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INÁCIO RAPOSO
(1875 - 1944)
Ignacio de Viveiros Raposo. Poeta, jornalista , desenhista e político. Formou-se em arquitetura pela antiga Academia de Belas-Artes. Foi jornalista na cidade do Rio de Janeiro, fez parte da redação do Jornal do Brasil. Foi também professor de Filosofia do Direito e de Metafísica, na Faculdade do Rio de Janeiro. Como Deputado destacou-se pela luta em defesa dos trabalhadores. Escreveu quase em todos os gêneros literários, seus poemas abordavam temas sobre mistérios, tragédias e comédias.
Principais Obras: Protofonsos (1901); Cânticos (1910).
PAQUITA E COTINHA
Eu tive uma irmãzinha, a que morreu criança,
Mais loira e mais gentil que as loiras alvoradas;
Nos olhos infantis a luz serena e mansa
Tinha o brilho ideal das brancas madrugadas.
E morreu a sorrir. Na lousa em que descansa
Vão gemer, à tardinha, as rolas concentradas...
Viveu como o brilhar da estrela da esperança;
Morreu como o rubor das rosas perfumadas.
Foi-se, alada, a primeira e resta-me a segunda,
Alegre rapariga, olímpica, jocunda,
Como os sonhos do amor e os risos da bonança.
Qual será mais feliz? Não sei como decida...
Se a virgem donairosa a despertar na vida,
Se o loiro querubim que adormeceu criança.
A PÉROLA
Nasci no mar. Num côncavo rosado,
Serena apareci;
Mas finou-se a idéia do passado,
Da concha em que nasci...
Sobre o nevado colo em que repousa,
Longe do frio mar,
Descubro a cada instante um novo gozo
Que me leva a sonhar.
Prefiro, assim, viver no colo dela,
Todo feito de amor,
Mas que não tem penhasco, nem procela,
Nem ríspido furor!
Tal murmurava a pérola sentida,
Quando uma gota cai,
Uma lágrima triste como a vida,
Sobre o colo de Aglae!
- Líquida pérola, o que vens sozinha
Neste mundo buscar?
Perguntava-lhe a pérola que tinha
Visto a jovem chorar.
- Venho do amor, das tormentosas mágoas
De um triste coração,
Como surgiste, Ó pérola! das águas,
Das águas da amplidão.
- Sonha em meio seio, e transformada em breve,
Qual Niobe a carpir,
Numa pedra mais fria do que a neve,
Poderás me sorrir...
- Não n'o farei!... Mais tarde convertida
Num ligeiro vapor,
Irei, nas nuvens, procurando a vida,
No espaço, recompor.
Como és feliz! Em noite constelada,
Sob o noturno véu,
Brilharás como a estrela da alvorada
Que cintila no céu.
Responde a gota: - Invejo-te a ventura,
Ventura que me atrai:
Ficarás a dormir serena e pura
Sobre o colo de Aglae!...
TÂNTALOS
Não poderei ter de certo os olhos sempre enxutos
Quem sofre qual, no Erebo, o Tântalo maldito:
Sedento - vê debalde um córrego infinito;
Faminto - vê debalde os floridos produtos!...
Ante um castigo tal, que apiedava os brutos
Leve talvez pareça um bárbaro delito!...
Foge sempre a torrente ao mísero precito
E, se tenta comer, escapam-se-lhe os frutos!
Há Tântalos também na vida transitória:
Querem estes a lympha e os pomos do talento,
E morrem no hospital para viver na história.
Desditosos que são... no malogrado intento!...
Longe de haverem ganho os loiros da vitória,
Encontram no sepulcro o eterno esquecimento!
(Cânticos, 1910)
RAMOS, Clovis. Minha terra tem palmeiras... (Trovadores maranhenses) Estudo e antologia. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1970. 71 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Batendo no largo peito,
Eu venho me confessar,
Santinha, com certo jeito,
Santinha, no teu olhar.
Tenho um rosário de beijos
Para em teu colo depor:
As contas são meus desejos,
A cruzinha o nosso amor.
Quem tem amor escondido
Nas dobras do coração
Pode perder o sentido,
Mas nunca perde a ilusão.
Se acaso eu te desse um beijo
Nos lábios de rósea cor,
Morreras talvez no pejo,
Mas eu morrera de amor.
Página preparada por ZENILTON DE JESÚS GAYOSO MIRANDA
e publicada em junho de 2008. Ampliada em outubro de 2019
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