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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




JOSÉ GODOY GARCIA

(1918-2001)

 

 

Nasceu em Jataí (GO), formou –se em Direito, e morou em Brasília desde a implantação dos canteiros de obras da nova capital (1957). Marxista por convicção, militante da esquerda pelo Partido Comunista, poeta realista de uma naturalidade exuberante. Seu primeiro livro de poemas, Rio do Sono, é de 1937. A sua bibliografia se completa com Caminho de trombas (Editora Civilização Brasileira, 1966), Araguaia mansidão (Editora Oriente, Goiânia, 1972), Aqui é a terra (Editora Civilização Brasileira/Editora Oriente, 1980), Entre hinos e bandeiras (1985); Os morcegos (1987); Os dinossauros dos sete mares (1988); Florismundo Periquito (1990), contos e novela, que ele revisava na ocasião de sua morte com o fito de dar continuidade à publicação das obras completas; O flautista e o mundo sol verde e vermelho (1994); Aprendiz de feiticeiro (1997, artigos de crítica),  Poesia (poesia completa, 1999) – estes últimos pela Thesaurus Editora.

Para ele, a poesia é tudo que o pássaro pensa da chuva. 


Como diz Salomão Sousa em artigo que escreveu para a revista da Academia Brasiliense de Letras: “Desde o primeiro livro, até os poemas enfeixados no inédito A última nova estrela, José Godoy Garcia apresenta uma rara coerência produtiva, sempre no percurso de fidelidade ao sonho, à vida e à madura juventude nunca perdida. O poeta insiste em tecer de palavras o mundo, para ele que quer ampliar a beleza do mundo. É uma poesia que convida o homem a integrar-se nessa beleza: Perdão a toda natureza que envenenei./…/Como do alimento que pássaros buscavam. /…/É engano pensar que a poesia não dá sentido ao dia. E num poema mais à frente: A vida de um homem é a vida do dia. A poesia de José Godoy Garcia faz parte deste corolário de necessidades do mundo. Sem ela, as belezas não seriam as manhãs e os caminhos. As laranjas não existiriam com tanta exigência de beleza, de sex-appeal.”   

 

A obra completa do poeta encontra-se no livro POESIA [de JOSÉ GODOY GARCIA. 50 anos de poesia. Brasília: Thesaurus Editora, 1999. 397 p.]

 

 

Veja e leia o texto: SEMPRE JOSÉ GODOY GARCIA, por Salomão Sousa na celebração (póstuma) dos CEM ANOS DO POETA


 

TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

Estive pensando hoje de manhã

 

Estive pensando hoje de manhã

que fino trabalho fez o céu?

para amanhecer com cara de romã?

Estive pensando hoje de manhã

onde será que nascem os ventos?

para viverem assim de déu em déu?

que nuvem é como pensamento

sai andando sem poder parar.

Estive pensando hoje de manhã

enganoso pensar que o mar

vive sozinho parado sonhando.

Estive pensando hoje de manhã

que tudo na terra vive amando:

mar, nuvem, vento, idéia, romã.

 

 

Os sobreviventes

 

Quando todos imaginavam a vida sem sentido

chegaram de manhã os sobreviventes,

e levantaram suas moradas, estiveram no rio,

procuravam o rebanho disperso, preparavam

o alimento, cantavam, derramavam

o suor nos campos, faziam fogo à noite

rememoravam o corpo de suas mulheres,

despachavam os barcos, pela manhã.

As chuvas eram sempre bem-vindas,

as chuvas levantavam o pó da terra

e enchiam de confiança a face da vida.

As mulheres viam nascer dentro de si

um novo rebento, os seus ventres cresciam.

Nenhum sinal de confiança quando as mulheres

apareciam de ventre crescido.

Os dias eram os mesmos, a esperança

e a desesperança eram as mesmas.

 

 

Irmão

 

Eu não fiz uma revolução.

Mas me fiz irmão de todas as revoluções.

