POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
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Foto: www.jornalopcao.com.br
CIRO PALMERSTON MUNIZ
Nasceu em Araguari (MG) em 13.8.1944. Filho de André Coutinho Muniz e Anita Cira Palmerston. Iniciou, em 1951, os estudos primários em sua terra natal. Mudou-se com os pais, para Goiânia, em 1955. Estudou em diferentes colégios na Capital de Goiás. Formou-se em Administração de Empresas, pela Universidade Católica de Goiás. Na década de 1960, fundou, junto com outros, o Grupo de Escritores Novos de Goiás(GEN), tendo sido um de seus Presidentes.
Seu primeiro livro de poesia, “TEMPO MAIOR”, foi publicado em 1963. Seguiram-se os demais livros, inclusive, o livro “CHAPÉU”, de 1987. Em 1974, em parceria com Siron Franco, publicou o álbum “POEMAS E GRAVURAS”.
Após o sucesso empresarial, com a Pousada do Rio Quente, em Caldas Novas e a Estância Itanhangá Camping Hotel, em Goiânia, faleceu ainda jovem, no dia 15 de agosto de 1996, em Goiânia.
Olga Savary, ao apresentar O chapéu, diz que “Ciro Palmerston Muniz é o poeta que escreve quando o poema já não cabe mais dentro dele, o poeta que tira da vida o que ela lhe tem dado e o que tem para lhe dar. Ou ele as tira dela. Porque a vida não tem amor. Esse toque é Ciro Palmerston Muniz que dá: doar.”
Leia também o ensaio:
CIRO PALMERSTON MUNIZ: POESIA E AUTOBIOGRAFIA, por Heleno Godoy
ADOLESCÊNCIA
A adolescência foi um
terror
que amedrontava
e me dava desejos
de entender as coisas.
Tudo na adolescência
me foi pintado de negro.
Temi todas as sombras
do dia e da noite.
Protegia-me sob cobertas
e ladainhas de rezas
num quarto descomunal.
Minha avó foi lei
e medo do que tive
de mais puro.
Adolescência sobressaltada
de culpas e pecados
que me fizeram temer
tanto, na vida.
TEMA PARA TARDES
A mulher passa
com um vestido azul
que brilha ao sol.
Meu amigo, então,
este com quem reparto
meu corpo, diz que
as árvores são
azuis e amarelas
e que suas folhas
minúsculas, amarelas
caem com o vento.
Ele diz que isto
é o adeus.
Penso: isto é
simples e triste,
porém o adeus.
Ele diz
que minha amada
é de sorriso azul.
Que eu, ao vê-la sorrindo,
serei um deus.
Eu concordo
e fico vendo
a mulher brilhante
passando.
E há um cigarro
e algumas borboletas
brancas.
INTERVALOS
Nos intervalos da loucura
valho-me dos olhos para ver
e dos pés para me levarem
a outros caminhos.
Não interessa mais para onde vou
nem se a estrada é digna
ou ornada de encantos.
O que interessa gora
é andar e ver coisas
em qualquer lugar.
Quando se vê com os olhos
as estradas são muito parecidas
entre si. Parece até
que andamos todos
o mesmo caminho e só
a escolha da parada
nos diversifica. É que
não sabemos escolher bem
onde parar e aí sim,
enlouquecemos.
Nos intervalos da loucura
andamos.
Somente andando estamos
vivos.
O POEMA
Escrevo quando o poema
já não cabe mais
dentro de mim.
Às vezes sai no espanto,
da beleza, na tristeza.
Sai do riso incontido,
duma coisa que dói
e aí, não escrevo.
Já está feito.
Quando não resolvo
essas coisas da sensibilidade
então cresce um poema
até não caber mais em mim.
Aí escrevo.
NASCENTE, Gabriel. A Nova poesia em Goiás: antologia dos poetas goianos. Goiânia, GO: Oriente, 1978. 384 p. 13,5x18 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
ORIGEM
Minha origem
foi um ato sexual.
Fui durante tempos
um ventre redondo,
em minha mãe.
Minha origem
não é segredo.
É a origem de todo
animal, e é sublime,
e dá-me o encanto
de ter vivido
numa mulher.
Minha origem
foi gritada
e quando nasci
houve dor e prazer.
("Do elemento", 1970)
ESPIRAL
Nunca ingerir esse conceito
e morar na derradeira vida.
Minhalma perfaz-se
de conclusões acertadas
muito além de mim.
Minha juventude resiste séculos.
Flutuo em canções perdidas
no acalento do tempo
fazendo espirais.
Um poema rústico nasce
com esta natureza
de verdes cristais
na memória perdida
nos momentos de jamais.
("Poemas do gen", 1966)
Página publicada em janeiro de 2010; página ampliada em junho de 2017 |