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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


POESIA GOIANA

Coordenação de Salomão Sousa

 

 

 

BERNARDO ELIS

 

 

Bernardo Élis, uma das principais expressões da ficção goiana, principalmente com o romance O tronco e os livros de contos Ermos e Gerais e Veranico de Janeiro — também foi poeta. Foi um dos primeiros a praticar a poesia modernista em Goiás, junto com João Accioly e José Godoy Garcia, em publicações esparsas na revista Oeste . A sua poesia seria reunida no livro Primeira chuva (1955), que na realidade ficou sendo a única, pois não voltaria a publicar poesia..

 

Ele nasceu em 15 de novembro de 1915 e faleceu em 30 de novembro de 1977. Nasceu e morreu na cidade de Corumbá de Goiás. Era advogado. Ingressou na Academia Brasileira de Letras numa controvertida eleição contra Juscelino Kubitischek.

 

Cabe destacar, de sua biografia que, em 1936, foi escrivão da delegacia de polícia em Anápolis e do cartório do crime de Corumbá. Em 1939, foi nomeado secretário da Prefeitura de Goiânia, cidade onde seria prefeito por duas vezes. Em 1944, casou-se com Violeta Metran. Em 45, trabalhou como professor da Escola Técnica de Goiânia e do ensino público estadual e municipal. Entre 1970 a 1978, foi assessor cultural no Escritório de Representação do Estado de Goiás, no Rio de Janeiro. Assumiu a direção do Instituto Nacional do Livro, em Brasília, de 1978 a 1985. Em 1986, foi nomeado para o Conselho Federal de Cultura, ao qual pertenceu até a extinção do órgão, em 1989. Recebeu os prêmios José Lins do Rego (1965) e Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1966), pelo livro de contos "Veranico de Janeiro" (1966). "Caminhos e Descaminhos" (1965) lhe rendeu o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras. Recebeu também o Prêmio Sesquicentenário da Independência pelo estudo "Marechal Xavier Curado, Criador do Exército Nacional" (1972). Em 1987, recebeu o Prêmio da Fundação Cultural de Brasília, pelo conjunto de obras, e a medalha do Instituto de Artes e Cultura de Brasília.

 

 

PRIMEIRA CHUVA

 

Quentura de noite pejada de nuvens baixas e negras.

Bambos bamboleios de trovão soturno

batendo o tímpano bambo da zabumba do horizonte.

Trovão apagado,

                               saudoso,

                                               distante.

Depois a chuva em grossos pingos

sobre os telhados,

Na poeira ressequida das estradas,

na terra requeimada das queimadas,

desprendendo um cheiro forte de gestação.

(Mamãe molhava algodão em cachaça canforada

E nos dava para cheirar: cuidado com defluxo!)

Amanhã tudo vai começar de novo:

as folhas voltarão aos galhos secos,

as águas resmungarão nas grotas mortas,

os pássaros do céu hão de cantar no cio...

(E aquela que partiu porque não volta?)

 

Lá fora uma goteira numa lata pinga,

pinga a pingo,

                               pengue,

                                               pengue,

numa toada monótona de preta que ninasse.

Pengue,

                pengue,

pingo a pingo.  

(E aquela que partiu,

Porque não volta?)

 

 

TARDE DE NOVENA

 

Ingenuidade macia das tardes de novena,

com os sinos dos Passos batendo,

pausado, molengo,

sobre o poente que pegou fogo.

 

Fervores honestos gemendo

sobre o poente que se alarga e se estende,

congesto,

pela noite adentro,

pondo rubras palpitações

nas trevas do ocidente,

— grandes borboletas de fogo

espanejando cegas sobre as essas.

 

 

PARTIDA AUTOMÁTICA

 

Porque a amada entrasse num automóvel

e o automóvel saísse rolando,

um terremoto imperceptível e sereno arrasou a cidade,

as casas, os jardins, os céus, e os pássaros continuaram voando mas mortos.

