alumínio, passas do minério ao metal

sem minerar as geografias, e para confirmar o que digo

ponho em ti arqueologias a lamber o que dejetas nas páginas

das historiografias, pois arranha-céu ou de Babel a torre

idêntica é tua mordedura, oh vil arquitetura.


 

Nas entranhas um chambre um

fecho éclair um enxame nos dutos

das tuas veias sangue — sim sangue

das alvenarias a não se esquentar

com carne tão pouca com orgânicas

proteínas mas mais e muito mais

ainda dos líquidos das sentinas

de onde teus suores viscosos, as cidades,

brotam ladinas a destituir as

gentes dos sonhos das cavernas

uterinas, nas tuas entranhas então

o sol em pó e a saliva de mil serpentes

porque foste rumorosa agora

decadente alegra-te que tudo passa

senão vira semente

és tu a alva e a brancura

dos mármores, amara arquitetura

 

para a sorte das gentes

 

 

breviário assenta o inverso tempo

posto dentro de dentros ausento

serviçal dos ventos

qual transitoriedade buscar no permanente vago

qual a não voltar o vulto

ser beócio e astuto

na sílaba à vogal indiferente

 

postular sem ser consequente

um dia a não findar o distante

a ser ausência e de igual carência

o diante

não saborear o sentido ser sentido

por falta e usura do circunstante

“ser durante”

 

e dentro do ser atear migalhas

de infinitos a contrastar o instante

lambendo as estrias do passo

sabendo as circunvalações sitiadas

sabendo ao peito navalhas

sabendo lentamente

o que passas

 

e cercear o que findar às fronteiras

da vala à cidade suas entradas

e não mais reter afronteirar

ir dia a dia adir colapsos

nos trôpegos passos da sumária pessoa


 

a visitar certa pré-história quais atavismos suprimir

do semeio ao fruto?

erra a mão ao sulco?

acariciar as luzes

propostas no furor da sombra

não suspende o espanto arguto à espessura

da memória

outra lógica outra monotonia

entre partículas que dançam

e tecem o manto

informar o abantesma em monólito

vergar outro véu de nesgas

que chama viva fixa ao enigma

o ser na história do absconso monumento

pretérito de si

 

onde a sombra adensa

e pensa e é e se ausenta

no lapso da coisa sentida

e se sente invalida o pensar que o sustenta?

o sorriso autocrático dos momentos

a perfurar nos poros as consequências

a embutir xilopalas onde macio o tecido

o pretérito só o pretérito subsumido

nas marcas pétreas do esquecimento

(Brasília, 16/03/2021)

Avós de deus: poema naturalista para gestão de crises...

 

Vós avós à voz do que chama

clamastes

à clara chama cardos e memórias

outros tais

fluídos ao toque mas ao pensamento incivis

autolaudáveis nos socorros que despem

onde memórias mais frágeis e céleres

porque o instante sim se perpetua

e tú à tua sombra tônus regurgitas

os próprios dentes

deglutes ao se mover com palavras

excitadas mas mudas no oco

dos ossículos impermanentes

semoventes eles em voz absoluta

sem passado que os complemente

após avós a voz igualmente

soam em balido breve e sombra rota

é que se dar ao futuro assim tão livremente

nada pede da voz

do tônus

senão o último dos extremos

o único e solitário dente

 


Página publicada em fevereiro de 2008, ampliada em fevereiro de 2016, ampliada em julho de 2016. Ampliada em outubro de 2016; ampliada em julho de 2017; ampliada em julho de 2018.

 


 

 

 
 
 
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