Eu fiquei irmão de muitas coisas no mundo.

Irmão de uma certa camisa.

Uma certa camisa que era de um gesto de céu

e com certo carinho me vestia, como se me

vestisse de árvore e de nuvens.

Eu fiquei irmão de uma vaca, como se ela

também sonhasse. Fiquei irmão de um vira-lata

com o brio com que ele também me abraçava.

Fiquei irmão de um riacho, que é nome

de rio pequeno, um pequeno que cabe

todo dentro de mim, me falando,

me beijando, me lambendo, me lembrando.

Brincava e me envolvia, certos dias eu

girava em torno do redemoinho do cachorro

e do riacho e da vaca, sem às vezes saber

se estava beijando o riacho, o cachorro

ou a vaca, com um grande céu

me entornando, com um grande céu

com a vaca no lombo e com o cão,

com o riacho rindo de nós todos.

Eu fiquei irmão de livros, de gentes.

Eu fiquei irmão de uma certa montanha.

Irmão de muitos rios.

E fiquei irmão de uma certa idéia,

e tive sorte, não me assassinaram

como a milhares de meus irmãos,

e provei a mim mesmo

a minha fidelidade.

Fiquei irmão de muito cidadão de nome certo.

Fiquei irmão de uma certa bebida,

uma certa bebida que se chama ceva orvalhada.

Um ritual de estima: amigos, futebol, poesia,

minha doce donzela de vestido amarelo

e mais as outras tantas donzelas

de vermelho, grená, cinza, branquelo,

os vestidos mais belos e os mais singelos!

Eu gosto de mim, de meu porte nem sei,

de minha doce e embalante imaginação,

de minha frágil e destemida poesia.

 

A verdade é que, um grito na minha boca

é igual a um grito na boca da noite?

O que é uma palavra descansada?

Haverá sempre no mundo as palavras

descansadas ou haverá ainda outras,

 

as que não se cansam nunca, as mortas?

As palavras morrem ou são esquecidas?

As palavras que estão no dicionário, elas

estão recuperadas, estão salvas ou apenas

prisioneiras; quem será que tem interesse

 

na prisão das palavras? As palavras simples

navegarão num mundo complicado com a verve

de sempre ou perderão a compostura?

Haverá, no meio delas, as tontas, as virgens,

as palavras desavergonhadas, as vesgas?

 

Que pode acontecer com as palavras ocas,

as que estiveram num desastre ou que vivem

nos becos ou nos lupanares imundos, ou as

que esqueceram suas razões, como se bêbadas

e depois da noite sufocante tornaram-se ocas?

 

Haverá mesmo palavra que tenha em si a fuga

dos sentidos? Haverá, entre elas, uma apenas

que resguardando-se do tédio, pôde ministrar

no silêncio sua dor e sua mentira, para sorrir

na hora H, quando todos estiverem apagados?

 

As palavras estão no mundo representando

o seu papel, elas estão acovardadas ou não?

Qual é a palavra mais sensata para quando

houver o desastre de avião e tudo ficar em segredo

por falta da caixa preta? Em verdade, existe, sim,

 

a sensatez das palavras; (vejam, a palavra infinito!.

Que tola!) como se pode agir quando aparecer

na cena um homem sensato, se não temos ordem

de aplicar a palavra exata? Pêsames,mesmo

a palavra exata? Que palavra mais fina devo dizer

 

ao morto antes dele morrer? que palavra mais crua

devo dizer ao vivo antes dele me mandar à Merda?

Um trem-de-ferro chegou, amigo, na estação Soledade.

Que foi que trazia nos seus vagões, o trem de Soledade?

Trazia nos seus vagões os sonetos da “Geração de 1889”

 

Ninguém pra receber na estação noturna de Soledade!

As palavras ficaram bem arrumadas, na boquinha, na boquinha!

As palavras arrumadas em nosso Dom Casmurro soneto!

Os vagões estavam resplandecentes! Os vagões de Pêsames!

