DUNSHEE DE ABRANCHES
(1867 - 1941)
Dunshee de Abranches (pseudônimo: Rabagas), romancista, poeta, jornalista, orador
nasceu em 1867 em São Luís do Maranhão e faleceu em Petrópolis, em 1941.
Romancista, poeta, jornalista, orador
Obra poética: Cartas de Um Sebastianista (1895), Minha Santa Teresinha (1932),
Pela Itália (1906), Pela Paz (1895), Selva (1923), Versos de Ontem e de Hoje (1916).
SONETOS. v.1.Jaboatão dos Guararapes: Editora Guararapes EGM, s.d. 154 p. 16,5 x 11
cm. ilus. col. Editor Edson Guedes de Moraes. Inclui 148 sonetos de mais de uma centena dedpoetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda
A SELVA
De pé, no tombadilho, olhos fitos no espaço,
Colombo, palpitante, estende o forte braço,
aos capitães mostrando, ao longe, sobre a esteira
dos negros vagalhões a luz de uma fogueira...
Há três noites velava, há três noites sentia
a esperança deixar-lhe o peito, e a fàntasia
fugir-lhe já também. Rugiam os porões
de fome e de cansaço... e ocas conspirações
iam lentas mudando a bruta marinhagem
o amor do comandante em amor à carnagem.
Há três luas partira a frota de Castela;
e em cada uma lufada a enfunar a vela
em toda a aurora nova, em todo o novo ocaso,
mais a pátria fugia, e mais e mais o acaso,
impávido matava as velhas tradições,
mostrando a cada instante aos crentes corações
que o Caos inda era a luz, que o Abismo inda era o mar!
Jamais se vira um monstro, um só, se levantar
por sobre os vagalhões, grandíloquo, medonho,
como a Grécia sentiu nesse homérico sonho
que os templos levantou e fez as Odisséias.
O VIOLINO DO ARTISTA
Só lhe restava o mágico violino
nessa vida de eterno sofrimento;
único amigo, um outro peregrino
na rota desgraçada do talento.
Como sentia o mísero instrumento,
nessa alma rude, um lenho pequenino,
que tinha em mãos do dono um sentimento
que era "mais do que humano, era divino!"
E juntos iam no fulgor das cenas
confundir num adágio as suas penas,
irmãos na glória, gêmeos no tormento!...
Mas morto um dia o artista, gente absurda
quis tocá-lo... mas ah! tinha a alma surda...
já não sentia o mísero instrumento!...
Página preparada por ZENILTON DE JESÚS GAYOSO MIRANDA,
publicada em junho de 2008.
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