E o homem cuja amada viajou

encontrou-se numa cidade que nunca vira antes,

cheia de gentes estranhas,

mas que o conheciam e queriam conversar,

discutir, falar de guerra e de negócios impossíveis.

Havia um calo ruim

machucando a alma do homem: Não chore meu filho que

                               [a vida é lutar contra as conversas entojadas”.

Então ele subiu à torre da igreja da Trindade

que também se chama santuário do divino padre eterno da Trindade

e ouviu a voz de um anjo lhe dizendo assim

“daqui dois homens atiraram-se lá embaixo:

um morreu — orai por ele,

o outro pede esmola”.

O homem deu uma gorjeta ao anjo e não quis jogar com probabilidades.

Lembrou que existia álcool, éter, melhoral,

estriquinina, cocaína e outros venenos lentos e violentos.

Mas tirou seu retrato na porta da igreja

e pregou na sala dos milagres.

 

 

O HOMEM QUE FAZIA ANOS NO DIA SETE DE SETEMBRO

 

No dia de meus anos

a bandinha saía pra rua de madrugada,

tocando matinas.

A gente acordava com o estrondo dos foguetes,

espantando os morigerados pombos da torre da igreja.

Botavam bandeira na Prefeitura,

no Correio,

na Cadeia,

havia discurso, passeatas etcétera,

“tudo por sua causa! — dizia meu pai.

E eu ficava intrigadíssimo

porque ninguém mais era igualmente festejado.

 

Hoje, como conheço a história do Brasil,

mudei a data de meus anos,

que é o dia mais triste do mundo.

 

 

 

Informações sobre o escritor Salomão Sousa

consultar o blog http://www.safraquebrada.blogspot.com/

 

 

ÉLIS, Bernardo.  Primeira Chuva.  Goiânia: Editora do Autor Goiano, 1971.  75 p.  16 x 23 cm   Capá: Laerte Araujo.  Ilustrações: Octo Marques.    Col. A.M

 


A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas  de Assis Brasil.  Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998.   324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3                  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

A Cachaça de meu avô

A cachaça de meu avô
eram carros de boi.
Que paixão besta!

Meu avô estava comendo às pressas,
já eram nove e meia da manhã
e o expediente da Repartição
começava às dez em ponto, mais ou menos.
Gritos de lenheiro enchiam as ruas:
— Oia a lenha!
— Burro diacho!
Da casa dele à Repartição
era um pedaço bom de chão.
Mas se um carro de bois
cantava perto,
passando por sua porta, na rua da Estrada,
meu avô largava o prato
e voava a ver o carro.

— Como vai, se Capitão?
Os carreiros todos o conhecem.
(O chefe nesse dia que o cortasse.)

Até hoje, meu avô vai chispado no Ford do filho,
mas vê um carro de bois,
manda parar e desce.
— Como vai, meu capitão?
Os carreiros todos o conhecem...
E passa o resto do dia falando em carro,
falando em bois,
falando em coisa antiga
que já ninguém conhece.

                                    (Primeira chuva/ 1955)

 

O rego

Queriam canalizar
as águas pro monjolo
mas o que abriram foi um rego de céu.
Agora
a manhã fugiu do céu
e veio morar dentro do açude.
De tarde
o céu entorna o crepúsculo no açude,
cujo silêncio paralítico
os sapos espetam
com canafístulas de gluglus.

As estrelas lavam roupa de luz
nos espraiados.
Já houve até quem visse anjos
— muitos anjos — voando
na asas dos pirilampos.

Foi desse jeito
que os homens escravizaram um retalho do céu,
amarrando-o ao rabo do monjolo.

                                                                                  (Primeira chuva/ 1955)

 

*

 

 

VEJA e LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal:

 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html

 

 

Página ampliada e republicada em maio de 2022.

 

   




 

 

 
 
 
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