As palavras vagas nos vagões virgens nos manequins vesgos!

 

 

Tudo é belo

 

Tudo é belo

Mulher e por exemplo uma água quando a gente bebe

ou uma água que a gente joga na cara

e fica deixando a frieza vir penetrando na pele;

a água que escorre da bica e cai no monjolo e o monjolo toca;

a água de um poço na mata.

A água quando a gente bebe é por exemplo como um beijo.

 

Mulher e por exemplo café, ou estrada quando o trem-de-ferro

atravessa um rio;

um rio que banha terras verdes, longe.

 

Tudo é belo.

Árvore de cedro e por exemplo um homem que está

preso injustamente, um homem que tem esperança

e que é mais forte que os risos e sevícias,

quando tentam matar nele a esperança…

 

Tudo é belo.

A cabeça fatigada de um homem.

As pernas solitárias. As mãos solidárias.

O peito largo como um tronco de árvore secular.

 

Tudo é belo.

Mulher e por exemplo, as canções.

O caminho do nascimento à morte de um homem.

 

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            O velho estava feliz por ter que

andar naquela estrada; ele sabia

que era feliz e essa noção exata

de ser feliz trazia-lhe intranqüilidade

como que os esteios do corpo podiam não

ser bem firmes e a noção advinda da bondade

do mundo lhe trazia insegurança,

mas sabia por experiência vivida que o

fraco anda ao lado do forte e ele estava

seguro da fortaleza de eu coração.

Tudo aquilo que estava acontecendo na

Estrada — e na estrada aparentemente não

estava acontecendo nada — o velho tinha

presente na imaginação e na sua mais notória

e superficial visão, pois o que sonhava era

viver feliz numa estrada e sonhava o verde

e sonhava o menino.

 

 

No passado, os negros construíram casas

e muros de pedra em torno das cidades;

os negros plantavam, colhiam e edificavam

engenhos e plantações de cana; no passado,

em vários lugares e numa extensão fabulosa

da terra brasileira os negros furavam

a terra, bateavam outro de lavras,

para os brancos, construíram edificações,

igrejas, colégios, servidões seculares

que resistem ao tempo e são hoje tombadas

pela cultura universal.

Por que razões que nas ruas das grandes

e médias cidades do país os meninos e

meninas negras estão pedindo um trocado

pedindo uma sobra de comida?

 

 

Há no rio um

certo ar de indiferença

ao passar do menino. Deixava livre

o medo, o terror, o assombro no largo

espraiado e bravio ou no vertiginoso

cachoar flamejante dos estreitos.

O menino queria dissimular-se

como segurando num ponto de apoio,

não bem olhava a correnteza, já o velho,

muito moroso, se deixava ficar atrás,

amigo do rio.

Ainda longe, o menino caminhava cansado

e  com o rio em si, sentindo-o qual

uma lenda que não sairia de sua mente,

no passar da vida e no passar

dos rios do mundo.

 

 

         O Flautista e o Mundo Sol Verde Vermelho (1994)

 

 

ARAGUAIA MANSIDÃO
De
José Godoy Garcia
ARAGUAIA MANSIDÃO
Poemas
Goiânia: Oriente, 1972
95 p.

 

 

SER O CORPO DE UMA NUVEM

 

1.

Ser o corpo de uma nuvem

é o mesmo que mulher andar na tarde

é estrada estar para ser usada

é mulher como uma vaca vista pelo

         grande touro vingador

— nuvem imóvel andando semovente

         na crista do azul da tarde.

 

2.

Uma nuvem é a aparente indiferença

das coisas do mundo pela sua dor

e quando ela passa nem a mãe e nem

                                               o negro

a viram — andavam em si mesmos levando

andavam com suas vidas levando

a dor e as alegrias;

a moça que olhava a estrada tinha ferido o seu ventre

fazia quatro noites;

o velho Miquéias

costurou sua língua para não falar o que sabia

diante dos abutres que o ouviam.

 

3.

Uma nuvem é o comodismo dos animais.

Ê a pedra que aparentemente não clama nem ajuda.

É a montanha que presa à sua solidão

                                     nada vê do homem,

                            é cheia de solidariedade,

                                               mudamente.

Uma nuvem é a solidão de cada um;

         um trecho da infância de cada um.

 

 

GARCIA, José Godoy.  Poesia: 50 anos de poesia.  Brasília: Thesaurus, 1999.  399 p.  15x22 cm.  ISBN 85-7062169-7  Capa: Elder Rocha Lima  Apresentação: Salomão Sousa.Col. Bibl. Antonio Miranda 

 

 

O ELEFANTE SONHAVA

 

Quando o elefante saía à procura do circo, José ia atrás.

José caminhava muito quando o elefante sonhava com o rio.

A coisa mais engraçada da madrugada

era quando o elefante sonhava! O rio corria na sua mágoa,

e ficava um rio do tamanho de um horizonte

e o elefante caminhava por cima

e o horizonte levava o brutamontes até o fim:

aquele fim do mundo, aquele fim da madrugada,

aquele fim da graça divina

com os meninos do elefante dando grandes

cambalhotas no picadeiro do circo.

Quando era manhã no mundo

o elefante ia procurar a montanha. José ia.

O rio era grande de verdade.

Ficavam olhando a montanha, até que a manhã

passasse. O rio ficava longe.

Mas quando a noite vinha, ah, quando a noite

vinha ficavam imaginando o circo,

ficavam imaginando o rio

e ficavam imaginando a montanha,

e sonhavam.

 

GARCIA, José Godoy.  Os Dinossauros dos sete mares. Poesia.   Brasília, DF: Thesaurus, 1988.  99 p.  10,5x21 cm.  “ José Godoy Garcia “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

a vaca

 

O gado é a soma e a síntese

de nossa dor de cotovelo do mundo;

é a soma e a síntese de nossa congestionada

contramão humana; é a nossa enganosa

serenidade amante. Há, no gado, toda a nossa

antidiluviana vidinha; toda a nossa enganosa

sorte de fartura, toda a nossa saga

de uma dignidade venal e torpe. Toda a saga

de nossa infeliz e trágica presença

na vida campestre. Há redemoinho de caminhos

grotescos, injustos, ingloriosos; este gado

é um irmão assassinado; nossa irmã infeliz;

nossa irmã que tentou por três vezes o

suicídio; nossa irmã cheque sem fundo,

notícia no jornal, traficante,

cúmplice de quadrilha e sábia do crime

perfeito. O gado é o cafajestismo

do fazendeiro escondido no autêntico,

o cinismo e o grotesco do fazendeiro

que medra na Pátria, ruína da Pátria,

e se diz vítima, vítima da Pátria.

O gado, o campo sem compromisso com

o homem, sem compromisso com Cristo,

sem energia e moral. O gado é a nossa ternura

massacrada pelo imediato, a morte, a

vida simples na palha do dia

escondendo a infalibilidade, a deslealdade,

a usura, o cafajestismo que brilha

no filé mignon à Parmegianni.

O gado é a vaca.

A vaca é a mãe mais mãe das criaturas; é

a mais escrachada mãe sentimental

e ridícula; é a nossa mãe de chapéu

de palha e de brinco, é a nossa mãe

que se prostitui contra o cerne

de sua essência, é a mãe que bebeu

um tonel de mel de sentimentos

carinhosos e se deixa enganar

pelo açougueiro clandestino

que é um sócio de cotiliquê.

A vaca é o mundo enganado no velório

de um casamento ao estilo barroco.

A vaca é um Divã de Toulouse, é

um girassol de Van Gogh

A vaca é o Papa com grinalda e véu.

 

as dores cessaram

 

Com notícias das ameaças

correndo das chapadas,

com soldados chegando e cabras,

ela se viu perturbada,

as dores do parto cessaram,

diante dos praças chegando.

Maria das Mercês,

Maria gloriosa das Mercês,

maria daquelas águas e maria

daquela seca, maria daquele

tempo e maria daquele medo,

Maria das Mercês ficou paralisada

não pôde dar à luz à segunda

criança naquele momento. A que nasceu

era firme no seu pranto. A que nasceu

era firme no seu porte de beleza

que nem viam. No dia seguinte

voltaram as dores e a segunda

criança nasceu morta e Maria

das Mercês de Deus também morreu.

Foi em Terra Nova.

Araguatins, Goiás. 

 

 

                        Retrato do poeta por Sirón Franco

 

 

GARCIA, José Godoy.  Os Morcegos.  Brasília, DF: Thesaurus Editora, 1986.  96 p.  10,5x21 cm  Capa e ilustrações: Naura Timm.  Apresentaçãopor Oswaldino Marques.  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos. 

 

         OS MORCEGOS, A AURORA

         O dia estava prestes a amanhecer.
         Os animais se punham alertas ao nascer da manhã.
         Em todo o rumor da vida para se aquietar
         diante do cansaço da noite, os morcegos
         vinham, estavam vorazes diante do fragor da luz
         que se ia formando nas serras e horizontes.
         As água, até então sonâmbulas, ora dormindo,
         ora negras na hora de alarde de seus prantos,
         se aprontavam para viver a plenitude,
         purificadas na tragédia da noite, vinham
         buscar o sol, macho indormido e corajoso.
         Assim, diante da invencibilidade da aurora,
         os morcegos, no relâmpago de suas fúrias,
         enraiveciam-se, procurando desalentar a vida
         e derrotar a luz, vorazes, vorazes, vorazes.

 

         OS MORCEGOS E A ROSA VERMELHA

         Os morcegos e a rosa vermelha
         ao nascer da manhã!
         Eh, meus camaradas! Cuidem
         que adoce aurora está
                           nascendo!
         uma cadeia de montanhas já
         é vista.
         a linha do horizonte
         é uma madre, uma irmã,
         lá nos abraçando!
         lá nas fímbrias da aurora.
         Vai nascer um novo dia!
         Os morcegos vêm! tontos, lésbicos!
         Os morcegos atacam ao nascer da aurora.
         Eh, meus camaradas, vai nascer!
         Vai nascer a aurora!
         Cai o orvalho na rosa vermelha!
         Quando o sol estiver no horizonte
         puro como um leopardo,
         a rosa vermelha estará aqui
         às mãos dos homens!

 

 

GARCIA, José Godoy.  Entre hinos e bandeiras.  Brasília, DF: Thesaurus Editora, 1985.  53 p.  10,5x21 cm  10,5x21 cm.    Capa, óleo do autor.  .  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos. 

 

         ENTRE HINOS E BANDEIRAS

                            Para Antônio Barbosa

         Minha liberdade nuca a vivi.
         Pisei meu solo com miserável boca.
         Abracei meu irmão que estava morto.
         Fingi minha alegria na festa alheia.
         Vi meus irmãos algemados de fome.
         Meu país escudado por generais tolos.
         Nossa história envolvida em cínica fala.
         Nossa escola rotineira de um verde tédio.
         Nossa política repetida mil vezes em trama.
         É este um país de uma perdulária mentira solta.
         As grandes propriedade são cemitérios de nojo.
         Os nossos generais de 4 estrelas e os coronéis bradam.
         Bradam, entre hinos e bandeiras, nosso hino de miséria.

 

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. e trad. de Xosé Lois García

Santiago de Compostela: Laiovento, 2001.

ISBN 84-8487-001-4

 

 

El anciano estaba feliz por tener que

andar por aquella carretera; él sabía

que era feliz y esa noción exacta

de ser feliz le traía intranquilidad,

como si los soportes del cuerpo pudieran no

estar bien firmes y la noción llegada de la voluntad

del mundo le traía inseguridad,

pero sabía por experiência vivida que el

débil camina al lado del fuerte y el estaba

seguro de la fortaleza de su corazón.

Todo o que estaba pasando en la

carretera — y en la carretera aparentemente no

estaba pasando nada — el anciano lo tênia

presente en la imaginación y em su más notoria

y superficial visión, pues lo que soñaba era

vivir feliz em una carreera y soñaba lo verde

y soñaba el niño.

 

 

En el pasado, los negros construyeron ciudades

y muros de piedra en torno a las ciudades;

los negros plantaban, recolectaban y edificaban

ingenios y plantaciones de caña; en el pasado,

en vários lugares y en uma extensión fabulosa

de tierra brasileña los negros horadaban

la tierra, extraían oro,

para los blancos, construyendo edifícios,

iglesias, colégiys, servidumbres seculares

que resisten al tiempo y son preservados

por la cultura universal.

¿Por qué razón en las calles de las grandes

y medianas ciudades del país los niños y

niñas negros están pidiendo calderilla

pidiendo sobras de comida?

 

 

Hay en el río un

cierto aire de indiferencia

cuando pasa el niño. Liberaba

el miedo, el terror, el asombro en la

explayada y bravia en el vertiginoso

y flamante borbotear de los estrechos.

El niño intentaba disimular

como aguantándose en un punto de apoyo,

no bien divisaba la corriente, el anciano,

muy vagaroso se deja quear atrás,

amigo del río.

Aun lejos, el niño camina cansado

y con el río dentro de si, sintiéndolo cual

una leyenda que no saldría de su mente,

con el paso de la vida y con el paso

de los ríos del mundo.

 

 

         O Flautista e o Mundo Sol Verde Vermelho (1994)

 

A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas  de Assis Brasil.  Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998.   324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3                  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Zé Garcia Arco-Íris

Eu sou uma nuvem.
Se eu sou — a nuvem se chama José Garcia.
Se eu sou — José Garcia anda vagando o céu pela tarde.
José Garcia vagando o céu pela tarde indiferente à sorte do mundo,
como se independente do mundo e da vida do homem.
José Garcia surgindo no amanhecer de um novo dia
enfeitado de cores vermelhas e amarelas.
José Garcia como um porco.  José Garcia como um caminhão

                                                          carregado.
José Garcia como um elefante.  José Garcia como uma vaca
                                                                        amojando.


2.
Se eu sou uma nuvem, então
eu chovo, eu chovo sobre a terra, como um Gulliver no país dos
                                                                                    anões
soltando perdigotos,
eu chovo na cabeça dos homens e das mulheres,
eu sou Zé Garcia chuva, Zé Garcia
beleza de mundo chovendo, Zé Garcia
caindo na cabeça das mulheres
e molhando os cabelos e os ombros e molhando o rosto e os seios,
beleza de pedra e humildade de animal onde Zé Garcia
demora dias e noites,
Zé Garcia destruindo pontes e canaviais,
Zé Garcia bancando Portinari
como o sol no lombo, Zé Garcia Arco-Íris.

3.
Se eu sou uma chuva, então
eu sou a água dos rios,
e se sou as águas eu sou o rio mesmo,
sou Zé Garcia rio, Zé Garcia
saudando o povo que vive às suas bordas,
Zé Garcia como um murmúrio e como um aconchego
quando à noite ou de madrugada
leva o embornal cheio de peixes.
Zé Garcia enrodilhado de auroras e peixes e estrelas.
Zé Garcia seixos rolado.
Zé Garcia remorsos de mortos afogados.
Zé Garcia saúde da terra.

                                        (Araguaia mansidão/ 1972)

*

 

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Página ampliada e republicada em maio de 2022.

 

 

 

 

 

Página produzida por Salomão Sousa em 2007; ampliada e republicada em janeiro de 2008; ampliada e republicada em setembro de 2014.

 

 

 

 


 


 

 

 
 
 
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